Domingo, 03/06/2018
O
SER HUMANO É SAGRADO, POR ISSO ESTÁ ACIMA DE QUALQUER LEI
IX DOMINGO DO TEMPO
COMUM B
Primeira Leitura: Dt 5,12-15
Assim fala o Senhor: 12 “Guarda
o dia de sábado, para o santificares, como o Senhor teu Deus te mandou. 13 Trabalharás
seis dias e neles farás todas as tuas obras. 14 O sétimo dia é o do sábado, o
dia do descanso dedicado ao Senhor teu Deus. Não farás trabalho algum, nem tu,
nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem tua escrava, nem teu boi,
nem teu jumento, nem algum de teus animais, nem o estrangeiro que vive em tuas
cidades, para que assim teu escravo e tua escrava repousem da mesma forma que
tu. 15 Lembra-te de que foste escravo no Egito e que de lá o Senhor teu Deus te
fez sair com mão forte e braço estendido. É por isso que o Senhor teu Deus te
mandou guardar o sábado”.
Segunda Leitura: 2Cor 4,6-11
Irmãos: 6 Deus, que
disse: “Do meio das trevas brilhe a luz”, é o mesmo que fez brilhar a sua luz
em nossos corações, para tornar claro o conhecimento da sua glória na face de
Cristo. 7 Ora, trazemos esse tesouro em vasos de barro, para que todos
reconheçam que este poder extraordinário vem de Deus e não de nós. 8 Somos
afligidos de todos os lados, mas não vencidos pela angústia; postos entre os
maiores apuros, mas sem perder a esperança; 9 perseguidos, mas não
desamparados; derrubados, mas não aniquilados; 10 por toda parte e sempre
levamos em nós mesmos os sofrimentos mortais de Jesus, para que também a vida
de Jesus seja manifestada em nossos corpos. 11 De fato, nós, os vivos, somos
continuamente entregues à morte, por causa de Jesus, para que também a vida de
Jesus seja manifestada em nossa natureza mortal.
Evangelho: Mc 2,23-3,6
23 Jesus estava passando
por uns campos de trigo, em dia de sábado. Seus discípulos começaram a arrancar
espigas, enquanto caminhavam. 24 Então os fariseus disseram a Jesus: “Olha! Por
que eles fazem em dia de sábado o que não é permitido?” 25 Jesus lhes disse:
“Por acaso, nunca lestes o que Davi e seus companheiros fizeram quando passaram
necessidade e tiveram fome? 26 Como ele entrou na casa de Deus, no tempo em que
Abiatar era sumo sacerdote, comeu os pães oferecidos a Deus, e os deu também
aos seus companheiros? No entanto, só aos sacerdotes é permitido comer esses
pães”. 27 E acrescentou: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o
sábado. 28 Portanto, o Filho do Homem é Senhor também do sábado”. 3,1 Jesus
entrou de novo na sinagoga. Havia ali um homem com a mão seca. 2 Alguns o
observavam para ver se haveria de curar em dia de sábado, para poderem
acusá-lo. 3 Jesus disse ao homem da mão seca: “Levanta-te e fica aqui no meio!”
4 E perguntou-lhes: “É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar
uma vida ou deixá-la morrer?” Mas eles nada disseram. 5 Jesus, então, olhou ao
seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração; e disse ao
homem: “Estende a mão”. Ele a estendeu e a mão ficou curada. 6 Ao saírem, os
fariseus, com os partidários de Herodes, imediatamente tramaram, contra Jesus,
a maneira como haveriam de matá-lo.
---------------------
O texto do evangelho deste domingo faz parte
das controvérsias de Jesus com os fariseus .
Hoje a discussão está em
torno do Sábado .
O sábado era um dos preceitos divinos mais
claros, mais indiscutível; como uma espécie de documento de identidade do
crente. Sua observância estava rigidamente regulada. Por suposto, admitiam-se
exceções por motivos de particular gravidade, e sobre estas exceções disputam
as diversas escolas teológicas. Assim, em dia de sábado se permitia, por
exemplo, salvar a vida com a fuga, ajudar um homem em perigo ou uma mulher com
dores de parto, ou em caso de incêndio e assim por diante. Mas trata-se sempre
de exceções a uma regra.
