01/11/2018
É PRECISO ANUNCIAR O EVANGELHO DA PAZ ATÉ O FIM APESAR DAS DIFICULDADES
Quinta-Feira
da XXX Semana Comum
10 Finalmente, irmãos, fortalecei-vos
no Senhor, e na força de seu poder. 11 Revesti-vos da armadura de Deus, para poderdes
resistir às insídias do diabo. 12 Pois o nosso combate não é contra o sangue nem
contra a carne, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes
deste mundo tenebroso, contra os Espíritos do Mal, que povoam as regiões
celestiais. 13 Revesti, portanto, a armadura de Deus, a fim de que no dia mau
possais resistir e permanecer firmes em tudo. 14 De pé, portanto! Cingi os
vossos rins com a verdade, revesti-vos com a couraça da justiça 15 e calçai os
vossos pés com a prontidão em anunciar o Evangelho da paz. 16 Tomai o escudo da
fé, o qual vos permitirá apagar todas as flechas ardentes do Maligno. 17 Tomai,
enfim, o capacete da salvação e o gládio do espírito, isto é, a Palavra de
Deus. 18 Com preces e súplicas de vária ordem, orai em todas as circunstâncias,
no Espírito, e vigiai com toda a perseverança, intercedendo por todos os
santos. 19 Orai também por mim, para que a palavra seja posta em minha boca
para anunciar corajosamente o mistério do Evangelho, 20 do qual sou embaixador
acorrentado. Possa eu, como é minha obrigação, proclamá-lo com toda a ousadia.
Evangelho: Lc 13, 31-35
31
Naquela hora, alguns fariseus aproximaram-se e disseram a Jesus: “Tu deves ir
embora daqui, porque Herodes quer te matar”. 32 Jesus disse: “Ide dizer
a essa raposa: eu expulso demônios e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro
dia terminarei o meu trabalho. 33 Entretanto, preciso caminhar hoje,
amanhã e depois de amanhã, porque não convém que um profeta morra fora de
Jerusalém. 34 Jerusalém, Jerusalém! Tu que matas os profetas e apedrejas
os que te foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a
galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, mas tu não quiseste! 35 Eis
que vossa casa ficará abandonada. Eu vos digo: não me vereis mais, até que
chegue o tempo em que vós mesmos direis: Bendito aquele que vem em nome do
Senhor”.
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A Força De Deus, Que Está Na
Verdade e Na Justiça, e a Oração Permanente São Meios Eficazes Contra o Espírito
Do Mal
Ao final da Carta aos Efésios, que lemos na Primeira Leitura de hoje, o Apóstolo
exorta aos cristãos para “o combate espiritual” e “a oração”. Dois conselhos
sempre válidos para todos os tempos e lugares.
A vida humana é um combate, uma luta. Os modernos
falam de “conflitos” e de “lutas”. Mas para o Apóstolo Paulo, a luta é muito
mais prfunda do que parece segundo as análises politicas ou simplesmente
humanas. Trata-se de um combate “contra forças espirituais invisíveis”. No coração
do mundo existem “mais forças que nós”, umas forças que estão “acima de nós”. O
pior erro seria ignorar essas forças. No mundo há forças subterrâneas,
movimentos incontroláveis, influências imprevisíveis,
droga, violência, poluição, controle econômico em nome do lucro, mesmo que haja
muitas vítimas humanas e vários sofrimentos para a maioria.
Em outras palavras, o inimigo irreconciliável
da verdade, da justiça e da paz não é outra senão a mentira, a injustiça e a
guerra que reinam no homem e entre os homens e os seduzem. O cristão não é o
homem que se coloca à margem deste combate. Nem tampouco o homem que vive
unicamente na verdade, na justiça e na paz. Mas exatamente, o crente é o homem
que não deixa jamais de buscar e de reconhecer a verdade, a justiça e a paz. O combate
tem lugar no interior da vida do homem e, ao mesmo tempo, na convivência com os
demais.
Para descrever a vida cristã em forma breve,
clara e atrativa, o Apóstolo Paulo considera cada cristão como um guerreiro bem
armado para resistir ao inimigo e para combatê-lo, ao mesmo tempo. A armadura
de Deus da qual o cristão tem que se vestir está constituída pela verdade e a
justiça, pela oração a fim de poder anunciar “o Evangelho da paz”.
Tudo isso requer um compromisso de força
total, de combate contínuo. “Fortalecei-vos
no Senhor, e na força de seu poder. Cingi os vossos rins com a verdade, revesti-vos
com a couraça da justiça e calçai os vossos pés com a prontidão em anunciar o
Evangelho da paz”,
é o conselho do Apóstolo Paulo para todos os cristãos.
Além disso, os cristãos devem ser homens de
muita oração com uma vigilância permanente: “Com preces e súplicas de vária ordem, orai em todas as circunstâncias,
no Espírito, e vigiai com toda a perseverança, intercedendo por todos os santos”.
A oração é o segredo da forças dos homens dinâmicos. A oração é
imprescindível na vida de cada cristão quando ele vive seriamente a verdade do
seu ser como cristão. A oração é indispensável e necessária, porque é o clima
em que nasce e amadurece a fé e a vida. A oração fortalece a esperança cristã
que não podemos confundir com a simples espera de algo que se realize. A
esperança cristã consiste na certeza de conseguir um dia o anseio mais íntimo e
verdadeiro de nosso coração apesar de todas as situações e contradições que
façam difícil manter esta atitude. É uma esperança que respeita o “tempo de
Deus”, mas que nos leva a trabalharmos para adiantá-lo. Se a oração é a forma habitual de alimentar
nossa comunhão com Deus e com os homens, deixar de orar significa deixar de ter
o “sentido de Deus” nos acontecimentos e deixar-nos alienados d’Ele. Se um
cristão não rezar, vai errar muito o caminho.
