NO JUÍZO FINAL SEREMOS JULGADOS SOBRE O AMOR FRATERNO
XXXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM “A”
I Leitura: Ez 34,11-12.15-17
11 Assim diz o Senhor Deus: “Vede! Eu mesmo vou procurar minhas ovelhas e tomar conta delas. 12 Como o pastor toma conta do rebanho, de dia, quando se encontra no meio das ovelhas dispersas, assim vou cuidar de minhas ovelhas e vou resgatá-las de todos os lugares em que foram dispersadas num dia de nuvens e escuridão. 15 Eu mesmo vou apascentar as minhas ovelhas e fazê-las repousar — oráculo do Senhor Deus — 16 Vou procurar a ovelha perdida, reconduzir a extraviada, enfaixar a da perna quebrada, fortalecer a doente, e vigiar a ovelha gorda e forte. Vou apascentá-las conforme o direito. 17 Quanto a vós, minhas ovelhas — assim diz o Senhor Deus —, eu farei justiça entre uma ovelha e outra, entre carneiros e bodes”.
II Leitura:1Cor 15,20-26.28
Irmãos: 20 Na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. 21 Com efeito, por um homem veio a morte, e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. 22 Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão. 23 Porém, cada qual segundo uma ordem determinada: Em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois, os que pertencem a Cristo, por ocasião de sua vinda. 24 A seguir, será o fim, quando ele entregar a realeza a Deus-Pai, depois de destruir todo principado e todo poder e força. 25 Pois é preciso que ele reine, até que todos os seus inimigos estejam debaixo de seus pés. 26 O último inimigo a ser destruído é a morte. 28 E, quando todas as coisas estiverem submetidas a ele, então o próprio Filho se submeterá àquele que lhe submeteu todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos.
Evangelho: Mt 25, 31-45
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 31 “Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. 32 Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. 33 E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. 34 Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! 35 Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; 36 eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’. 37 Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Com sede e te demos de beber? 38 Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? 39 Quando foi que te vimos doente ou preso e fomos te visitar?’ 40 Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!’ 41 Depois o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. 42 Pois eu estava com fome e não me destes de comer; eu estava com sede e não me destes de beber; 43 eu era estrangeiro e não me recebestes em casa; eu estava nu e não me vestistes; eu estava doente e na prisão e não me fostes visitar’. 44 E responderão também eles: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome, ou com sede, como estrangeiro, ou nu, doente ou preso, e não te servimos?’ 45 Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo: todas as vezes que não fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes!’46 Portanto, estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna”.
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Um Olhar Geral Sobre As Leituras Deste Domingo
Celebramos neste último Domingo do Tempo Comum a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei Do Universa. Esta solenidade foi instituída pelo Papa Pio XI através da Carta Encíclica Quas Primas de 11 de Dezembro de 1925. Jesus Cristo é Rei e Senhor da história e do tempo. Para o papa, os grandes e vários males que afetam o mundo têm sua raiz no fato de que “a maioria dos homens se tinha afastado de Jesus Cristo e de sua lei santíssima”. Por isso, o papa crê que “não há meio para estabelecer e revigorar a paz do que procurar a restauração do reinado de Jesus Cristo. Seus frutos seriam a liberdade, a ordem, a tranqüilidade, a concórdia e a paz” entre os homens.
A Primeira Leitura (Ez 34,11-12.15-17), tomada do profeta Ezequiel, enfatiza que o Senhor em pessoa busca suas ovelhas, segue suas pegadas, as apascenta, e cura suas feridas e enfermidades.
Em toda cultura agropastoril, o símbolo do pastor é de grande riqueza. Na escala de valores do homem urbano, o pastor pode ser o homem rude com a sacola e o cajado, considerado desajeitado e de baixa casta social. Porém, em todas as culturas agrícolas, principalmente nas primitivas, o pastor evoca a um ser atencioso ou solícito que busca por todos os meios, à sua disposição, comida e água restauradoras para seu rebanho. Além disso, o pastor é defensor do seu revanho diante do perigo do lobo e outros animais carnívoros. A presença do pastor do rebanho produz paz, calma entre o rebanho. A presença do pastor é uma garantia de que o rebanho não morrerá de fome e de sede.
