segunda-feira, 14 de agosto de 2017

15/08/2017

Nesta página há duas reflexões:
1. Reflexão sobre as leituras do dia (para os lugares em que a Festa da Assunção será celebrada no próximo domingo).
2. Reflexão sobre a Asssunção de Nossa Senhora para os lugares em que a festa é celbrada no dia 15 de Agosto.
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SOMOS CHAMADOS A VIVER NA FRATERNIDADE E LIDERAR COM O ESPÍRITO DIVINO


Terça-Feira da XIX Semana Comum


Primeira Leitura: Dt 31,1-8
1 Moisés dirigiu-se a todo Israel com as seguintes palavras: 2 “Tenho hoje cento e vinte anos e já não posso deslocar-me. Além do mais, o Senhor me disse: ‘Não atravessarás este rio Jordão’. 3 É o Senhor teu Deus que irá à tua frente; ele mesmo, à tua vista, destruirá todas essas nações, para que ocupes suas terras. Josué passará adiante de ti, como disse o Senhor. 4 E o Senhor fará com esses povos o que fez com Seon e Og, reis dos amorreus, e com suas terras, que ele destruiu. 5 Quando, pois, o Senhor os entregar a vós, fareis com eles exatamente o que vos ordenei. 6 Sede fortes e valentes; não vos intimideis nem tenhais medo deles, pois o Senhor teu Deus é ele mesmo o teu guia, e não te deixará nem te abandonará”. 7 Depois Moisés chamou Josué e, diante de todo Israel, lhe disse: “Sê forte e corajoso, pois és tu que introduzirás este povo na terra que o Senhor sob juramento prometeu dar a seus pais, e és tu que lhe darás a posse dela. 8 O Senhor que é o teu guia, marchará à tua frente, estará contigo e não te deixará nem te abandonará. Por isso, não temas nem te acovardes”.


Evangelho: Mt 18,1-5.10.12-14
Naquele tempo, 1 os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Quem é o maior no Reino dos Céus?” 2 Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles 3 e disse: “Em verdade vos digo, se não vos con­ver­terdes, e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. 4 Quem se faz pequeno como esta criança, este é o maior no Reino dos Céus. 5 E quem recebe em meu nome uma criança como esta é a mim que recebe. 10 Não desprezeis nenhum desses pequeninos, pois eu vos digo que os seus anjos nos céus veem sem cessar a face do meu Pai que está nos céus. 12 Que vos parece? Se um homem tem cem ovelhas, e uma delas se perde, não deixa ele as noventa e nove nas montanhas, para procurar aquela que se perdeu? 13 Em verdade vos digo, se ele a encontrar, ficará mais feliz com ela, do que com as noventa e nove que não se perderam. 14 Do mesmo modo, o Pai que está nos céus não deseja que se perca nenhum desses pequeninos”.
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Ser Bom Lider É Aquele Que Guia o Povo Para Seu Bem e Anima o Sucessos Quando Termina a Liderança


O Senhor teu Deus é ele mesmo o teu guia, e não te deixará nem te abandonará... O Senhor que é o teu guia, marchará à tua frente, estará contigo e não te deixará nem te abandonará. Por isso, não temas nem te acovardes”, disse Moisés no seus discurso ao povo eleito, e a Josué. Trata-se do último testamento de Moisés pronunciado no fim de sua vida dirigido para o povo eleito e para Josué a quem dá a inverstidura como seu sucessor que vai guiar o povo eleito para a terra prometida.


No conjunto de Dt 31-34, no qual se situa o texto da Primeira Leitura, encontramos doze “discursos”. Sete deles saíram da boca de Moisés e outros cinco, da boca de Deus, sem perder a voz do narrador dentro desses discursos.