Sábado
e Tirar Espigas
E tirar
espigas era
uma das trinta e nove formas de violar o sábado , segundo
as interpretações exageradas que algumas escolas
dos fariseus faziam da lei na época . Por isso , se
escandalizam quando percebem que os discípulos
de Jesus arrancam as espigas para matar a fome no dia de sábado . “Quem não sabe julgar o que merece crédito
e o que merece ser
esquecido presta atenção ao que não tem importância e se esquece do essencial ”
(Buda ).
A fidelidade
às tradições religiosas deve favorecer ao direito
à vida . As tradições
religiosas, que não
apóiam o direito à vida ,
perdem sua razão
de existir . Para Jesus a finalidade de qualquer
lei religiosa
deve ajudar o ser humano a ter uma
verdadeira experiência de encontro com a vontade de Deus
resumida no mandamento do amor fraterno . Praticar as leis
religiosas sem levar
em conta o respeito pela vida seria inútil .
Jesus é o Senhor do Sábado .
Se o Sábado devia significar
“libertação ”, Jesus é o Senhor
da libertação . Se o Sábado
devia significar “santificação ”,
Jesus é o Senhor da santidade
e da santificação . Uma libertação sem
Jesus será opressão reeditada de outro modo . Uma
santificação sem
Jesus será egoísmo , orgulho
ou vaidade ,
editados de outros modos .
A lei
é boa e necessária . A lei é, na verdade , o caminho para levar
à prática do mandamento
do amor . Somente
a lei do amor
rompe fronteiras , divisões ,
prejuízos e escravidões .
Por isso
mesmo , a lei
não pode ser
absolutizada. O Sábado , para
nós o domingo ,
está pensado para o bem
do homem . É um
dia em
que nos
encontramos com Deus ,
com a comunidade ,
com a natureza
e com nós
mesmos . O descanso
é um gesto
profético que
nos faz bem a
todos para fugir ou escapar da escravidão
do trabalho ou
da carreira consumista .
O dia do Senhor
é também dia
do homem , com
a Eucaristia como
momento privilegiado. Cristo é o Senhor
do sábado, como também é nosso Senhor. Nós somos seus servos. Mas é uma
escravidão que nos enobrece. Ser servo do Senhor é ser salvo.
Sábado
e a Cura Do Homem De Mão Seca
Outra controvérsia apresentada no
evangelho de hoje é a cura de um homem no sábado. Portanto, o tema da controvérsia
ainda está em
torno da observância
do preceito de Sábado .
“É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o
mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?”. É a pergunta de Jesus para as
autoridades religiosas.
Na antropologia
bíblica, a mão está carregada de simbolismo . A mão
está ligada à idéia
de força e de poder .
Estar na mão
do outro significa estar
sob o seu
poder . A mão direita era sinal de força ,
de sabedoria e de fidelidade .
Como rezamos no Credo :
Jesus “ressuscitou ao terceiro dia , subiu aos céus ;
está sentado à direita
de Deus Pai
todo-poderoso ...”. Isto quer dizer que Jesus
mostrou sua fidelidade
à vontade de Deus
Pai, praticando o bem até o fim . Já a mão esquerda era sinal de fraqueza ,
de ignorância e de desgraça .
O homem
do texto do evangelho
de hoje está com
a mão seca .
É um homem
sem iniciativa
e incapaz de lutar
por seus
direitos , e por
isso , é uma vitima de desumanização.
Jesus é Deus que
salva . Por
isso , ele
toma iniciativa
para curar o homem a fim de
humanizá-lo novamente . Com a mão
curada, o homem volta
a ter aptidão para fazer o bem .
Ao colocar o homem
no meio das pessoas ,
Jesus quer recordar
a todos que
qualquer pessoa
deve ser respeitada, protegida, defendida, levada em consideração acima
de qualquer lei
por sagrada
que ela
pareça ser .
Jesus quer
nos relembrar
que nenhuma religião
ou nenhuma prática
religiosa pode impedir
o encontro fraterno
e a vivência do amor
e do respeito mútuos
nem pode impedir
serviço solidário .
Ao contrário , os que
praticam religião devem ter
cada vez
a sensibilidade humana ,
devem ser mais
humanos e irmãos
para com os demais . A passagem
para chegar ate Deus passa
necessariamente pelo irmão .
O próximo é a passagem
obrigatória para
chegar ao céu .
Qualquer um
pode não encontrar
Deus , mas
não tem como
não se cruzar
com o próximo .
O próximo é ocasião
de salvação para mim
como também
sou ocasião de salvação para
o outro .
