sexta-feira, 19 de outubro de 2018

22/10/2018
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A MISERICÓRDIA DE DEUS E NOSSA FÉ NOS SALVOU E NOS LEVAM A USARMOS OS BENS MATERIAIS CORRETAMENTE
Segunda-Feira da XXIX Semana Comum


Primeira Leitura: Efésios 2,1-10
Irmãos, 1 vós estáveis mortos por causa de vossas faltas e pecados, 2 nos quais vivíeis outrora, quando seguíeis o deus deste mundo, o príncipe que reina entre o céu e a terra, o espírito que age agora entre os rebeldes. 3 Nós éramos deste número, todos nós. Outrora nos abandonávamos às paixões da carne; satisfazíamos os seus desejos, seguíamos os seus caprichos e éramos por natureza como os demais, filhos da ira. 4 Mas Deus é rico em misericórdia. Por causa do grande amor com que nos amou, 5 quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo. É por graça que vós sois salvos! 6 Deus nos ressuscitou com Cristo e nos fez sentar nos céus em virtude de nossa união com Jesus Cristo. 7 Assim, pela bondade, que nos demonstrou em Jesus Cristo, Deus quis mostrar, através dos séculos futuros, a incomparável riqueza da sua graça. 8 Com efeito, é pela graça que sois salvos, mediante a fé. E isso não vem de vós; é dom de Deus! 9 Não vem das obras, para que ninguém se orgulhe. 10 Pois é ele quem nos fez; nós fomos criados em Jesus Cristo para as obras boas, que Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos.


Evangelho: Lc 12,13-21
Naquele tempo, 13 alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”. 14 Jesus respondeu: “Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?” 15 E disse-lhes: “Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”. 16 E contou-lhes uma parábola: “A terra de um homem rico deu uma grande colheita. 17 Ele pensava consigo mesmo: ‘Que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’. 18 Então resolveu: ‘Já sei o que vou fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. 19 Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!’ 20 Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?’ 21 Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus”.
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A Misericórdia De Deus Nos Salvou Em Jesus Cristo


Continuamos com a leitura da Carta aos Efésios. São Paulo descreveu qual é o admirável mistério que Deus nos revelou em Jesus. Hoje são Paulo nos apresenta o contraste: antes estávamos mortos, pois “Outrora nos abandonávamos às paixões da carne; satisfazíamos os seus desejos, seguíamos os seus caprichos e éramos por natureza como os demais, filhos da ira”.


Mas agora Deus “pelo grande amor com que nos amou”,”nos fez viver com Cristo, nos ressuscitou com Cristo, nos fez sentar no céu com Cristo”.


Em outras palavras, há três ideias  aparecem nesta leitura: nos encontramos todos sob o domínio do pecado (Ef 2,1-3); Deus nos deu uma nova vida pela fé em que Deus demonstrou  sua imensa bondade e misericórdia (Ef 2,4-6); e isto não se deve a nós (Ef 2,7-10). O amor de Deus é o ponto de partida, e também o termo de nossa configuração com Cristo. Duas coisas concorrem para nossa salvação: a graça de Deus (causa principal) e nossa fé (condição necessária). Por causa de tudo isso, o cristão vive na terra, mas já é cidadão do céu.


O texto da Carta aos Efésios que lemos hoje na Primeira Leitura está totalmente composto em torno da antítese natureza e graça. “A natureza” é o homem abandonado unicamente a suas forças humanas, o homem-sem-Deus. “A Graça”, é o homem elevado pela potência divina, o homem-com-Deus.


Em primeiro lugar, o homem-sem-Deus: “Vós estáveis mortos por causa de vossas faltas e pecados, nos quais vivíeis outrora, quando seguíeis o deus deste mundo, o príncipe que reina entre o céu e a terra, o espírito que age agora entre os rebeldes”.


A “natureza “humana não é somente frágil, mas também desordenada e culpável. Naturalmente, seguindo sua tendência natural, o homem volta para si mesmo e não leva em conta a existência dos outros. O homem se satisfaz egoisticamente em lugar de amar.


Em segundo lugar, o homem-com-Deus: “Deus é rico em misericórdia. Por causa do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo. É por graça que vós sois salvos!”.


O poder divino foi posto à disposição do homem. Por causa da misericórdia de Deus o homem não é mais um simples homem e sim um homem-com-Deus. Quem realizou tudo isso é Cristo: “Deus nos deu a vida com Cristo”.


Esta convicção deveria nos encher de alegria. Deus nos amou  gratuitamente, sem nenhum mérito de nossa parte: “Deus é rico em misericórdia. É por graça que vós sois salvos!”.


Temos Apenas o Usufruto Dos Bens De Deus Neste Mundo


Ainda estamos na seção chamada Lições do Caminho (Lc 9,51-19,28). Jesus passa para nós suas últimas e mais importantes lições no seu caminho (êxodo) para Jerusalém. Esse caminho nos mostra que a vida é uma peregrinação rumo à vida glorificada. Desse caminho a presença da cruz ou das cruzes é inevitável. Mas ao olhar para a vida glorificada mostrada por Jesus, antecipadamente (cf. Lc 9,28-36), teremos condições e forças para superar as barreiras e ultrapassar os obstáculos. A vida glorificada antecipada nos renova nossas forças permanentemente. Se o nosso objetivo é a vida glorificada, isto é, estar com Deus eternamente, o própria Deus vai nos ajudara a superarmos tudo (cf. Rm 8,28-39).


