quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

20/02/2017
 

TER FÉ E MANTER ORAÇÃO É VIVER NA SABEDORIA DIVINA

Segunda-Feira da VII Semana Do Tempo Comum

Primeira Leitura: Eclo 1,1-10

1 Toda a sabedoria vem do Senhor Deus. Ela esteve e está sempre com Ele. 2 Quem pode contar a areia do mar, as gotas de chuva, os dias do tempo? 3 Quem poderá medir a altura do céu, a extensão da terra, a profundeza do abismo? 4 Antes de todas as coisas foi criada a sabedoria, a inteligência prudente vem da eternidade. 5 Fonte da sabedoria é a palavra de Deus no mais alto dos céus e seus caminhos são os mandamentos eternos. 6A quem foi revelada a raiz da sabedoria? Quem conheceu as capacidades do seu engenho? 7 A ciência da sabedoria, a quem foi revelada? E quem compreendeu sua grande experiência? 8 Só um é o altíssimo, criador onipotente, rei poderoso e a quem muito se deve temer, assentado em seu trono e dominando tudo, Deus. 9 Ele é quem a criou no espírito santo: Ele a viu, a enumerou e mediu; 10 ele a derramou sobre todas as suas obras e em cada ser humano, segundo a sua bondade. Ele a concede àqueles que o temem.

Evangelho: Mc 9,14-29

Naquele tempo, 14descendo Jesus do monte com Pedro, Tiago e João e chegando perto dos outros discípulos, viram que estavam rodeados por uma grande multidão. Alguns mestres da Lei estavam discutindo com eles. 15Logo que a multidão viu Jesus, ficou surpresa e correu para saudá-lo. 16Jesus perguntou aos discípulos: “Que discutis com eles?” 17Alguém da multidão respondeu: “Mestre, eu trouxe a ti meu filho que tem um espírito mudo. 18Cada vez que o espírito o ataca, joga-o no chão e ele começa a espumar, range os dentes e fica completamente rijo. Eu pedi aos teus discípulos para expulsarem o espírito, mas eles não conseguiram”. 19Jesus disse: Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco? Até quando terei de suportar-vos? Trazei aqui o menino”. 20E levaram-lhe o menino. Quando o espírito viu Jesus, sacudiu violentamente o menino, que caiu no chão e começou a rolar e a espumar pela boca. 21Jesus perguntou ao pai: “Desde quando ele está assim?” O pai respondeu: “Desde criança. 22E muitas vezes, o espírito já o lançou no fogo e na água para matá-lo. Se podes fazer alguma coisa, tem piedade de nós e ajuda-nos”. 23Jesus disse: “Se podes!... Tudo é possível para quem tem fé”. 24O pai do menino disse em alta voz: “Eu tenho fé, mas ajuda a minha falta de fé”. 25Jesus viu que a multidão acorria para junto dele. Então ordenou ao espírito impuro: “Espírito mudo e surdo, eu te ordeno que saias do menino e nunca mais entres nele”. 26O espírito sacudiu o menino com violência, deu um grito e saiu. O menino ficou como morto, e por isso todos diziam: “Ele morreu!” 27Mas Jesus pegou a mão do menino, levantou-o e o menino ficou de pé. 28Depois que Jesus entrou em casa, os discípulos lhe perguntaram a sós: “Por que nós não conseguimos expulsar o espírito?”  29Jesus respondeu: “Essa espécie de demônios não pode ser expulsa de nenhum modo, a não ser pela oração”.
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Viver Na Sabedoria Bíblica

Hoje e alguns dias para frente acompanharemos a leitura do Livro de Eclesiástico que serve como a Primeira Leitura de nossas celebrações semanais.

O Livro de Eclesiástico ou Sirácida foi escrito em hebraico uns duzentos anos antes de Cristo (no início do século II a.C) em Jerusalém por um judeu muito culto e sábio chamado Jesus Ben Sirá. Mais tarde um neto dele traduziu o livro para o grego em função ou beneficio dos judeus de Alexandria de Egito. Chama-se “Eclesiástico” pelo seu grande uso na Igreja primitiva.

