29/05/2018
SEGUIR
JESUS PARA FORMAR UMA COMUNIDADE DE IRMÃOS ONDE TUDO É PARTILHADO
Terça-Feira
Da VIII Semana Comum
Caríssimos, 10 esta
salvação tem sido objeto das investigações e meditações dos profetas. Eles
profetizaram a respeito da graça que vos estava destinada. 11 Procuraram saber a que época e a que circunstâncias
se referia o Espírito de Cristo, que estava neles, ao anunciar com antecedência
os sofrimentos de Cristo e a glória consequente. 12 Foi-lhes revelado que, não para si mesmos, mas para
vós, estavam ministrando estas coisas, que agora são anunciadas a vós por
aqueles que vos pregam o evangelho em virtude do Espírito Santo, enviado do
céu; revelações essas, que até os anjos desejam contemplar! 13 Por isso, aprontai a vossa mente; sede sóbrios e
ponde toda a vossa esperança na graça que vos será oferecida na revelação de
Jesus Cristo. 14 Como filhos
obedientes, não modeleis a vossa vida de acordo com as paixões de antigamente,
do tempo da vossa ignorância. 15 Antes, como
é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos, também vós, em todo o vosso
proceder. 16 Pois está
na Escritura: “Sede santos, porque eu sou santo”.
Evangelho: Mc 10,28-31
Naquele
tempo, 28começou Pedro a dizer a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e
te seguimos”. 29Respondeu Jesus: “Em verdade vos digo, quem tiver
deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do
Evangelho, 30receberá cem vezes mais agora, durante esta vida —
casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo
futuro, a vida eterna.31Muitos que agora são os primeiros serão os últimos. E muitos que
agora são os últimos serão os primeiros”.
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Se no dia anterior o autor da Carta de são
Pedro falava da herança e da esperança que Deus nos concede em Sua
misericórdia, hoje continua com o tema, mas ele situa este tema em três etapas:
- No passado, os profetas do Antigo Testamento, inspirados já pelo Espirito de Jesus, escrutavam o futuro e “Eles profetizaram a respeito da graça que vos estava destinada”, porque “Foi-lhes revelado que, não para si mesmos, mas para vós”.
- Agora, no presente, os pregadores cristãos, também inspirados pelo Espirito, nos anunciam a Boa Notícia: que em Jesus Cristo, em sua morte e ressurreição, cumpre-se tudo o que foi anunciado antes.
- Todavia, fica outra perspectiva, a perspectiva do futuro: “aprontai a vossa mente; sede sóbrios e ponde toda a vossa esperança na graça que vos será oferecida na revelação de Jesus Cristo”.
O autor da Carta de são Pedro, em função de
tudo isso, quer que os cristãos se controlem, que vivam na obediência, que não
se deixem modelar pelos desejos de antes e sim que vivam na santidade, imitando
a santidade do mesmo Deus: “Sede santos,
porque eu sou santo”.
Em outras palavras, o autor da Carta nos dá
duas advertências no texto lido hoje. A Primeira advertência é sobre uma vida
sóbria: “Aprontai a vossa mente (cingi os rins de vossa mente); sede sóbrios e ponde toda a vossa esperança
na graça que vos será oferecida na revelação de Jesus Cristo”. Precisamente
por causa da redenção que nos coube, urge tornar-se sóbrios. Trata-se aqui de
um combater, labutar e peregrinar espiritual. Na volta do Senhor estejam todos
vigilantes e preparados. A vigilância se expressa na sobriedade, na oração
perseverante e no serviço ao irmão.
A segunda advertência é a chamada à
santidade: “Como filhos obedientes, não
modeleis a vossa vida de acordo com as paixões de antigamente, do tempo da
vossa ignorância. Antes, como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos,
também vós, em todo o vosso proceder. Pois está na Escritura: ‘Sede santos,
porque eu sou santo’”. A autor enfatiza a conversão de nossos pecados. É o
retorno para o nosso empenho moral. Todo pecado é a desobediência à vontade de
Deus. Para o cristão o obedecer começa no dia de seu Batismo. Dai por diante,
cabe-lhe seguir o chamado de Deus e as Sua sendas. A Carta de são Pedro
considera a antiga vida pagã dos cristãos como tempo da ignorância. Conhecimento
de Deus, frequentemente, na Sagrada Escritura, é sinônimo de culto de Deus que
se concretiza na santificação da vida.