Viver Para Anunciar o Bem Até
O Fim Da Vida
Continuamos a acompanhar Jesus no seu Caminho
para Jerusalém. Durante esse Caminho Jesus vai dando suas ultimas e importantes
lições para seus discípulos (Lc 9,51-19,28) e portanto, para todos os cristãos
em todos os tempos. Para Lucas, Jerusalém é tudo: onde acontece a cena da
morte, da ressurreição, do nascimento da Igreja, e da expansão missionária.
É interessante notar, no evangelho de hoje,
que os fariseus, que muitas vezes atacam Jesus de várias maneiras, desta vez,
querem salvar sua vida ao lhe dizer: “Tu deves ir embora daqui, porque
Herodes quer te matar”. Os que estão no poder consideram Jesus como um
homem perigoso e por isso, querem eliminá-lo, embora Jesus apenas ajude as
pessoas na sua dignidade. E Herodes seria capaz de fazer isso, pois ele já mandou
decapitar João Batista alguns meses antes (cf. Lc 3,19).
O poder destrói a integridade; destrói a
confiança; destrói dialogo; e destrói a relacionamentos. O poder sempre anda
lado a lado com a soberba e o orgulho. “A soberba odeia a companhia! O orgulhoso
procura por todos os meios brilhar solitário”, dizia Sant Agostinho (Epist.
140,42). Não há nada que nos isole dos outros tanto quanto o poder. Até
mesmo a conversa humana comum é destruída pelo poder. Por causa do poder
vivemos o drama do diálogo perdido. Por isso, vemos esse drama trágico entre
maridos e mulheres, entre pais e filhos, entre patrões e empregados e assim por
diante.
Os que têm sede do poder se preocupam com o
poder-sobre do que com o poder-fazer. Querem mandar em tudo e em todos. Eles se
preocupam na tomada do poder e não na dissolução do poder. “Quem manda aqui sou eu” é a frase favorita
de quem adora ao poder. “A
transformação do poder-fazer em poder-sobre implica a ruptura do
fluxo social do fazer. Os que exercem o poder-sobre separam o feito do fazer de
outros e o declaram seu. A apropriação do feito é ao mesmo tempo a apropriação
dos meios de fazer, e isso permite aos poderosos controlar o fazer dos
fazedores. Os fazedores (os humanos, entendidos como ativos) estão separados assim
de seu feito, dos meios de fazer e do próprio fazer. Qualquer tentativa de
mudar a sociedade envolve o fazer, a atividade. O fazer, por sua vez, envolve a
capacidade de fazer, o poder-fazer. Muitas vezes usamos a palavra “poder” nesse
sentido, como algo bom, como quando uma ação junto com outros (uma manifestação
ou inclusive um bom seminário) nos dá uma sensação de poder. O poder neste
sentido tem seu fundamento no fazer: é o poder-fazer.” (John Holloway).
O pecado do poder consiste no desejo de ser
mais do que aquilo para o qual fomos criados. “O homem foi criado para viver
de acordo com a Verdade. Não viver como foi criado é viver na mentira
permanente”, dizia Santo Agostinho (De civ. Dei 14, 4,1). “Aproximar-se
de Deus é assemelhar-se a Ele. Afastar-se d’Ele é deformar-se” (Santo
Agostinho. In ps 34,2,6).
A tripla enumeração: “hoje, amanhã, e o
terceiro dia” / “hoje, amanhã e depois de amanhã” serve para englobar um
período de tempo largo e completo, isto é, o que resta de sua vida publica,
durante o qual Jesus prosseguirá libertando o povo de todo tipo de ideologias
contrárias ao plano de Deus (“expulsando demônios”) e de todo tipo de doenças
morais e físicas que impede o povo de segui-lo com liberdade e dignidade humana
(“curando”) até o fim de sua missão terrena (“terminarei meu trabalho”). Jesus
não faz sua missão pela metade. Ele vive sua vida na totalidade e não pela
metade. Jesus alcança a perfeição humana entregando sua vida para a salvação de
todos.
A partir de Jesus aprendemos que precisamos
fazer as coisas pelo bem de todos até onde nossa capacidade permitir. Quando
cumprirmos nossa missão até onde a capacidade permitir, seremos pessoas
realizadas e as outras serão beneficiadas.
Jerusalém que significa “cidade da paz” faz o
contrário. Em vez de viver para criar a paz, Jerusalém provoca a violência: “Jerusalém,
Jerusalém! Tu que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados!”,
lamenta Jesus. Jerusalém não vive de acordo com seu nome: “cidade da paz”.
Talvez possamos dizer isto, na linguagem de Santo Agostinho, para nosso
contexto: “O nome de cristão traz em si a conotação de justiça, bondade,
integridade, paciência, castidade, prudência, amabilidade, inocência e piedade.
Como podes explicar a apropriação de tal nome se tua conduta mostra tão poucas
dessas muitas virtudes?” (De vit. christ. 6).
Pelo Batismo nos é confiada a missão de
proclamar a Boa Nova de salvação. No cumprimento fiel dessa missão não podemos
dar-nos descanso: “Eu faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia
terminarei o meu trabalho. Preciso caminhar hoje, amanhã e depois de amanhã”.
São Paulo escreveu ao Timóteo: “Prega a palavra, insiste oportuna e
importunamente, repreende, ameaça, exorta com toda paciência e empenho de
instruir” (2Tm 4,2). Não podemos enterrar as oportunidades, pois
precisamos viver para fazer o bem (cf. At 10,38). Eu preciso fazer o bem hoje,
amanhã e depois de amanhã (em todos os dias da minha vida). Nisto alcançarei a
minha perfeição humana.
P. Vitus Gustama,svd
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