Na passagem do evangelho de hoje Jesus nos dá lição sobre como devemos nos comportar diante dos bens materiais. Essa lição nos mostra que nossa relação com as coisas não é de propriedade e sim de uso. Usaremos os bens materiais enquanto tivermos o direito de usufruí-los. Mas esse direito cessará assim que terminar nossa missão ou nossa existência neste mundo. Estejamos conscientes de que somos valorizados não pelos bens que possuímos ou pelo cargo que temos e sim pelos valores que vivemos.


Atenção! Guardai-vos de todo tipo de ganância, pois mesmo que se tenha muitas coisas, a vida não consiste na abundância de bens”, alerta-nos Jesus no evangelho deste dia (Lc 12,15).


“Atenção! Guardai-vos de todo tipo de ganância”. Um dos sentidos lexicais da palavra “ganância” é a ambição exacerbada de ganho, de lucro. A ganância é um tipo de ambição violenta. Usam-se todos os meios, até os meios ilícitos para alcançar o que se deseja.


O homem é sempre tentado a buscar sua salvação nos bens, a pôr nas riquezas sua segurança. O cristão deve estar vigilante contra essa tentação insidiosa /cheia de ciladas. Os bens não asseguram nem a mesma vida, menos ainda a salvação. Num leito de morte toda riqueza e todo poder mundano caíram no chão. A felicidade não está nos bens e sim está no próprio homem e entre os homens numa convivência fraterna.


O homem da parábola dialoga consigo mesmo. Este diálogo falha na ordem de salvação. Faltam-lhe interlocutores. Não intervém Deus. Não intervêm os demais homens, pois esse homem fala consigo próprio (fala sozinho). O homem foi feito para a comunicação, foi feito para a comunhão. E o seu desenvolvimento depende da existência dos outros. Ninguém foi feito para o isolamento. A comunhão sugere calor, compreensão e abraço para que o homem possa se desenvolver. Quando ficamos isolados, estamos propensos a ser prejudicados. Sentir-se integrado mantém a pessoa em equilíbrio. Os antigos e eternos valores da vida humana: verdade, unidade, solidariedade, bondade, justiça, honestidade, amor e assim por diante, são afirmações da verdadeira comunhão ou integração. Podemos possuir tudo que o mundo tem a oferecer em termos de status, poder, realização, e bens, no entanto, sem nos sentirmos integrados, sem a convivência com os outros, tudo isso parece vazio e inútil.


Bloquear a vida! Este é o grande pecado do homem rico na parábola. Ele acreditava que podia comprar a vida, encerrá-la, dominá-la. Pensava “agarrar” a vida. Mas a vida se escapa dele: “Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?”, diz-lhe Deus (Lc 12,20).


A riqueza não é algo diabólica (diabólico é aquilo que divide o homem por dentro ou entre si. O contrário do diabólico é simbólico, isto é, duas coisas que se encaixam bem); o faz diabólico o uso que o homem faz dele. Tampouco é um poder que escraviza por si. A riqueza nenhuma tem poder de escravizar. O homem é que se faz escravo dos seus bens ou quem a utiliza para escravizar seus irmãos. O dinheiro é satânico quando o homem, ao servir-se dele, não tem outro horizonte. Mas o dinheiro é um bem quando o homem o utiliza para a felicidade dos demais. Mesmo sendo rico, quando o homem partir deste mundo, ele não terá mais poder sobre suas riquezas. São os vivos que determinarão o uso da riqueza deixada.


A cobiça pode ser de dinheiro, mas também de fama, de poder, de prazer, de ideologias e assim por diante. Mas sempre é idolatria, porque pomos nossa confiança em algo frágil e caduco e não nos valores duradouros, e isso nos bloqueia outras coisas mais importantes. Tudo isto não nos deixa sermos livres, nem sermos solidários com os demais, nem estarmos abertos diante de Deus.


Ser rico diante de Deus significa dar importância àquelas coisas que levaremos conosco na morte: as boas obras, a caridade praticada na verdade, a justiça e a honestidade que vivemos e assim por diante. É saber compartilhar com os outros nossos bens que é uma riqueza que vale a pena diante de Deus.


No fundo, Jesus quer nos dizer que nem o trabalho nem o capital (dinheiro) será a última palavra sobre o homem; tanto o um como o outro se fica sem resposta diante da morte, e a morte é a maior questão que persegue o homem. É preciso buscarmos as coisas do alto para superar esta questão, pois Deus rico em misericórdia, que vivificou Jesus, nos vivificará também.


Quase em toda a Bíblia se encontram termos que aludem à tensão em que vive o ser humano: graça e pecado, amor e desamor/ódio, verdade e mentira, autenticidade e falsidade, coerência e incoerência, generosidade e egoísmo, reconciliação e vingança, cautela e despreocupação e assim por diante. Em todo ser humano entram em luta permanente duas forças ou inclinações contrárias: o bem-virtude, e o mal-vício. O primeiro salva, e o segundo condena. Essas duas coisas sempre nos acompanham diariamente. Cabe a cada um escolher, e aceitar as conseqüências dessa escolha. O alerta sobre a importância da vigilância vale para todo momento de nossa vida. Sem a vigilância nos deixaremos levar sem saber o destino final.
P. Vitus Gustama,svd

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