sexta-feira, 6 de setembro de 2019


12/09/2019
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AMOR MISERICORDIOSO É O AMOR SEM BARREIRAS NEM FRONTEIRAS
Quinta-Feira da XXIII Semana Comum


Primeira Leitura: Cl 3,12-17
Irmãos, 12 vós sois amados por Deus, sois os seus santos eleitos. Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, 13 suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai vós também. 14 Mas, sobretudo, amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição. 15 Que a paz de Cristo reine em vossos corações, à qual fostes chamados como membros de um só corpo. E sede agradecidos. 16 Que a palavra de Cristo, com toda a sua riqueza, habite em vós. Ensinai e admoestai-vos uns aos outros com toda a sabedoria. Do fundo dos vossos corações, cantai a Deus salmos, hinos e cânticos espirituais, em ação de graças. 17 Tudo o que fizerdes, em palavras ou obras, seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo. Por meio dele dai graças a Deus, o Pai.


Evangelho: Lc 6,27-38
Naquele tempo, falou Jesus aos seus discípulos: 27 “A vós que me escutais, eu digo: Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, 28 bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam. 29 Se alguém te der uma bofetada numa face, oferece também a outra. Se alguém te tomar o manto, deixa-o levar também a túnica. 30 Dá a quem te pedir e, se alguém tirar o que é teu, não peças que o devolva. 31 O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles. 32 Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Até os pecadores amam aqueles que os amam. 33 E se fazeis o bem somente aos que vos fazem o bem, que recompensa tereis? Até os pecadores fazem assim. 34 E se emprestais somente àqueles de quem esperais receber, que recompensa tereis? Até os pecadores emprestam aos pecadores, para receber de volta a mesma quantia. 35 Ao contrário, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca. Então, a vossa recompensa será grande, e sereis filhos do Altíssimo, porque Deus é bondoso também para com os ingratos e os maus. 36 Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso. 37 Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados. 38 Dai e vos será dado. Uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante será posta no vosso colo; porque com a mesma medida com que medirdes os outros, vós também sereis medidos”.
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Viver Na Fraternidade E Na Compaixão É a Consequencia De Ser Batizado


Terminamos hoje a leitura da Carta aos Colossenses, com um belo programa de vida cristã que são Paulo apresenta para os Colossenses e para nós todos: “Irmãos, vós sois amados por Deus, sois os seus santos eleitos. Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai vós também. Mas, sobretudo, amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição” (Cl 3,12-14).


Depois de apresentar as exigências de ordem negativa (vícios/pecados) no dia anterior, no texto de hoje são Paulo continua com suas exigências como consequência de se tornar nova criatura através do Batismo, mas desta vez, de ordem positiva: revestidos do homem novo.


Aquele que foi batizado se torna filho/filha de Deus. Consequentemente, os cristãos (todos os batizados) devem ser promotores da igualdade e da fraternidade, conscientes da paternidade de Deus em relação a todos os homens e por causa da participação na filiação divina de Jesus Cristo através do batismo.


Contra os cinco vícios em Cl 3,5, são Paulo agora coloca as cinco virtudes: a compaixão, a bondade, a humildade, a paciência, e a mansidão. Estas virtudes são “uniforme” do qual cada cristão deve vestir-se como parte dos “amados e santos eleitos de Deus”. Este uniforme se refere, sobretudo, às relações de uns com os outros na vida comunitária. Estas virtudes devem ser praticadas com todas as pessoas, sem excessão, pois todas as pessoas formam um só povo de Deus:Vós sois amados por Deus, sois os seus santos eleitos. Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia (compaixão), bondade, humildade, mansidão e paciência” (Cl 3,12). E como atitude habitual, os cristãos têm que praticar sempre o perdão mútuo a exemplo de Cristo. O perdão mútuo é uma das exigências mais radicais do ensimento de Jesus Cristo (Cf. Mt 6,12.14; Tg 2,13).


A convicção de ser amado de Deus deve nos conduzir imediatamente a atuarmos tal como Deus atua, isto é, com ternura e bondade. A pertença a Jesus Cristo nos faz vivermos umas virtudes muito humanas que fazem agradáveis as relações humanas e trazem bem-estar e felicidade para a convivência.


