terça-feira, 30 de outubro de 2018

01/11/2018

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É PRECISO ANUNCIAR O EVANGELHO DA PAZ ATÉ O FIM APESAR DAS DIFICULDADES 
Quinta-Feira da XXX Semana Comum

Primeira Leitura: Efésios 6,10-20
10 Finalmente, irmãos, fortalecei-vos no Senhor, e na força de seu poder. 11 Revesti-vos da armadura de Deus, para poderdes resistir às insídias do diabo. 12 Pois o nosso combate não é contra o sangue nem contra a carne, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra os Espíritos do Mal, que povoam as regiões celestiais. 13 Revesti, portanto, a armadura de Deus, a fim de que no dia mau possais resistir e permanecer firmes em tudo. 14 De pé, portanto! Cingi os vossos rins com a verdade, revesti-vos com a couraça da justiça 15 e calçai os vossos pés com a prontidão em anunciar o Evangelho da paz. 16 Tomai o escudo da fé, o qual vos permitirá apagar todas as flechas ardentes do Maligno. 17 Tomai, enfim, o capacete da salvação e o gládio do espírito, isto é, a Palavra de Deus. 18 Com preces e súplicas de vária ordem, orai em todas as circunstâncias, no Espírito, e vigiai com toda a perseverança, intercedendo por todos os santos. 19 Orai também por mim, para que a palavra seja posta em minha boca para anunciar corajosamente o mistério do Evangelho, 20 do qual sou embaixador acorrentado. Possa eu, como é minha obrigação, proclamá-lo com toda a ousadia.


Evangelho: Lc 13, 31-35
31 Naquela hora, alguns fariseus aproximaram-se e disseram a Jesus: “Tu deves ir embora daqui, porque Herodes quer te matar”. 32 Jesus disse: “Ide dizer a essa raposa: eu expulso demônios e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia terminarei o meu trabalho. 33 Entretanto, preciso caminhar hoje, amanhã e depois de amanhã, porque não convém que um profeta morra fora de Jerusalém. 34 Jerusalém, Jerusalém! Tu que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, mas tu não quiseste! 35 Eis que vossa casa ficará abandonada. Eu vos digo: não me vereis mais, até que chegue o tempo em que vós mesmos direis: Bendito aquele que vem em nome do Senhor”.
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A Força De Deus, Que Está Na Verdade e Na Justiça, e a Oração Permanente São Meios Eficazes Contra o Espírito Do Mal


Ao final da Carta aos Efésios, que lemos na Primeira Leitura de hoje, o Apóstolo exorta aos cristãos para “o combate espiritual” e “a oração”. Dois conselhos sempre válidos para todos os tempos e lugares.


A vida humana é um combate, uma luta. Os modernos falam de “conflitos” e de “lutas”. Mas para o Apóstolo Paulo, a luta é muito mais prfunda do que parece segundo as análises politicas ou simplesmente humanas. Trata-se de um combate “contra forças espirituais invisíveis”. No coração do mundo existem “mais forças que nós”, umas forças que estão “acima de nós”. O pior erro seria ignorar essas forças. No mundo há forças subterrâneas, movimentos incontroláveis, influências  imprevisíveis, droga, violência, poluição, controle econômico em nome do lucro, mesmo que haja muitas vítimas humanas e vários sofrimentos para a maioria.


Em outras palavras, o inimigo irreconciliável da verdade, da justiça e da paz não é outra senão a mentira, a injustiça e a guerra que reinam no homem e entre os homens e os seduzem. O cristão não é o homem que se coloca à margem deste combate. Nem tampouco o homem que vive unicamente na verdade, na justiça e na paz. Mas exatamente, o crente é o homem que não deixa jamais de buscar e de reconhecer a verdade, a justiça e a paz. O combate tem lugar no interior da vida do homem e, ao mesmo tempo, na convivência com os demais.


Para descrever a vida cristã em forma breve, clara e atrativa, o Apóstolo Paulo considera cada cristão como um guerreiro bem armado para resistir ao inimigo e para combatê-lo, ao mesmo tempo. A armadura de Deus da qual o cristão tem que se vestir está constituída pela verdade e a justiça, pela oração a fim de poder anunciar “o Evangelho da paz”.


