quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

25/02/2017
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PAPEL DO HOMEM NA CRIAÇÃO E TERNURA DIVINA QUE NOS FAZ MAIS HUMANOS


Sábado da VII Semana Do Tempo Comum


Primeira Leitura: Eclo 17,1-13


1 Da terra Deus criou o homem, e o formou à sua imagem. 2 E à terra o faz voltar novamente, embora o tenha revestido de poder, semelhante ao seu. 3 Concedeu-lhe dias contados e tempo determinado, deu-lhe autoridade sobre tudo o que está sobre a terra. 4 Em todo ser vivo infundiu o temor do homem, fazendo-o dominar sobre as feras e os pássaros. 5 Deu aos homens discernimento, língua, olhos, ouvidos, e um coração para pensar; encheu-os de inteligência e de sabedoria. 6 Deu-lhes ainda a ciência do espírito, encheu o seu coração de bom senso e mostrou-lhes o bem e o mal. 7 Infundiu o seu temor em seus corações, mostrando-lhes as grandezas de suas obras. 8 Concedeu-lhes que se gloriassem de suas maravilhas, louvassem o seu Nome santo e proclamassem as grandezas de suas obras. 9 Concedeu-lhes ainda a instrução e entregou-lhes por herança a lei da vida. 10 Firmou com eles uma aliança eterna e mostrou-lhes sua justiça e seus julgamentos. 11 Seus olhos viram as grandezas da sua glória e seus ouvidos ouviram a glória da sua voz. Ele lhes disse: “Tomai cuidado com tudo o que é injusto!” 12 E a cada um deu mandamentos em relação a seu próximo. 13 Os caminhos dos homens estão sempre diante do Senhor e não podem ficar ocultos a seus olhos.


Evangelho: Mc 10,13-16


Naquele tempo, 13 traziam crianças para que Jesus as tocasse. Mas os discípulos as repreendiam. 14 Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse: “Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas. 15 Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”. 16 Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos.
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Papel Do Homem Na Criação


Continuamos a acompanhar a Primeira Leitura tirada do livro Eclesiástico (Sirácida). O texto que lemos hoje é a meditação do autor desse livro em torno dos primeiros capítulos do Gênesis.


O autor do Eclesiástico tem uma visão otimista da criação e do papel do homem dentro dela. O papel do homem dentro da criação está em três níveis.


Em primeiro lugar, o homem é o organizador da natureza sobre a qual tem pleno poder pelo fato de ser imagem de Deus: Deus “deu-lhe autoridade sobre tudo o que está sobre a terra” (v.3). Esse poder é sinal da força do próprio Deus que faz outras criaturas terem temor do homem (v.4). Se Jesus Bem Sirac (autor) estivesse presente na nossa época, ele não duvidaria da presença de Deus no coração dos progressos científicos e das conquistas técnicas. O homem se manteria humilde, pois ele é imagem de Deus e criatura, ao mesmo tempo.


Segundo Jesus Ben Sirac o papel do homem na criação é de ordem ética: Deus “deu aos homens discernimento, língua, olhos, ouvidos, e um coração para pensar; encheu-os de inteligência e de sabedoria. Deu-lhes ainda a ciência do espírito, encheu o seu coração de bom senso e mostrou-lhes o bem e o mal.... Ele lhes disse: ´Tomai cuidado com tudo o que é injusto! ´. E a cada um deu mandamentos em relação a seu próximo. Os caminhos dos homens estão sempre diante do Senhor e não podem ficar ocultos a seus olhos”.


Não basta o homem vencer o espaço ou instalar em cada lar a eletricidade e o gás (poder sobre a natureza). Não basta reduzir as distâncias materiais e físicas, se o homem permanece separado de seu irmão, se em seu coração se hospeda a violência que guia sua mão para praticar o mal e a maldade e a injustiça contra o irmão, se a paz se converte num mito da qual fala muito, mas sem eficácia. O homem não espiritualiza o mundo somente através de sua inteligência, mas também mediante sua vitória sobre si mesmo e pelo exercício livre do amor.


Por isso, o terceiro papel do homem na criação é o da religião. O homem tem como missão “religar” a criação a Deus mediante o louvor e a ação de graças. E este louvor está implicitamente presente quando o cristão trabalha nos dois níveis anteriores (cf. Rm 12,1). Este louvor deve ser feito explicitamente em determinados momentos, nos tempos fortes que a liturgia propõe para celebrá-lo. O pleno e autentico exercício da função religiosa e litúrgica do homem somente se encontrará no dia em que o homem refizer a unidade profunda de sua nova existência no mundo e com respeito a Deus, seu Criador.


Estes três papeis do homem na criação estão hoje em perigo de desaparecer, pois o homem humaniza a criação, mas esquece-se do Criador. O resultado final: o homem cairá para o nada, pois ele é apenas o pó. A ciência e a técnica não bastam por si mesmas a promover o bem da humanidade e da criação. Os problemas de “poluição da natureza”, a “diminuição das matérias primas” mostram que a ciência pode contribuir também para a destruição. Não basta chegar à lua, domesticar o átomo, distribuir eletricidade ao mundo inteiro e assim por diante, é preciso também que o homem saiba distinguir “o bem do mal”, que domina suas violências e seus instintos e que se abra ao amor do próximo. A vitória sobre a natureza pode trazer consigo novas e temíveis alienações se não for acompanhada de vitória do homem sobre si mesmo. Ao universo técnico lhe falta um suplemento espiritual, isto é, uma “alma”. Sem ética, a ciência pode chegar a ser mortífera. A inteligência sem amor pode ser mais daninha (prejudicial) que a própria falta de inteligência.


