02/09/2017
TALENTOS
RECEBIDOS SÃO DADOS PARA SEREM MULTIPLICADOS PARA O BEM DE TODOS
Sábado
da XXI Semana Comum
Primeira Leitura: 1Ts 4,9-11
Irmãos, 9 não é preciso
escrever-vos a respeito do amor fraterno, pois já aprendestes de Deus mesmo a
amar-vos uns aos outros. 10 É o que já estais fazendo com todos os irmãos, em
toda a Macedônia. Só podemos exortar-vos, irmãos, a progredirdes sempre mais.
11 Procurai viver, com tranquilidade, dedicando-vos aos vossos afazeres e
trabalhando com as próprias mãos, como recomendamos.
Evangelho: Mt 25,14-30
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos esta parábola: 14 ”Um homem ia viajar
para o estrangeiro. Chamou seus empregados e lhes entregou seus bens. 15 A um
deu cinco talentos, a outro deu dois e ao terceiro, um; a cada qual de acordo
com a sua capacidade. Em seguida viajou. 16 O empregado que havia recebido
cinco talentos saiu logo, trabalhou com eles, e lucrou outros cinco. 17 Do
mesmo modo, o que havia recebido dois lucrou outros dois. 18 Mas aquele que
havia recebido um só, saiu, cavou um buraco na terra, e escondeu o dinheiro do
seu patrão. 19 Depois de muito tempo, o patrão voltou e foi acertar contas com
os empregados. 20 O empregado que havia recebido cinco talentos entregou-lhe
mais cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais
cinco que lucrei’. 21 O patrão lhe disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Como
foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem
participar da minha alegria!’ 22 Chegou também o que havia recebido dois
talentos, e disse: ‘Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais
dois que lucrei’. 23 O patrão lhe disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Como
foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem
participar da minha alegria!’ 24 Por fim, chegou aquele que havia recebido um
talento, e disse: ‘Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não
plantaste e ceifas onde não semeaste. 25 Por isso fiquei com medo e escondi o
teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence’. 26 O patrão lhe respondeu:
‘Servo mau e preguiçoso! Tu sabias que eu colho onde não plantei e que ceifo
onde não semeei? 27 Então devias ter depositado meu dinheiro no banco, para
que, ao voltar, eu recebesse com juros o que me pertence’. 28 Em seguida, o
patrão ordenou: ‘Tirai dele o talento e dai-o àquele que tem dez! 29 Porque a
todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não
tem, até o que tem lhe será tirado. 30 Quanto a este servo inútil, jogai-o lá
fora, na escuridão. Ali haverá choro e ranger de dentes!”
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Mudar Para Crescer Cada Vez
Mais Faz Parte De Um Sucesso
“Irmãos,
não é preciso escrever-vos a respeito do amor fraterno, pois já aprendestes de
Deus mesmo a amar-vos uns aos outros... Só podemos exortar-vos, irmãos, a
progredirdes sempre mais”, escreveu São Paulo para a comunidade cristâ de
Tessalônica.
“Só
podemos exortar-vos, irmãos, a progredirdes sempre mais!”, disse São Paulo.
Nas sociedades mais avançadas não há
indivíduos presos ao destino determinado pela sorte, pois eles são capazes de
projetar a própria vida, e de aprender coisas novas para crescer mais e ampliar
o horizonte. Mudar para crescer cada vez mais faz parte da vida diária e da
caminhada humana. O mundo, em termos de tecnologia, cresce cada vez mais, e nunca
sabemos até onde! Cada tecnologia avançada impõe um novo estilo de vida nunca
antes vivido ou antes simplesmente recusado. O mundo está cada vez mais
conectado. A tecnologia que uma mão segura domina a vida de quem a segura. A tecnologia
aproxima quem está distante e distancia quem está próximo.