Trata-se de um programa elevado, porém concreto em duas direções. Para as pessoas que encontrarmos ao longo do dia, somos incentivados a usar a misericórdia, a ser compreensivos e bondosos, "suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente quando alguém queixa-se de outro". A razão é convincente: “Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai vós também”. Como seria bom tomarmos como slogan para o dia de hoje "o amor, que é o cinto da unidade", e que "a paz de Cristo atue como árbitro em nossos corações"!


A segunda direção que é a outra grande direção de nossa vida: para com Deus. Somos convidados a uma abertura cada dia maior:


Antes de tudo em relação à escuta de sua Palavra: “Que a palavra de Cristo, com toda a sua riqueza, habite em vós”: com uma atitude de ação de graças e oração cuja expressão mais densa é a Eucaristia: “Do fundo dos vossos corações, cantai a Deus salmos, hinos e cânticos espirituais, em ação de graças”. Sobre tudo com a própria vida: “Tudo o que fizerdes, em palavras ou obras, seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo. Por meio dele dai graças a Deus, o Pai”.




O texto da Primeira Leitura de hoje é um quadro muito completo da vida cristã. Mas custa para nós organizarmos nossa jornada diária nesta chave tão espiritual. São Paulo no põe num alto nível para crescermos na matueidade da vida de fé.


Aprendamos, portanto, a ser misericordiosos, gentis, humildes, mansos, pacientes, capazes de apoiar os outros e sempre dispostos a perdoar aqueles que nos ofendem, como fomos perdoados por Deus. Certamente, como Deus é amor, é precisamente o amor que dará sua autêntica perfeição à vida do cristão. Sem ele, nossa vida estaria longe de se tornar um sinal do Senhor para os outros. Esse amor deve nos levar a proclamar a Palavra de Cristo de maneira eficaz, pois não apenas falaremos com a Sabedoria que vem de Deus, mas toda a nossa vida se tornará uma contínua Ação de Graças e louvor ao Nome do Senhor. É por isso que nossas obras e nossas palavras devem ser feitas no Nome do Senhor.


Para Amar a Deus Verdadeiramente Temos Que Aprender a Perdoar Até Os Inimigos


O texto do Evangelho de hoje faz parte do Sermão da Planície do Evangelho de Lucas (Lc 6,20-49). Na passagem do evangelho de hoje o evangelista Lucas resumiu vários conselhos dados por Jesus, e que Mateus agrupou no Sermão da Montanha (Mt 5-7). Esses conselhos são umas atitudes evangélicas essenciais para qualquer cristão ou qualquer pessoa de boa vontade.


Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso. Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam”.


O evangelho não inventou novos valores. O próprio perdão, expressão máxima do amor, faz parte de toda vida numa sociedade que queira ser duradoura. Mas o exemplo de Cristo é um estímulo poderoso que pode nos dar fortaleza de chegar ao extremo no amor que perdoa. Sem amor os mais formosos valores podem degenerar em orgulho, em auto-suficiência, em farisaísmo, em exibicionismo, em intolerância, em fanatismo, em legalismo e assim por diante (cf. 1Cor 13,1-13). O amor nos impede de cairmos em moralismo e rigorismo sem flexibilidade.


Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam”, disse Jesus.


“Inimigo” é uma palavra muito forte. Geralmente se refere àqueles que estão em estado de guerra. Pode também ser usada para descrever grupos ou indivíduos que oprimem outros, que algemam sua liberdade e impedem seu crescimento. Inimigo também é alguém que se coloca no caminho da nossa liberdade e dignidade. É alguém a quem evitamos e com quem nos recusamos comunicar. São os que nos odeiam, nos amaldiçoam, nos injuriam, os que nos roubam a alegria de viver, os que nos comentam com maldade e assim por diante. Todas essas pessoas não são idéias nem fantasmas irreais, e sim são pessoas de carne e osso. Nem sempre temos coragem de dizer que temos inimigos, pois esta palavra é muito forte.


