24/10/2018
COMO COHERDEIROS DA PROMESSA DE CRISTO SOMOS CHAMADOS A VIVER NA
PERMANENTE VIGILÂNCIA
Quarta-Feira da XXIX Semana Comum
Irmãos, 2 se ao menos
soubésseis da graça que Deus me concedeu para realizar o seu plano a vosso
respeito, 3 como, por revelação, tive conhecimento do mistério, tal como o
esbocei rapidamente. 4 Ao ler-me, podeis conhecer a percepção que eu tenho do
mistério de Cristo. 5 Este mistério, Deus não o fez conhecer aos homens de
gerações passadas mas acaba de o revelar agora, pelo Espírito, aos seus santos
apóstolos e profetas: 6 os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do
mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do
Evangelho. 7 Disto eu fui feito ministro pelo dom da graça que Deus me concedeu
no exercício de seu poder. 8 Eu, que sou o último de todos os santos, recebi
esta graça de anunciar aos pagãos a insondável riqueza de Cristo 9 e de mostrar
a todos como Deus realiza o mistério desde sempre escondido nele, o criador do
universo. 10 Assim, doravante, as autoridades e poderes nos céus conhecem, graças
à Igreja, a multiforme sabedoria de Deus, 11 de acordo com o desígnio eterno
que ele executou em Jesus Cristo, nosso Senhor. 12 Em Cristo nós temos, pela fé
nele, a liberdade de nos aproximar de Deus com toda confiança.
Evangelho: Lc 12, 39-48
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 39 “Ficai certos: se o dono da casa
soubesse a hora em que o ladrão iria chegar, não deixaria que arrombasse a sua
casa. 40 Vós também ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na
hora em que menos o esperardes”. 41 Então Pedro disse: “Senhor, tu contas esta
parábola para nós ou para todos?” 42 E o Senhor respondeu: “Quem é o
administrador fiel e prudente que o senhor vai colocar à frente do pessoal de
sua casa para dar comida a todos na hora certa? 43 Feliz o empregado que o
patrão, ao chegar, encontrar agindo assim! 44 Em verdade eu vos digo: o senhor
lhe confiará a administração de todos os seus bens. 45 Porém, se aquele
empregado pensar: ‘Meu patrão está demorando’, e começar a espancar os criados
e as criadas, e a comer, a beber e a embriagar-se, 46 o senhor daquele
empregado chegará num dia inesperado e numa hora imprevista, ele o partirá ao
meio e o fará participar do destino dos infiéis. 47 Aquele empregado que,
conhecendo a vontade do senhor, nada preparou, nem agiu conforme a sua vontade,
será chicoteado muitas vezes. 48 Porém, o empregado que não conhecia essa
vontade e fez coisas que merecem castigo, será chicoteado poucas vezes. A quem
muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será
exigido!”.
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A Fé Em Jesus Nos Torna Coherdeiros das Promessas De Deus
“Irmãos,
se ao menos soubésseis da graça que Deus me concedeu para realizar o seu plano
a vosso respeito, como, por revelação, tive conhecimento do mistério, tal como
o esbocei rapidamente”.
São Paulo não pode esconder o orgulho que sente
por ter recebido a missão de anunciar o mistério de Cristo aos pagãos. São Paulo
denomina essa missão de anunciar o mistério de Cristo como “dom da graça” (Ef
3,7). “Graça” é algo absolutamente imerecido e que provém da livre escolha e incomensurável
misericórdia de Deus.
E são Paulo também fala do “conhecimento do
mistério”. O termo “mistério” indica o plano soteriológico de Deus, que abrange
o cosmo todo e começa a se realizar com o chamado dos gentios a ser
coherdeiros da promessa de Cristo, junto com os judeus (Ef 3,6). E este mistério
se realiza por meio do evento da cruz e da ressurreição de Jesus. É por Cristo
que somos “filhos adotivos” (Ef 1,5); é pelo sangue de Cristo que “temos a
redenção e a remissão dos pecados” (Ef 1,7); É em Cristo que ocorre a
recapitulação cósmica de todas as coisas (Ef 1,10). O Cristo universal é,
portanto, a personificação do próprio mistério de Deus.
Até então podia parecer que os únicos
herdeiros da promessa de Deus eram os judeus. Agora são Paulo tem a alegria de
“anunciar aos gentios a riqueza insondável que é Cristo” e proclamar que todos
os que creem em Jesus, vindo do judaísmo ou do paganismo, “nós temos, pela fé
nele, a liberdade de nos aproximar de Deus com toda confiança”.
Mas o mistério apresenta também uma dimensão eclesiológica.
O âmbito da realização do “mistério” é a própria Igreja, para a qual começam a
convergir judeus e gentios, que nela encontram a paz (Ef 3,6). Os cristãos
vindos do paganismo se tornam “concidadãos dos santos e membros da família de
Deus” (Ef 2,19) e fazem parte, com os hebreus convertidos, do Novo Templo escatológico
que é o Cristo (Cf. Jo 2,19-22). Para são Paulo, a Igreja é, pois, o âmbito da confluência
unificadora de grupos diversos, social e religiosamente diferentes,
anteriormente divididos e inimigos. Os homens, os povos e as culturas são chamados
a se reconciliar em uma unidade superior. A visão oferecida pela Carta aos Efésios
é a união na diversidade e no pluralismo.
