Domingo, 20/08/2017
Nesta página há duas reflexões:
1. Sobre a Assunção de Nossa Senhora (para os lugares em que esta festa é celebrada neste domingo).
2. Reflexão do XX Domingo do Tempo Comum Ano "A" (Para os lugares em que a festa da Assunção de Nossa Senhora foi celebrada no dia 15 de agosto).
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ASSUNÇÃO
DE MARIA, MÃE DO SENHOR, AO CÉU
I Leitura: Ap 11,19a; 12,1.3-6a.10ab
19ª Abriu-se o Templo de
Deus que está no céu e apareceu no Templo a Arca da Aliança. 12,1 Então
apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo
dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas. 3 Então apareceu outro
sinal no céu: um grande Dragão, cor de fogo. Tinha sete cabeças e dez chifres
e, sobre as cabeças, sete coroas. 4 Com a cauda, varria a terça parte das
estrelas do céu, atirando-as sobre a terra. O Dragão parou diante da Mulher,
que estava para dar à luz, pronto para devorar o seu Filho, logo que nascesse.
5 E ela deu à luz um filho homem, que veio para governar todas as nações com
cetro de ferro. Mas o Filho foi levado para junto de Deus e do seu trono. 6ª A
mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar. 10ab Ouvi
então uma voz forte no céu, proclamando: “Agora realizou-se a salvação, a força
e a realeza do nosso Deus, e o poder do seu Cristo”
II Leitura: 1Cor 15,20-27a
Irmãos: 20Cristo
ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. 21Com efeito, por um homem
veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. 22Como
em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão. 23Porém, cada
qual segundo uma ordem determinada: Em primeiro lugar, Cristo, como primícias;
depois, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. 24A seguir, será o
fim, quando ele entregar a realeza a Deus-Pai, depois de destruir todo
principado e todo poder e força. 25Pois é preciso que ele reine até que todos
os seus inimigos estejam debaixo de seus pés. 26O último inimigo a ser
destruído é a morte. 27aCom efeito, “Deus pôs tudo debaixo de seus pés”.
Evangelho: Lc 1,39-56
Naqueles dias, 39
Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma
cidade da Judeia. 40 Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. 41
Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel
ficou cheia do Espírito Santo. 42 Com grande grito, exclamou: “Bendita és tu
entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! 43 Como posso merecer que
a mãe do meu Senhor me venha visitar? 44 Logo que a tua saudação chegou aos
meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45 Bem-aventurada
aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”. 46 Então
Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, 47 e o meu espírito se alegra
em Deus, meu Salvador, 48 porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante
todas as gerações me chamarão bem-aventurada, 49 porque o Todo-poderoso fez
grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, 50 e sua misericórdia se
estende, de geração em geração, a todos os que o respeitam. 51 Ele mostrou a
força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. 52 Derrubou do trono os
poderosos e elevou os humildes. 53 Encheu de bens os famintos, e despediu os
ricos de mãos vazias. 54 Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua
misericórdia, 55 conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de
sua descendência, para sempre”. 56 Maria ficou três meses com Isabel; depois
voltou para casa.
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I. Sobre o Culto a Maria, Mãe do Senhor
O culto é um ato de honra, reverência,
estimação e louvor que se presta a uma pessoa ou à divindade. Literalmente a
palavra “culto” vem do latin “colere” que significa encontro com o divino, geralmente no quadro de determinadas formas.
É evidentemente vasto o significado da palavra “encontro”. Conforme o conteúdo
do encontro mudam também as suas formas, variados são os lugares, os tempos, as
intenções, os efeitos, os executores, o círculo dos participantes e a
intensidade da participação. Temos o culto cívico, patriótico, religioso
etc....
Em sentido estrito, o culto é só a Deus que
se tributa pela sua excelência infinita; podemos, no entanto, tributá-lo,
indiretamente aos santos pela estreita união que têm com Deus. Por isso, o
culto pode ser de latria (adoração)
que se presta unicamente a Deus em reconhecimento da sua excelência e do seu
domínio supremo sobre todo o universo. Pode ser o de dulia (veneração) que se tributa aos santos em reconhecimento
da sua vida de entrega e união a Deus. Dulia é conseqüência do dogma da
comunhão dos santos como professamos no Credo: “Creio na comunhão dos
santos...”.
