FESTA DA APRESENTAÇÃO DE NOSSA SENHORA
SER MEMBRO DA FAMÍLIA DE JESUS CRISTO
Primeira Leitura: Zc 2,14-17
14 “Rejubila, alegra-te, cidade de Sião, eis que venho para habitar no meio de ti, diz o Senhor. 15 Muitas nações se aproximarão do Senhor, naquele dia, e serão o seu povo. Habitarei no meio de ti, e saberás que o Senhor dos exércitos me enviou a ti. 16 O Senhor entrará em posse de Judá, como sua porção na terra santa, e escolherá de novo Jerusalém. 17 Emudeça todo mortal diante do Senhor, ele acaba de levantar-se de sua santa habitação”.
Evangelho: Mt 12, 46-50
Naquele tempo, 46 enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. 47 Alguém disse a Jesus: “Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo”. 48 Jesus perguntou àquele que tinha falado: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” 49 E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. 50 Pois todo aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
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A Apresentação de Nossa Senhora confunde-se, às vezes, com a Apresentação de Menino Jesus no Templo, festa que é celebrada no dia 2 de Fevereiro em comemoração de um fato amplamente descrito nos Evangelhos e que corresponde à lei judaica que obrigava aos israelitas a oferecer seus primogênitos a Deus.
A memória da Apresentação de Nossa Senhora, de origem devocional, liga-se a uma piedosa tradição atestada pelo protoevangelho de Tiago (evangelho Apócrifo de Tiago). Esta memória começou a ser celebrada na Igreja oriental, que sempre foi muito sensível à piedade mariana mais ou menos desde o século VI e oficialmente em 1143. Tardiamente foi incorporada ao calendário ocidental, romano, em 1472 pelo papa Sisto IV (governou de 9 de agosto de 1471 até 12 de agosto de 1484). A memória foi introduzida novamente no calendário romano em 1568 pelo Papa Pio V. Esta memória quer ressaltar a primeira doação total que Maria, Nosse Senhora, fez de si mesma. Em consequência disso, Maria se torna modelo de qualquer pessoa consagrada totalmente ao Senhor.
A apresentação de Nossa Senhora não é narrada nos evangelhos. Ela é uma tradição muito antiga (Evangelho Apócrifo do século II: Evangelho apócrifo de São Tiago). Segundo esta tradição (Apócrifo), os pais de Maria, Joaquim e Ana, piedosos israelitas, não conseguiram ter filhos até sua idade avançada por causa da esterilidade. Não ter filhos significava, na época, o castigo de Deus pelos pecados cometidos. Mas os dois eram justos. Em sua angústia Ana fez uma oração fervorosa, prometendo ao Senhor oferecer-lhe o fruto de suas entranhas se lhe concedesse descendência. O nascimento de Nossa Senhora foi o resultado dessa oração e dessa promessa: “Ó Deus de nossos pais, abençoa-me e ouve minha oração como abençoaste o ventre de Sara, dando-lhe um filho, Isaac”, assim Ana, mãe de Maria rezava (Apócrifo de Tiago, 2,1). Quando se retirou para o deserto durante quarenta dias e quarenta noites Joaquim, pai de Maria, dizia para si mesmo: “Não descerei nem para comida, nem para bebida, enquanto o Senhor não me visitar; a minha oração será para mim comida e bebida” (cf. Apócrifo de Tiago 1,4). Joaquim e Ana, fiéis ao seu voto, apresentaram a menina quando tinha três anos no templo e permanecia, no templo, dedicada à oração até seu casamento com José (cf. Evangelho apócrifo de São Tiago 7,1-8,1)
A apresentação de Nossa Senhora é a festa de entrega voluntária a Deus. É a festa da total entrega da Virgem Maria a Deus e da sua plena dedicação aos planos divinos em prol da salvação da humanidade, pois ela aceitou ser Mãe do Salvador. A Virgem Maria nunca negou nada a Deus. Sua correspondência à graça divina e às moções do Espirito Santo foi sempre plena. É a festa que nos ensina a renunciar a nossa própria vontade a fim de fazer somente a vontade de Deus para formar uma família com Deus e ser instrumento divino para levar os outros para Deus: “Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”, diz Jesus (Mt 12,50).
