quinta-feira, 12 de novembro de 2020

16 de Novembro de 2020-SENHOR, QUE EU VEJA!

APROXIMAR-SE DO SENHOR CAPACITA QUALQUER PESSOA A ENXERGAR MELHOR O SENTIDO DA VIDA

 

Segunda-Feira da XXXIII Semana Comum

ÉFESO - A IGREJA QUE PERDEU O PRIMEIRO AMOR (Apocalipse 2:1-7) - Pb. Tiago  Tiz / ÁUDIO - YouTubeDomine, ut videam - Livro Prof. Dr. Orlando Fedeli - YouTubeSenhor, que eu veja..." (Marcos 10,51) ppt carregar

 

Primeira Leitura: Apocalipse 1,1-4; 2,1-5ª

1,1 Revelação que Deus confiou a Jesus Cristo, para que mostre aos seus servos as coisas que devem acontecer em breve. Jesus as deu a conhecer, através do seu anjo, ao seu servo João. 2 Este dá testemunho de que tudo quanto viu é palavra de Deus e testemunho de Jesus Cristo. 3 Feliz aquele que lê e aqueles que escutam as palavras desta profecia e também praticam o que nela está escrito. Pois o momento está chegando. 4 João às sete Igrejas que estão na região da Ásia: A vós, graça e paz, da parte daquele que é, que era e que vem; da parte dos sete espíritos que estão diante do trono de Deus. 2,1 Ouvi o Senhor que me dizia: Escreve ao anjo da Igreja que está em Éfeso: Assim fala aquele que tem na mão direita as sete estrelas, aquele que está andando no meio dos sete candelabros de ouro: 2 Conheço a tua conduta, o teu esforço e a tua perseverança. Sei que não suportas os maus. Puseste à prova alguns que se diziam apóstolos e descobriste que não eram apóstolos, mas mentirosos. 3 És perseverante. Sofreste por causa do meu nome e não desanimaste. 4 Todavia, há uma coisa que eu reprovo: abandonaste o teu primeiro amor. 5ª Lembra-te de onde caíste! Converte-te e volta à tua prática inicial. Se, pelo contrário, não te converteres, virei depressa e arrancarei o teu candelabro do seu lugar.

 

Evangelho: Lc 18,35-43

35 Quando Jesus se aproximava de Jericó, um cego estava sentado à beira do caminho, pedindo esmolas. 36 Ouvindo a multidão passar, ele perguntou o que estava acontecendo. 37 Disseram-lhe que Jesus Nazareno estava passando por ali. 38 Então o cego gritou: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” 39 As pessoas que iam na frente mandavam que ele ficasse calado. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!” 40 Jesus parou e mandou que levassem o cego até ele. Quando o cego chegou perto, Jesus perguntou: 41 “Que queres que eu faça por ti?” O cego respondeu: “Senhor, eu quero enxergar de novo”. 42 Jesus disse: “Enxerga, pois, de novo. A tua fé te salvou”. 43 No mesmo instante, o cego começou a ver de novo e seguia Jesus, glorificando a Deus. Vendo isso, todo o povo deu louvores a Deus.

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Tu Abandonaste o Teu Primeiro Amor: É Preciso Voltar Ao Primeiro Amor Para Voltar a Ser Vencedor

 

Para a Primeira Leitura, durante as duas últimas semanas do Ano Litúrgico, antes do Advento, vamos ler e refletir sobre o livro de Apocalipse de são João, o último livro do Novo Testamento. Este livro foi escrito entre os anos 90 e 100 (alguns especialistas colocam o ano 95 como ano da composição do livro), numa época de perseguição. Apocalipse em grego significa “revelação” ou “manifestação de algo oculto” ou “tirar o véu”. Os livros “apocalípticos” têm umas características muito especiais, e usam uma linguagem misteriosa, cheios de imagens e símbolos, não fáceis de entender. Falam-se neste livro de dragões e cavalos, de trombetas e cataclismos cósmicos, de simbolismo das cores e dos números, e, sobretudo, da luta entre a Besta e o Cordeiro.

