quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Domingo,29/09/2019
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AMOR FRATERNO NOS LEVA AOS ABRAÇOS DE DEUS
XXVI DOMINGO COMUM “C”


Primeira Leitura: Am 6,1a.4-7
Assim diz o Senhor todo-poderoso: 1aAi dos que vivem despreocupadamente em Sião, os que se sentem seguros nas alturas de Samaria! 4Os que dormem em camas de marfim, deitam-se em almofadas, comendo cordeiros do rebanho e novilhos do seu gado; 5os que cantam ao som das harpas, ou, como Davi, dedilham instrumentos musicais; 6os que bebem vinho em taças, e se perfumam com os mais finos unguentos e não se preocupam com a ruína de José. 7Por isso, eles irão agora para o desterro, na primeira fila, e o bando dos gozadores será desfeito.


Segunda Leitura: 1Tm 6,11-16
11Tu, que és um homem de Deus, foge das coisas perversas, procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão. 12Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado e pela qual fizeste tua nobre profissão de fé diante de muitas testemunhas. 13Diante de Deus, que dá a vida a todas as coisas, e de Cristo Jesus, que deu o bom testemunho da verdade perante Pôncio Pilatos, eu te ordeno: 14guarda o teu mandato íntegro e sem mancha até a manifestação gloriosa de nosso Senhor Jesus Cristo. 15Esta manifestação será feita no tempo oportuno pelo bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, 16o único que possui a imortalidade e que habita numa luz inacessível, que nenhum homem viu, nem pode ver. A ele, honra e poder eterno. Amém.


Evangelho: Lc 16,19-31
Naquele tempo, Jesus disse aos fariseus: “19 Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias. 20 Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico. 21 Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas. 22 Quando o pobre morreu, os anjos levaram-no para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado. 23 Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado. 24 Então gritou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’. 25 Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te que tu recebeste teus bens durante a vida e Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. 26 E, além disso, há um grande abismo entre nós; por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós’. 27 O rico insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa do meu pai, 28 porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não venham também eles para este lugar de tormento’. 29 Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas, que os escutem!’ 30 O rico insistiu: ‘Não, Pai Abraão, mas se um dos mortos for até eles, certamente vão se converter’. 31 Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos’”.
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Continuamos a acompanhar as Lições do Caminho dadas por Jesus na Sua ultima viagem para Jerusalém, pois Ele será crucificado, morto e glorificado em Jerusalém. Nesta parte do seu evangelho (Lc 9,51-19,28) Lucas colocou as orientações ideais e práticas de Jesus para seus seguidores para poderem prosseguir no caminho que Jesus abriu.


No texto do evangelho de hoje é mantida a lição sobre o uso correto dos bens materiais que foi enfatizada na passagem do evangelho do domingo anterior (Lc 16,1-13). Em nossa sociedade o dinheiro escraviza não somente os que já são ricos, mas também uma ampla maioria que conseguiram já um notável nível de vida. A riqueza em quanto “apropriação excludente da abundância”, não faz o homem crescer e sim que o destrói e desumaniza, pois o torna indiferente e insolidário, apático, diante da desgraça alheia. A riqueza é capaz de criar facilmente resistência ao mandamento de amor de Deus e surdez à sua Palavra. A riqueza é capaz facilmente de fechar o coração do homem para Deus e para o próximo.


Estamos na última parte do capítulo 16 do Lucas. Sabemos que o tema central deste capítulo é o convite de Jesus a usarmos os bens materiais deste mundo corretamente. Jesus conclama as pessoas, todos nós e cada um em particular, a voltar às costas ao deus dinheiro a fim de adorar ao Deus único e verdadeiro que nos salva e que nos chama a vivermos na fraternidade em que um cuida do outro. Para isso, Lucas nos narra a parábola sobre o rico e Lázaro.


Para nos ajudar na nossa reflexão sobre esta parábola vamos lançar algumas perguntas. Primeiro, sobre o homem rico: A que ele se dedica? Qual é a meta ou o ideal de sua vida? Pode-se viver na abundância (apesar de ser direito quando a riqueza é lícita) tendo tão perto alguém com fome? Segundo, sobre o mendigo Lázaro: Como a parábola descreve sua situação de miséria extrema? Qual o aspecto mais doloroso e desumano de seu estado? O que você sente diante desta cena tão revoltante? Terceiro, sobre o nome: O mendigo tem um nome: Lázaro, que significa “Deus ajuda”. O rico não aparece identificado, aliás, sem nome. Não parece estranho este detalhe? Por que o rico fica sem nome? Quarto, sobre próximo e, ao mesmo tempo, distante. Conforme o relato, existe uma proximidade entre o rico e o mendigo Lázaro (Lázaro se encontra na porta do mansão do rico). Se estão tão próximos, o que é que os separa? Quinto, sobre o pecado do rico: Por que o rico é condenado? Qual é o pecado do rico? Finalmente, sobre a atualidade da parábola: Qual é a mensagem da parábola para o mundo atual, para o nosso mundo em que vivemos?


