15/10/2018
O CRISTÃO É LIBERTADO PARA SER SINAL DO AMOR MISERICORDIOSO DE DEUS
NESTE MUNDO
Segunda-Feira Da XXVIII
Semana Comum
Irmãos, 4,22 está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava e
outro da livre. 23 Mas o filho da escrava nasceu segundo a carne, e o filho da
livre nasceu em virtude da promessa. 24 Esses fatos têm um sentido alegórico,
pois essas mulheres representam as duas alianças: a primeira, Hagar, vem do
monte Sinai; ela gera filhos para a escravidão. 26 Porém, a Jerusalém celeste é
livre, e é a nossa mãe. 27 Pois está escrito: “Rejubila, estéril, que não dás à
luz, prorrompe em gritos de alegria, tu que não sentes as dores do perto,
porque os filhos da mulher abandonada são mais numerosos do que os da mulher
preferida”. 31 Portanto, irmãos, não somos filhos de uma escrava; somos filhos
da mulher livre. 5,1 É para a liberdade que Cristo nos libertou. Ficai
pois firmes e não vos deixeis amarrar de novo ao jugo da escravidão.
Evangelho: Lc 11,29-33
Naquele tempo, 29 quando as multidões
se reuniram em grande quantidade, Jesus começou a dizer: “Esta geração é uma
geração má. Ela busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o
sinal de Jonas. 30 Com
efeito, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também será o
Filho do Homem para esta geração. 31
no dia do julgamento, a rainha do Sul se levantará juntamente
com os homens desta geração, e os condenará. Porque ela veio de uma terra
distante para ouvir a sabedoria do Salomão. E aqui está quem é maior do que
Salomão. 32 No
dia do julgamento, os ninivitas se levantarão juntamente com esta geração e a
condenarão. Porque eles se converteram quando ouviram a pregação de Jonas. E
aqui está quem é maior do que Jonas”.
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Somos Libertados Por
Jesus Para Ser Livres
“É para a liberdade que Cristo nos libertou.
Ficai pois firmes e não vos deixeis amarrar de novo ao jugo da escravidão”,
escreveu são Paulo aos Gálatas.
O tema envolvido no
texto de hoje já conhecemos: a luta de são Paulo contra os judaizantes que se
aferram à Lei, à Torá do Antigo Testamento e, portanto, recusam,
implicitamente, o Evangelho de Jesus pregado por são Paulo aos Gálatas.
No texto da
Primeira Leitura, são Paulo usa uma comparação que ele considera como alegoria:
“Abraão teve dois filhos, um da escrava e
outro da livre”. Hagar, a mãe de Ismael, era mulher escrava, serva de
Abraão. Sara, a mãe de Isaac, era mulher livre, esposa de Abraão. Isamel nasceu
da escravidão, mas Isaac nasceu livre. Isaac não nasceu segundo a natureza,
mas, antes, contra a natureza, isto é, fruto da promessa de Deus, apesar da
impossibilidade de Sara ter filho na sua idade avançada: Abraão tinha cem anos
de idade e Sara, que era estéril, tinha mais de noventa anos de idade. Na Carta
aos Hebreus lemos: “Foi pela fé que também
Sara, apesar da idade avançada, se tornou capaz de ter descendência, porque
considerou fiel o autor da promessa” (Hb 11,11). Sublinha-se
aqui a palavra “promessa”. Ismael nasceu segundo a natureza, mas Isaac nasceu
contra a natureza, sobrenaturalmente, por meio de uma promessa excepcional de Deus.
Para são Paulo, se
Isaac nasceu de uma promessa de Deus e de uma mulher livre, logo os verdadeiros
descendentes de Abraão não são físicos, e sim espirituais; não são escravos e
sim livres. Os verdadeiros filhos de Abraão são aqueles que creem no que creu
Abraão e obedecem como Abraão obedeceu (Cf. Jo 8,31-44). Este é o argumento de
são Paulo em Gl 3, isto é, que a bênção prometida de Abraão não é dos judeus
como tais, os descendentes de Abraão segundo a carne e sim dos crentes, quer
judeus, quer gentios (Cf. Gl 3,14). Além disso, “Se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão, e herdeiros da
promessa” (Gl 3,29; Cf. Rm 4,16). Não podemos declarar que somos descendentes
de Abraão, se não pertencemos a Cristo. Já não dependemos da Lei antiga: “É para a liberdade que Cristo nos libertou.
Ficai pois firmes e não vos deixeis amarrar de novo ao jugo da escravidão”.
Todos são escravos por natureza, até que no cumprimento da promessa de Deus
sejam libertados. Voltar a seguir servilmente a Lei do Antigo Testamento é
voltar a cair na escravidão.
“É para a
liberdade que Cristo nos libertou. Ficai pois firmes e não vos deixeis amarrar
de novo ao jugo da escravidão”.
Uma das maiores lições
que podemos aprender do próprio Jesus é sua admirável liberdade interior: livre
das tentações que lhe podem vir do povo (quer fazê-lo rei), de sua família, das
autoridades, de seus discípulos, do afã de possuir e mandar, das interpretações
escravizantes dos judeus da época. Ser livres significa que vivemos nossa fé
cristã com coerência, com fidelidade, mas não movidos pelo interesse ou pelo
medo, e sim pelo amor e pela convicção. Por isso, não se trata aqui do arbítrio
nem daquela libedade que seja evasão da ordem e da responsabilidade. Não há
liberdade sem a ordem e sem a verdade, sem a bondade e sem o amor. “Deus é a
liberdade em plenitude, porque é a verdade plena, a bondade completa e o amor
total. ... A liberdade dos filhos de Deus não é uma liberdade qualquer, mas a
virtude que torna possíveis todas as virtudes” (Bernhard Häring). Quando somos
libertados do pecado que nos escraviza, somos libertados de todas as suas consequências.