 

O autor do Apocalipse se chama a si mesmo João. Mas não é João, o apóstolo a quem se atribui o Quarto Evangelho e as Cartas de são João. Além do nome o autor se apresenta como “irmão e companheiro na tribulação” (Ap 1,9). Isto quer nos dizer que o autor é também perseguido por causa da fé, e consequentemente, sofre a mesma coisa que os outros, pois é “irmão e companheiro”. Por isso, ele tem condições para animar os outros irmaos/companheiros através de suas revelações. Ele escreveu essas revelações por ordem de Deus (Ap 1,11.19) como a resposta de Deus para o povo que sofre aflições por causa das perseguições. Através do autor Deus quer revelar ao povo que o poder do império não dura muito tempo. O autor quer que o povo enxergue isso para não desistir nunca na luta pelo bem. “Esta é a Boa Nova que o Apocalipse quer revelar ao povo das comunidades: ‘O tempo está próximo’ [Ap 1,3]! Dentro do tempo da história, marcado pelas perseguições, existe o tempo de Deus, o plano de Deus. Este plano entrou na fase final. Esgotou-se o prazo. Deus está para chegar. Ele vai mudar a situação e libertar o seu povo!” (Carlos Mestres: Esperança De Um Povo Que Luta).

 

Por isso, o livro de Apocalipse, apesar de seus relatos catastróficos, contém uma mensagem de esperança para o povo continuar a luta, pois no fim da luta Deus tem a última palavra para a humanidade. Então, podemos entender a batalha dramática travada entre o dragão e o Cordeiro, entre o mal e o bem. O livro transmite uma mensagem clara de esperança, porque a Besta falha miseravelmente e o Cordeiro triunfa associada a toda a comunidade eclesial em sua alegria. Com a chave da luta, a morte e a ressurreição do Cordeiro que acaba triunfando contra o mal e a morte, acentua-se o caráter “pascal de todo o livro.

 

O livro de Apocalipse de João pretende responder à questão seguinte: “Quem verdadeiramente manda no mundo: os tiranos, os senhores da terra, ou o Senhor do Céu?”. O livro dá uma resposta certa: é o Senhor do Céu quem manda; Ele é o Alfa e o Ômega, o Começo e o Fim (Ap 1,8; 21,6). Consequentemente, não podemos nos desisitir na nossa luta pelos valores cristãos, por dura que seja nossa luta e por maior que seja a dificuldade que devemos enfrentar.

 

O Apocalipse vai nos ajudar a interpretarmos a história a partir dos olhos da fé, a não perdermos jamais a confiança ou a esperança, a termos uma visão pascal dos acontecimentos, por penosos que sejam, e por duras que sejam as dificuldades internas e externas, porque o Cordeiro venecerá e convidará para bodas sua Esposa: a Igreja.

 

Revelação que Deus confiou a Jesus Cristo” é a primeira frase da Primeira Leitura de hoje. A revelação de Deus, Seu plano de salvação, nos foi manifestado em Jesus Cristo através de sua comunidade, a Igreja que vai difundindo para o mundo inteiro. “Revelação” é a palavra-chave. Há muitas coisas que não vejo e que não podia ver. Diante do grande poder de Deus, o homem é um pobre, pois ele não tem poder de saber e de conhecer todas as coisas visíveis e invisíveis. Há que aceitar o fato de “receber” de acolher uma revelação. Um “apocalipse” é, antes de tudo, o fato de “levantar o véu” (re-velar) que cubria certas realidades. Somente Deus é capaz de revelar certas coisas, pois Deus é onisciente. Para saber do sentido desta vida é necessário aproximar-se do Deus da vida, o Doador da vida. Fora de Deus não se encontra o sentido de todas as coisas.

 

Depois desta frase segue outra frase importante: “Assim fala aquele que tem na mão direita as sete estrelas”. As sete estrela simbolizam os Anjos das Igrejas. E as Igrejas estão “na mão direita” de Deus. Isto quer dizer que Deus tem em seu poder as Igreja locais. A “mão”, naquela época, e para todo o mundo oriental, era o sinal do poder. Temos que acreditar que estamos na “mão” do Senhor.

 

A Carta que lemos na Primeira Leitura de hoje é dirigida à Igreja de Éfeso com o seguinte alerta: “Conheço a tua conduta, o teu esforço e a tua perseverança. Sei que não suportas os maus. És perseverante. Sofreste por causa do meu nome e não desanimaste. Todavia, há uma coisa que eu reprovo: abandonaste o teu primeiro amor”.

 

Éfeso era grande metrópole que ocupava a primazia politica, comercial e religiosa em tudo no contexto da província da Ásia. O Senhor se apresenta a esta Igreja revestido do fulgor de sua divindade. O Senhor conhece a perseverança dessa Igreja na luta para manter a fé intacta. Porém, o Senhor deixa bem claro que essa Igreja abndonou o seu primeiro amor.