Pode ser o culto de hiperdulia (veneração especial) que se presta a Maria Santíssima,
reconhecendo a sua dignidade de Mãe de Deus (declaração do Concílio de Éfeso em 431; cf. LG no. 53 do Concílio Vaticano II). Por ser
criatura, não se pode prestar-lhe o culto de adoração (cf. LG no. 62). Só
assim, evita-se o perigo da “mariolatria”
e os excessos na devoção mariana. Por “mariolatria” entendemos exatamente o atribuir em
surdina à Virgem Maria o culto devido a Cristo. Se Maria não
permanecer o ostensório, onde tudo brilha para o Cristo, estaremos depreciando
a verdadeira glória de Maria.
A glória de Maria reside no insondável
mistério de sua concepção corporal e espiritual de Cristo, na aspiração de todo
o seu ser pelo único mediador, Cristo Jesus.
Cristo é que faz compreender Maria e não Maria
que nos faz compreender Cristo. Maria não é um elo que une o homem a
Deus, mas o seio que gera todos os irmãos de Cristo (cf. Jo 19,26-27). O
encontro com Cristo faz-se nela. Toda a vida mariana é essencialmente
cristocêntrica. Mas por ser a mais excelsa de todas as criaturas, acima de
todos os anjos e santos, presta-lhe culto de especial veneração. Na santa
Igreja ela ocupa o lugar mais alto depois de Cristo e o mais perto de nós (LG
no. 54). Ao sabermos disso, a devoção mariana em nada afasta de Cristo. Nem
substitui nossa obrigação diante dele. A veneração de Maria no culto litúrgico
não é acréscimo e excrescência, nem tampouco implica diminuição do culto a
Cristo, porque a graça do Filho resplandece em sua Mãe mais que em qualquer
outro membro do corpo do Senhor.
Devemos estar conscientes de que a devoção
mariana é um verdadeiro culto. Situa-se num plano mais elevado em razão do
excepcional lugar de Maria na ordem da graça e da vida cristã. Por isso, temos
dogmas marianos, mas não temos dogmas de tal ou qual santo. Isso dá ao culto
mariano uma amplidão que outras devoções não têm, nem mesmo o culto aos santos
em geral. Se nossas orações sobem ao Pai pelo Filho na medida em que elas são
objetivamente no fiat de Maria, elas
ganharão em intensidade e eficácia se as engajamos pessoalmente na oração
todo-poderosa de Maria.
II. Sobre a Assunção de Maria
No calendário litúrgico temos as quatro
solenidades nas quais Maria é protagonista: 1 de janeiro: Maternidade Divina; 8
de dezembro: Imaculada Conceição; 15 de agosto: Gloriosa Assunção; 25 de março:
Anunciação do Senhor. Duas delas têm referencias mais cristológicas:
maternidade e anunciação. E outras duas têm mais eclesiológicas: conceição e
assunção. É claro que toda festa mariana é cristológica: em função de Cristo
Salvador. Mas com esta distinção quer-se enfatizar um fator exemplar de Maria
que é importante para a Igreja: ela é a primeira redimida (imaculada conceição)
e é a primeira glorificada (assunção).
A proclamação do dogma da Assunção de Maria à glória dos céus, em alma e
corpo, pertence ao século XX: foi declarado solenemente por Pio XII em 01 de Novembro
de 1950 na bula Munificentissimus
Deus. (Deus Generosíssimo)
No entanto, a liturgia da Igreja universal,
tanto no Oriente quanto no Ocidente, celebrou por muitos séculos esta convicção
de fé. No século V celebrava-se em
Jerusalém no dia 15 de agosto uma festa importante que tinha por objeto a
excelência da pessoa da Mãe de Deus, eleita por supremo conselho para
desempenhar uma missão muito especial na história da salvação. Entre o V e VI
século, a narração apócrifa sobre o Trânsito
de Maria da vida terrena à glória eterna alcançou uma difusão
extraordinária: a conseqüência foi o desejo natural dos peregrinos que ocorriam
a Jerusalém de honrar o túmulo da Virgem. Durante o século VII, com o nome de Assunção foi acolhida na Igreja de Roma,
juntamente com as festa da Apresentação, Anunciação e Natividade, para as quais
o Papa Sérgio I (+ 701), instituiu uma procissão preparatória para a missa,
celebrada na Santa Maria Maior. No fim do século VII encontra-se uma antiga
oração romana composta para a procissão que introduz a celebração mariana do
dia 15 de agosto: “Venerável é para nós,
Senhor, a festa deste dia em que a Santa Mãe de Deus sofreu a morte terrena,
mas não permaneceu nas amarras da morte, ela que, do próprio ser, gerou,
encarnado, o teu Filho, Senhor nosso” (Sacramentário Gregoriano Adrineu,
no.661)
A bula da definição dogmática (Munificentissimus Deus)
não fala de argumentos bíblicos, pois a Escritura não afirma a Assunção de
Maria. Discute-se se Maria morreu ou não. Por isso, o texto dogmático,
cautelosamente, diz “terminado o curso de sua vida terrestre”. Nós, por isso,
afirmamos que Maria morreu, pois só assim se pode falar, verdadeiramente, de
ressurreição, porquanto somente um morto pode ressuscitar. Maria morreu pelo
fato natural da morte que pertence à estrutura da vida humana,
independentemente do pecado. Maria, livre e isenta de todo o pecado, pôde
integrar a morte como pertencente à vida criada por Deus. A morte não é vista
como fatalidade e perda da vida, mas como chance e passagem para uma vida mais
plena em Deus.
