31/05/2018
SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE
CRISTO
Naqueles dias, 3 Moisés
veio e transmitiu ao povo todas as palavras do Senhor e todos os decretos. O
povo respondeu em coro: “Faremos tudo o que o Senhor nos disse”. 4 Então Moisés
escreveu todas as palavras do Senhor. Levantando-se na manhã seguinte, ergueu
ao pé da montanha um altar e doze marcos de pedra pelas doze tribos de Israel.
5 Em seguida, mandou alguns jovens israelitas oferecer holocaustos e imolar
novilhos como sacrifícios pacíficos ao Senhor. 6 Moisés tomou metade do sangue
e o pôs em vasilhas, e derramou a outra metade sobre o altar. 7 Tomou depois o
livro da aliança e o leu em voz alta ao povo, que respondeu: “Faremos tudo o
que o Senhor disse e lhe obedeceremos”. 8 Moisés, então, com o sangue separado,
aspergiu o povo, dizendo: “Este é o
sangue da aliança que o Senhor fez convosco, segundo todas estas palavras”.
Segunda Leitura: Hb 9,11-15
Irmãos: 11 Cristo veio
como sumo sacerdote dos bens futuros. Através de uma tenda maior e mais
perfeita, que não é obra de mãos humanas, isto é, que não faz parte desta
criação, 12 e não com o sangue de bodes e bezerros, mas com o seu próprio
sangue, ele entrou no Santuário uma vez por todas, obtendo uma redenção eterna.
13 De fato, se o sangue de bodes e touros, e a cinza de novilhas espalhada
sobre os seres impuros os santifica e realiza a pureza ritual dos corpos, 14 quanto
mais o Sangue de Cristo purificará a nossa consciência das obras mortas, para
servirmos ao Deus vivo, pois, em virtude do espírito eterno, Cristo se ofereceu
a si mesmo a Deus como vítima sem mancha. 15 Por isso, ele é mediador de uma nova aliança. Pela sua morte, ele reparou as
transgressões cometidas no decorrer da primeira aliança. E, assim, aqueles que
são chamados recebem a promessa da herança eterna.
Evangelho: Mc 14,12-16.22-26
12 No primeiro dia dos
Ázimos, quando se imolava o cordeiro pascal, os discípulos disseram a Jesus:
“Onde queres que façamos os preparativos para comeres a Páscoa?” 13 Jesus
enviou então dois dos seus discípulos e lhes disse: “Ide à cidade. Um homem
carregando um jarro de água virá ao vosso encontro. Segui-o 14 e dizei ao dono
da casa em que ele entrar: ‘O Mestre manda dizer: onde está a sala em que vou
comer a Páscoa com os meus discípulos?’ 15 Então ele vos mostrará, no andar de
cima, uma grande sala, arrumada com almofadas. Aí fareis os preparativos para
nós!”16 Os discípulos saíram e foram à cidade. Encontraram tudo como Jesus havia
dito, e prepararam a Páscoa. 22 Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, tendo
pronunciado a bênção, partiu-o e entregou-lhes, dizendo: “Tomai, isto é o meu
corpo”. 23 Em seguida, tomou o cálice, deu graças, entregou-lhes, e todos
beberam dele. 24 Jesus lhes disse: “Isto
é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos. 25
Em verdade vos digo, não beberei mais do fruto da videira, até o dia em que
beberei o vinho novo no Reino de Deus”. 26 Depois de terem cantado o hino,
foram para o monte das Oliveiras.
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Corpus
Christi
A Quinta-Feira logo depois do Domingo da
Santíssima Trindade, a Igreja celebra a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue
de Cristo. Ao celebrar na Quinta-feira, recordamos a Quinta-feira Santa, dia da
instituição da Eucaristia. Ambos dias têm um objeto similar, mas não são um
simples duplicado. O Corpus Christi nos proporciona uma segunda oportunidade
para ponderar o mistério da Eucaristia e considerar seus vários aspectos. Esta
solenidade nos convida a manifestar nossa fé e devoção a este Sacramento que é
o Sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal
no qual Cristo é comungado, e a alma se enche da graça.
A solenidade de Corpus Christi é a festa que
exalta a presença real de Jesus Cristo no Sacramento da Eucaristia. Precisamente
por ser “festa do Sacramento” exaltamos o Corpo e o Sangue, pão e vinho eucarísticos,
de Jesus, sinal significativo e eficaz de sua presença entre nós. Mas neste
caso o sinal aponta para a comida fraterna na qual o próprio Cristo se dá como
alimento. E a comida fraterna e festiva não pode ser etendida sem comunhão, sem
convivência com o Senhor Jesus e com os demais comensais. É certo que a
Eucaristia constrói a Igreja, mas a constrói como comunidade que compartilha. A
Eucaristia significa a Aliança que nos vincula aos demais. Não sou eu o único
aliado de Deus, individualmente. Todos somos solidários. Somos todos um povo de
Deus.