Moisés não vai poder entrar na terra prometida, por mais que ele peça a Deus. Mesmo assim a ausência de Moisés do meio do povo eleito, que se encontra na porta da terra prometida, não produzirá um vazio no poder porque Moisés nomeia Josué como guia do povo nesta etapa da entrada e o assentamento da terra prometida. E sobretudo, porque Deus continua acompanhando Moisés e o povo eleito como fez ao longo de todo o caminho pelo deserto. Mosiés anima o povo e Josue: “Sede fortes e valentes; não vos intimideis nem tenhais medo deles, pois o Senhor teu Deus é ele mesmo o teu guia, e não te deixará nem te abandonará”. É a convicção que o Responsório de hoje recolhe (Dt 32,3-12): “Recorda-te dos dias do passado e relembra as antigas gerações; pergunta, e teu pai te contará; interroga, e teus avós te ensinarão.... O Senhor, somente ele, foi seu guia, e jamais um outro deus com ele estava....  Ele é a Rocha: suas obras são perfeitas”.


O carisma de guiar o povo passa agora de Moisés para Josué e assim se sudem as pessoas. Mas Deus e sua fidelidade permanecem: “O Senhor teu Deus é ele mesmo o teu guia, e não te deixará nem te abandonará”.


Esta promessa chega intacta para o Novo Testamento e se expressa no paradoxo cristão: “Prefiro gloriar-me das minhas fraquezas para que pouse sobre mim a força de Cristo” (2Cor 12,9). As pessoas e as gerações se sucedem, mas permanece firme a promessa de Jesus: “Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,20b).


Até aqui há algo que possamos aprender de Moisés. Moisés aceita o fato de não poder entrar na terra prometida. Ele não reage com amargura. O que preocupa Moisés é que o povo eleito tenha um guia, que Deus continue protegendo o povo e o novo guia, e que tenham sucesso na entrada e na ocupação da terra prometida. Alcançar a terra prometida é o único objetico de Moisés para o povo eleito saído da escravidão do Egito. Por isso, Moisés transmite a autoridade para Josué com sincero interesse sem rancor. Nos lábios de Moisés não há nenhuma palavra agressiva nem de queixa. Ele é um grande e verdadeiro líder.


De Moisés aprendemos que em nossa vida pode acontecer a mesma coisa. Em determinado momento o que semeamos, os outros vão colher seus frutos. Mas o importante é semear a semente boa sem nos preocuparmos com a colheita. Uma mudança de destino ou uma enfermidade ou a morte podem diminuir ou acabar com nossas forças. Mas os outros vao continuar o nosso trabalho ou vão melhorar o que precisa ser melhorado. A reação com um coração magnânimo é uma reação de um grande líder como Moisés. Animar o povo, em vez de dividí-lo, no fim de nossa liderança demonstra nossa verdadeira capacidade de liderar os outros. Um grande líder não se deixa dominar pelo sentimento de vaidade e de exibicionismo. Dificilmente, um grande líder cai na depressão a partir do momento em que deixa de ser líder do povo. Um grande líder trabalha pelo bem do povo e continua a animá-lo e animar o sucessor pela mesma obra: o bem do povo e sua salvação. A Igreja tem uma consciência plena disso, como lemos no último cânon do Côdigo do Direito Canônico: “... tendo diante dos olhos a salvação das almas que, na Igreja, deve ser sempre a lei suprema” (Can. 1752). Quando deixamos de salvar as almas no nosso trabalho evangelizador é porque temos algo escondido (interesses egositas) atrás de nossas atividades. Quando o objetivo é para salvar as almas, seremos capazes de abrir mão de tudo que possa atrapalhar essa missão mesmo que tenhamos algum interesses pessoal nisso, como Moisés que pediu para viver mais a fim de poder levar o povo até a terra prometida. Mas Deus não lhe concedeu essa graça. Deus coloca outro líder: Josué. Se reagirmos como Moisés, será um sinal de que não estávamos buscando a nós mesmos e sim que nosso interesse era o bem dos demais e a glória de Deus, pois somente Deus quem salva e leva à plenitude nossas obras. Nós somos apenas colaboradores de Deus neste mundo para salvar as almas. Não somos protagonistas nem imprencindíveis nem insubstiuíveis. Temos que saber nos retirar a tempo com a elegância espiritual de Moisés.