Além disso, Maria participa na economia da
redenção pelo fato de ser a Mãe do Senhor (Lc 1,43). Ela se associou totalmente
ao destino de seu Filho. A redenção implica sempre a colaboração de quem a
recebe. Maria colaborou admiravelmente na própria salvação. Já por este título
ela é o modelo original de quantos recebem a salvação, o modelo de todos os
redimidos. Como tal, ela já tem um significado universal de salvação. É o
protótipo da vida redimida, a plena e perfeita realização, a imagem ideal de
toda a vida cristã. Por sua vida e morte Jesus nos libertou. Por sua vida e
morte Maria participou desta obra messiânica e universal. A co-redenção
significa a associação de Maria tanto à cruz de Jesus como à sua ressurreição e
exaltação gloriosa ou ascensão. Esta razão teológica tem o seu fundamento no
triunfo de Cristo sobre a morte, de que faz participantes todos os cristãos por
meio da fé e do batismo.
Maria foi assunta ao céu em corpo e alma. Aqui não se trata de dogmatizar um esquema
antropológico (corpo e alma). Utiliza-se esta expressão, compreensível à
cultura ocidental, para enfatizar o caráter totalizante e completo da
glorificação de Maria. Maria vê-se envolvida na absoluta realização. “Assunta ao céu”, ela se nos apresenta como
as primícias da redenção, tendo já consumado em si o que ainda se realizará em
nós e na Igreja. O corpo de Maria, enquanto ela perambulava por este mundo, foi
somente veículo de graça, de amor, de compreensão e de bondade. Não foi
instrumento de pecado, da vontade de auto-afirmação humana e de desunião com os
irmãos. O corpo é forte e frágil, cheio
de vida e contaminado pela doença e morte. Por isso, é exaltado por uns até a
idolatria e odiado por outros até a trituração. Maria vive e goza, no corpo e
na alma, quer dizer na totalidade de sua existência, desta inefável realização
humana e divina.
O Papa Paulo VI resume o sentido da
festa com estas palavras: “A solenidade de 15 de agosto celebra a gloriosa
Assunção de Maria ao céu; festa do seu destino de plenitude e de
bem-aventurança, da glorificação da sua alma imaculada e do seu corpo virginal,
da sua perfeita configuração com Cristo Ressuscitado. É uma festa, pois, que
propõe à Igreja e à humanidade a imagem e o consolante penhor do realizar-se da
sua esperança final: que é essa mesma glorificação plena, destino de todos
aqueles que Cristo fez irmãos, ao ter como eles "em comum o sangue e a
carne" (Hb 2,14; cf. Gl 4,4)” [Marialis Cultus, n. 6].
A partir desta exortação podemos dizer que a
Assunção de Maria é a realização da utopia humana, isto é, aquilo que o homem
sonha, aquilo que o homem aspira, aquilo que responde maximamente à vontade de
Deus. Em Maria a humanidade chega ao maior esplendor da existência humana, à
beleza suprema do ser. Em Maria encontramos a melhor resposta, a melhor
realização da vida de uma pessoa humana: sua glorificação. Maria nos revela até
onde pode chegar a cooperação entre Deus e a humanidade. Diante do mistério de
Cristo, Maria se deixa levar pelo Espírito Santo, e inventou cada dia novas
respostas.