Tudo isso requer um compromisso de força total, de combate contínuo. “Fortalecei-vos no Senhor, e na força de seu poder. Cingi os vossos rins com a verdade, revesti-vos com a couraça da justiça e calçai os vossos pés com a prontidão em anunciar o Evangelho da paz”, é o conselho do Apóstolo Paulo para todos os cristãos.


Além disso, os cristãos devem ser homens de muita oração com uma vigilância permanente: “Com preces e súplicas de vária ordem, orai em todas as circunstâncias, no Espírito, e vigiai com toda a perseverança, intercedendo por todos os santos”. A oração é o segredo da forças dos homens dinâmicos. A oração é imprescindível na vida de cada cristão quando ele vive seriamente a verdade do seu ser como cristão. A oração é indispensável e necessária, porque é o clima em que nasce e amadurece a fé e a vida. A oração fortalece a esperança cristã que não podemos confundir com a simples espera de algo que se realize. A esperança cristã consiste na certeza de conseguir um dia o anseio mais íntimo e verdadeiro de nosso coração apesar de todas as situações e contradições que façam difícil manter esta atitude. É uma esperança que respeita o “tempo de Deus”, mas que nos leva a trabalharmos para adiantá-lo.  Se a oração é a forma habitual de alimentar nossa comunhão com Deus e com os homens, deixar de orar significa deixar de ter o “sentido de Deus” nos acontecimentos e deixar-nos alienados d’Ele. Se um cristão não rezar, vai errar muito o caminho.


Viver Para Anunciar o Bem Até O Fim Da Vida


Continuamos a acompanhar Jesus no seu Caminho para Jerusalém. Durante esse Caminho Jesus vai dando suas ultimas e importantes lições para seus discípulos (Lc 9,51-19,28) e portanto, para todos os cristãos em todos os tempos. Para Lucas, Jerusalém é tudo: onde acontece a cena da morte, da ressurreição, do nascimento da Igreja, e da expansão missionária.


É interessante notar, no evangelho de hoje, que os fariseus, que muitas vezes atacam Jesus de várias maneiras, desta vez, querem salvar sua vida ao lhe dizer: “Tu deves ir embora daqui, porque Herodes quer te matar”. Os que estão no poder consideram Jesus como um homem perigoso e por isso, querem eliminá-lo, embora Jesus apenas ajude as pessoas na sua dignidade. E Herodes seria capaz de fazer isso, pois ele já mandou decapitar João Batista alguns meses antes (cf. Lc 3,19).


O poder destrói a integridade; destrói a confiança; destrói dialogo; e destrói a relacionamentos. O poder sempre anda lado a lado com a soberba e o orgulho. “A soberba odeia a companhia! O orgulhoso procura por todos os meios brilhar solitário”, dizia Sant Agostinho (Epist. 140,42). Não há nada que nos isole dos outros tanto quanto o poder. Até mesmo a conversa humana comum é destruída pelo poder. Por causa do poder vivemos o drama do diálogo perdido. Por isso, vemos esse drama trágico entre maridos e mulheres, entre pais e filhos, entre patrões e empregados e assim por diante.


Os que têm sede do poder se preocupam com o poder-sobre do que com o poder-fazer. Querem mandar em tudo e em todos. Eles se preocupam na tomada do poder e não na dissolução do poder.  “Quem manda aqui sou eu” é a frase favorita de quem adora ao poder. “A transformação do poder-fazer em poder-sobre implica a ruptura do fluxo social do fazer. Os que exercem o poder-sobre separam o feito do fazer de outros e o declaram seu. A apropriação do feito é ao mesmo tempo a apropriação dos meios de fazer, e isso permite aos poderosos controlar o fazer dos fazedores. Os fazedores (os humanos, entendidos como ativos) estão separados assim de seu feito, dos meios de fazer e do próprio fazer. Qualquer tentativa de mudar a sociedade envolve o fazer, a atividade. O fazer, por sua vez, envolve a capacidade de fazer, o poder-fazer. Muitas vezes usamos a palavra “poder” nesse sentido, como algo bom, como quando uma ação junto com outros (uma manifestação ou inclusive um bom seminário) nos dá uma sensação de poder. O poder neste sentido tem seu fundamento no fazer: é o poder-fazer.” (John Holloway).