A parábola sobre o rico e Lázaro encontramos somente no Evangelho de Lucas. Segundo Joachim Jeremias (cf. As Parábolas de Jesus) e outros autores, esta parábola tem sua origem na fábula egípcia em que se narra a viagem de Si-Osíris e do seu pai Seton Chaemwese ao reino dos mortos. A fábula termina com esta lição: “Quem é bom na terra, acontece o bem também no reino dos mortos, mas quem é mau na terra, acontece o mal também lá”. Através dos judeus de Alexandria esta fábula entrou na tradição judaica onde ela foi muito apreciada com suas diversas formulações; uma delas se narra a estória do pobre escriba e do rico publicano Bar Ma’jan que narra a sorte no além. No além, Bar Ma’jan queria alcançar a água, mas não podia. Enquanto que o pobre escriba vivia em jardins de beleza paradisíaca onde corriam águas de fontes. Evidentemente como judeu, Jesus também aproveita esta narrativa na sua pregação e a emprega igualmente na parábola do grande banquete (cf. Lc 14,15-24).


Esta parábola é um relato simbólico que ilustra o perigo da riqueza e propõe um apelo à conversão. Ela serve como exemplo do ensinamento de Jesus, no evangelho do domingo anterior, sobre o uso apropriado da riqueza. É parábola que toma o assunto das riquezas de Lc 16 e lhe confere uma conclusão bem adequada: nem a riqueza nem a pobreza neste mundo é a medida da bênção de Deus.


Nesta parábola, Jesus se dirige aos fariseus como representantes daqueles que amam o dinheiro (Lc 16,14) e que pensavam justificar-se diante de Deus e dos homens mediante o cumprimento estreito da lei (Lc 11,37ss). Na verdade, esta parábola serve como ilustração das bem-aventuranças e os ais de Lc 6,20-23. Ela reprova o rico que não sabe compartilhar o que tem para com os mais necessitados. Ela quer também sublinhar o ensinamento sobre o que significa o presente para o futuro. Somos futuros aquilo que somos no presente.


A parábola tem duas partes. Na primeira (vv.19-26) descrevem-se os dois personagens principais segundo o ponto de vista literário muito estendido na literária bíblica: o rico vive luxuosamente e celebra grandes festas e banquetes; o pobre tem fome e está enfermo. Mas a morte dos dois muda totalmente a situação. Na descrição da vida no além, Lc utiliza as imagens de seu tempo que não pretende nos dar uma informação sobre a geografia do além e sim quer enfatizar a justiça de Deus sobre o conjunto da vida humana. A vida presente, portanto, é decisiva. É nesta vida que jogamos nosso destino eterno. É na vida presente que escolhemos a eternidade. As escolhas que fizemos ou fazemos na vida presente serão julgadas por Deus, sempre misericordioso e compassivo, mas sempre justo e fiel às suas propostas.  A parábola é muito clara em definir as duas situações: de felicidade uma e de sofrimento a outra.


Na segunda parte (vv.27-31) insiste-se em que a Escritura, da qual os fariseus eram considerados expertos (especialistas), é o caminho mais seguro para a conversão. Mas o homem rico foi surdo às suas demandas. Em outras palavras, a sua vida não estava enraizada na Palavra de Deus. O versículo final expressa perfeitamente o centro da mensagem contida na parábola: até os milagres mais espetaculares, como a ressurreição de um morto, são inúteis para quem não se enraíza sua vida no coração da Palavra de Deus.


Na descrição do rico e de Lázaro (vv.19-26) os contrastes são muito fortes: riqueza contra miséria, vestes luxuosas contra a pele coberta de úlceras, festins brilhantes contra estômago faminto; em suma, a abundância e o supérfluo, de um lado, e a falta do “mínimo vital”, do outro. Quadro esse que, infelizmente, continua de uma verdade gritante a quem quiser ver lucidamente a situação atual, tanto em escala mundial como em escala local. O perigo que pode ou possa acontecer com qualquer um de nós é a falta de sensibilidade por termos visto permanentemente os mendigos na nossa porta ou nas portas de nossas igrejas. A tentação de não querermos vê-los e evitarmos encontrá-los é muito grande. Fingimos não perceber sua presença. O pior cego é aquele que não quer ver, diz um ditado popular. Que não seja tarde demais vermos esses nossos irmãos necessitados como aconteceu com o rico nesta parábola. Eles não chamam mais nossa atenção e não se tornam notícias para nossa Igreja (paróquia). Talvez seja fácil dar um pouco que se tem, mas quem de nós pode perguntar e procurar saber do porquê da situação para juntos resolvermos a mesma?  No pórtico de sua casa suntuosa, Lázaro pode lançar um olhar de avidez para as migalhas do festim. O rico sequer percebe sua presença. O rico vive como se Deus não existisse e como se os necessitados não existissem. Tem “tudo”. Por acaso precisa de Deus? Não vê Deus nem o pobre. Deixa-se absorver pelo bem estar e pela vida regalada.