Para Maria a assunção significa o definitivo
encontro com seu Filho que a precedeu na glória. Mãe e Filho vivem um amor e
uma união inimaginável. Maria agora vive aquilo que nós também iremos viver
quando atingirmos o céu. Enquanto peregrinamos, Maria atua como imagem que
recorda e concretiza o nosso futuro. Em cada um que morre no Senhor se realiza
aquilo que ocorreu com Maria: a ressurreição e a elevação ao céu.
Andando por entre as tribulações do tempo
presente, erguemos os olhos ao céu e rezamos: Salve Maria, vida, doçura e
esperança, salve! Rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte. Doce
mãe da esperança, em quem apareceu o futuro do mundo e nos foi antecipada e
prometida a glória do tempo futuro, ajuda-nos a ser peregrinos na esperança a
caminho da unidade futura do Reino, sem pararmos diante das resistências e das
canseiras, antes nos empenhando, com fidelidade e paixão, em levar no presente
os homens ao futuro da promessa de Deus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por
nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém!
Algumas mensagens da leitura evangélica desta festa
1.
As palavras de saudação e agradecimento dirigidas por Isabel a Maria
despertaram nela uma maravilhosa profissão de fé. Coisa semelhante acontece com
cada um de nós. Lemos ou escutamos a Palavra de Deus ou lemos um bom livro
espiritualmente. E quantas vezes tudo isso nos toca o coração e faz brotar dos
lábios uma oração de louvor. Maria reconhece que o amor misericordioso do
Senhor a tocou; e tocando-a, tocou a humanidade inteira. Por isso é que Isabel
a proclama “bem-aventurada”. Por Maria e nela, todos os homens reconhecem o
amor infinito e misterioso de Deus(Jo 3,16). Todos nós temos necessidade de que
um outro nos revele a nós mesmos. É grande graça na vida de uma pessoa
encontrar um mestre de espírito que lhe indique o seu nome, a sua vocação, a
sua missão.
2.
Na anunciação Maria tornou-se a primeira discípula, entre os primeiros
cristãos, ouvindo a Palavra de Deus e aceitando-a . Na Visitação, ela se
apressa em partilhar esta palavra do evangelho com os outros e, no Magnificat,
temos sua interpretação dessa palavra que se assemelha à interpretação que seu
Filho tinha dado em seu ministério. A primeira discípula cristã exemplifica a
tarefa essencial de um discípulo. Depois de ouvir a Palavra de Deus e aceitá-la,
devemos reparti-la com os outros, não simplesmente repetindo-a, mas
interpretando-a, de modo que todos possam vê-la como uma Boa Nova.
3.
Neste Magnificat Deus é proclamado como “Santo”. Santo significa aquele
que está para além de tudo quanto pudermos pensar e imaginar; é totalmente
outro que habita numa luz inacessível(v.49). Mas não vive numa soberana
distância dos gritos dolorosos de seus filhos, pois este Deus santo é também
misericordioso. Possui um coração sensível aos míseros e protesta contra a
injustiça e a exploração e opressão. O texto chama-nos a atenção que os
orgulhosos, os detentores do poder e os ricos fechados para si não possuem a
última palavra como sempre pretendem, pois cada um tem que prestar contas
diante de Deus. Alguém pode escapar da justiça humana, mas sobra a justiça
divina. Aí é que ninguém escapa. Pela
sua fé no poder ilimitado de Deus (v.37), Maria reconhece que a situação
provocada pela prepotência, opressão e exploração não é desejada por Deus e,
por isso, espera que não seja definitiva. Esta intervenção de Deus é vista como
um ato de fidelidade para com o povo da aliança.
4. O
Deus a quem o Magnificat proclama está orientado para os homens, em especial
para os fracos, os pobres, os infelizes, os desgraçados, os oprimidos;
privilegia o humilde, o humilhado, aqueles aos quais não se concede o direito à
existência. Quem reconhece a Deus como seu Senhor, deve estimar todo homem como
irmão.
Como Maria, estamos convencidos de que tudo é
possível para quem crê (Lc 1,37; Mc 9,23).