A imagem do pastor e seu rebanho, profundamente arraigada na experiência de um povo de origem nômade e numa civilização de pastores (Cf. Dt 26,5) aparece frequentemente na Bíblia para explicar as relações entre os dirigentes e o povo (Cf. Jr 23,1-4; Zc 11,4-17). Servindo-se desta metáfora, o profeta Ezequiel denuncia vigorosamente em todo este capítulo 34 (de onde foi tirada a Primeira Leitura) os abusos dos “pastores” de Israel. E anuncia depois que o próprio Deus se encarregará como o pastor do rebanho: “Vede! Eu mesmo vou procurar minhas ovelhas e tomar conta delas. Como o pastor toma conta do rebanho, de dia, quando se encontra no meio das ovelhas dispersas, assim vou cuidar de minhas ovelhas e vou resgatá-las de todos os lugares em que foram dispersadas num dia de nuvens e escuridão (Ez 34,11-12).
O texto encontra sua situação histórica na diáspora e no exílio de Israel em Babilônia. O fracasso da monarquia, a incapacidade dos dirigentes, foi a causa principal da dispesao dos filhos de Israel. Mas o Senhor não desistirá de seu plano de salvação. Precisamente no fracasso dos homens brilhará com mais força a fidelidade de Deus, que agora se dispõe a intervir em pessoa como úlimo recurso para salvar seu povo.
A denúncia do profeta Ezequiel sobre os maus pastores nos leva a revermos a missão de nossos pastores ou dirigentes. A missão dos pastores ou dos dirigentes é orientar, encarrilhar, curar, velar, apascentar. Olhando para a maneira de viver de nossos pastores ou dirigentes, fica para nós a pergunta: eles apascentam ou apascentam-se? Não são ovelhas que devem ser apascentadas pelos pastores ou dirigentes? Quais são consequências de apascentar-se em vez de apascentar o rebanho?
Apascentar-se e não apascentar é provocar a corrupção política, econômica. Apascentar-se e não apascentar é buscar o próprio lucro acima dos interesses do povo; é dar cargos ou postos de trabalho ao companheiro do pastido acima de outras pessoas mais preparadas e qualificadas para o cargo. Apascentar-se e não apascentar é enganar o povo simples prometendo e não cumprindo.
Apascentar e não apascentar-se é estar próximo dos oprimidos, dos pobres, dos necessitados de quem não pode retribuir, pois nada têm. Apascentar e não apascentar-se é saber escutar o débil das ovelhas marginalizadas, pisoteadas, dos que vagam pela vida sem rumo fixo, sem pão nem vestido. Apascentar e não apascentar-se é cuidar dos excluídos, dos enfermos, das mulheres da vida que moram e passam pelas nossas ruas. Apascentar e não apascentar-se é sair em defesa dos desamparados diante dos poderosos e prepotentes da vida.
O Evangelho de hoje nos apresenta a vinda definitiva do Filho do Homem que vem para separar (julgar) como um pastor separa as ovelhas dos cabritos. A separação entre ovelhas e cabritos (Mt 25,32-33) é uma imagem tomada das práticas pastorais de Palestina, segundo as quais os pastores separam as ovelhas/carneiros das cabras/cabritos. As ovelhas são mais frágeis que requerem uma maior proteção do frio. Ao usar esta imagem, o Senhor quer nos recordar que o juízo divino será uma separação entre os bons (ovelhas) e os maus (cabritos). Cristo, o o verdadeiro Pastor do rebanho que virá no final dos tempos, nos julgará a partir do critério do amor fraterno: “Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar” (Mt 25,35-36).
Na Carta aos Coríntios de onde foi tirada a Segunda Leitura, são Paulo sublinha o poder de Cristo que aniquilará todo principado, todo poder e toda força que se opõem ao Reino de amor. Cristo reinará e colocará seus inimigos aos seus pés. E o último inimigo será a morte que ele derrota, pois Ele é a Ressurreição e a Vida (Cf. Jo 11,25).
Portanto, convém preparar-nos apropriadamente praticando o bem e o amor fraterno. Trabalhemos hoje para que nosso coração esteja cheio de Deus e de seu amor. Se a acaridade fraterna será o tema ou o critério do juízo final, devemos, então, fazer tudo o que está em nossas mãos para pôr em obra os ensinamentos do Senhor na parábola de hoje, resumidos no amor: a Deus, ao próximo e a si próprio. Podemos também fazer nosso exame através da pergunta: atendemos hoje ao faminto, demos de beber ao sedento, vistamos ao desnudo, visitamos o enfermo e prisioneiro? Em uma palavra: praticamos o mandamento do amor? Minha vida responde ao mandamento de Cristo de amar a meus irmãos? eu me preocupo em fazer algo de bom em favor dos demais? Trata-se, pois, de despertar o sentido de responsabilidade diante das necessidades dos outros com os quais o Senhor Jesus se idêntica (Mt 25,40.45). O pecado não consiste em evitar o mal e sim em deixar de praticar o bem. o pecado grave que poderíamos cometer seria o pecado de omissão.
