01/10/2019
CAMINHAR
COM JESUS PARA A GLÓRIA
Terça-Feira da XXVI Semana Comum
Primeira Leitura: Zc 8,20-23
20 Isto diz o Senhor dos
exércitos: Virão ainda povos e habitantes de cidades grandes, 21 dizendo os
habitantes de uma para os de outra cidade: ‘Vamos orar na presença do Senhor, vamos visitar o Senhor dos exércitos;
eu irei também’. 22 Virão muitos povos e nações fortes visitar o Senhor dos
exércitos e orar na presença do Senhor. 23 Isto diz o Senhor dos exércitos:
Naqueles dias, dez homens de todas as línguas faladas entre as nações vão
segurar pelas bordas da roupa um homem de Judá, dizendo: ‘Nós iremos convosco;
porque ouvimos dizer que Deus está convosco’.
Evangelho: Lc 9, 51-56
51
Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme
decisão de partir para Jerusalém 52 e enviou mensageiros à sua frente. Estes
puseram-se a caminho e entraram num povoado de samaritanos, a fim de preparar
hospedagem para Jesus. 53 Mas os samaritanos não o receberam, pois Jesus dava a
impressão de que ia a Jerusalém. 54 Vendo isso, os discípulos Tiago e João
disseram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los?” 55
Jesus, porém, voltou-se e repreendeu-os. 56E partiram para outro povoado.
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O Deus Salvador Da Humanidade
Nos Chama A Salvar a Humanidade
“Virão
ainda povos e habitantes de cidades grandes... Virão
muitos povos e nações fortes visitar o Senhor dos exércitos e orar na presença
do Senhor... dez homens de todas
as línguas faladas entre as nações vão segurar pelas bordas da roupa um homem
de Judá”,
é a profecia do profeta Zacarias que lemos na Primeira Leitura.
Esta profecia nos afirma o caráter universal da salvação no plano de
Deus. “Virão muitos povos e
nações fortes visitar o Senhor dos exércitos e orar na presença do Senhor”.
Ou seja, todos reconhecerão que a Palavra Salvadora, a Verdade plena está em
Jerusalém. “Dez homens de todas as
línguas faladas entre as nações vão segurar pelas bordas da roupa um homem de
Judá”. Em outras palavras, pediriam insistentemente que o homem de Judá
lhes diga se vai a Jerusalém e que lhe admita no grupo dos que rendem culto ao
seu Deus.
Nós escutamos estas palavras e damos conta de
que não se trata de Jerusalém em seu sentido geográfico. Os planos de Deus são
“católicos”, universais. E nós somos católicos, irmãos e irmãs da humanidade
inteira. E estes planos se realizam plenamente em Jesus, pois Ele é o Salvador
do mundo e quer eunir todos numa fraternidade universal, pois o Deus que ele
revelou é o Pai de todos. É fácil descobrir que somos irmãos e irmãs da mesma
Terra e do mesmo Deus. Esta é a nova Jerusalém.
A nova Jerusalém é a Igreja de Jesus. Jesus é o
Deus-Conosco, o Emanuel (Mt 1,23; 18,20; 28,20). Sejamos esta presença de Deus
na vida dos outros. Se todos iam a Jerusalém a fim de consultar a Palavra de
Deus, agora Jesus é a Palavra vivente de Deus que faz sua tenda no meio de nós
(Cf. Jo 1,1-3.14).
Quando temos uma convicção firme de que o
Deus em Quem acreditamos é o Deus-Conosco, será que nós, que formamos a Igreja
de Jesus, somos um sinal lúcido da presença de Deus para atrair os outros a
ouvir a Palavra proclamada e vivida por nós? Nós que atuamos na Igreja atraem
os que se encontram fora da Igreja para unir as forças para o bem comum? Será
que lutamos pelo bem comum, para salvar “as almas” ou lutamos para nossas
próprias vantagens egositas?
Se Jesus Cristo é o Salvador universal, da
humanidade toda, logo todos os cristãos devem ser missionários do bem para toda
a humanidade. Cada cristão/cristã deve ser irmão/irmã da humanidade,
parceiro/parceira do bem. A busca de Deus da parte da humanidade nunca termina.
Diante desta busca o cristão que está com o Deus-Conosco deve ser uma resposta.
Com o texto do evangelho de hoje Jesus começa
seu caminho (êxodo) para Jerusalém. Durante o caminho para Jerusalém Jesus vai
dando suas lições importantes para seus discípulos (Lc 9,51-19,28).
Quem Quer Chegar à Glória De
Deus Deve Superar Todos Os Sentimentos Destrutivos
O texto do evangelho começa com a seguinte
frase: “Jesus tomou a firme decisão
de partir para Jerusalém...”. Em Jerusalém Jesus será morto e de
Jerusalém sairá o novo movimento de evangelização para o mundo inteiro (cf. Lc
24,47-48; At 1,8) que chegou até nós hoje.