P. Vitus Gustama,svd
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FÉ
AUTÊNTICA RESISTE DIANTE DE QUALQUER DIFICULDADE
XX DOMINGO DO TEMPO COMUM “A”
I Leitura: Isaías 56, 1.6-7
1Eis o que diz o Senhor:
«Respeitai o direito, praticai a justiça, porque a minha salvação está perto e
a minha justiça não tardará a manifestar-se. 6Quanto aos estrangeiros que
desejam unir-se ao Senhor para O servirem, para amarem o seu nome e serem seus
servos, se guardarem o sábado, sem o profanarem, se forem fiéis à minha
aliança, 7hei-de conduzi-los ao meu santo monte, hei-de enchê-los de alegria na
minha casa de oração. Os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceites
no meu altar, porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os
povos».
II Leitura: Romanos 11, 13-15.29-32
Irmãos: 13É a vós, os
gentios, que eu falo: Enquanto eu for Apóstolo dos gentios, procurarei
prestigiar o meu ministério 14a ver se provoco o ciúme dos homens da minha raça
e salvo alguns deles. 15Porque, se da sua rejeição resultou a reconciliação do
mundo, o que será a sua reintegração senão uma ressurreição de entre os mortos?
29Porque os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis. 30Vós fostes outrora
desobedientes a Deus e agora alcançastes misericórdia, devido à desobediência
dos judeus. 31Assim também eles desobedeceram agora, devido à misericórdia que
alcançastes, para que, por sua vez, também eles alcancem agora misericórdia.
32Efectivamente, Deus encerrou a todos na desobediência, para usar de
misericórdia para com todos.
Evangelho: Mt 15,21-28
Naquele
tempo, Jesus retirou-Se para a região de Tiro e Sidônia. E eis que, uma mulher
Cananéia daquela região, veio gritando: «Senhor, Filho de Davi, tem compaixão
de mim: a minha filha está cruelmente endemoninhada». Ele, porém, nada lhe
respondeu. Então os seus discípulos aproximaram-se dele e pediram-Lhe: «Despede-a, porque ela vem gritando atrás de
nós». Jesus respondeu: «Não fui enviado
senão às ovelhas perdidas da casa de Israel». Mas a mulher aproximando-se,
prostrou-se diante d’Ele, e pôs-se a rogar: «Socorre-me, Senhor». Ele respondeu: «Não fica bem tirar o pão dos
filhos e atirá-lo aos cachorrinhos». Mas ela insistiu: «É verdade, Senhor; mas
também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus donos».
Então Jesus respondeu-lhe: «Mulher, grande é a tua fé! seja feito como queres!
». E, a partir daquele momento, a sua filha ficou curada.
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Através do episódio do evangelho de hoje
Mateus dá um passo importante para frente, pois a cena não tem lugar em Israel
e sim no território estrangeiro: na região de Tiro e Sidônia, na região pagã.
Em termos de sociologia religiosa judaica isto significa que a cena se
desenvolve no território pagão. Toma corpo assim o que Mateus tinha insinuado
quando, ao apresentar a atividade de Jesus, citava o texto de Isaias que fala
da Galiléia dos pagãos (Mt 4,15). Os pagãos estão agora aqui, representados
pela mulher Cananéia que vivia na atual Líbano. É chamada de “cananéia”. Este
termo é bastante negativo para um judeu por quanto encarna tudo o que é de
sedutor e perigoso para a fé javista.
O texto está cheio de surpresas. A
primeira surpresa: uma estrangeira dá a Jesus o título tipicamente
judeu: “Filho de Davi” e “Senhor”. A mulher proclama Jesus como “Filho de
Davi”, isto é, como Messias prometido a Israel. Com este titulo Mateus
introduziu a ascendência de Jesus na genealogia (Mt 1,1). Além desse titulo, a
mulher vê em Jesus o Salvador e O proclama “Senhor”. Somente quem tem fé pode invocar a Jesus como
“Senhor”. Trata-se de um título pós-pascal.
Seja quem for este Messias, tão falado pelos
judeus (“Filho de Davi”), ela reconhece humildemente que Deus é capaz de operar
nele e através dele em função da libertação ou da salvação do povo. Ela não se
considera nada, a não ser uma mulher com o coração cheio de dor por sua filha
atormentada, e com a alma iluminada pela esperança tão certa, porque Deus nunca
abandonará os que O procuram com simplicidade e sinceridade. Com toda a
grandeza ela se entrega a Cristo que é o Senhor, o Salvador. Ela está
necessitada; o Senhor e somente o Senhor pode ajudá-la.