Estejamos conscientes de que nossa vida se constrói também com uma série inumerável de pequenas omissões de cada dia. Nisto em nosso coração há morte de amor, e ao entardecer de nossa vida precisamente seremos julgados sobre o amor. O mal sempre aparece no horizonte de nossa vida. Vençamos o mal com o bem! diante da dramática situação há que respmonder com o bem. Diante da murmuração temos que responder com benedicência. Diante da calúnia e da injúria temos responder com o perdão, e assim por diante. Não se pode nem se consegue combater o mal com o mal, pois seria uma contradição. Ao mal temos que combater com o bem, com o amor. Este é o caminho que Cristo nos desejou.
Um Olhar Específico Sobre O Evangelho Deste Domingo
O texto do evangelho deste dia faz parte do quinto e último discurso de Jesus no evangelho de Mateus cujo tema é a vinda do Filho do Homem (Mt 24-25) e portanto é sobre o julgamento final. O julgamento final que o evangelho deste dia nos relatou, é a conclusão dessa seção e de toda a atividade pública de Jesus. O que depois é o relato da Paixão de Jesus.
Este discurso serve como exortação para os cristãos e para todas as pessoas de boa vontade para que estejam vigilantes e tenham consciência da provisoriedade da vida na história. Se a vida tem seu fim, então o nosso modo de viver pesa para este fim. Precisamos estar conscientes de que a vida na história tem seu fim. Ao terminar nossa história nesta terra “todos nós teremos de comparecer manifestamente perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba a retribuição do que tiver feito durante a sua vida no corpo, seja para o bem, seja para o mal” (2Cor 5,10).
A separação entre ovelhas e cabritos (Mt 25,32-33) é uma imagem tomada das práticas pastorais na Palestina, segundo as quais os pastores separam os carneiros das cabras, já que estes, por ser mais frágeis, requerem uma maior proteção do frio. A imagem do pastor que separa as ovelhas dos cabritos é tomada do texto de Ezequiel (Ez 34). É importante não esquecer este detalhe, pois somente assim compreenderemos que se trata evidentemente de um juízo entre os exploradores e explorados, entre os que fazem a injustiça e os que a padecem. O senhor sairá em defesa dos pobres, dos que sofrem, dos perseguidos por seu amor à justiça. O juízo será segundo as obras, e não segundo o que dizemos crer e confessar.
O problema que a comunidade de Mateus tinha era que a segunda vinda do Senhor, que eles esperavam e acreditavam iminente, estava atrasada. Apesar da ressurreição de Jesus, a realidade parecia continuar como antes: a injustiça continuava a reinar, o esquecimento de Deus, despreocupação sobre a vida dos necessitados, e assim por diante. Entre os cristãos havia sinais de negligência/preguiça, o abandono da mensagem radical de Jesus e assim por diante.
Mensagem De Mateus Para Sua Comunidade
O evangelista Mt quer recordar à sua comunidade que Cristo voltará com sua glória e que a história dos justos terá um final feliz, ainda que este final pareça oculta hoje. A segunda vinda é certa, mas o momento é incerto ou desconhecido. Por isso, é necessário estar vigilante e comprometer-se porque o futuro se constrói do presente e no presente. Este apelo é sublinhado no texto sobre o julgamento final.
A narração nos coloca diante do juízo da humanidade inteira. E o juiz é chamado de “Filho do Homem e Rei”. Trata-se aqui da personagem de Jesus. Ele é o Filho do Homem que em sua vida terrena compartilhou a debilidade da condição humana: a fome, a sede, a nudez, a solidão, a dor, a prisão. Agora ele se senta para avaliar e julgar o modo de viver de cada ser humano.
O que nos chama atenção e nos surpreende é o critério que se utiliza neste juízo. A medida é a atitude de amor ou de indiferença para os que se encontram em uma situação de extrema necessidade: faminto, sedento, forasteiro, encarcerado, solitário, nudez.