A autoridade de Josué será de ordem profano: conquistar uma terra, ser forte para levar a cabo a operação e infundir valor e confiança ao povo eleito. Nenhuma missão especificamente religiosa foi-lhe confiada, no entanto, o autor sagrado declara que Deus está com ele.


Um chefe politico não tem necessidade de uma responsabilidade religiosa e menos ainda, de uma consagração litúrgica para que sua autoridade revista um significado divino. Ele organiza a comunidade/povo de tal maneira que as opções espirituais e o destino de cada um possam realizar-se. Não é tampouco necessário que o chefe político defenda para cada um, o exercício da religião de sua preferências. Cada um tem a liberdade religiosa. Mas a partir do momento em que um chefe político se preocupa das condições ótimas para melhorar a vida em sociedade (a vida e a salvação do povo), sua liderança é revestida de uma dimensão divina.


Somos Chamados a Conviver Na Fraternidade Amorosa


 Em verdade vos digo, se não vos converterdes, e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Quem se faz pequeno como esta criança, este é o maior no Reino dos Céus. E quem recebe em meu nome uma criança como esta é a mim que recebe”, disse-nos o Senhor no texto do Evangelho deste dia.


Um Discurso Sobre Vida Comunitária


Estamos no quarto grande discurso de Jesus nos evangelho de Mateus (Mt 18). E este quarto discurso é conhecido como “discurso eclesiológico” (discurso sobre a Igreja) ou “discurso comunitário” onde se acentua a vida na fraternidade, isto é, cada membro da comunidade é considerado como irmão, pois tem Deus como o Pai comum. Este capítulo (Mt 18,1-35) foi escrito para responder aos problemas internos das comunidades cristãs: Quem é o primeiro na comunidade? O que fazer se acontecem escândalos? E se um cristão se perde ou se afasta da comunidade, o que fazer? Como corrigir um irmão que erra? Quando é que uma oração pode ser chamada de comunitária e partilhada? E quantas vezes se deve perdoar?


Na comunidade de Mt (como também em qualquer comunidade cristã) cresce a ambição e se cultivam sonhos de grandeza dos membros que se acham mais importantes dos demais membros. Há pouca consideração para com os pequenos, até são desconsiderados ou desprezados. Estes pequenos correm risco de se tornarem incrédulos e de se afastarem da atividade comunitária. Na comunidade de Mt suscitam também pecadores notórios, inclusive as ofensas e os ressentimentos que abalam a convivência fraterna.


Nesse capítulo, são dadas diversas orientações e algumas normas que têm por objetivo desenvolver o amor fraterno e favorecer a harmonia entre os membros da comunidade. Contra os sonhos de grandeza e de orgulho, Mt coloca a atitude de humildade que agrada a Deus e aos outros (18,1-4). Para os pequenos, os fracos na fé, é necessário ter uma acolhida cheia de caridade e de desvelo (18,6-7). O desprezo é inadmissível para uma boa convivência. Para enfatizar mais este tema, Mt fala dos anjos que sempre estão do lado dos pequenos (18,10). Se um dos membros da comunidade afastar-se ou desviar-se do caminho reto, em vez de condená-lo, a comunidade toda deve esforçar-se para que esse irmão volte para a comunidade, pois Deus não quer que nenhum deles se perca (18,12-14). E para o irmão pecador, a comunidade inteira deve usar todos os meios para recuperá-lo (18,15-20). E para as ofensas, deve haver perdão, pois uma comunidade só pode sobreviver se existe o perdão mútuo (18,21-35).


Ser Irmão e Fazer-se Pequeno


Quem é o maior no Reino dos céus?”. “Quem é o maior diante de Deus?”. “Quem vale mais diante de Deus?”. Assim inicia o quarto discurso de Jesus sobre a vida comunitária baseada na fraternidade. A pergunta é feita pelos discípulos para Jesus. Maior aqui significa proeminente, superior aos outros por força de uma qualidade ou de um poder ou de um cargo.