Quem se sente mais
filho ou filha de Deus, deve aprofundar mais na humildade e simplicidade de
vida, e mais se entregará na gratuidade aos demais, sobretudo, aos mais
necessitados. Esta é a lei do amor e da filiação que nunca engana.
Ser Cristão É Ser
Sinal Do Amor Misericordioso De Deus No Mundo
Os judeus pedem a Jesus um sinal para
demonstrar que Ele é verdadeiramente o Messias. Ao pedir um sinal a Jesus, eles
renovam a tentação do deserto. Eles exigem que Jesus proporcione uma prova
palpável ou experimental na ordem das coisas materiais. Por isso, Jesus usa a
expressão “esta geração é uma geração má”. Esta expressão recorda a
geração do deserto que tentou Deus (cf. Ex 15,22-16,36). Exigir sinal ou prova
que sirva para autorizar Jesus e sua chamada à conversão manifesta claramente
uma indisposição para mudar de vida. A raiz desta equivocada exigência de um
sinal é o egoísmo, um coração impuro, que unicamente espera de Deus o êxito
pessoal, a ajuda necessária para absolutizar o próprio eu. Esta forma de
religiosidade representa a recusa fundamental da conversão. Quantas vezes nós
somos escravos do sinal de êxito!
“Nenhum sinal lhe será dado, a não ser o
sinal de Jonas”,
diz Jesus. Jonas era um desconhecido para os ninivitas (Nínive era a capital do
reino assírio). Ao chegar nessa capital Jonas conclamou o povo para a
conversão. Apesar de Jonas ser estrangeiro, desconhecido e sem qualquer
credencial para a missão profética, mas por causa do poder divino de suas
palavras, o povo acreditou e se converteu.
“E aqui está quem é maior do que Jonas”,
Jesus acrescenta. Jesus é maior porque Ele é a própria Palavra de Deus (Jo 1,1)
que se tornou carne (Jo 1,14). Só Jesus tem as palavras da vida eterna (Jo
6,68). Jesus é maior porque Ele é a ressurreição e a vida (Jo 11,25; cf. o
14,6). Se Jesus é a vida de nossa vida, será ridículo pedir a Ele outro sinal,
pois a nossa vida fala por si de Jesus através do qual tudo foi criado (Jo
1,3-4). O próprio Jesus, a pessoa de Jesus, em sua palavra e em sua inteira
personalidade, é sinal para todas as gerações.
O outro
maior sinal que Deus nos dá é a sua misericórdia. Jesus se aproxima
dos pobres, dos marginalizados e dos pecadores. Em Jesus eles encontram o Deus
misericordioso. Não existe maior milagre do que reconstruir interiormente um
ser humano. Quem não tem olhos para a misericórdia, continuará a pedir a Jesus
milagres que o fazem acreditar. Diante deste tipo de pessoa Deus permanecerá
calado. A misericórdia tem sempre a grande atração de fazer-nos semelhantes a
Deus e de sermos sinais de seu amor para este mundo.
É preciso que o homem supere o espaço das
coisas físicas, do tangível para poder se situar no ambiente divino a fim de
poder ser redimido. Ao superar esse espaço o homem pode alcançar a certeza
própria das realidades mais profundas e eficazes: as realidades do Espírito.
Este caminho se chama fé que consiste em saber se superar e abandonar.
A exigência de uma demonstração física, de um
sinal que elimine qualquer dúvida, no fundo, esconde a recusa da fé e do amor,
pois o amor, na sua essência, é um ato de fé, um ato de entrega de si mesmo,
pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). Atrás dessa exigência se esconde a miopia de
um coração demasiado centrado na busca do poder físico, da possessão, do ter,
poder que tem sua característica histórica, pois tem seu inicio e seu fim.
Como os ninivitas, precisamos fazer o jejum para
ter maior abertura a Deus. Fazer jejum significa saber renunciar a algo e dá-lo
aos demais; é saber controlar nossas apetências; é saber nos defender com
liberdade interior das contínuas urgências do mundo de consumismo. Jejuar é
purificador. Jejuar não seria privar-se de tudo e sim usar moderação em tudo,
isto é, ser sóbrios. Jejum supõe um grande domínio de si, de disciplina de
olhos, de mente e da imaginação. A falta de sobriedade é uma das causas pelas
quais se obscurecem e se debilitam as melhores iniciativas e decisões de um
cristão. A sobriedade é certamente uma garantia da capacidade de orar e de
apreciar o Espírito Santo. Com a renúncia às coisas Cristo nos chama à alegria,
a uma alegria profunda, nascida da paz da alma.
Precisamos rezar sem cessar para estar em sintonia com a vontade de Deus
e a abertura para o próximo. Precisamos fazer caridade, dividindo aquilo que
temos com aqueles que não têm nada para sobreviver. E que Deus nos conceda a
graça de ter um coração renovado em Cristo, de tal forma que sejamos um sinal
de seu amor para todos e possamos, assim, ser linguagem crível do Senhor, não
somente com nossas palavras, mas com uma vida integra moldada aos ensinamentos
de Cristo.
P. Vitus Gustama,svd
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