O Eclesiástico faz parte dos livros sapienciais do AT que são um gênero comum para outras culturas vizinhas, mas nas mãos dos sábios crentes de Israel eles oferecem uma sabedoria muito rica e religiosa.

O Eclesiástico é uma serie de frases e pensamentos, ditos e refrões breves que nos ajudam a olharmos sabiamente as coisas, as pessoas e os acontecimentos da vida. O autor vai nos transmitindo com amabilidade e bom sentido prático as riquezas de seu pensamento e sua experiência humana e religiosa.

O texto da Primeira Leitura tirado do Eclesiástico faz o elogio da sabedoria divina: “Toda a sabedoria vem do Senhor Deus. Ela esteve e está sempre com Ele... Antes de todas as coisas foi criada a sabedoria, a inteligência prudente vem da eternidade. Fonte da sabedoria é a palavra de Deus no mais alto dos céus e seus caminhos são os mandamentos eternos”.

Segundo o Eclesiástico a sabedoria é a primeira criatura de Deus. Deus usa a sabedoria para criar o universo e a infundiu em suas criaturas. Portanto, a sabedoria aparece nos Livros sapienciais como um saber personificado, uma espécie de mediador entre Deus e o mundo. E, ao mesmo tempo, a sabedoria é algo do qual os seres viventes participam, algo que eles descobrem a partir de dentro uma ordem “sábia” de trabalhar e de viver. O homem que quer honrar seu titulo de “homo sapiens” (homem sábio), isto é, aquele que desejar ser “sensato” e preceder com acerto, há de começar a reconhecer a origem última da sabedoria que é o próprio Senhor Deus e há de recebê-la como um dom. Com este modo de viver o homem vai se amadurecendo na sensatez, nessa maneira de ser sábio segundo a Bíblia, e o homem vai descobrindo que a sabedoria sempre está em Deus e cada vez em maior participação naqueles que a amam.

A grande inquietude humana sempre foi e continua sendo a vida: o que é a vida, como aperfeiçoá-la, como Alcançar a imortalidade, a divindade ou a iluminação perfeita.

Para muitas pessoas, o sábio orienta seus esforços para fora, para as coisas, para o descobrimento do mundo físico. Mais que sua vida, nos importa sua ciência, seus inventos, seu saber. Mas para o oriental e para a Bíblia, o sábio orienta seu esforço para o descobrimento de si mesmo, para o segredo recôndito da vida humana como existência aqui e agora; para essa luz misteriosa que se chama o Divino, o Sagrado, o Transcendente, Deus. Nossos sábios são científicos; os sábios bíblicos são santos. Nossos sábios buscam a perfeição das coisas; os sábios bíblicos buscam a perfeição do homem.

A partir da Bíblia a sabedoria é a arte do viver bem. O verdadeiro sábio distingue o verdadeiro do falso, o justo do injusto. O sábio bíblico coloca como fundamento todas as grandes virtudes: prudência, moderação, trabalho, não violência, humildade, sinceridade, justiça, solidariedade, compaixão, amor. A sabedoria bíblica é uma reflexão sobre a existência humana, mas não uma reflexão abstrata e sim concreta, a partir da própria experiência. 

A sabedoria bíblica é uma palavra reveladora: a autêntica sabedoria vem do alto, não está atada ao interesse ou ao calculo humano. Ela é a verdade total que deve ser desejada e buscada pelo homem. A sabedoria é assim uma força geradora: ela dá origem ao homem, a sua história e a todo o ritmo da criação. A sabedoria é o conhecimento dos caminhos de Deus, de seu objetivo; indica ao cristão a direção em que ele deve caminhar, as normas às quais deve adaptar seu viver.

O Livro do Eclesiástico faz o elogia da sabedoria divina que “saiu da boca do Altíssimo e cobriu a terra como a neblina”. A sabedoria de Deus se manifesta como Palavra vivente e esta é a ideia retomada pelo evangelista João: Cristo é esta sabedoria-Palavra que existe desde sempre junto a Deus, mas saiu de Deus para atuar na criação, na história e no interior de cada homem (cf. Jo 1,1-18). Por isso, a Sabedoria-Palavra é uma pessoa: é o Sábio, o Homem cheio de luz, o Caminho, a Vida.