Atrás desta pergunta se esconde a ambição ou a mania de grandeza dos discípulos. É “a psicologia do príncipe”, segundo o Papa Francisco. É a ambição de grandeza que pode ser encontrada em qualquer comunidade cristã. É admirável a ambição de alguém que deseja redimir sua humilde condição, valorizando todas as suas capacidades de inteligência e de luta, pois um dos sentidos lexicais da palavra ambição é anseio veemente de alcançar determinado objetivo, de obter sucesso; aspiração, pretensão. A ambição só se transformará em vício quando a afirmação de si mesmo for exagerada e os meios adotados para atingir a glória forem desonestos. Uma pessoa de alma nobre não sai à procura das honras, e sim do bem, da fraternidade, da verdade, da caridade e assim por diante. Ao contrário, o ambicioso se sente totalmente envolto pela espiral da glória que o transforma em vítima da própria tirania. O ambicioso, quando dominado pelo vício, não suporta competidores, nem admite rivais. Quem desejar ser a todo o custo o primeiro, dificilmente se preocupar com ser justo. “A soberba gera a divisão. A caridade, a comunhão” (Santo Agostinho. Serm. 46,18).


Como resposta para a pergunta dos seus discípulos Jesus faz um gesto muito simbólico: Ele chamou uma criança e a colocou no meio dos discípulos. Ao ser colocada no meio de todos, a criança chamada se torna um centro de atenção de todos. Podemos imaginar que todos os olhares são dirigidos a essa criança e os ouvidos prontos para ouvir a palavra sábia do Mestre Jesus. “Em verdade vos digo, se não vos con­ver­terdes, e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Quem se faz pequeno como esta criança, este é o maior no Reino dos Céus. E quem recebe em meu nome uma criança como esta é a mim que recebe”, disse Jesus aos discípulos (Mt 18,3-5). Ser criança: frescor, beleza, inocência, não se basta a si mesma!


Esta é a primeira regra da vida comunitária: cuidar dos pequenos e tratá-los como irmãos, e fazer-se pequeno. Fazer-se pequeno, como exigência para viver a vida comunitária, significa renunciar a toda ambição pessoal e a todo desejo de colocar-se acima dos demais para estar em destaque e para oprimir os demais. Fazer-se pequeno é uma forma de “renegar-se a si mesmo” para colocar a vontade de Deus acima de tudo. A grandeza do Reino consiste no serviço humilde e gratuito ao próximo, na solidariedade para com os necessitados, na partilha do que se tem para com os carentes do básico para viver dignamente como ser humano, e no esforço para construir uma convivência mais fraterna. Trata-se de viver a espiritualidade familiar onde cada membro se preocupa com o outro membro e sua salvação. Vivendo desta maneira estaremos testemunhando para o mundo que temos fé em Deus e que estamos no Reino de Deus já neste mundo, pois vivemos como irmãos, filhos e filhas do mesmo Pai celeste.


Ser Ocasião de Salvação Para o Outro


Se um homem tem cem ovelhas, e uma delas se perde, não deixa ele as noventa e nove nas montanhas, para procurar aquela que se perdeu? Em verdade vos digo, se ele a encontrar, ficará mais feliz com ela, do que com as noventa e nove que não se perderam. Do mesmo modo, o Pai que está nos céus não deseja que se perca nenhum desses pequeninos”, acrescentou Jesus (Mt 18, 12-14). Esta é outra regra essencial da vida comunitária!