Todos os três evangelhos (Mt, Mc e Lucas)
falam desta viagem. Mas somente Lucas usa esta viagem de Jesus com o motivo
catequético básico, de que a vida de Jesus foi também um longo caminhar para
uma meta: “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho
do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. O “caminhar” de Jesus é um êxodo
permanente até chegar à glória. Ele luta até chegar à meta: até à glória.
Durante esse caminho Jesus vai instruindo a
comunidade de discípulos de acordo com o próprio caminhar de Jesus. Os
discípulos de todos os tempos encontram, então aqui, a regra perene de sua
atuação cristã. Neste texto encontramos maneira sobre como os cristãos devem se
comportar e viver como seguidores de Cristo. Trata-se de uma “caminhada”
interior, isto é, a caminhada que parte do que somos até o esvaziamento
completo de nós e até a vivência na plenitude da vontade de Deus que é a
salvação ou glorificação de nossa vida em Deus.
O fundo do relato do texto do Evangelho lido neste dia é a inimizade e o
ódio entre samaritanos e judeus que
originalmente é de tipo racial, e depois de tipo político e religioso. O caminho
habitual da Galiléia para Jerusalém passa por Samaria. Um grupo galileu de
discípulos vai adiante para preparar a hospedagem para Jesus em Samaria. Mas os
samaritanos não aceitam a presença de Jesus em Samaria, pois ele está a caminho
para Jerusalém. Os samaritanos interpretam o caminho para o Templo de Jerusalém
como infra-valorização do templo Garizim construído sobre um monte onde os
samaritanos fazem suas atividades religiosas e não em Jerusalém (em 129 a. C João
Hircano o destruiu).
Por essa recusa os discípulos disseram a
Jesus: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los?”.
Esta frase nos lembra do episódio entre o profeta Elias, defensor do
monoteísmo, contra os mensageiros do rei Ocozias que consultava outros deuses
sobre como curar suas feridas. Por isso o profeta Elias pediu o fogo do céu e o
fogo caiu sobre esses mensageiros e morreram todos (cf. 2Rs 1,1-18). A atitude
de Tiago e de João põe em evidência de que os Apóstolos não entenderam
plenamente Jesus. Eles, por sua intolerância, não encontraram outro caminho
para tratar aos outros, especialmente aos samaritanos sem o caminho da
violência. Jesus repreende energicamente os dois apóstolos.
Diante da proposta dos discípulos Jesus
enfatiza que qualquer discípulo, qualquer cristão não pode se mover por
sentimentos de vingança, de violência, de ódio, de desafronta, de intolerância
ou de intransigência. Quem é tolerante não vê a diferença e a alteridade como
ameaça, e sim como estímulo para se aproximar e aprender do outro numa atitude
de diálogo.
A atitude de Tiago e João continua presente
em muitas religiões ou crenças do mundo. Por todos os meios os seres humanos,
ao longo da história, buscaram a forma de acabar com os que pensam, atuam ou
vivem de forma diferente. Como cristãos temos que respeitar os demais e fazer
possível a paz entre as religiões e crenças. Para isso, primeiramente, deve
haver diálogo entre as religiões. Mas antes disso, deve haver um intra-diálogo
em cada religião, em vez de radicalismo.
O radicalismo de nossas atitudes, muitas
vezes, é uma expressão de nossa pouca bondade. Com esta pouca bondade tomamos
atitudes que violentam a história de Deus com os homens. A violência sempre
gera um processo desumanizador que perverte radicalmente as relações entre os
homens, introduz na história novas injustiças e impede o caminho para a
reconciliação. O ódio
é como uma gangrena: devora a pessoa. O ódio é igual alguém a tomar o veneno e
espera que o outro morra. Todas as nossas recusas em nos comunicarmos com os
outros e nos abrirmos a eles encerram-nos na prisão. Em vez de nos ajudar a
crescermos no amor, no perdão e na abertura, esse processo pode nos fechar em
formas sutis de depressão e inércia. Nesse caso somos prisioneiros de nós
mesmos ou do nosso grupo.
O fogo que Cristo traz do céu não é aquele
que queima e elimina as pessoas, e sim aquele que ilumina e purifica o mundo de
suas impurezas. É o fogo do Espírito Santo. É o fogo de amor. O único fogo que
nós cristão podemos usar é o fogo de amar aos demais até o fim como fez Jesus.
Jesus nos libertou para sermos livres, como diz São Paulo (Gl 5,1). Liberdade
em Cristo é para amar mais e melhor. Amar a Deus e ao irmão é condição para ser
livre. A liberdade daquele que ama a Deus e ao irmão é a identificação total
com a vontade de Deus, com o bem e com a verdade.
Por isso, o caminho que Jesus propõe para
quem quiser segui-lo não é um caminho de “massas”, mas um caminho de
“discípulos”: implica uma adesão incondicional ao “Reino”, à sua dinâmica, à
sua lógica. Implica uma adoção do espírito de Jesus que é o espírito de amor.
Seguir Jesus não é uma viagem fácil; pode se converter em uma viagem sem
retorno.
P. Vitus
Gustama,svd
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