A reação dos que são julgados, seja dos bons, seja dos maus, é a mesma: “Quando te vimos...?” (Mt 25,37.44). O juiz dá a mesma resposta para os dois grupos: “... todas as vezes vós fizestes isso (ou deixastes de fazer isso) a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25,40.45). Jesus, o juiz, se identifica com os mais débeis e de extrema necessidade. Deus se faz pequeno nos marginados da terra.
A mensagem de Mateus para sua comunidade é clara: estar vigilantes e preparados para a vinda definitiva de Jesus Cristo consiste em viver a mensagem de amor fraterno cotidianamente. O destino se decide com a atitude que se adota diante dos necessitados, com os quais Jesus se identifica. Para encontrar Deus não precisa olhar para o céu. Ele se encontra em cada ser humano, especialmente em cada ser humano necessitado, marginalizado, excluído e abandonado. A passagem obrigatória para chegar até Deus é o ser humano.
Mt convida a sua comunidade a recriar a solidariedade recíproca que deve reinar a nova família convocada por Jesus. A exortação das parábolas precedentes a estar vigilante e atento adquire uma grande força à luz desta cena final. Estar vigilante e preparado consiste principalmente em viver segundo o mandamento do amor, pois no juízo final a medida que se utiliza será a atitude de amor ou indiferença feita aos irmãos mais pequenos de Jesus que se encontra numa situação de extrema necessidade: faminto, sedenta, desnudo, estrangeiro, doente, e encarcerado. A razão última está na íntima solidariedade que existe entre estes e Jesus: o que se faz com eles, faz-se com Jesus. Mt quer despertar e recordar os cristãos que o destino de cada homem se decide na atitude que tem perante os necessitados neste tempo que precede a segunda vinda do Senhor.
O Que É Julgamento Neste Texto?
Nossa fantasia costuma imaginar sentenças e castigos catastróficos ao falar do julgamento. Julgamento, na Bíblia, é a revelação da verdade onde todas as coisas perdem sua máscara e se mostram realmente são diante de Deus, que é espelho perfeito onde tudo pode se refletir e se conhecer. O julgamento do Rei Jesus apenas mostra a verdade. Quem julga e dá a sentença somos nós mesmos, porque diante da evidência não há como escapar. No julgamento final é que aparecerá com clareza a distinção entre o trigo e o joio (Mt 13,24-30), entre os peixes bons e os ruins (Mt 13,47-50), entre as jovens prudentes e as insensatas (Mt 25,1-13), entre os empregados leais ao seu senhor e os que não foram (Mt 25,14-30). Em fim, entre aqueles que construiram sua vida sobre a rocha que é a Palavra de Deus e os que construíram sua vida sobre a areia que é a vida sem se fundamentar em Deus e no amor fraterno (Mt 7,24-27).
Além disso, costumamos imaginar que o julgamento final vá acontecer no final da história, depois que este mundo acabar. Isto não é inteiramente errado, mas talvez parcial. Depois do testemunho dado por Jesus em sua vida terrestre, o mundo inteiro começou a entrar no julgamento final. O testemunho de Jesus Cristo colocou a humanidade em estado de julgamento, pois Ele revelou quem é Deus e quem é o homem, imagem de Deus. Assim, esta cena do Evangelho de Mateus continua hoje e sempre como o espelho que reflete para Deus a verdade de todos e de cada um.
Com esta imagem profética do julgamento final, Mt propõe um exemplo impressionante de como viver hoje, esperando responsavelmente a vinda do Filho do Homem: o teste definitivo da própria verdade e da fidelidade de homens, condição essencial para a salvação ou perdição eterna se joga nas relações cotidianas de acolhimento ou da rejeição do necessitado, sinal objetivo da presença humilde e escondida de Cristo Rei. O amor solidário é síntese da vontade de Deus Pai que está nos céus. O amor é que faz o homem um herói diante de Deus.
O texto quer nos dizer, então, que a pertença ao Reino não exige o conhecimento explícito de Cristo e sim unicamente o acolhimento concreto do irmão necessitado. Nem sequer o próprio cristão goza de garantia alguma pelo fato de decorar a Bíblia inteira e de saber da vida terrena de Jesus. Também o cristão será julgado sobre o amor fraterno. Tudo depende do significado desses “irmãos mais pequenos” (Mt 25,40.45) com os quais Jesus se identifica.