Os fariseus eram uns “separados”, e julgavam severamente os pecadores e os que erravam, os quais eram excluídos dos banquetes sagrados ou de um simples banquete comunitário, pois comer juntos significava igualar ou nivelar as relações. Deus atua completamente diferente. Deus nem sequer espera o arrependimento do pecador para amá-lo. Antes, abandonando o resto do rebanho, ele vai à busca de uma ovelha perdida. Através de uma conversa fraterna e através de sua participação na refeição com os excluídos pela sociedade em questão Jesus consegue trazer de volta para Deus muitos pecadores, como Zaqueu (Lc 19,2-10), como Mateus (Mt 9,9) e assim por diante.


O saudoso Cardeal François X. Van Thuan escreveu dois dos cinco “defeitos” de Jesus (Testemunhas Da Esperança. Edit. Cidade Nova). O primeiro defeito é que Jesus não tem boa memória. Ele esquece todos os pecados dos que se arrependeram, como o “bom ladrão”: “Hoje mesmo tu estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43) e a mulher pecadora: “... seus numerosos pecados lhe estão perdoados, porque ela demonstrou muito amor” (Lc 7,47). Deus não lhes pergunta nada a respeito de seu passado escandaloso. Deus esquece até mesmo que perdoou. E o segundo “defeito” de Jesus é que ele não “sabe” matemática. Ele abandona 99 ovelhas para procurar uma que está perdida. Na nossa matemática uma ovelha não é igual a 99 ovelhas. Para Jesus uma ovelha é igual a 99 ovelhas. Todos têm o mesmo valor diante de Deus.


Cada um de nós, por menor que seja no olhar de um ser humano ou de uma sociedade, é objeto de um carinho especial de Deus. Deus não despreza nenhum ser humano. Cada um é considerado na sua individualidade. A graça de Deus nos faz nós mesmos: “Eu sou o que sou pela graça de Deus” (1Cor 15,10). Jesus quer que cada membro da comunidade cristã precise ser uma ocasião de salvação para o outro e o outro é uma ocasião de salvação para mim. Somente é assim que uma comunidade cristã pode ser chamada e considerada como uma comunidade de irmãos.


Na Bíblia a misericórdia pertence rigorosamente à linguagem mais elevada da fé, designa uma atitude de todo o ser. A misericórdia evoca tanto o aspecto de fidelidade ao compromisso como o aspecto de ternura do coração. A experiência da condição miserável e pecadora do homem deu corpo à noção da misericórdia de Deus, que se apresenta a nós como a atitude de Deus diante do pecado do homem. A misericórdia de Deus não é ingenuidade e sim convite à conversão e convite para cada homem a praticar, por sua vez, a misericórdia para os demais homens.


Os escribas e os fariseus não são capazes de ver no pecados mais que a um inimigo de Deus. Se um pecador é inimigo de Deus, logo é inimigos dos que se consideram “religiosos”. Não é esta a atitude daqueles que julgam com excessiva severidade das falhas dos outros? Deus, ao contrário, não espera o arrependimento para amar o pecador. Quem é responsável pela comunidade, pela pastoral, pelo grupo na Igreja do Senhor é encarregado de revelar ao irmão que pecou que Deus o ama primeiro (1Jo 4,10.19; 2Cor 5,20) e que esse Deus se preocupa com a salvação de todos. Será que todos os responsáveis na comunidade está consciente dessa responsabilidade?


P.Vitus Gustama,svd
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ASSUNÇÃO DE MARIA