O objetivo da parábola não é descrever o céu nem o onferno, mas condenar a indiferença dos ricos, que vivem desfrutando seu bme-estar, ignorando os que morrem de fome. O rico não é julgado como explorador. Simplesmente desfrutou sua riqueza ignorando o pobre. Tinha-o ali bem perto, na porta de sua casa, mas não o viu ou fingiu não vê-lo. “A parábola sugere: nesta vida, o que separa o rico do pobre é a porta fechada. Enquanto você tiver vida, abra a porta, vá conversar com Lázaro e comece a derrubar o muro de vergonha que separa ricos e pobres. O lugar do tormento é a situação da pessoa sem Deus. Por mais que o rico pense ter religião e fé, não há jeito de ele estar com Deus enquanto não abrir a porta para o pobre, como fez Zaqueu(Carlos Mesters-Francisco Orofino: Crescer Em Amizade: Uma Chave de leitura Para o Evangelho de Lucas, Paulus 2019 p.64-65).


O pecado do homem rico não foi sua riqueza e sim a dureza de seu coração. A presença de Lázaro em sua porta lhe rendeu a oportunidade de cumprir um serviço importante, porém não sentiu compaixão nem tomou nenhuma ação perante quem está em necessidade em extrema, apesar de ter tanto recurso para ajudar. Na vida, o homem rico queria evitar todo contato com Lázaro. Agora está atormentado pelo abismo que lhes separa.


A parábola é um apelo a sairmos da indiferença, dando passos para nos aproximar mais do mundo dos que sofrem: conhecendo melhor sua situação e seus problemas, cultivando uma relação mais próxima, buscando um contato mais estreito, tendo os olhos mais abertos para captar em nosso ambiente o sofrimento e a solidão das pessoas. A mensagem é que não se pode pôr a confiança e a segurança da salvação nas riquezas materiais, que não se pode desprezar e marginalizar os pobres, e que o Reino de Deus não se alcança pela simples pobreza sociológica e sim por cumprir as exigências da Palavra Revelada que se resume no amor a Deus e ao próximo simultaneamente.


A parábola nem sequer falar sobre as qualidades do pobre Lázaro. Na parábola não se fala se Lázaro era bom ou se tinha algum mérito. Jesus quer nos mostrar que numa situação em que, de um lado há necessitado e do outro, há indiferença, Deus cobra a atenção para ajudar. O nosso caminho para Deus passa pelo atendimento e pela ajuda aos que se encontram numa situaçãoem que há carência do básico para viver e sobreviver.


Lázaro está no meio de nós, está em nossa casa, no nosso trabalho e em qualquer lugar. Não é necessário irmos longe para encontrar Lázaro mais pobre e mais necessitado do que nós: famílias humildes que passam dificuldades, doentes isolados e idosos abandonados, pessoas desempregadas, alcoolicos, toxicodependentes que precisam de uma mão amiga. Basta você parar de estar voltado para si mesmo, então você vai enxergar o Lázaro que está tão perto de você. Que sua solidariedade não seja tarde demais como a do rico da parábola. Por isso, se tiver oportunidade para fazer a caridade, que faça; ofereça flor, embora só uma, para uma pessoa que está viva, que você ama muito. Porque é muito melhor dar uma flor para quem está vivo do que uma coroa de flores para uma pessoas que já se foi; perdoe se tiver oportunidade para perdoar, visite um amigo doente, se houver ainda tempo...etc., porque amanhã talvez seja tarde demais. Você pode gritar, mas pode ser que o seu grito seja em vão, como o do rico neste Evangelho.


Esta parábola não é um conto de crianças e sim um aviso. Devemos nos perguntar se estamos dispostos a ver e a ajudar Lázaro ao nosso redor. Devemos nos perguntar o que temos feito ultimamente em favor dos necessitados que se encontram ao nosso redor? A parábola é um convite para a solidariedade. Nosso grande pecado pode ser a apatia social e política. O desemprego e outros problemas sociais tornaram-se algo tão "normal e cotidiano" que não mais nos choca ou nos machuca. Nós nos fechamos, cada um em “nossa vida” e ficamos cada vez mais cegos e insensíveis diante da frustração, da humilhação, da crise familiar, da insegurança e do desespero de tantas pessoas ao nosso redor. Este é o perigo.

A parábola é um convite de Jesus à conversão enquanto há tempo. O verdadeiro fruto da conversão é a caridade para com o próximo, expressa em obras (cf. Is 58,6s). São Tiago nos alerta: “Haverá juízo sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o julgamento” (Tg 2,13). O perigo que nos rodeia ao ler a parábola sobre o rico e Lázaro é julgar que apenas diz respeito aos ricos e poderosos, aos que têm muito poder e muito dinheiro. Na revelação bíblica pobreza e riqueza não são conceitos meramente quantitativos, mas também pesa a atitude de apego ou desapego em relação ao que cada um possui. Isso é que nos faz ricos ou pobres em espirito diante de Deus.
P. Vitus Gustama,svd

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