O pecado do poder consiste no desejo de ser mais do que aquilo para o qual fomos criados. “O homem foi criado para viver de acordo com a Verdade. Não viver como foi criado é viver na mentira permanente”, dizia Santo Agostinho (De civ. Dei 14, 4,1). “Aproximar-se de Deus é assemelhar-se a Ele. Afastar-se d’Ele é deformar-se” (Santo Agostinho. In ps 34,2,6).

Na sua resposta, diante desta ameaça, Jesus mostra aos fariseus (e Herodes) que ele próprio é quem decide seu caminho a seguir; Ele não se intimida pelos poderosos: “Ide dizer a essa raposa: eu expulso demônios e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia terminarei o meu trabalho. Entretanto, preciso caminhar hoje, amanhã e depois de amanhã, porque não convém que um profeta morra fora de Jerusalém”. Raposo é um animal medroso que só Caça de noite e foge quando chegar a madrugada e corre rapidamente por causa de um pequeno perigo. Na gíria aramaica “raposa” tem um duplo sentido: animal astuto e animal insignificante em oposição a “leão”. Aqui a palavra “raposa” se aplica à pessoa insignificante e buliçosa/ inquieta que não merece respeito. Herodes é chamado de “raposa” para dizer que ele é um tipo de pessoa covarde, hipócrita que não quer se responsabilizar pela morte de Jesus, e Pilatos vai também nessa direção na condenação de Jesus (cf. Lc 23,6-12).


A tripla enumeração: “hoje, amanhã, e o terceiro dia” / “hoje, amanhã e depois de amanhã” serve para englobar um período de tempo largo e completo, isto é, o que resta de sua vida publica, durante o qual Jesus prosseguirá libertando o povo de todo tipo de ideologias contrárias ao plano de Deus (“expulsando demônios”) e de todo tipo de doenças morais e físicas que impede o povo de segui-lo com liberdade e dignidade humana (“curando”) até o fim de sua missão terrena (“terminarei meu trabalho”). Jesus não faz sua missão pela metade. Ele vive sua vida na totalidade e não pela metade. Jesus alcança a perfeição humana entregando sua vida para a salvação de todos.


A partir de Jesus aprendemos que precisamos fazer as coisas pelo bem de todos até onde nossa capacidade permitir. Quando cumprirmos nossa missão até onde a capacidade permitir, seremos pessoas realizadas e as outras serão beneficiadas.


Jerusalém que significa “cidade da paz” faz o contrário. Em vez de viver para criar a paz, Jerusalém provoca a violência: “Jerusalém, Jerusalém! Tu que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados!”, lamenta Jesus. Jerusalém não vive de acordo com seu nome: “cidade da paz”. Talvez possamos dizer isto, na linguagem de Santo Agostinho, para nosso contexto: “O nome de cristão traz em si a conotação de justiça, bondade, integridade, paciência, castidade, prudência, amabilidade, inocência e piedade. Como podes explicar a apropriação de tal nome se tua conduta mostra tão poucas dessas muitas virtudes?” (De vit. christ. 6).


Pelo Batismo nos é confiada a missão de proclamar a Boa Nova de salvação. No cumprimento fiel dessa missão não podemos dar-nos descanso: “Eu faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia terminarei o meu trabalho. Preciso caminhar hoje, amanhã e depois de amanhã”. São Paulo escreveu ao Timóteo: “Prega a palavra, insiste oportuna e importunamente, repreende, ameaça, exorta com toda paciência e empenho de instruir” (2Tm 4,2). Não podemos enterrar as oportunidades, pois precisamos viver para fazer o bem (cf. At 10,38). Eu preciso fazer o bem hoje, amanhã e depois de amanhã (em todos os dias da minha vida). Nisto alcançarei a minha perfeição humana.
P. Vitus Gustama,svd

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