A segunda surpresa é o silêncio de
Jesus diante do grito da mulher, primeiro, e sua resposta, depois, para a
demanda dos discípulos (Mt 15,23): “Eu fui enviado somente para as ovelhas
perdidas da casa de Israel” (Mt 15,24). Esta resposta é repetição do
mandato de Jesus aos Doze, no discurso sobre a missão, ao dizer-lhes: “Não
deveis ir aos territórios dos pagãos, nem entrar nas cidades dos samaritanos!
Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel!” (Mt 10,5-6).
O aparente silêncio de Deus diante de nossos
problemas não significa Sua ausência e Sua insensibilidade. O aparente silêncio
de Deus é o momento precioso para entrarmos numa reflexão profunda. Além disso,
pode ser que nesses momentos sejamos purificados de tudo para que possamos
gritar com mais fé apesar dos obstáculos, a exemplo da mulher cananéia.
A terceira surpresa é a apresentação da
mulher no v. 25 com o gesto típico judeu de adoração a Deus, gesto
característico no evangelho de Mateus para expressar a atitude de um crente
diante de Jesus. A mulher considera Jesus como Deus e por isso, ela se prostra
diante de Jesus: “A mulher, aproximando-se, prostrou-se diante de Jesus e
começou a implorar...”. E pediu: “Senhor, ajuda-me!”. Ela já é uma
só coisa com sua filha. Ela se identifica totalmente com a dor e o tormento de
sua filha. É uma verdadeira mãe! Para essa mãe, sua filha é ela mesma: “Senhor,
socorre-me!”, em vez de dizer “Senhor, socorre minha filha”.
A quarta surpresa é a resposta de
Jesus à mulher: “Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-lo aos
cachorrinhos” (Mt 15,26). Jesus faz seu o termo depreciativo
“cachorro/cachorrinho” que os judeus aplicavam aos pagãos/ estrangeiros. O
rabino Eliezer dizia: “Quem come com um idólatra é como quem come com um
cachorro”. É difícil encontrar em qualquer dos quatro evangelhos uma imagem de
Jesus tão judia como a que nos oferece Mateus neste texto. Será que ele aceita
este termo ou está fazendo alguma ironia? Escutamos a frase fora do território
judeu onde Jesus se encontra. É a frase que traz um questionamento sobre a tradição
judaica. A lógica da encarnação está aqui levada ao máximo de identificação com
a história concreta do povo.
A quinta e a ultima surpresa é a reação da mulher
pagã que não aspira a suplantar, mas simplesmente a participar: “É verdade,
Senhor; mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus
donos” (Mt 15,27).
Essa mulher não desiste nem é amedrontada.
Seu amor de mãe espera contra toda esperança porque sabe captar nas palavras de
Jesus uma nota de bondade. Jesus não a trata com apelido “cachorro” e sim com
um apelido mais suave: “cachorrinhos”. Ela quer dizer: “Deixa que me alimente
do que cai da mesa onde está o pai com os filhos; faz que também eu seja parte
da família!”. E a mulher Cananéia, que não é membro do Povo de Deus, encarna o
ideal do que deve ser um membro do Povo de Deus.
Todo este conjunto de surpresas no texto de
Mateus tem uma função de preparar e de ressaltar a frase final de Jesus: “Ó
mulher, grande é tua fé!”. É a frase que o leitor de Mateus pressentia
e esperava. A frase que ratifica a queda do muro de separação entre judeus e
pagãos. Um mundo religioso fechado em si mesmo fica aqui superado e derrubado
para dar lugar a outro mundo de todos e para todos. São Paulo expressa muito
bem esse pensamento ao escrever: “Não há distinção entre judeu e grego,
porque todos têm um mesmo Senhor, rico para com todos os que o invocam, porque
todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rm 10,12-13; Jl 3,5).
Vale a pena fixar-se na capacidade de
admiração de Jesus diante da fé dos pagãos. Jesus não duvida em afirmar: “Em
ninguém em Israel encontrei tanta fé” (Mt 8,10). Fé, aqui, é confiança, é
abertura a sua pessoa e a seu poder. E esta fé, que se dirige a Jesus, tem seu
motor e extrai sua força da própria necessidade: a situação da filha
“endemoninhada” (Mt 15,22), e o empregado que “está em cama paralitico e sofre
muito” (Mt 8,6). Desde nossas situações vitais é que vamos a Jesus e confiamos
nele, como a cananéia. Aprendamos a nos admirar da fé dos que estão fora da Igreja,
da gente simples. E fiquemos atentos porque a fé pode estar ausente entre os
próprios cristãos: “Em ninguém em Israel encontrei tanta fé” (Mt 8,10),
disse Jesus sobre a fé de quem não pertence ao povo eleito. É uma grande
ironia: os que se dizem crentes, têm pouco fé. Os que são considerados
“pagãos”, têm tanta fé. afinal, quem é o verdadeiro pagão?