O mistério da Eucaristia tem muitas evocações:
é memorial da Paixão, é Banquete de unidade, é antecipação da vida divina que
compartilharemos com Cristo no Céu. Por isso, é necessário descobrirmos uma vez
mais o que cremos e celebramos: o Corpo que se entrega, o Sangue que se
derrama. A entrega é essência profunda e última do Corpus Chirsti que devemos
renovar constantemente. O cristão deve ser pão que se multiplica, pão de vida,
pão de união, pão que sacia a fome. A exemplo de Cristo que derramou seu
sangue, o cristão deve converter-se também em vinho bom, de melhor colheita que
vai passando de mão em mão e de cálice em cálice para que todos bebam a salvação
e não a morte.
Além disso, a Eucaristia, dom de Deus, nos
ensina a valorizar que o homem não somente vive do pão humano e sim de tudo
quanto sai da boca de Deus. E nos assegura o socorro especial do Senhor na
travessia do deserto da vida até chegar ao banquete eterno. Comer a carne do
Senhor e beber seu sangue é habitar n´Ele e Ele em nós.
A Eucaristia tem duas dimensões: sua celebração
(a missa) e sua prolongação, com a reserva do Pão eucarístico no sacrário para
os enfermos e para o caso de viático, e a conseguinte adoração que lhe dedica
a camunidade cristã. A finalidade principal da Eucaristia é sua celebração e a
comunhão com o Corpo e o Sangue de Cristo, que quis ser nosso alimento para o
caminho da vida.
O que, sobretudo, distingue a festa de hoje
de todas as outras festas cristãs é a procissão. É o mais exterior nesta festa.
Mas quando o exterior nasce de dentro é também a manifestação de seu núcleo
interior.
A Procissão do Corpus Christi nos faz
descobrir que somos peregrinos sobre a Terra; não temos aqui a pátria permanente,
caminhamos pelo espaço e o tempo rumo à Pátria celeste. Somos pessoas que devem
deixar-se transformar, porque ser homem significa deixar-se transformar. Nossa temporalidade
e os distintos lugares onde se desenvolve nossa existência se manifestam através
de uma procissão.
Mensagem
Das Leituras De Hoje
O
sangue da aliança
é o tema que se repete em todas as leituras na solenidade de Corpus Christi de
hoje, no ciclo B. E um bom ponto de partida será evocar o terrível tom vital
daqueles ritos do Antigo Testamento em que sangue foi derramado! Na conexão com
Deus, na fidelidade a Deus que o sangue expressava, os homens jogavam tudo.
A vida de Jesus Cristo, sua fidelidade à
vontade do Pai, foi desdobrada até o momento em que a fidelidade chegará ao
ponto mais alto: o derramamento de seu sangue, o dom total de sua vida (Cf. Segunda leitura). Nessa situação
extrema, ele, como chefe da família, preside a celebração da Ceia da Páscoa de
tal maneira que transforma alguns de seus ritos em uma profecia do que vai suceder,
no desvelamento do significado de toda aquela história, e em sinal daquela Nova
Páscoa que ali tem lugar.
O sangue de Cristo destaca outro elemento,
unido ao aspecto sacrifical: porque é enrega da vida, “a vida está no sangue”,
diz a tradição bíblica, é comunhão com a vida glorificada de Jesus
O chefe da família pronunciava a bênção,
partia o pão sem levadura/fermento, e interpretava seu sentido como “pão de
aflição”, o pão de Egito. Jesus Cristo faz o mesmo gesto, mas a interpretação é
nova: naquele pão se concentra a intensidade de sua própria vida, no momento em
que chega sua Páscoa.
Igualmente, depois de comer o cordeiro, o
chefe da família levantava o “cálice da bênção”, em ação de graças pela Páscoa
celebrada. Jesus Cristo, aqui, ao passar o cálice, recolhe a memória da aliança
do Sinai (Cf. Primeira Leitura) e
anuncia que aquela aliança agora tem lugar como um novo sangue, o seu, que
converte em realidade para todos os homens o que a aliança e os sacrifícios do
Antigo Testamento significavam (Cf. Segunda
Leitura).
A Eucaristia, por isso, fará participar todos
os cristãos de tudo isso, de um modo novo, real que se expressa no absoluto das
afirmações: “Isto é Meu Corpo... Isto é o Meu Sangue!”. Não como o novo rito de
uma nova religião. Semelhante aos ritos do Antigo Testamento e sim como comunhão
com aquela união entre os homens, realizada definitivamente na vida e a morte
de Jesus de Nazaré.
Através do sangue da aliança descobrimos que
a história da aliança é a história de amor e de fidelidade de Deus para com os
homens, e isso nos conduziu para a celebração da Páscoa como a plenitude da
aliança, pelo sangue de Cristo. O acento da solenidade do Corpo e do Sangue de
Cristo deste ano nos ilumina agora algo central da Eucaristia: nela, o Sim de
Deus aos homens está sempre presente, atual, oferecido.