Por isso, podemos dar como título para a parábola do julgamento final: A parábola dos ateus “cristãos” e dos cristãos “ateus”. Os cristãos “ateus” são aqueles que se confessam crentes, que dizem adorar a Cristo e que aceitam como verdade que Jesus ensinou, mas que em seu modo de viver são “ateus” de Jesus porque não O seguem, porque nada fazem pelos demais homens, porque vivem para si mesmos. Os ateus “cristãos” são aqueles que se confessam ateus, agnósticos, não cristãos, até não crentes, mas em sua vida servem aos demais homens, estão prontos para ajudar os necessitados sem identificá-los com Cristo a quem não descobriram como tal, trabalham para estabelecer no mundo a justiça, para libertar os outros de todo tipo de escravidão, para aliviar tristezas e solidão. Estes seguem a Jesus Cristo sem sabê-lo. São os verdadeiros cristãos.
A partir deste texto, devemos começar a ler a Bíblia de modo novo com mais fé do que antes. E a fé, quando profunda, se expressa através de gestos concretos de caridade, de respeito, de solidariedade, de partilha etc. A religião bíblica, a partir do ensinamento de Jesus Cristo, é a prática de amor aos nossos próximos. Por isso, é pura ilusão pensar que podemos encontrar a Deus sem trombar com o nosso semelhante ou próximo, especialmente os injustiçados e marginalizados.
Mensagem do texto para nossa comunidade e para cada um em particular
Uma das páginas do Evangelho que sempre temos mais medo é a da parábola do “Juízo final”. Trata-se do momento supremo do homem, do momento em que deverá prestar contas ao seu Criador, porque todos Lhe pertencem e que Ele esteve presente na história de todos. Por isso, fala-se de condenação e de salvação, de bênção e maldição, de chamada e de repulsa: de eternidade. No julgamento final, Jesus nos revela um Deus que não se pode medir com os nossos cálculos matemáticos, legais ou rituais, um Deus que, apesar de ser o mais próximo de nós, também é o mais afastado porque é o “diferente”, o “diverso”, o “outro”.
Alguém chamou a esta parábola de a “parábola dos ‘ateus’, porque nesse dia, todos, cristãos ou não cristãos, descobrirão que não tinham conhecido verdadeiramente a Cristo, visto que todos fazem, estranhados, a mesma pergunta: “Senhor, quando foi que te vimos?”
Com esta imagem profética do julgamento final, Mt propõe um exemplo impressionante de como viver hoje, esperando responsavelmente a vinda do Filho do Homem: o teste definitivo da própria verdade e da fidelidade de homens, condição essencial para a salvação ou perdição eterna se joga nas relações cotidianas de acolhimento ou da rejeição do necessitado, sinal objetivo da presença humilde e escondida de Cristo Rei. O amor solidário é síntese da vontade de Deus Pai que está nos céus. O amor é que faz o homem um herói diante de Deus.
O texto quer nos dizer, então, que a pertença ao Reino não exige o conhecimento explícito de Cristo e sim unicamente o acolhimento concreto do irmão mais necessitado. Nem sequer o próprio cristão goza de garantia alguma; também ele será julgado pela caridade. Tudo depende do significado desses “irmãos mais pequenos” (Mt 25,40.45) com os quais Jesus se identifica.
Por isso, podemos dar como título para a parábola do julgamento final: A parábola dos ateus “cristãos” e dos cristãos “ateus”. Os cristãos “ateus” são aqueles que se confessam crentes, que dizem adorar a Cristo e que aceitam como verdade tudo que Jesus ensinou, mas que em seu modo de viver são “ateus” de Jesus porque não O seguem, porque nada fazem pelos demais homens, porque vivem para si mesmos no egoismo. Os ateus “cristãos” são aqueles que se confessam ateus, agnósticos, não cristãos, até não crentes, mas em sua vida servem aos demais homens, estão prontos para ajudar os necessitados sem identificá-los com Cristo a quem não descobriram como tal, trabalham para estabelecer no mundo a justiça, a paz, a fraternidade, para libertar os outros de todo tipo de escravidão, para aliviar tristezas e solidão. Estes seguem a Jesus Cristo sem sabê-lo. São os verdadeiros cristãos.