Etimologicamente, a palavra “sabedoria” vem da palavra latina “sapere” da qual derivam duas palavras: “saber” e “sabor”, duas palavras que indicam o mesmo: um saber que sabe saboreando a vida. É um saber que saboreia o fruto da vida, não um saber teórico sobre a vida. É o testemunho do experimentado, a experiência da vida mesma, de seu sabor de viver.

Sábio não é quem pensou a vida e sim quem deixa que a vida lhe diga, o que ele mesmo aprendeu vivendo a vida, quem deixa que a vida lhe entregue seu sabor e lhe revele seu sentido. Em geral, o homem sábio não diz sua sabedoria e sim a mostra. Sábio irradia sentido da vida e da convivência. O sábio é uma testemunha e não professor. O sábio testemunha uma experiência, ensina o que vive, não o que sabe. Em outras palavras, ele sabe viver testemunhando a vida.

Os sábios eram autênticos santos que, iluminados por uma luz transcendente, descobriram o caminho ou senda da vida, e, portanto, podiam ensiná-la aos demais homens tanto com seu exemplo como com sua palavra. Sábio era o homem prudente, equilibrado, reto, equânime e justo. É um exemplo para as gerações futuras.

Laotse, o grande sábio chinês do século VI a.C, descreve o sábio: “Os sábios perfeitos da antiguidade eram tão sutis, agudos, profundos, que não podiam ser conhecidos. Uma vez que não poderiam ser conhecidos, você só pode tentar descrevê-los: eles foram cautelosos, como alguém que cruza um córrego no inverno; cautelosos, reservados como convidado; compacta como um tronco de madeira; ampla como um vale; complexo como água turva. Abraça unidade e é o modelo do mundo...”.  

A Fé É Sustentada Pela Oração e a Oração Manifesta a Fé Viva

O relato do evangelho de hoje não é o dos mais fáceis. Mas mesmo assim captamos sua mensagem. Trata-se do relato sobre a lição da fé. A fé é muito importante para o seguidor para que ele possa estar em sintonia com Jesus e ser beneficiado de sua ação curadora e salvadora. A fé é onipotente porque nos une ao Onipotente.

O núcleo do relato do evangelho de hoje está nas seguintes frases: Primeiro: “Eles não conseguiram expulsar o espírito”. Esta frase é dita pelo pai do jovem epiléptico a Jesus. Segundo: “Por que não conseguimos expulsar o espírito?”. É a pergunta dos discípulos a Jesus. “Tudo é possível para quem tem fé”, é a resposta de Jesus que serve como frase central do relato. Tudo o mais serve para descrever a necessidade da fé. a escolha da fé é muito importante para estar em sintonia com Jesus e ser beneficiado de sua ação curadora e salvadora. Quem recorre a Jesus movido pela fé é sempre atendido.

Depois da transfiguração, momento glorioso embora momentâneo, Jesus desceu com seus prediletos discípulos para a planície. Ele está pronto para encarar a Cruz que ele vai carregar com honra e dignidade, pois trata-se de uma Cruz fruto de sua obediência à vontade do Pai. É preciso encararmos as crises de nossa vida com honra e dignidade apesar de nossas fraquezas.

Ao descer do monte da Transfiguração, Jesus cura um jovem epiléptico. Os discípulos não conseguiram curar o mesmo jovem de sua doença. Ao se questionar sobre o porquê dos discípulos não terem conseguido curar o jovem Jesus responde: “Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco? Até quando terei de suportar-vos? Trazei aqui o menino”. Com suas palavras, Jesus sublinha, sobretudo, a necessidade da fé e da oração simultaneamente para poder vencer o mal. Por isso, no fim do relato Jesus acrescentou: “Essa espécie de demônios não pode ser expulsa de nenhum modo, a não ser pela oração”.  O exercício da missão recebida de Jesus requer muita fé. É preciso ter fé inabalável no poder de Jesus. Caso contrário, todos desistirão, pois não faltam cruzes nesse caminho. Quando a fé é pouca, a missão fica comprometida.

