quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

13/02/2017
 

VIVER NA FRATERNIDADE SINALIZA A PRESENÇA DE DEUS

Segunda-Feira da VI Semana Do Tempo Comum

Primeira Leitura: Gn 4,1-15.25

1Adão conheceu Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz Caim, dizendo: “Gerei um homem com a ajuda do Senhor”. 2E deu também à luz Abel, irmão de Caim. Abel foi pastor de ovelhas e Caim, agricultor. 3Aconteceu, tempos depois, que Caim ofereceu frutos da terra como sacrifício ao Senhor, 4e Abel ofereceu primogênitos do seu rebanho, com sua gordura. O Senhor olhou para Abel e sua oferenda, 5mas para Caim e sua oferenda não olhou. Caim encheu-se de cólera e seu rosto tornou-se abatido. 6Então o Senhor perguntou a Caim: “Por que estás cheio de cólera e andas com o rosto abatido? 7É verdade que, se fizeres o bem, andarás de cabeça erguida; mas se fizeres o mal, o pecado estará à porta, espreitando-te. Tu, porém, poderás dominá-lo”. 8Caim disse a seu irmão Abel: “Vamos ao campo”. Logo que chegaram ao campo, Caim atirou-se sobre o seu irmão Abel e matou-o. 9E o Senhor perguntou a Caim: “Onde está o teu irmão Abel?” Ele respondeu: “Não sei. Acaso sou o guarda do meu irmão?” 10O Senhor lhe disse: “Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão está clamando por mim, da terra. 11Agora, pois, serás amaldiçoado pela terra que abriu a boca para receber das tuas mãos o sangue do teu irmão! 12Quando tu a cultivares, ela te negará seus frutos. E serás um fugitivo, vagando sobre a terra”. 13Caim disse ao Senhor: “Meu castigo é grande demais para que eu o possa suportar. 14Se, hoje, me expulsas desta terra, devo esconder-me de ti, tornando-me um fugitivo a vaguear sobre a terra; qualquer um que me encontrar me matará”. 15E o Senhor lhe disse: “Não! mas aquele que matar Caim, será punido sete vezes!” O Senhor pôs, então, um sinal em Caim, para que ninguém, ao encontrá-lo, o matasse. 25Adão conheceu de novo sua mulher. Ela deu à luz um filho, a quem chamou Set, dizendo: “O Senhor deu-me um outro descendente no lugar de Abel, que Caim matou”.

Evangelho: Mc 8,11-13

Naquele tempo:  11Os fariseus vieram e começaram a discutir com Jesus. E, para pô-lo à prova, pediam-lhe um sinal do céu. 12Suspirando profundamente em seu espírito  ele disse: “Por que esta geração procura um sinal? Em verdade vos digo, a esta geração nenhum sinal será dado”. 13E, deixando-os, Jesus entrou de novo na barca e se dirigiu para a outra margem.
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Somos Guardiões Dos Nossos Irmãos

Onde está o teu irmão Abel?” é a pergunta de Deus para cada um de nós todos os dias. Esta pergunta de Deus quer nos dizer que somos guardiões dos outros e não rivais e muito menos, inimigos. Somos chamados a cuidar e proteger os outros, pois todos nós somos filhos e filhas de Deus.

A irmandade ou a fraternidade é um substantivo tão rico que deve estar acima de qualquer adjetivo: católico, protestante, muçulmano, budista, hinduísta..., progressista, integrista, de direita, de esquerda e assim por diante. A irmandade e a unidade somente podem acontecer quando se respeita a diversidade: de opiniões políticas, religiosas. Quando destruirmos a irmandade/fraternidade, será difícil para nós unificarmos os homens.

Num mundo “muito bom” tal como saiu das mãos divinas (Gn 1,31), surgiu a maldade humana. De quem é culpa? O redator dos primeiros onze capítulos do Gênesis a atribui ao ser humano. Sem ficar satisfeito com sua condição de ser humano, o homem quer se colocar no lugar de Deus (Gn 3,5). Assim se inicia um processo fatídico (fatalidade) e irreparável de ruptura com Deus e com o irmão.

Abel foi pastor de ovelhas e Caim, agricultor”. A vida agrícola e pastoril representadas por Caim e Abel simbolizam dois tipos diversos de vida humana. Unidos como irmãos, diferentes ou diversos em sua profissão etc. É a diversidade na unidade.

Mas Caim não aceita o êxito de seu irmão como o Senhor aceitou (o autor não explica o porquê da aceitação das oferendas de Abel por parte de Deus) e se enfurece contra Abel, seu irmão. O ódio nascido da vaidade ocasionou a ruptura da irmandade humana. Nasceu, então, o primeiro fratricídio da humanidade. O intento de querer ser como deuses, faz com que não consigamos suportar aquele que está ao nosso lado ainda que seja nosso irmão de sangue.