Pessoas eficientes e realizadas não passam
tempo fazendo o que é mais conveniente ou cômodo; elas têm coragem de aprender
coisas novas para crescer, de ouvir o próprio coração sem medo, e de fazer
coisas certas e precisas. Isso é que as torna grandes. As pessoas bem-sucedidas
têm o hábito de fazer as coisas que os fracassados não gostam de fazer. “Quando você deixa de crescer, estará
envelhecido. Enquanto estiver aberto ao crescimento, você é jovem. O seu medo
de crescer é o seu medo de tomar conta de si mesmo ou da sua responsabilidade
como adulto” (René Juan Trossero, psicólogo e escritor argentino). “Os
homens só envelhecem quando os lamentos substituem os sonhos” (John
Barrymore, era um ator americano).
Se no dia anterior as recomendações de São Paulo
para os tessalonicenses se referiam à vida de santidade afastando-se da
impureza (refere-se à vida sexual), hoje se tratam da caridade fraterna que
necessita melhorar.
Toda comunidade cristã, seja familiar ou
religiosa, seja paroquial ou diocesano pode sentir-se hoje interpelada: “Só podemos exortar-vos, irmãos, a
progredirdes sempre mais!”. Concretamente, é progredir na vida fraterna
baseada no amor.
O amor é o eixo sobre o qual giram todas as
virtudes e doutrinas do NT. Todas as virtudes lhe servem de alimento e nenhuma
virtude subsiste sem o amor.
Estar no caminho de Jesus é estar no caminho
de amor. O amor opera grandes transformações. A escuridão se transforma em luz,
a solidão em comunhão, o Eu em Nós, o Éros em Ágape, o humano em divino.
O ensinamento que mais vezes nos põe diante
da Palavra de Deus é o mandamento principal: amar a Deus e amar ao próximo. Infelizemente,
é o campo em que mais faltamos e, portanto, o que mais necessita de nosso
esforço de conversão contínua e de crescimento.
Além disso, é preciso levarmos em conta as recomendações
concretas de São Paulo: “Procurai viver, com tranquilidade”, isto
é, manter a calma e a paz na comunidade sabendo resolver as tensões existentes
ou surgidas temporariamente. A tranquilidade da alma e da mente é uma conquista
de cada dia.
Os Talentos São Dados a Cada
Um De Nós Para Multiplicá-los Para o Bem De Todos
O texto do evangelho de hoje fala sobre os
talentos. Mateus os coloca dentro do discurso de Jesus sobre o julgamento
final. Se pensarmos no fim de nossa vida para prestar contas diante de Deus
sobre nossos talentos, não tem como não faremos algo para multiplicá-los para o
bem de todos.
Tanto em inglês como em português
contemporâneos, talento refere-se exclusivamente à aptidão natural e à
capacidade inata de certas pessoas para certas funções. O evangelho nos relata
que um proprietário, antes de viajar, deixa seus bens (talentos) aos
empregados. E o que ele confia a cada um deles não é pouco: é talento. Um
talento equivalia a 34,272 quilos de peso ou aproximadamente a seis mil
denários e tendo-se em vista que o salário mínimo de um trabalhador rural era
um denário por dia (cf. Mt 20,1-16). Por isso, um talento correspondia, mais ou
menos, a dezesseis anos e 160 dias de trabalho de um operário rural na época.
Isto quer nos dizer que Deus confia para cada uma enorme capacidade e que somos
capaz de transformar o bom em algo melhor (multiplicar).
Na parábola dos talentos o amo (patrão)
distribui para seus empregados suas riquezas (isto é, os interesses do Reino)
tendo em conta as possibilidades de cada um, ainda que seja um só talento dado,
e não quer exigir mais do que os empregados podem fazer. E o interessante é que o proprietário não diz o que ou
como os servos devem fazer com os talentos recebidos (modo de multiplicar),
porque ele sabe que cada um deles é capaz, pois ele confia a cada um de acordo
com a própria capacidade e responsabilidade (v.15). “Faze o que podes.
Deus não te pede mais”, dizia Santo Agostinho (Serm. 128, 10,12).
“Deus não leva em conta teus talentos, mas tua disponibilidade. Sabe que
fazes o que podes, mesmo que fracasses no resultado, e contabiliza em teu favor
o que tentaste fazer e não pudeste, como se o tivesses conseguido”,
acrescentou Santo Agostinho (Serm. 18,5).