“Ó mulher, grande é tua fé!”.
Esta frase rompe os esquemas religiosos até agora vigentes no Povo de Deus. A
partir daqui já não tem sentido falar do Povo de Deus num sentido limitado de
etnia ou nação; já não há “cachorrinhos” nem amos, judeus nem gregos, servos
nem livres, varões nem mulheres (cf. Rm 10,12; Gl 3,28). Nacionalidade,
condição social e sexo ficam eliminados como fatores determinantes de pertença
ao Povo de Deus. A própria escolha da mulher como protagonista do relato é um
fato em si mesmo significativo. Se alguém não tinha voz no interior do Povo de
Deus, eram precisamente as mulheres. Escolhendo uma mulher, primeiro;
estrangeira, depois; e cananéia por último, Mateus acaba com todos os esquemas
até então vigentes. A partir de agora o que determina a pertença ao Povo de
Deus é a fé em Jesus, a adesão à sua Pessoa, a vivência de seus ensinamentos.
Não nos esqueçamos nunca, no contexto de Mateus, de que esta fé significa a
relativização da Lei e da Tradição, importantes e necessárias, por suposto, mas
nunca prioritárias nem com valor de absolutos. Esquecer esta relativização tem
o risco, entre outros, de reduzir a fé em Jesus a um pietismo pessoal.
Muitas pessoas estão fora da Igreja porque
ainda não sabemos acolhê-las, porque lhe exigimos uma mudança de cultura, de
atitude diante da vida que nem mesmo Cristo pediu isso dos seus parceiros de
diálogo.
“Senhor, Filho de Davi, tem piedade de
mim: minha filha está cruelmente atormentada por um demônio!”. É uma oração de
petição que sai de uma fé profunda em que Deus pode fazer o que se pede e de
uma confiança ilimitada no que Deus fará alguma coisa para resolver o problema
existente. A fé é o distintivo essencial do cristão, além do amor (cf. Jo
13,35). É uma fé que recebe o que quer, porque o que quer é a vontade de Deus.
Esta mulher não desiste diante dos obstáculos. Ela está na linha que Jesus
ensinou anteriormente: “pedi..., buscai..., chamai/batei a porta...,”
(Mt 7,7-8). São estes três aspectos (pedir, buscar, bater a porta) que definem
substancialmente o homem. Daí a necessidade de “lutar” com Deus no terreno de
uma oração perseverante. A Cananéia obteve o que pedia porque se manteve nessa
atitude de essencial pobreza. Por causa de sua perseverança, cumpre-se nela a
Palavra de Deus: “recebereis..., achareis/encontrareis..., a porta será
aberta...,” (Mt 7,7-8). “Pedindo as migalhas que caem da mesa, logo a
mulher se encontrou sentada à mesa”, comentou Santo Agostinho. Três
aspectos que definem Deus: receber, encontrar e a porta será aberta. Deus e o
homem estão postos frente a frente e cada um faz o que lhe é próprio: o homem
com sua pobreza do essencial e Deus com a abundância de sua graça e benção para
o homem aberto diante da providência divina.
Deus não pretende demonstrar que é um Criador
poderoso e sim um Pai amoroso e misericordioso. Por ser Pai, Deus quer estar
próximo de cada pessoa e de suas necessidades. Ele quer consolar e salvar. Mais
que a admiração intenta provocar a confiança e o amor. Por isso, suas
intervenções preferentemente têm lugar em contatos pessoais. Um caso é o da
mulher Cananéia. É uma mãe pagã que pede a ajuda de Jesus em favor de sua
filha. Na verdade ela é uma pessoa cheia de fé que se dirige a Jesus no
convencimento de que Ele é o Enviado de um Deus que é Pai para todos. A oração
dessa mulher foi atendida.