Maria se apresentou a Deus em sua infância e antes de sua obediência ele colocou sua alma na postura de humilde disponibilidade que foi característica constante de sua vida e que ela mesma resumiu numa frase cujo conteúdo não se esgotará jamais por muito que se medite: “Eis aqui a serva do Senhor!”.
A Apresentação de Nossa Senhora é a festa da entrega voluntária a Deus, é a festa dos que aspiram de verdade a renunciar a sua vontade para fazer somente a vontade do Senhor. E para os consagrados e as consagradas na vida religiosa e muitas ordens religiosas, geralmente, renovam seus votos neste dia. No entanto, também deve ser a festa de todos os cristãos, porque ninguém, se eles realmente querem ser, pode escapar da obrigação de se apresentar humildemente diante de Deus e colocar-se em Suas mãos para que Deus possa tranformá-los em instrumentos eficazes para salvar a humanidade, a partir dos dons recebidos. A liturgia de hoje nos convida, então, a meditarmos sobre o sentido de uma apresentação de nós mesmos diante do Senhor. nossa própria presença diante do Senhor, em cada celebração, se converte em apresentação de nossa vida ao Senhor para que Ele nos use para o bem da humanidade.
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O oráculo de Zacarias proclama a presença de Deus no Templo e transmite a Palavra do próprio Deus. A presença salvadora de Deus no meio do povo, no Templo é o motivo de alegria para todos os repatriados da Babilônia. Judá voltará a ser a herança do Senhor. “Emudeça todo mortal diante do Senhor, ele acaba de levantar-se de sua santa habitação”, assim concluiu a Primeira Leitura de hoje. O contexto dessa conclusão é litúrgico no Templo. Toda a alegria do profeta Zacarias celebrando o futuro triunfo e glória de Israel, nos a vemos espiritualmente no coração de Maria, Virgem Imaculada, que sente dentro de si a presença do Senhor que virá para habitar no seu ventre e dará ao mundo como Salvador.
O evangelho fala da presença de Maria, implicitamente, no lugar em que Jesus e suas Palavras fazem a apresentação da identidade de quem Ele considera sua autêntica família, na qual Maria, sua mãe é um exemplo pelo seu Fiat, seu “Faça-se em mim segundo Sua Palavra”, por ser “Serva do Senhor”.
No texto do evangelho deste dia, onde os familiares de Jesus não são mencionados por seus nomes, “a mãe”, aqui, representa Israel enquanto origem de Jesus e “os irmãos” representam também Israel enquanto membros do mesmo povo. Israel fica “fora” em vez de se aproximar de Jesus. Jesus rompe sua vinculação de seu povo de origem para formar uma nova família com os que se associam com o compromisso de formar uma comunidade de irmãos vivendo o amor fraterno (ágape) como maior mandamento (cf. Jo 13,34-35; 15,12).
A maior parte das religiões do mundo se apóia na família, comunidade natural. Jesus edifica sua religião ou sua comunidade não sobre as relações familiares e sim sobre uma comunidade de tipo seletivo em virtude da fé para elevar a família humana em família de Deus. Para divinizar a família humana é preciso que Deus seja de todos e centro da vida e de qualquer convivência (família, comunidade, grupos etc.).
A evolução do mundo técnico tende a tirar o homem de suas comunidades naturais para submergi-lo em comunidades mais “artificiais” ou “mais seletivas”. Por isso, a família vive, muitas vezes, de maneira dramática o conflito das gerações que caracteriza a nossa época. Os pais rezam melhor em companhia de seus amigos do que em família, com seus filhos e familiares. Mas se todos se preocuparem com a vontade de Deus ao praticar o bem, ao viver o amor fraterno, o único que nos edifica, humaniza e diviniza, acabarão salvar a comunidade natural que é a família humana. Por isso, Jesus afirma hoje: “Todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12,50). Trata-se de uma família ou uma comunidade de Deus, e por isso, de uma comunidade de salvação.