O texto fala também do momento de prestar
contas, ou seja, do momento de juízo e da recompensa. Neste ponto, o relato usa
as mesmas palavras para os dois primeiros empregados: “servo bom e fiel”: estes
empregados falam o que fizeram com os talentos e o dono não toma os talentos
que multiplicaram e sim que a eles o dono dá muito mais e os associa ao gozo de
sua vida.
O que acontece com aquele que recebeu só um
talento? Aqui o texto se detém longamente e de forma antitética do que o texto
precedente. Isto significa que o ponto alto da parábola se encontra aqui e se
centra na sorte daquele que, tendo capacidade, não fez nada com o talento. Ao
contrário, se preocupa em conservar intacto o talento recebido. Como qualquer
que se sente culpável ou culpado, esse empregado intenta justificar-se e o faz
atacando seu dono: “Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não
plantaste e ceifas onde não semeaste. Por isso fiquei com medo e escondi o teu
talento no chão. Aqui tens o que te pertence”. Percebemos que o empregado
não conhecia o seu dono, pois o que diz sobre seu amo não está certo. Ele acusa
o dono de “um homem severo”, mas não foi com os outros dois empregados.
Além disso, o próprio empregado é dominado
pelo medo: “... fiquei com medo e escondi o teu talento no chão”. Sua atitude era realmente uma atitude de
escravo, nunca chegou a conhecer o dono. Ele parece como certos cristãos que
vivem com medo do Senhor (Deus), pois O veem como “juiz” e não como “Amor” (cf.
1Jo 4,8.16); não se sente como “filhos” e por isso, não se encontram sob a ação
do Espírito Santo que ajuda a dizer: Abba, Papaizinho (Rm 8,15). “Deus
não condena quem não pode fazer o que quer, mas quem não quer fazer o que pode”,
dizia Santo Agostinho
Trata-se dos interesses do Reino, das
riquezas do Senhor quando se fala dos talentos neste evangelho. Cada um tem
obrigação de fazer frutificar os bens do Reino durante o tempo que a cada um
foi concedido para administrá-lo (talento). Para Mateus este tempo é o tempo da
Igreja, tempo de cada um de nós.
Deus confiou seus tesouros a todos os homens
para serem administrados. Tudo o que temos é um bem que nos foi confiado. Deus
tem confiança em nós ao nos dar “seus bens”. Eu sou “propriedade privada” de
Deus. Todos os dons, todos os valores e riquezas que estão em mim, pertencem a
Deus. Deus põe em jogo Sua Palavra como o faz um financista com seu capital. O
empregado que recebeu um só talento, recusando mesquinhamente todo tipo de
riscos, se decide por escolher uma segurança falsa, já que uma riqueza morta,
sem investir, se desvaloriza. Quem não multiplica o que tem, o dilapida/
desperdiça. Quem “enterra” seu talento por medo a perdê-lo, se enterra a si
mesmo e opta pela morte.
Para quem não viver uma espera ativa (as
duas parábolas falam da demora da chegada do noivo [Mt 25,5] e do dono [Mt
25,19]), para quem não viver como terreno bom e fértil que dá como fruto
trinta, sessenta ou cem por um (Mt 13,8.23), segundo sua situação, haverá
somente condenação. Condenação é viver afastado do próprio Senhor; é viver fora
de Sua casa; é viver atormentado. Por seis vezes, estes se descrevem com a
imagem: “Ali haverá choro e ranger de dentes” (Mt 8,12; 13,42.50; 22,13;
24,51; 25,30). “Ninguém está tão só do que aquele que vivem sem Deus”,
dizia Santo Agostinho.
O bom cristão não esconde o seu talento, mas
aplica. Não enterra, mas planta; não guarda, mas multiplica; não se apropria,
mas tudo coloca à disposição de todos para o bem de todos. Nenhum cristão pode
ficar feliz enquanto outro irmão está passando por alguma necessidade. Podemos
dizer que para o cristão, o bom negócio mesmo nessa passagem de vida é
“partilhar”. Levaremos uma vida
melhor, mais saudável e mais longa trabalhando juntos. A completa
auto-suficiência é uma ilusão egoísta. Há muito mais força e felicidade na
cooperação e na partilha. Você tem realizado e
multiplicado os talentos que Deus depositou em você?
P. Vitus Gustama,svd
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