Nos cristaos vivemos entre a memória e a
profecia, entre o ontem e o amanhã. E sobretudo na vivência do presente, do
hoje, antentos aos valores fundamentais de nossa salvação, a salvação que nos
oferece Deus por Cristo, a comunhão em sua vida. Se olharmos de onde viemos e
para onde vamos, viveremos mais lucidamente nosso presente. Não somente porque
nossa existência está transida de esperança, mas também porque assumimos com
decisão o compromisso de viver vigilantes com disponibilidade absoluta guiados
por Cristo.
Cada Eucaristia nos faz exercitar esta
atitude de memória do passado, da profecia aberta ao futuro e da celebração
vivencial do presente: “Todas as vezes
que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que
ele venha” (1Cor 11,26). Por isso, a Eucaristia, como a luz da Palavra e a
força da comunhão, vai-nos ajudando a ordenarmos nossos pensamentos, a irmos
crescendo na unidade interior de toda a pessoa, em marcha do ontem para o amanhã,
vivendo o hoje com serenidade e empenho. A Eucaristia é nosso melhor “viático”,
nosso alimento para o caminho até chegar ao banquete eterno.
Viver
Como Cristãos É Viver Como Uma Família Em Que Tudo É Partilhado
O texto do evangelho de hoje, como também o
do dia anterior, se encontra na parte central do evangelho de Marcos (Mc
8,22-10,52). Este conjunto começa com a cura do cego (8,22-26) e termina com a
mesma (10,46-52). Com isso Marcos quer nos mostrar que os discípulos continuam
com sua incompreensão diante da missão de Jesus.
No início e no fim desta seção, Marcos coloca
o tema de fé como dom de Deus. A fé faz ver quem é Jesus e faz entender o
sentido da vida e de nossa presença neste mundo. Desde o começo da atividade
pública de Jesus, Marcos mostrou-nos a cegueira dos discípulos. Mas Jesus fará
tudo para, pouco a pouco, tirar a cegueira dos discípulos. A visão clara que se
tem de Jesus não vem de uma só vez. Mas, aos poucos, com a ajuda de Jesus,
vamos vendo com mais clareza e com maior nitidez quem é Jesus e o que significa
seguir a este Jesus neste mundo. A fé também faz ver o caminho que Jesus
trilhou e que devemos trilhar. Assim a seção começa e termina com a cura de um
cego (8,22-26; 10,46-52). E essas duas curas têm uma função simbólica: para
mostrar a cegueira dos discípulos. Elas também lembram o leitor de que é Jesus
quem faz possível a fé daqueles que acreditam nele e O seguem no caminho.
No evangelho do dia anterior (Mc 10,17-27) o
jovem rico recusou o convite de Jesus para que ele vendesse tudo que tinha para
depois dar tudo aos pobres. Em vez de seguir a Jesus, Àquele que tem “as
palavras da vida eterna” (Jo 6,68b), o jovem rico foi embora triste porque
tinha muitos bens e não quis partilhá-los nem com os necessitados (pobres).
Depois que ele foi embora, Jesus pronunciou esta frase para os discípulos: “Meus
filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil um camelo passar
pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!”.
Os discípulos ficaram espantados diante da
afirmação de Jesus. Para os discípulos seguir a Jesus significa enriquecer-se
de bens materiais. Por isso ficaram assustados com as palavras de Jesus: “Então,
quem pode ser salvo?” (Mc 10,26). Ao que Jesus respondeu: “Aos homens é impossível, mas não a Deus,
pois para Deus tudo é possível” (Mc 10,27). Para Jesus o caminho da vida
consiste em enriquecer-se diante de Deus. só quem sabe perder a vida neste
mundo por causa do evangelho vai recuperá-la na vida eterna. Salvar-se não está
nas mãos do homem, mas é um dom gratuito de Deus e não pode merecer-se. Somente
quando for acolhido o evangelho e viver-se na graça é que conduz a pessoa à
vida eterna. Trata-se de uma vida sustentada pela força de Deus.
Ao ouvir a afirmação de Jesus, Pedro também
perguntou a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. E o
evangelista Mateus explicita ou acrescenta a seguinte frase: “O que é que vamos
receber?” (Mt 19,27). Pedro já abandonou tudo, desapegou-se de tudo para se
aderir a Jesus e quer saber de Jesus qual será a recompensa do seguimento.