O interrogatório divino exige contas porque o que interessa para Deus é a justiça entre homens. O homem pode matar outro homem, mas o valor da vida humana não é algo trivial, pelo menos aos olhos divinos. O sangue inocente grita a Deus, origem da vida humana e o Senhor não pode deixar de escutar o grito do inocente. Por isso, Caim, o autor do derramamento do sangue do inocente, é amaldiçoado e o solo que ele cultivou também sofre as conseqüências do sangue derramado sobre o solo: “Agora, serás amaldiçoado pela terra que abriu a boca para receber das tuas mãos o sangue do teu irmão! Quando tu a cultivares, ela te negará seus frutos. E tu serás um fugitivo, vagando sobre a terra”.

Mas apesar do fratricídio, Caim continua com vida. Deus nunca destrói o homem e sim continua cuidando dele: “O Senhor pôs, então, um sinal em Caim, para que ninguém, ao encontrá-lo, o matasse”.

As guerras, assassinatos por diferenças políticas, religiosas, econômicas são sempre injustificáveis. É uma das lições do belo e ao mesmo tempo triste relato sobre Caim e Abel. Por desgraça este foi sempre o comportamento freqüente do ser humano de todas as épocas. Basta ler a história civil e a historia da Igreja.

Não podemos nos esquecer que somos Abel, pois o nome “Abel” deriva do “hebel” (hebraico) cujo significado “sopro”, “nulidade”, “débil”. Todos nós somos sopros. O sopro é a debilidade, um dos estados fundamentais do homem. O homem se assemelha a um sopro: “O homem é semelhante ao sopro da brisa, seus dias são como a sombra que passa” (Sl 143,4). O homem não dura mais que um sopro. Por isso, para que a vaidade, o materialismo, o egoísmo, a prepotência, a inimizade? Tudo que se ganha materialmente ou politicamente vai ficar aqui neste mundo. O que se conquista para a eternidade será levado para a vida eterna. Viver na fraternidade e na igualdade é a expressão de nossa fé no Deus Uno e Trino.

Quando Não Se Tem Fé Pede-Se Provas De Deus

Os fariseus vieram e começaram a discutir com Jesus. E, para pô-lo à prova, pediam-lhe um sinal do céu

Jesus entra novamente na controvérsia com os fariseus. Os fariseus não querem abrir os olhos, muito menos o coração para reconhecer as obras de Jesus pelo bem da humanidade. A arrogância impede os fariseus de reconhecerem a bondade praticada por Jesus. A arrogância é como o mau hálito: todos o percebem, exceto quem dele padece. Os fariseus se preocupam com o próprio prestigio e poder. Por isso, eles sempre querem derrubar Jesus de qualquer modo, pois não admitem a existência de rivais. No evangelho de hoje “Para pôr Jesus à prova os fariseus pediam-lhe um sinal do céu”.

Segundo os fariseus, Jesus deve oferecer provas de suas pretensões de ser profeta esperado ou de um Messias sonhado. Quando reclamaram um sinal do céu, os fariseus exigiam que Deus desse diretamente uma prova da messianidade de Jesus. Tudo isso quer mostrar, na verdade, a incredulidade dos fariseus. Na verdade Jesus já lhes tinha dado um sinal ao expulsar demônios (Mc 3,23), e suas obras mostravam que nele se cumpriu aquilo que foi anunciado pelo profeta Isaias: os paralíticos, os surdos, e os mudos são curados e os mortos ressuscitam (Is 35,5-6).

Diante da incredulidade dos fariseus Jesus fica indignado. Para falar desta indignação, Mc usa a seguinte expressão: “Suspirando profundamente em seu espírito, Jesus disse: ‘Por que esta geração procura um sinal? ’” (Mc 8,12). “Suspirando profundamente” expressa uma grande pena e tristeza de Jesus. É a contrariedade baseada no dom do Espírito que o une a Deus (cf. Mc 7,34).

Jesus também usa a expressão “Esta geração”. No NT a expressão “esta geração” denota sempre um juízo negativo (Mc 8,38; 9,19; Mt 12, 39-45; 16,4, 17,17; Lc 9,41; 11,29; Fl 2,15).  No AT a palavra “esta geração” é um termo de condenação que faz a alusão à “geração do deserto” que contestou Deus, que pus Deus à prova reclamando sempre novas provas ou mostras do poder divino (cf. Ex 15,22-17,7; Sl 95,9-10). O poder de Deus não se manifesta através do exibicionismo, e sim através da simplicidade. E a simplicidade não faz nenhum barulho. Para Deus tudo é simples e para o simples tudo é divino.

“Em verdade vos digo, a esta geração nenhum sinal será dado”. É a primeira vez que Jesus é tão duro. Na expressão “Em verdade” ou “eu asseguro”  escuta-se a voz do juiz que condena.