Nesse plano de salvação denominado como “mistério”
de Deus que abrange todos os seres, Israel tem uma função toda particular. À luz
de seu papel na história da salvação do Antigo Testamento, é o “primeiro” a ser
convidado a participar do “mistério”. O adjetivo “primeiro” indica não somente
uma dimensão temporal, mas especialmente o primado histórico do povo eleito.
Como são Paulo, todos nós deveríamos nos
sentir satisfeitos, não somente pela sorte de crermos em Jesus Cristo, mas também
pela oportunidade de podermos comunicar a todos a Boa Notícia de que todos nós
somos “coherdeiros” de Jesus Cristo e que não há privilégios diante de Deus. Não importa a etnia e a idade nem cultura, mas se alguém
crer em Jesus já é coherdeiro, ou seja, está chamado a compartilhar com os
outros a vida que Deus nos tem preparado desde a eternidade.
Por nossa fé e nossa união a Cristo, a humanidade
inteira se converte em coherdeira da mesma promessa em Jesus Cristo. A Igreja
não somente é a portadora desta mensagem de salvação, mas também que distribui
a graça de Deus em favor de todas as pessoas. No entanto, não podemos proclamar
o Nome do Senhor somente a partir de nassas imaginações ou a partir de nossos
estudos, por muito eruditos que sejam, pois a salvação somente é fruto do
Espirito de Deus que habita em nós; Ele é o único que pode fazer que a Palavra
de Deus se encarne em nós e que sua salvação não seja estéril em nossa vida.
Por isso, o Senhor nos quer não como simples pregadores e sim como testemunhas
de seu Reino no mundo.
Além disso, todos os membros da Igreja tem a
missão de preservar a unidade e a paz tanto para os membros existentes como
para os futuros membros, pois a Igreja é o âmbito da realização do “mistério”
de Deus.
Como membros da Igreja devemos estar
vigilantes, como enfatiza o Evangelho deste dia, pois o Senhor chegará em uma
hora inesperada. Viver vigilantes na presença de Deus é aprender a orar como discípulos,
escutando ao Senhor e pedindo que nos conceda sua graça para trabalhar
decididamente por seu Reino de amor e de paz. Deus nos confiou muito e nos
exigirá muito mais, pois seu Espirito Santo vai guiando nossa vida e nossas
obras. Não apaguemos o Espirito Santo que habita em nós!
Quem Vive Na Graça Vive Na
Permanente Vigilância
“Vós
também ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que
menos o esperardes”.
Estamos acompanhando Jesus no seu caminho
para Jerusalém, ouvindo atentamente suas últimas e mais importantes lições para
todos os cristãos, seus seguidores.
Na passagem do evangelho de hoje Jesus
continua a falar sobre a vigilância, como no evangelho do dia anterior (cf. Lc
12,35-38).
“Ficai certos: se o dono da casa soubesse a
hora em que o ladrão iria chegar, não deixaria que arrombasse a sua casa. Vós
também ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que
menos o esperardes”.
Novamente o Senhor nos pede para que
estejamos vigilantes permanentemente. Vigiar significa estar constantemente alertas,
despertos à espera. Significa viver uma atitude de serviço. Por isso, implica
luta, esforço e renúncia. Não é em modo algum falta de compromisso ou
indiferença. Trata-se, em outras palavras, de adquirir um certo modo de
orientar nossa atenção para o que é verdadeiramente importante e essencial para
nossa existência e para nossa salvação. Porque não sabemos do quando da chegada
do Senhor do tempo e da vida, nós precisamos estar preparados vivendo nossa
vida com responsabilidade. O alerta do Senhor sobre a vigilância quer nos
relembrar sobre a provisoriedade de nossa existência aqui neste mundo. Tudo
será deixado, mas que sejamos levados pelo Senhor para onde Ele estiver (cf. Jo
14,3).
Concretamente podemos dizer que vigiar
significa pôr em prática as palavras de Jesus, especialmente o mandamento do
amor. Significa enfrentar a tentação do egoísmo, que nos leva a convencer-nos
da inutilidade de fazer o bem. Significa acreditar que vale a pena lutar para
construir o Reino de Deus, a exemplo de Jesus, num mundo onde a injustiça e a
maldade parecem falar mais alto. Significa estar sempre disposto a perdoar e a
se reconciliar, revertendo a espiral da violência que assume proporções sempre
maiores. Significa ser capaz de detectar tudo quanto possa desviar nossa
atenção do convite de Deus para o encontro definitivo com Ele. Significa estar
vigilante no que se deve falar e no que não se deve: ser vigilante nos
comentários, nos julgamentos etc.. Vigiar é aprender a falar o necessário e
fazer o mais essencial para nossa salvação.
“A quem muito foi dado, muito será pedido; a
quem muito foi confiado, muito mais será exigido!”