Jesus, por sua encarnação, entrou no mundo e formou parte de nossa humanidade, de uma verdadeira humanidade, com os laços de sangue e de cultura e cresceu em uma família. Ele se tornou humano para nos divinizar. Ele nasceu numa família para santificar a família. Ele viveu em um país determinado, Palestina; tinha uma mãe, Maria. Essas realidades humanas têm grande importância, constituem realmente o lugar de nossa vida.
“Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?”, pergunta Jesus. A pergunta não significa um desprezo de Jesus aos seus parentes ou familiares. Ninguém amou Sua mãe melhor que Ele. E nenhuma mãe amou melhor seu Filho, Jesus Cristo, Deus-Conosco do que a própria Maria, a mãe de Jesus.
Com esta pergunta Jesus quer nos revelar algo muito importante: o discípulo, cada cristão, cada cristã que vive os ensinamentos de Jesus é um parente de Jesus. Jesus oferece aos homens a qualitativa intimidade de sua família. A família humana de Jesus viveu conforme a vontade de Deus: José que criou Jesus era chamado de “o justo”, aquele que vive segundo os mandamentos de Deus (cf. Mt 1,19). Maria, a Mãe de Jesus foi chamada pelo anjo de “cheia de graça” (cf. Lc 1,28) e ela viveu a vida conforme a vontade de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a Tua palavra” (Lc 1,38). Por isso, a família humana de Jesus serve de exemplo para todas as famílias humanas. Que é possível formar uma família de Deus nesta terra quando Jesus se torna centro de todos e quando todos vivem de acordo com a Palavra de Deus. A única maneira de salvar a família humana é transformá-la em família de Deus, família que vive de acordo com os mandamentos de Deus.
Entre Deus e os homens já não há somente relações frias de obediência e de submissão como entre o patrão e o empregado. Com Jesus entramos na família divina, como seus irmãos e irmãs, como sua mãe. Se em todos os meus atos e atitudes de cada dia, se em todos os minutos de minha vida procurar me manter unido a Deus na vivência do amor fraterno, serei irmão de Jesus, farei parte da família de Deus desde aqui na terra junto aos outros irmãos e irmãs no mundo inteiro que fazem a mesma coisa.
“Todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Esta frase deve servir de orientação para nossa vida diária. É lindo e desejável ter um lar, um aconchego. É o sonho de todos. É o desejo de qualquer coração. Ter um lar é um sonho vivo de qualquer ser humano. No lar podemos descansar, conviver amorosamente e estar juntos como pessoas amadas. Mas é preciso incluir Jesus como membro de nosso lar e nós como membros do lar do Senhor. Somente assim nosso lar na terra se transformará em céu antecipado onde há paz e amor, segurança e alegria, festa e descanso. Nosso ler definitivo no céu deve começar desde já aqui na terra tendo Jesus como membro de nossa família e nós, da família de Jesus. A disponibilidade de Maria diante da Palavra e do desígnio divino nos indicam o grado máximo que devemos aspirar no serviço da Palavra divina: “Faça-se em mim segundo a sua Palavra” (Lc 1,38).
Reflita:
“Por acaso não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que estão clamando por Ele dia e noite? ... Digo-vos que em breve Deus lhes fará justiça” (Lc 18,7-8).
“O Senhor, meu Deus, vive, se eu der à luz, trate-se de homem ou de mulher, oferecê-lo-ei em voto ao Senhor meu Deus, e o servirá em todos os dias de sua vida”, prometeu Ana (Apócrifo de Tiago, 4,1).
P. Vitus Gustama,svd
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