Ao curar o jovem, Jesus aparece novamente como o mais forte do que o mal, pois ele tem a força de Deus. Jesus está em Deus e Deus está nele. e Jesus sempre quer que seus discípulos reforcem sua fé. Neste sentido, a confissão do Pai: “Creio, Senhor! Mas aumenta minha fé!” serve de lição para os discípulos sobre a necessidade de fortificar a própria fé nos momentos difíceis de sua vida como aconteceu com o pai do jovem.

Nossa luta contra o mal, o mal que há dentro de nós, o mal que há dentro da comunidade e o mal dos demais, somente pode ser eficaz se cada um se apóia na força de Deus: “Confia teus negócios ao Senhor e teus planos terão bom êxito” (Provérbios 16,3). Somente pode suceder da fé e da oração, em união com Cristo é que se pode libertar o mundo de todo mal. Não se trata de fazer gestos mágicos ou de pronunciar palavras que tem eficácia por si só. Quem salva e quem liberta é Deus e nós, somente se permanecermos unidos em Deus pela oração. Esta é uma das lições que Jesus nos dá hoje.

O que acontece é que muitas vezes nossa fé é débil, como a fé do pai do menino epiléptico e a fé dos discípulos. Por isso, encontraram dificuldade em libertar os outros de seus males porque confiaram apenas em suas próprias forças. Muitas vezes nos fracassamos, como os discípulos de Jesus, porque confiamos somente nas nossas próprias forças e nos esquecemos de nos apoiar em Deus. O salmista nos convida a voltarmos a nos apoiar em Deus: “Em Vós, Senhor, eu me apoiei desde que nasci, desde o seio materno sois meu Protetor; em Vós eu sempre esperei” (Sl 71,6).

Jesus nos indica dois caminhos para que sejamos fortes diante de qualquer mal: a e a oração inseparáveis. A é onipotente porque nos une ao Onipotente. A nosum poder incrível, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, como podemos verificar na vida de tantos homens e mulheres ao longo da história da Igreja. A fé nos permite rezar de modo eficaz. Segundo Jesus, a verdadeira fé faz desaparecer qualquer impossibilidade, faz qualquer um caminhar na vida com serenidade e paz, com alegria profunda como uma criança nas mãos de sua mãe. A verdadeira fé liberta qualquer um do desapego de todas as coisas. Além disso, é importante para nossa vida comunitária ter em conta que a fé em Deus nos abre muitas possibilidades e qualidades que estão escondidas e adormecidas. Ao assumir pessoalmente a fé, começaremos a ser conscientes de nossas grandes reservas humanas, as quais devem ser postas para o serviço aos demais.

A oração, por sua vez, consiste em pensar em Deus amando-o, eleva-nos para o mesmo Deus, a partir de qualquer circunstância. Um aspecto da Natureza ou na sua íntegra pode nos levar a apreciarmos a sabedoria do Criador em criar tudo mesmo que não saibamos do para quê de tudo isso. Mas um sofrimento provocado por grave doença, qualquer crise que nos perturba física e psiquicamente, a traição de um amigo, um insucesso profissional também podem nos levar à Força Superior que é o próprio Deus. A oração nos humaniza e nos faz aceitarmos Deus como Deus. A oração nos coloca no nosso devido lugar como pó, mas um pó vivente, pois nele foi soprado o hálito de Deus que faz esse pó santo (cf. Gn 2,7; Jo 20,22; 1Cor 3,16-17). Nestas circunstâncias pode ser mais difícil elevar-nos para Deus, dar-nos conta do amor com que continua a nos envolver. Mas é possível, se tivermos a atitude do pai de que nos fala o evangelho. Em qualquer circunstância, cada um há que dirigir-se ao encontro do Senhor e falar-Lhe com humildade e confiança de nossa situação e falar-Lhe de nossa impotência diante de certas dificuldades encontradas na vida. É a oração que nos permite abrir o cofre dos favores divinos, pois nos põe em contato com o Deus vivo a quem, segundo o ensinamento de Jesus, dizemos: «Faça-se a tua vontade». Este abando a Deus é importante para nós, pois Ele sabe de tudo mais nos convém ou não nos convém. Rezar é, sobretudo, encontrar o acesso a Deus; é ligar a terra ao céu; é unir a força humana e a força divina que resulta no milagre da vida. Somente na oração é que podemos ter força maior para superar as dificuldades de nossa vida.

P. Vitus Gustama,svd

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