A partir do ensinamento de Jesus no evangelho
deste dia precisamos nos perguntar: “Não somos, às vezes, demasiados
legalistas? Não julgamos nossos irmãos quando cremos que não cumprem as leis ou
as regras, sejam as leis humanas, as leis da Igreja ou as leis consideradas
como divinas? Se para Jesus o homem está sempre no centro de seu ensinamento,
será que colocamos o ser humano como centro de nossas atividades diárias e
pastorais?”. A denúncia da escravidão ao sábado nos convida a nos libertarmos
da religião da observância formal e segui-la pelos caminhos do amor libertador.
Quando as coisas materiais ou rituais mandam, e não a lei do amor, o homem se
faz escravo.
Resumindo....
A postura de Jesus diante do descanso do sábado
é uma questão de liberdade diante do legalismo judaico. Mas é muito mais do que
isso! A postura de Jesus traça o que significa honrar ao Senhor e dedicar-se a
Ele. Porque, na realidade, não era questão de vida ou de morte, curar o homem
daquela paralisia, pois podia esperar perfeitamente o dia seguinte para curar
aquele homem. Mas o Senhor cura o homem e assim mostra que dedicar o Sábado a
Deus não somente a privação de atividades para mostrar submetimento e sim que é
fazer o que agrada a Deus. Os que sofrem e deixam de sofrer porque seus irmãos os
ajudam, mesmo no dia de preceito (Sábado), muito agradam a Deus.
Segundo Jesus, servir a Deus (tanto no Sábado
como em toda a vida) é dedicar tempo a Ele, criando felicidade humana, tanto
para os demais como para si próprio.
Além disso, são Paulo nos relembra na Segunda
Leitura que somos de barro. Nossa força não é nossa; é de Deus. Levamos um
tesouro dentro de nós que somos fracos, de barro. É mister cuidá-lo com carinho
cuidadoso. Alegremos-nos da força manifestada de Cristo em nós para o bem dos
demais. Quando conseguimos fazer algo importante para o bem de nosso próximo,
devemos agradecer a Deus por esta oportunidade. Tudo de bom devemos atribuir ao
Senhor. Tudo de mau devemos atribuir a nós mesmos como barros. A glória de Deus
está sempre e unicamente no bem do homem e no bem que praticamos pelo bem do
homem. Somos de barro, mas a Eucaristia nos dá uma grande assistência.
Por fim, de sete dias que se compõem o ciclo
que regula a vida humana semanalmente, o homem dedica seis deles ao trabalho
para sua subsistência. Um dos sete dias,
o último o home há que dedica-lo a Deus, Senhor de tudo que o homem possui
(menos o pecado). Tudo que somos e temos é de Deus. Jamais podemos colocar o
ouro e a prata acima de Quem os criou que é Deus. O Domingo é o dia para
agradecer a Deus por tudo que somos e temos.
Sobre a importância do Domingo, o Papa João
Paulo II escreveu: “O dia do Senhor— como foi definido o domingo, desde os
tempos apostólicos—, mereceu sempre, na história da Igreja, uma consideração
privilegiada devido à sua estreita conexão com o próprio núcleo do mistério
cristão. O domingo, de fato, recorda, no ritmo semanal do tempo, o dia da
ressurreição de Cristo. É a Páscoa da semana, na qual se celebra a vitória de
Cristo sobre o pecado e a morte, o cumprimento n'Ele da primeira criação e o
início da «nova criação» (cf. 2 Cor 5,17). É o dia da evocação adorante e grata
do primeiro dia do mundo e, ao mesmo tempo, da prefiguração, vivida na
esperança, do « último dia », quando Cristo vier na glória (cf. Act 1,11; 1 Tes
4,13-17) e renovar todas as coisas (cf. Ap 21,5)” (Carta Apostolica Dies Domini n.1).
O mesmo Papa acrescentou: “Não tenhais medo
de dar o vosso tempo a Cristo! Sim, abramos o nosso tempo a Cristo, para que
Ele possa iluminá-lo e dirigi-lo. É Ele quem conhece o segredo do tempo e o
segredo da eternidade, e nos entrega o « seu dia », como um dom sempre novo do
seu amor. Há-de-se implorar a graça da descoberta sempre mais profunda deste
dia, não só para viver em plenitude as exigências próprias da fé, mas também
para dar resposta concreta aos anseios íntimos e verdadeiros existentes em todo
ser humano. O tempo dado a Cristo, nunca é tempo perdido, mas tempo conquistado
para a profunda humanização das nossas relações e da nossa vida” (Dies Domini n.7). Que assim
seja!
P. Vitus Gustama,SVD