Jesus, ao elogiar a fé da mulher e curar sua
filha, quer nos mostrar que para ele a fé tem uma força superior a qualquer
delineamento ou prejuízo: a fé salva sempre. Ali onde há a fé, Jesus atua. E
fé, aqui, significa convencimento de que Jesus é a Vida e o Caminho (cf. Jo
14,6) e confiança nele. Esta fé é que Jesus busca em cada um de nós. A mulher
cananéia nos assinala o caminho para esta fé: a absoluta confiança em Jesus
Cristo. É uma confiança que não necessita de nenhuma condição prévia; é uma fé
que vai além do que pedimos para chegar à Pessoa de Jesus Cristo que é “o
Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).
Hoje somos convidados a examinar se nossa fé
é verdadeira e firme, se temos Jesus presente em nossa vida, se confiamos nele
em qualquer situação de nossa vida. Ao mesmo tempo somos convidados a examinar
possíveis desvios: confiar demasiadamente em outras coisas (seja nossos bens
materiais, sejam nossas “boas obras” etc.) ou se negamos o direito que o outro
tem para expressar sua fé de modo distinto ao nosso.
P.Vitus Gustama, svd
Para Refletir:
ALGUMAS FRASES SOBRE A FÉ DA CARTA ENCÍCLICA LUMEN FIDEI DO PAPA FRANCISCO:
- A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude e nos é aberta a visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como dom sobrenatural, aparece-nos como luz para a estrada orientando os nossos passos no tempo.
- A fé é luz que vem do futuro, que descerra diante de nós horizontes grandes e nos leva a ultrapassar o nosso « eu » isolado abrindo-o à amplitude da comunhão. Deste modo, compreendemos que a fé não mora na escuridão, mas é uma luz para as nossas trevas.
- Fé, esperança e caridade constituem, numa interligação admirável, o dinamismo da vida cristã rumo à plena comunhão com Deus.
- « O homem fiel é aquele que crê no Deus que promete; o Deus fiel é aquele que concede o que prometeu ao homem.
- A fé pede para se renunciar à posse imediata que a visão parece oferecer; é um convite para se abrir à fonte da luz, respeitando o mistério próprio de um Rosto que pretende revelar-se de forma pessoal e no momento oportuno.
- O homem renunciou à busca de uma luz grande, de uma verdade grande, para se contentar com pequenas luzes que iluminam por breves instantes, mas são incapazes de desvendar a estrada. Quando falta a luz, tudo se torna confuso: é impossível distinguir o bem do mal, diferenciar a estrada que conduz à meta daquela que nos faz girar repetidamente em círculo, sem direção.
- Por isso, urge recuperar o caráter de luz que é próprio da fé, pois, quando a sua chama se apaga, todas as outras luzes acabam também por perder o seu vigor. De fato, a luz da fé possui um caráter singular, sendo capaz de iluminar toda a existência do homem.
- Ora, para que uma luz seja tão poderosa, não pode dimanar de nós mesmos; tem de vir de uma fonte mais originária, deve porvir em última análise de Deus.
- A fé está ligada à escuta. Abraão não vê Deus, mas ouve a sua voz. Deste modo, a fé assume um caráter pessoal: o Senhor não é o Deus de um lugar, nem mesmo o Deus vinculado a um tempo sagrado específico, mas o Deus de uma pessoa, concretamente o Deus de Abraão, Isaac e Jacob, capaz de entrar em contato com o homem e estabelecer com ele uma aliança. A fé é a resposta a uma Palavra que interpela pessoalmente, a um Tu que nos chama por nome.
- A fé “vê” na medida em que caminha, em que entra no espaço aberto pela Palavra de Deus.
- O contrário da fé é a idolatria. O ídolo é um pretexto para se colocar a si mesmo no centro da realidade, na adoração da obra das próprias mãos. A idolatria é sempre politeísmo, movimento sem meta de um senhor para outro. A idolatria não oferece um caminho, mas uma multiplicidade de veredas que não conduzem a uma meta certa, antes se configuram como um labirinto.
- A fé, enquanto ligada à conversão, é o contrário da idolatria: é separação dos ídolos para voltar ao Deus vivo, através de um encontro pessoal.
- Acreditar significa confiar-se a um amor misericordioso que sempre acolhe e perdoa, que sustenta e guia a existência, que se mostra poderoso na sua capacidade de endireitar os desvios da nossa história. A fé consiste na disponibilidade a deixar-se incessantemente transformar pela chamada de Deus. Paradoxalmente, neste voltar-se continuamente para o Senhor, o homem encontra uma estrada segura que o liberta do movimento dispersivo a que o sujeitam os ídolos.
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