Texto: Lc 1,39-56



A proclamação do dogma da Assunção de Maria à glória dos céus, em alma e corpo, pertence ao século XX: foi declarado solenemente por Pio XII em 01 de Novembro de 1950 na bula Munificentissimus Deus. No entanto, a liturgia da Igreja universal, tanto no Oriente quanto no Ocidente, celebrou por muitos séculos esta convicção de .  No século V celebrava-se em Jerusalém no dia 15 de agosto uma festa importante que tinha por objeto a excelência da pessoa da Mãe de Deus, eleita por supremo conselho para desempenhar uma missão muito especial na história da salvação. Entre o V e VI século, a narração apócrifa sobre o Trânsito de Maria da vida terrena à glória eterna alcançou uma difusão extraordinária: a conseqüência foi o desejo natural dos peregrinos que ocorriam a Jerusalém de honrar o túmulo da Virgem. Durante o século VII, com o nome de Assunção foi acolhida na Igreja de Roma, juntamente com as festa da Apresentação, Anunciação e Natividade, para as quais o Papa Sérgio I(+ 701), instituiu uma procissão preparatória para a missa, celebrada na Santa Maria Maior. No fim do século VII encontra-se  uma antiga oração romana composta para a procissão que introduz a celebração mariana do dia 15 de agosto: “Venerável é para nós, Senhor, a festa deste dia em que a Santa Mãe de Deus sofreu a morte terrena, mas não permaneceu nas amarras da morte, ela que, do próprio ser, gerou, encarnado, o teu Filho, Senhor nosso” (Sacramentário Gregoriano Adrineu, no.661)


A bula da definição dogmática não fala de argumentos bíblicos, pois a Escritura não afirma a Assunção de Maria. Discute-se se Maria morreu ou não. Por isso, o texto dogmático, cautelosamente, diz “terminado o curso de sua vida terrestre”. Nós, por isso, afirmamos que Maria morreu, pois assim se pode falar, verdadeiramente, de ressurreição, porquanto somente um morto pode ressuscitar. Maria morreu pelo fato natural da morte que pertence à estrutura da vida humana, independentemente do pecado. Maria, livre e isenta de todo o pecado, pôde integrar a morte como pertencente à vida criada por Deus. A morte não é vista como fatalidade e perda da vida, mas como chance e passagem para uma vida mais plena em Deus.


Além disso, Maria participa na  economia da redenção pelo fato de ser a Mãe do Senhor(Lc 1,43). Ela se associou totalmente ao destino de seu Filho. A redenção implica sempre a colaboração de quem a recebe. Maria colaborou admiravelmente na própria salvação. por este título ela é o modelo original de quantos recebem a salvação, o modelo de todos os redimidos. Como tal, ela tem um significado universal de salvação. É o protótipo da vida redimida, a plena e perfeita realização, a imagem ideal de toda a vida cristã. Por sua vida e morte Jesus nos libertou. Por sua vida e morte Maria participou desta obra messiânica e universal. A co-redenção significa a associação de Maria tanto à cruz de Jesus como à sua ressurreição e exaltação gloriosa ou ascensão. Esta razão teológica tem o seu fundamento no triunfo de Cristo sobre a morte, de que faz participantes todos os cristãos por meio da e do batismo.


Maria foi assunta ao céu em corpo e alma. Aqui não se trata de dogmatizar um esquema antropológico (corpo e alma). Utiliza-se esta expressão, compreensível à cultura ocidental, para enfatizar o caráter totalizante e completo da glorificação de Maria. Maria vê-se envolvida na absoluta realização.  Assunta ao céu”, ela se nos apresenta como as primícias da redenção, tendo consumado em si o que ainda se realizará em nós e na Igreja. O corpo de Maria, enquanto ela perambulava por este mundo, foi somente veículo de graça, de amor, de compreensão e de bondade. Não foi instrumento de pecado, da vontade de auto-afirmação humana e de desunião com os irmãos.  O corpo é forte e frágil, cheio de vida e contaminado pela doença e morte. Por isso, é exaltado por uns até a idolatria e odiado por outros até a trituração. Maria vive e goza, no corpo e na alma, quer dizer na totalidade de sua existência, desta inefável realização humana e divina.


Para Maria a assunção significa o definitivo encontro com seu Filho que a precedeu na glória. Mãe e Filho vivem um amor e uma união inimaginável. Maria agora vive, em corpo e alma, aquilo que nós também iremos viver quando atingirmos o céu.