Ternura De Deus Nos Torna Mais Humanos e Irmãos


No texto do evangelho de hoje Jesus é apresentado cheio de ternura: “Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos”. Ternura é um sentimento de afeto doce e delicado, de atenção carinhosa. É suave comoção. A ternura é sinal de maturidade e vigor interior. A característica de uma ternura é desejar amar e saber que é amado. Por isso, a ternura supõe a capacidade de participar na vida de si e dos outros, tanto nas suas alegrias como nas suas dores, vivendo uma relação de cordialidade (Latim: cor/cordis: coração). Deixar escapar a ternura é deixar escapar a vida. A ternura impede à caridade de reduzir-se a uma moral do dever fornecendo um coração palpitante, acolhedor capaz de afeto compassivo.


Mais uma vez Jesus insiste na importância de ter a ternura e de acolher ternamente na comunidade os que não contam, representados, desta vez pelas crianças, símbolo da total indefesa. As crianças eram sinônimas dos últimos, dos que não contam.


Antes Jesus nos convidou a acolhermos as crianças (Mc 9,37). No evangelho de hoje Jesus nos convida a fazermos como elas para acolher o Reino de Deus (Mc 10,15), isto é, a vontade de Deus no mundo.


Por que Jesus valoriza tanto as crianças, os que não contam?
  1. Por causa de sua humildade. Nenhuma criança é exibicionista. Ela ainda não aprendeu a ser orgulhoso e a ter privilégio. Ela também ainda não aprendeu a colocar a importância em si mesma.
  2. Por causa da sua obediência. Paradoxalmente a criança tem instinto natural para obedecer. Ela ainda não aprendeu o orgulho e a falsa independência que separa o homem do seu próximo.
  3. Por causa da sua confiança. É bastante claro ver que uma criança aceita a autoridade. Ela pensa que seu pai sabe de tudo e por isso, acha que o Pai está certo. A criança confia nas outras pessoas. Ela não pensa que outros sejam ruins, pois ela é pura de coração.
  4. Por causa de sua memória curta. Ela ainda não aprendeu a guardar rancor ou ressentimento. Ela é capaz de brincar novamente logo depois de uma briga. Embora ela tenha sido tratada injustamente, uma criança esquece logo tudo.
     
    “Em verdade vos digo, quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”.
     
    Esta afirmação tem uma grande profundidade. É um convite para pormo-nos em relação com Deus em uma total “dependência” d’Ele. O verdadeiro discípulo não tem malícia no coração, confia totalmente em Deus e a ele se entrega à vontade de Deus, como as crianças fazem com seus pais.  Os principais beneficiários do Reino são os que sabem desapegar-se de si mesmos (Mc 10,23-31). Aqui a criança é símbolo da disponibilidade, da dependência, da obediência. A criança não calcula (não é calculista), não faz comentários nem discutir como os adultos. Ela depende vitalmente do amor de seus pais que para ela é uma questão de vida ou de morte.
     
    Quando os discípulos repreendiam as crianças de se aproximarem de Jesus, pronunciou Jesus a seguinte frase: “Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas... Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos”.
     
    Jesus não quer uma comunidade na qual haja uns que contam e outros não; onde haja dominadores e dominados, senhores e escravos. Seus discípulos, no entanto, não estavam na linha da vida de Jesus. Jesus se indignou pela atitude discriminatória dos discípulos. O gesto de Jesus de tomar as crianças em seus braços, abençoá-las e impor-lhes as mãos é um gesto profético: Jesus quebra as estruturas rígidas da sociedade de sua época em que reina a desigualdade. Acolher e abraças as crianças significa que todos são iguais diante de Deus e recebam a mesma ternura de Deus.
     
    Através do símbolo de crianças Marcos quer nos transmitir também a ternura de Deus para todos os homens, seus filhos. Somos todos filhos e filhas de Deus independentemente de nosso modo de viver. Como um pai sente ternura por seus filhos, assim sente o Senhor ternura por seus fieis, todos nós. Deus fala, através do Livro do profeta Isaías, as palavras de muita ternura: “Pode a mãe esquecer-se do seu filhinho, pode ela deixar de ter amor pelo filho das suas entranhas? Ainda que ela se esqueça, Eu não Me esquecerei de ti. Eis que Eu te gravei nas palmas das minhas mãos; as tuas muralhas estão sempre diante de Mim” (Is 49,15-16). Estas palavras, com certeza, devolvem nossas confiança em Deus e nosso amor por Deus. De fato, somos amados. Somos crianças de Deus. Como tais precisamos manter nossa inocência e nossa infância espiritual: cheia de fé e de entrega total a fim de que possamos entrar no Reino de Deus. Se nao, Jesus terá que repetir as mesmas palavras para nós: : “Em verdade vos digo, quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”.
     
    Para Meditar:
  • Mais do que máquinas precisamos de humanidade. Mais do que inteligência precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes a vida será de violência e tudo estará perdido” (Charles Chaplin).
     
  • O amor é uma atividade, não um afeto passivo; é um ato de firmeza, não de fraqueza... é propriamente dar, e não receber” (Erich Fromm).
     
  • "As feridas da alma são curadas com carinho, atenção e paz" (Machado de Assis).
     
  • As palavras sem afeto nunca chegarão aos ouvidos de Deus (William Shakespeare).
     
P. Vitus Gustama,svd

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