Porém, consciente ou conscientemente a atitude de alguém de não querer se comunicar com seu rival/inimigo vai virar a antipatia e a antipatia pode se transformar em mágoa; a mágoa se torna raiva e a raiva vai virar ódio. O ódio é como uma gangrena: devora a pessoa. O ódio é igual alguém a tomar o veneno e espera que o outro morra. Todas as nossas recusas em nos comunicarmos com os outros e nos abrirmos a eles encerram-nos na prisão. Em vez de nos ajudar a crescermos no amor, no perdão e na abertura, esse processo pode nos fechar em formas sutis de depressão e inércia. Nesse caso somos prisioneiros de nós mesmos ou do nosso grupo.


Amai... Fazei o bem... Desejai-lhes o bem... Rogai por eles... Daí... etc.”. Tudo isso não são idéias nem sentimentos e sim atos reais e atitudes concretas. Nisso percebemos que não é fácil viver o evangelho. É preciso fazer e ter a experiência pessoal com Cristo para podermos viver tudo isso.


O ensinamento essencial de Jesus é que nosso amor há de ser universal libertando-nos das comunidades naturais: a família, a nação, a etnia nas quais se exerce ou se vive o amor quase espontaneamente. É preciso nós irmos além das fronteiras, pois o amor sempre vai além das fronteiras: “Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Até os pecadores amam aqueles que os amam. E se fazeis o bem somente aos que vos fazem o bem, que recompensa tereis? Até os pecadores fazem assim”, disse Jesus. A solidariedade, o amor, a compaixão, não é um bem em si, há que praticá-los também para os pecadores, os malvados, os egoístas, pois o amor é o valor que convence até os ateus, os desesperados e desesperançosos. O amor sem fronteiras é muito mais exigente do que todas as leis psicológicas e sociais. O amor deve alcançar as dimensões de toda a humanidade: inimigos, adversários, maldosos, maliciosos e assim por diante. É um amor desinteressado e gratuito: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca”. É amar como Deus ama, imitando o amor infinito de Deus, pois “Deus é bondoso também para com os ingratos e os maus”, e ser um sinal de amor do Pai que ama todos os homens que “faz nascer seu sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos” (Mt 5,45).


Portanto, o texto do evangelho de hoje é uma chamada a construirmos uma nova relação com Deus a partir de um novo comportamento com os demais. O primeiro mandamento que Jesus deu aos seus seguidores é superar o ódio, a vingança e o rancor: “Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam”. Nenhum cálculo humano deve orientar a pratica do amor autêntico e eficaz. Os seguidores de Jesus, ao amar os inimigos, imitam a bondade de Deus de Quem recebe o perdão de seus pecados e este amor é a resposta agradecida ao Deus da misericórdia. O amor dos seguidores de Jesus deve ser uma ação e uma tarefa, o amor deve ser eficaz e alcançar, inclusivo, aqueles que não o merecem: os inimigos. As palavras de Jesus supõem uma nova atitude, supõe a conversão e a aceitação plena do conteúdo dos ensinamentos de Jesus, supõem construir um novo modelo de sociedade porque não pode haver uma comunidade autêntica sem a justiça e o perdão necessário para restabelecer a comunidade. No entanto, o perdão nunca pode servir de pretexto para ocultar a ausência de justiça. Nosso amor não pode encobrir injustiças e desigualdades. Amar, verdadeiramente, é andar na verdade.


É bom nos relembrarmos novamente que o estilo de atuação que Jesus pede a todos os cristãos é:
  • Amem seus inimigos.
  • Façam o bem aos que os odiaram.
  • Abençoem aqueles que os amaldiçoaram.
  • Rezem pelos que os injuriaram.

O que nos custa é cumpri-los, adequar nosso estilo de vida a estes ensinamentos de Jesus. Somos chamados a ter bom coração com todos: não julgar, não condenar, não injuriar, não agredir, mas rezar, perdoar e ser compassivo. A misericórdia é um especial poder do amor, que prevalece sobre o ódio, a infidelidade, a deslealdade, a ingratidão. Como diz João Paulo II: “Esse amor misericordioso é capaz de curvar-se ante o filho pródigo, ante a miséria humana e, sobretudo, ante a miséria moral, ante o pecado. A misericórdia se manifesta em seu aspecto verdadeiro e próprio quando valoriza, promove e explicita o bem em todas as formas de mal existente no mundo e no homem” (Dives in misericórdia, no.6).
P. Vitus Gustama,svd

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