Enquanto peregrinamos, Maria atua como imagem que recorda e concretiza o nosso futuro. Em cada um que morre no Senhor se realiza aquilo que ocorreu com Maria: a ressurreição e a elevação ao céu. Andando por entre as tribulações do tempo presente, erguemos os olhos ao e rezamos: Salve Maria, vida, doçura e esperança, salve! Rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte. Doce mãe da esperança, em quem apareceu o futuro do mundo e nos foi antecipada e prometida a glória do tempo futuro, ajuda-nos a ser peregrinos na esperança a caminho da unidade futura do Reino, sem pararmos diante das resistências e das canseiras, antes nos empenhando, com fidelidade e paixão, em levar no presente os homens ao futuro da promessa de Deus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém!


Algumas mensagens do texto


1. O Evangelista Lc não descreve que Maria simplesmente “andou”, mas que ela “partiu” / pôr-se a caminho”. Nos Evangelhos a idéia de viagem, de caminho, está intimamente ligada à obediência a Deus e ao discipulado de Jesus. O verbo “pôr-se a caminho” tem em Lucas o significado teológico de disponibilidade e obediência aos planos de Deus; pôr-se a caminho significa aceitar total e existencialmente o caminho proposto por Deus, pois esse caminho nos conduz sempre à felicidade embora tenhamos que atravessar vários obstáculos, mas no coração ressoa sempre uma certeza de que Deus está sempre caminhando conosco (Maria foi com Jesus no ventre).


Maria se pôs a caminho significa que a partir daquele momento começou a sua vida como resposta  à proposta ou aos planos de Deus.  É a resposta ao anúncio feito por Deus, que se funda, sobretudo, a leitura de Maria como modelo do discípulo perfeito, como a alma fiel por excelência.


A de Maria é uma missionária. Depois de dizer o seusim”, leva-o através dos caminhos do nosso mundo para suscitar a alegria e o louvor. A viagem de Maria à Judéia(para Ain Karin), por isso, é um símbolo do caminho da que precisa ser testemunhada, compartilhada, que precisa servir; porque a não é somente o dom de Deus, mas também é uma resposta humana, e com todo ato humano. Dessa é que faz encontro e serviço. E quando a Palavra de Deus é ouvida com autenticidade, como Maria, não pode deixar de ser profundamente criativa e dialogante. E quando a Palavra de Deus é ouvida e refletida com atenção por qualquer um, ele não pode deixar de ser missionário desta Palavra.


2. Maria partiu “apressadamente”. A expressãoapressadamentenão descreve a presteza externa com que parte nem descreve o estado psicológico de Maria. Lc quer sublinhar a atitude interior de e de obediência de Maria. Suapressa” está dinamizada pelo fervor interior, pela alegria e, sobretudo, pela (cf. Lc 1,38.45). “Às pressas” significa seriedade, empenho, solicitude, zelo, entusiasmo, ardor, prontidão etc.. No sentido teológico, então, a pressa de Maria é um reflexo da sua obediência, como serva e discípula fiel, em relação ao plano que lhe foi revelado pelo anjo, um plano que previa a gravidez de Isabel.


Segundo M. Descalzo, a viagem de Maria para visitar Isabel foi “a primeira procissão do Corpus Christi”. O corpo de Maria foi o ostensório vivo e precioso que carrega por primeira vez o Corpo de Cristo. Mas se nos mergulharmos um pouco mais no mistério, descobriremos que, na verdade, Maria é levada por Aquele que ela leva no seu ventre.


Quando Deus entra e atua na história de uma pessoa e tem realmente Jesus no coração, esse mesmo Jesus vai levar essa pessoa ao encontro dos outros, especialmente aos necessitados para partilhar a alegria e a esperança e irradiará e santificará os que dela se aproximarem.


3. Maria é a arca da nova aliança, o lugar da presença de Deus no meio de nós. Como a arca da nova aliança, em Maria o Verbo se fez carne e os céus e a terra se encontraram. Mas ela não é um lugar que encerra Deus e sim um lugar que O dá. Ela não é uma arca que esconde o mistério, mas uma arca que o irradia. Maria é Aquela que, habitada pelo mistério, o dá.