Jesus sempre recusa sinais que possam ser interpretados apenas como atos exibicionistas (cf. Mc 4,5-7 e Lc 4,9-12). Os atos exibicionistas são pedidos por quem não tem fé (cf. Mc 3,22-30).

Quando buscamos ou damos outro sinal, como os fariseus, é prova de que vivemos ainda na imaturidade da fé ou na incredulidade, pois ainda precisamos de muletas para poder nos mover. Os milagres são um presente que Deus nos faz e não se podem converter em uma manipulação dos demais. Jesus quer que nós mesmos sejamos esse sinal através das boas obras que fazemos. As boas obras que fazemos são provas de nossa união com Cristo e por isso, elas sempre apontam para Cristo, pois fazemos tudo no espírito do Senhor. Os milagres supõem uma fé básica. Mas nossa verdadeira fé não depende de milagres, pois sabemos que Deus nos ama e cremos no Seu amor. A consciência plena do amor de Deus por nós é o grande milagre para nossa vida diariamente. O amor nos tranqüiliza, nos serena e nos faz crescer como filhos e filhas de Deus e nos faz mais humanos e irmãos.

Os fariseus pedem a Jesus um sinal ou uma prova do céu para comprovar a Sua messianidade, esquecendo-se da prova que está tão perto deles: o próprio Jesus. É preciso nós dirigirmos nosso olhar para duas direções: para o céu e para a terra, simultaneamente. Olhar para o céu é olhar para Deus, origem de todas as coisas; é reconhecer nele a fonte de onde saiu tudo de bom para o mundo: “Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. Nele havia vida e a vida era a luz dos homens” (Jo 1,3-4). Olhar para a terra é olhar para a obra de Deus. Antes de qualquer um ter nascido, já tinha tudo na terra e no universo. Vivemos, realmente, no mundo de gratuidade e por isso, no mundo do amor divino. Justamente, a maior prova de que Deus nos ama consiste em que, sendo nós pecadores, nos enviou seu próprio Filho (Jo 3,16) que entregou sua vida para nos libertar da morte e da escravidão do pecado. Deus nos ama. Deus é o Deus-Conosco (Mt 1,23;18,20;28,20). Deus não somente se fez próximo de nós em Jesus Cristo, mas ele fez sua morada em nós mesmos ao vivermos seus mandamentos, resumidos no amor fraterno (Jo 14,23; 1,14; cf. Jo 13,35; 15,12).

Por isso, Jesus é o próprio retrato de Deus, pois ele ama até o fim (Jo 13,1), ele perdoa, ele faz todo mundo irmão, ele ressuscita, ele entrega sua vida para o bem de todos. Se Jesus é o próprio retrato de Deus, cada cristão deve ser o próprio retrato de Jesus Cristo. O cristão, através de seu modo de viver deve ser sinal ou reflexo de Deus no mundo (Cf. Mt 5,14-16). Deus se reconhece na vida do homem, pois o homem é a imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26). A vida do cristão deve brilhar de tal modo que os outros percebam algo de Deus nele.

Em outras palavras podemos dizer que a prova maior de que Deus nos ama consiste em que, sendo pecadores, Ele nos enviou Seu próprio Filho, o qual entregou Sua vida para nos libertar da morte e da escravidão do pecado. Isto é o que celebramos na Eucaristia. Deus nos ama. Deus é o Deus-Conosco. Deus não somente é próximo de nós e sim fez Sua morada em nós. Apesar disso, nossa vida de cristãos constantemente está submetida a uma serie de tentações que só poderemos superá-las permanecendo no Senhor (cf. Jo 15,5) para que o mal não nos domine. “Sabemos que nunca conhecemos Deus se não combatermos o mal, mesmo ao preço de nossas vidas. Quanto mais tentarmos nos purificar, mais nos aproximaremos de Deus” (Mahatma Gandhi).

Em outras palavras, nós precisamos estar conscientes de que, apesar de o Senhor habitar em nós e caminhar conosco, as provas jamais desaparecerão de nossa vida como aconteceu com o nosso Senhor, Jesus Cristo. O próprio Jesus foi tentado até a morte, como foi tentado também no evangelho deste dia. Ser tentado é ser predileto de Deus, pois é sinal de que alguém está caminhando com o Senhor. Nossa vida está submetida a uma série de tentações que, ao serem vencidas pela força do Espírito Santo, nos tornaremos mais maduros na fé e mais humanos na convivência fraterna. Por isso, é preciso que abramos nosso coração à Sabedoria de Deus para que, na nossa atuação como filhos e filhas de Deus, sejamos guiados pelos critérios do bem, do amor, da verdade, da solidariedade, da justiça, da honestidade e assim por diante. Nossa fé não pode ser movida por qualquer vento.

P. Vitus Gustama,svd

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