A partir deste texto, devemos começar a ler a Bíblia de modo novo com mais fé do que antes. E a fé, quando profunda, se expressa através de gestos concretos de caridade, de respeito, de solidariedade, de partilha etc. A religião bíblica, a partir do ensinamento de Jesus Cristo, é a prática de amor aos nossos próximos, especialmente os mais necessitados. Por isso, é pura ilusão pensar que podemos encontrar a Deus sem trombar com o nosso semelhante ou próximo, especialmente os injustiçados e marginalizados, os pobres e empobrecidos, os excluídos e os abandonados na sua carência total.
Um critério que servirá, então, para crentes e ateus será a lei do amor, escrito no interior de cada ser humano, aos irmãos, impulso para o bem, a chamada à fraternidade. Porque alguém pode ter fé em Deus sem amar ao próximo e alguém pode se considerar ateu, mas sabe amar ao próximo. Por isso, no Sermão da Montanha Jesus diz categoricamente: “Não é quem me diz: Senhor, Senhor, que entrará no Reino dos céus, mas só quem faz a vontade do meu Pai celeste” (Mt 7,21s).
Qualquer homem pode não encontrar Deus durante a vida, mas não tem como escapar do seu próximo com quem Jesus se identifica. O próximo é aquele em cujo caminho me coloco.
As palavras do Senhor neste dia devem servir de exame de consciência sobre o estilo e a qualidade de nossas relações com todas as pessoas que tratamos: falta de caridade, mentira, agressão, falsidade, exploração, apatia, insensibilidade humana e assim por diante. Devemos nos deter em cada uma destas palavras e nas outras semelhantes. E cada um deve se perguntar: “Qual é o meu estilo ou meu modo de tratar os outros?”. Deus se faz juiz da qualidade de nossas relações com os outros, e não os comentários humanos.
Na Eucaristia, com os olhos da fé, não nos custa muito descobrirmos Cristo presente no sacramento do pão e do vinho. Mas nos custa muito descobrirmos Cristo fora da Eucaristia, no sacramento do irmão. Mas certamente ou justamente a partir deste ângulo é que será feita a pergunta final, se descobrimos Cristo no irmão ou não. O Cristo que escutamos e que recebemos na Eucaristia é o mesmo a quem devemos servir nas pessoas com as quais nos encontramos durante o dia.
Muitas vezes, e sobretudo em situações de crise perguntamos: “Onde está Deus?”. Hoje, através do texto de Mateus temos uma resposta clara: nos que sofrem, nos pobres, nos enfermos, ainda que não queiramos ver porque é incômodo, desagradável. Mas comprometer-se, conviver, procurar qualidade de vida, calor, não é isso ser santo?
Se decidirmos realmente seguir a Jesus, teremos que escolher o caminho do amor que é o caminho da verdadeira vida. Optar pela vida é viver na solidariedade, na compaixão, na caridade, no perdão... Mas se escolhermos nossas ambições, o poder, a auto-suficiência, etc., então estaremos escolher o caminho da morte eterna.
Vivemos na sociedade da pressa. O trabalho, as urgências familiares e comunitárias, os compromissos sociais, as tarefas pastorais, o individualismo são as desculpas que nos mantém cegos e indiferentes diante dos demais. Poucas vezes paramos para olhar os rostos das pessoas com as quais diariamente nos encontramos que não fazem parte de nosso circulo ou grupo: um indigente, um malvestido, um ancião pedindo esmola no semáforo da cidade, aquele vizinho que está bem caído na sua idade e saúde. Como não olhamos, não vemos suas fatigas, suas alegrias, seu desejo de comunicação. Temos sempre coisas “mais importantes” para fazer. Deus nos colocou aqui na terra para o olhar dele para o próximo, para ser o amor dele para o próximo. Então estamos aqui no mundo não por acaso e sim por causa do Senhor pelo bem de nossos irmãos e irmãs aqui neste mundo. Seremos julgados a partir de nosso tratamento para com eles. Do mais insignificante da sociedade, do esquecido, do necessitado, do explorado Deus sai ao encontro, e espera ser atendido por nós.
P. Vitus Gustama,SVD
Um comentário:
Louvado seja Deus pela sua homilia de hoje e tantas outras,Ele tem se utilizado do seu sacerdócio para levar sabedoria às almas, à minha alma! Obrigada por honrar a sua vocação e escolha ! Suas palavras trazem unção ao espírito! Fica com Deus! A sua bênção!
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