A Eucaristia é, sempre que a celebrarmos,
como uma recordação contra nossos esquecimentos e infidelidades: “Fazei isto em minha memória!”. A memória é
correlativa ao nosso ser no tempo. Ela nos permite fazer presentes fatos,
dados, distantes no espaço e no tempo. A memória é condição de nossa identidade
psicológica. Quem sofre a amnésia pode chegar ao ponto de ser rompido (não
rompe) do passado, não sabe mais quem é. A memória mantém a identidade pessoal
através do tempo e dos acontecimentos. A memória carrega e dispara sua virtude
(cf. Dt 7,18;9,7;15,15;24,17).
O resultado da ação da memória é o memorial.
O memorial é sempre algo verificável ou palpável (cf. Ex 12,13s;13,9; Jos
4,6s). O memorial faz referência ao passado, ao presente e ao futuro. Celebrar
o memorial é fazer de tal modo que se exprima a atualidade deste evento do qual
nos tornamos participantes na medida em que vivemos sua trama. Celebrar como
memorial supõe um fato existente. Um ato que foi praticado tem valor em si, bem
preciso, e um valor para os outros: um alcance de acontecimento. O memorial é
uma fidelidade em ação: a fidelidade de Deus que provoca a ação do homem.
“Fazei
isto em minha memória”. ”Fazei!”. Com este verbo entendemos que a
eucaristia é um agir, um acontecer de maneira misteriosa e sacramental em que
Deus está agindo presentemente para entrar em contato com os fiéis no aqui e
agora. O contato entre Deus e os fiéis se faz em e por Jesus Cristo através de
seu corpo e sangue comungados pelos fiéis. O agir de Jesus foi um abandono
total à vontade de Deus. Por sua vez, o agir de Cristo é para os fiéis uma
missão. Viver o fazer de Cristo significa realizar tudo que Deus pede de cada
um de nós a exemplo de Cristo; significa acabar com toda a soberba e aversão
contra Deus e os irmãos. Viver o fazer de Cristo significa “Eu vivo, mas já não
sou eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Comungar o corpo de Cristo para
viver o seu agir é um compromisso permanente.
“Fazei isto...” é uma ordem para repetir
aquilo que Jesus fizera, subentende toda a história de Jesus com os seus e com
o povo. Esta ordem recapitula a missão. Jesus fez de sua vida um ato de
libertação: ele cura, perdoa e liberta. E tudo é animado pelo amor e
misericórdia do Pai e dos homens.
O homem
foi e é o único ser
capaz de pôr
uma mesa no centro
de sua própria
existência em
torno da qual
compartilha não somente
o alimento , mas
também suas
alegrias e tristezas ,
seus êxitos
e seus fracassos ,
seus planos
e seus projetos ,
e onde as relações
são niveladas, pois
todos se alimentam da mesma comida ao
redor da mesma
mesa e recorda os acontecimentos
passados .
O pão partilhado é
o alimento básico ,
como a síntese
de tudo aquilo
que o homem
necessita para viver . Por isso , nos tempos de
Jesus, todas as refeições começavam com o gesto do pai tomando o pão em suas mãos e recitando sobre
o mesmo pão a
oração de ação
de graças : “Bendito
seja o Senhor , nosso
Deus , Senhor
do mundo , que
faz crescer o trigo
da terra ”. Depois ,
o pai partia o pão
e dava um pedaço
a cada um
dos comensais .
O significado
fundamental da Eucaristia
é muito claro :
ela é o sacramento
de a vida compartilhada, isto é, a Eucaristia
é o símbolo sacramental
que expressa
e produz a solidariedade com a vida que Jesus levou (“Tomai todos
e comei. Isto é o meu
Corpo ; Tomai todos
e bebei. Ito é o meu Sangue ”); e a solidariedade
também entre
os fieis que
participam do mesmo sacramento
e a solidariedade com
os demais irmãos
fora dessa comunhão
(amor sem
fronteiras ).
O mais
importante no dom
da partilha não é o ato
de dar e de partilhar e sim o doar-se. Não
é somente dar o que é meu , mas dar-me a mim
mesmo (“Corpo
e Sangue ”). É dar ,
doando-se; é converter-se em dom que se doa;
é oferecer-se a si mesmo
na oferenda . Quando
o dom envolve e compromete o doador , chega à
sua máxima verdade de dom .
De tudo
que foi dito
percebemos que o significado
fundamental da Eucaristia
está em relação
à comida compartilhada. Compartilhar
a mesma comida
é compartilhar a mesma
vida . Como
na Eucaristia a comida
é Jesus (Tomai todos e comei. Isto é o meu Corpo . Tomai todos
e bebei. Isto é o meu
Sangue ), daí se segue que a Eucaristia
é o sacramento no qual
os crentes se comprometem a compartilhar a mesma vida que levou
Jesus e a compartilhar também
a mesma vida
entre eles
no amor e na solidariedade .
P. Vitus Gustama,SVD
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