O que é que tem no fundo ou por trás da frase
de Pedro? Está seu conceito político e interesseiro do Messianismo. Os
discípulos buscam postos de honra, recompensas humanas, soluções econômicas e
políticas. Eles querem transformar Jesus em empresário para resolver sua
carência econômica.
Jesus, com sua paciência, continua educando
os discípulos e lhes garante: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa,
irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho,
receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães,
filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna”. A
afirmação de Jesus vale para qualquer pessoa que se adere a Jesus e que se
dedica à propagação do evangelho de Jesus. Jesus assegura que no Reino ou na
nova sociedade, na nova família não haverá miséria, pois vivem na partilha, na
solidariedade, na compaixão, na fraternidade. Nessa nova família não haverá
domínio, nem desigualdade nem superioridade nem poder. Por isso, na segunda
afirmação de Jesus a palavra “pai” não se menciona que é símbolo do poder ou de
autoridade. Em Mateus podemos entender o sentido dessa afirmação quando Jesus
disse: “Quanto a vós, não permitais que vos chamem ‘Rabi’, pois um só é o
vosso Mestre e todos vós sois irmãos. A ninguém na terra chameis ‘Pai’, pois um
só é o vosso Pai, o celeste” (Mt 23,8-9). Chamar Deus de Pai leva a pessoa
a viver a fraternidade na convivência com os demais, pois todos são filhos e
filhas de Deus (cf. 1Jo 3,1-2).
Necessitamos dos bens materiais como meio na
nossa vida, pois uma pessoa pode rezar ou meditar durante horas, mas no fim ela
precisará dum pedaço de pão e dum copo de água. Mas reparamos que os bens
materiais sempre são alheios a nós. Eles nunca serão nossos amigos. A vida
feliz está na partilha, na solidariedade, na fraternidade, na compaixão, no
amor mútuo, na caridade e assim por diante. A partilha é a alma do projeto de
Jesus Cristo. Ele nos chama para segui-lo nessa direção. No evangelho de Marcos
Jesus e seu Espírito vão ajudando os discípulos para que cheguem à maturidade
de sua fé. Somente depois da ressurreição (Páscoa) eles vão se entregar também
gratuito e generosamente ao serviço de Jesus Cristo e da comunidade até sua
morte, pois eles captaram o sentido da mensagem de Jesus.
A resposta de Jesus diante da pergunta de
Pedro é esperançosa e misteriosa, ao mesmo tempo: “Em verdade vos digo, quem
tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e
do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida e, no
mundo futuro, a vida eterna”. Não se trata de quantidades aritméticas (cem
vezes). A resposta se refere à nova família que se cria em torno de Jesus:
deixamos um irmão e encontramos cem irmãos (irmãs). O laço desta nova família
está na prática da vontade de Deus que consiste na prática do bem e na vivência
do amor fraterno: “Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe”
(Mc 3,35).
Quantos irmãos e irmãs leigos, quantos
pastores, quantos médicos e enfermeiros sem fronteiras e as demais pessoas de
boa vontade que entregam sua melhor força e tempo para trabalhar pelo bem dos
irmãos da comunidade e fora da comunidade e para ajudar os sofredores em todos
os sentidos! Quantos sacerdotes, quantos religiosos e religiosas, quantas
pessoas consagradas que não formaram a própria família, mas não por isso que
deixaram de amar. Ao contrário, eles estão plenamente disponíveis para todos,
movidos de um amor universal. Todos esses irmãos e irmãs são reflexos da
generosidade de Jesus Cristo neste mundo. Jesus está presente nesses irmãos e
irmãs, se quisermos perguntar onde está Jesus Cristo (cf. Mt 25,31-46). Jesus
promete já desde agora uma grande satisfação e promete a vida eterna: “receberá
cem vezes mais agora, durante esta vida e, no mundo futuro, a vida
eterna”. Mas o verdadeiro amor supõe sacrifício, cruz e perseguição, porém,
vale a pena! A Páscoa salvadora passa pelo caminho da Cruz da Sexta-Feira
Santa. A vida do cristão não termina na Sexta-Feira Santa. Ela termina na
ressurreição. A força da ressurreição dá força e anima o cristão para encarar a
cruz da Sexta-Feira Santa. Jesus nos mostrou isso.
P. Vitus Gustama,svd
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