Mais uma vez Jesus exorta à vigilância,
especialmente a todos os responsáveis da comunidade (v.41). Eles têm o encargo
especial de velar pelos outros, como diz o autor da primeira Carta de Pedro
(1Pd 5,2-4): “Velai sobre o rebanho de Deus, que vos é confiado. Tende
cuidado dele, não constrangidos, mas espontaneamente; não por amor de interesse
sórdido, mas com dedicação; não como dominadores absolutos sobre as comunidades
que vos são confiadas, mas como modelos do vosso rebanho. E, quando aparecer o
supremo Pastor, recebereis a coroa imperecível de glória”. Isto quer dizer que os outros são as ovelhas
do Senhor (cf. Jo 21,15-17: “Apascenta as minhas ovelhas”, diz o
Senhor). Cuidar de cada ovelha do Senhor com carinho e responsabilidade é a
manifestação do respeito pelo dono das ovelhas que é o próprio Senhor. Quem
cuida das ovelhas deve estar consciente de que ele também é a ovelha e faz
parte do próprio rebanho, mas com a função de velar sobre o resto do rebanho. A
liderança eclesial tem o dever de dar testemunho de fé robusta que se expressa
em cuidar bem dos irmãos que são ovelhas do Senhor.
Os que cuidam dos irmãos, ovelhas do Senhor,
têm muito mais responsabilidade do que qualquer outro membro na comunidade. A
palavra “responsabilidade” tem sua origem etimológica no latim: “respondere”
que significa “prometer”, “garantir”. O que garante a responsabilidade são os
valores. Ter responsabilidade significa ser coerente com os próprios atos, com
os valores reconhecidos. Através dos valores o ser humano descobre e desenvolve
seu sentido de vida. Responsabilizar-se significa elevar a própria existência
para uma dimensão superior.
A tentação típica do ministério é a de
esquecer-se de que todos, na comunidade, são apenas administradores. Temos
tentação de atuar como se fosse dono das ovelhas do Senhor. É a tentação de
explorar os outros e a de apascentar-se a si mesmo. Não se deve esquecer de que
todos haverão de prestar contas diante de Deus. Cada administrador do Senhor
recebeu encargo de maior responsabilidade. Mas recebeu também dons
correspondentes. A medida da exigência de Deus aos homens se regula conforme à
medida dos dons que se outorgou a cada um. Tudo que o homem recebeu é um
capital que lhe é confiado para que trabalhe com ele: “A quem muito foi dado,
muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!”. Isto
quer dizer que quanto mais alguém se aproxima de Jesus e se deixa interpelar
por Ele, mais responsabilidade ele deverá ter de colocar em prática os
ensinamentos de Jesus. Ao contrário, ele terá motivos sérios para ficar
inquieto, pois chegará um dia para prestar contas.
Para qualquer cargo ou tarefa na comunidade
se requer fidelidade e sensatez. Fidelidade porque cada um é apenas um
administrador pelo qual deve trabalhar conforme a vontade do Senhor. Sensatez
porque não deve perder de vista que o Senhor pode vir repentinamente e
pedir-lhe contas. A vinda do Senhor é certa, o momento é incerto. Estejamos,
então, vigilantes!
Portanto, a parábola do administrador, no
evangelho deste dia, nos mostra que o tempo da espera da chegada da segunda
vinda do Senhor é preciso, como tempo de serviço, porque o Reino de Deus se
reflete já de forma decisiva em nossa vida. A todos é confiado um tipo de
serviço no tempo dessa espera. A riqueza do Reino de Deus se traduz para todos
a maneira de amor que dirige aos outros. Aquele que recebeu o grande tesouro
que lhe faz rico para Deus começa a ser imediatamente fonte de amor para os
demais homens.
A expectativa da vinda do Senhor que é
inesperada ou o momento que é desconhecido e repentina, deve criar em nós uma
forte consciência da responsabilidade nas tarefas que nos foram encomendadas. A
consciência de sermos administradores e não donos deve nos levar a conceber
nossa liberdade em termos de responsabilidade. Todas as nossas tarefas,
portanto, concernem à administração dos bens que o Senhor nos confiou. A falta
de responsabilidade é, no fundo, uma falta da vivência de fé diariamente.
As graças e as funções concedidas por Deus a
cada um de nós não podem ser concebidas como uma honra, e sim como um dever a
cumprir em favor do bem de todos para que todos possam chegar à comunhão plena
com Deus na eternidade. Isso leva cada um a viver na fidelidade e na prudência.
Portanto, segundo Jesus no evangelho de hoje,
a vida dos cristãos deve ser caracterizada por duas atitudes principais: a
vigilância e a responsabilidade, porque o cristão é uma pessoa voltada para o
futuro do qual espera a salvação. Por isso, ele deve estar preparado em todos
os momentos. O futuro de um cristão não é uma utopia anônima. O futuro de um
cristão tem nome e um rosto preciso: Jesus Cristo, o Salvador.
Fica a seguinte pergunta: Onde é que Deus não
chegou ainda na minha vida? Porque Deus está onde eu O deixo entrar. Qual parte
da minha vida que eu não deixo ainda que Deus entre?
P. Vitus Gustama,svd
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