Quando na se dá espaço ao absoluto primado de Deus, a conseqüência lógica de ser habitado, de ser amado por Deus é sair de si, viver o êxodo sem regresso, que é o amor. O acolhimento da gratuidade do amor eterno torna-se a doação gratuita de tudo que se recebeu. Quem crê e vive da , tem capacidade de olhar para fora, aprecia o dom e o comunica. Certamente, respeitamos o dom de Deus quando nos tornamos arca irradiante e quando o restituímos a Deus, que nos estende a mão nos nossos irmãos.


4. Maria é o símbolo perfeito da atenção, pois ela tem o amor no coração. O amor é atenta. Maria serve Isabel na sua necessidade real. O seu amor se transforma em gesto, pois a caridade é concreta.  O amor sabe ver o que o não- amor nunca descobrirá. O seu amor causa a alegria, pois a caridade sabe se terna. A ternura consiste certamente em dar com alegria, suscitando em quem recebe o dom da alegria e não um sentimento de dependência. Ela faz tudo isso, porque Maria depende de Deus, por isso é livre(Nenhuma criatura a prende). Quem é livre na , pois depende somente de Deus, torna-o doado aos outros na gratuidade.


5. A saudação de Maria causa a alegria cuja característica é messiânica: os saltos de alegria de João no seio de sua mãe(vv.41.44); a irrupção do Espírito sobre Isabel(v.41b); a bênção messiânica de Isabel sobre Maria(v.42); a proclamação de Maria comomãe do Senhor”(v.43); e a proclamação de que Maria é “bem-aventuradapor causa de sua (v.45). Todas estas reações são de caráter messiânico


Se acreditarmos que Jesus está dentro de nós, nos comportaremos como Maria: seremos portadores de alegria no Senhor para os outros. O nosso encontro com os outros fará brotar neles a alegria pela presença do Messias, a docilidade ao Espírito, o louvor a Deus.


6. No Magnificat Maria anuncia que os poderosos serão derrubados de seus tronos. Não se trata de punição nem vingança, pois o Deus de Jesus não é vingativo. Descer do trono é condição de salvação. É preciso descer do trono para aprender a ser irmão, a ser solidário, a servir, a criar relações horizontais. É preciso despojar-se de auto-suficiência e reconhecer-se necessitado de salvação.


Estamos acostumados a reverenciar o poder, de várias maneiras. É alguémsubir na vidaque logo começa a receber um tratamento mais respeitoso. É como se o posto que cada um ocupa mudasse a qualidade humana das pessoas. Não será por isso que alguns são chamados de “excelênciamesmo quando não têm atitudes tão excelentes assim para com os outros? Por esses e outros motivos o poder fascina e muita gente vive correndo atrás dele.


O peso do prestígio do poder invade até o campo religioso. Usamos para Deus freqüentemente as mesmas imagens com que idealizamos o poder humano: Deus sentado no trono, Maria com coroa de rainha. Aliás, a Bíblia também faz isso, refletindo a cultura da época. O problema não está exatamente . O perigo está no jeito de utilizar essas imagens. Com essa noção de poder é possível até tentar dominar os outros, autoritariamente, em vez de dialogar e servir. Deus essa questão de outro jeito que nem sempre nós estamos preparados para entender.


Os “poderososnão são os outros. Cada um de nós pode fabricar seus própriostronos” e olhar o próximo de cima, de forma opressora, indiferente ou superior.


Se somos realmente Igreja servidora, como Jesus sempre quis, temos quedescer” de muitostronosque criamos e tratar o irmão, qualquer irmão, como um igual, digno de respeito e precioso como filho de Deus.


Que Maria, Doce Mãe da esperança nos ajuda a ser peregrinos na esperança sem pararmos diante das resistências e das canseiras a caminho da comunhão plena com o nosso Criador, o Deus Conosco.

P.Vitus Gustama,svd


 

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