 

A comunidade cristã decaiu daquele amor primordial: amor visto idealmente nas relações esponsais de Israel e Deus, amor que deve unir Cristo e a Igreja. Mas se voltar para o primeiro amor, a Igreja será venecedora e receberá um prêmio: comer da árvore da vida. Se for fiel, Cristo, verdadeira árvore da vida, concederá a Igreja, a toda comunidade cristã esta recompensa: a imortalidade, por meio da Eucaristia, isto é, a participação na mesma vida eterna de Deus (Cf. Ap 22,2).

 

A primeira carta das sete dirigidas às Igrejas da Ásia pode ser que nos retrate. Seguramente, em nossa vida sofremos por Cristo pelos valores cristãos que vivemos. Temos momentos de lucidez para discernir quem são verdadeiros apóstolos e quem são os falsos. Mas, ao mesmo tempo, a perseverança nos custa muito e ainda mais em meio de um mundo que não nos ajuda a segurimos os caminhos de Jesus. Cada um de nós, alguma vez ou outra, caiu e ficou longe do amor primordial. Nessa altura ressoa dentro de nós o convite do Senhor: “Volte para o primeiro amor para que volte a ser vencedor!”.

 

O Salmo Responsorial de hoje (Sl1) nos convida a renovarmos nossa fidelidade ao Senhor:Feliz é todo aquele que não anda conforme os conselhos dos perversos; que não entra no caminho dos malvados, nem junto aos zombadores vai sentar-se; mas encontra seu prazer na lei de Deus e a medita, dia e noite, sem cessar. Eis que ele é semelhante a uma árvore, que à beira da torrente está plantada; ela sempre dá seus frutos a seu tempo, e jamais as suas folhas vão murchar. Eis que tudo o que ele faz vai prosperar”.

 

Senhor Que Eu Enxergue Sua Presença Para Entender o Sentido Da Minha Vida

 

Continuamos escutando as ultimas e importantes lições dadas por Jesus no seu caminho para Jerusalém (Lc 9,51-19,28).

       

No Evangelho deste dia o evangelista Lucas conta como Jesus, depois de anunciar sua Paixão e ressurreição, curou um cego dentro do contexto de uma subida para Jerusalém. A incredulidade dos apóstolos é um tema freqüente nos anúncios da Paixão e da subida para Jerusalém. Os apóstolos ficam como que cegos diante deste anúncio. Jesus não para de dar lições para que os apóstolos possam entender o sentido da missão de Jesus que, um dia, eles devem levá-la adiante.

 

Por isso, a intenção do evangelista Lucas é bem clara ao colocar este episódio aqui: para compreender o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus é preciso abrir os olhos da fé para poder entender as Escrituras. Os meios humanos são inadequados. É preciso deixar-se conduzir por outro para descobrir a Luz.

                                                                      

Como Deus é Luz, ele colocou seus olhos nos olhos de Jesus para poder olhar para nosso mundo como ninguém neste mundo. E como Jesus é a Luz do mundo (cf. Jo 8,12), ele devolveu a visão para o mendigo cego: “Enxerga, pois, de novo. Tua fé te salvou!”, disse Jesus ao cego.

 

Um provérbio árabe diz: “Vem a mim com teu coração e eu te darei meus olhos”. Jesus também nos diz: “Vem a mim com teu coração!”. Temos que nos aproximar de Jesus com nosso coração, com nossa coragem de ver, de vê-Lo todo e de ver o mundo e os outros homens como Deus os vê: com amor e compaixão. A fé também é um grito de socorro: “Jesus, tem piedade de mim!”. Jamais podemos desistir de gritar a Jesus para pedir socorro, como pediu o cego mendigo. Somente os olhos de Jesus podem nos fazer ver com alegria a vida até nas suas dores. 

 

Não há nada que seja mais belo ou formoso na vida do que poder ver: ver o rosto da mãe ou do pai, ver o sorriso de uma criança, ver os olhos da pessoa amada, ver uma passagem, ver o sol, a natureza, a obra dos homens, ver “as obras dos dedos de Deus” (Sl 8,4) e assim por diante. Jesus nos chamou para ver: “Venham e vejam!” (Jo 1,39), disse Jesus aos dois discípulos de João que mais tarde se tornarão discípulos seus. É para ver a vida a partir de uma perspectiva especial para poder caminhar na direção certa.

 

O olhar é um dom precioso e fascinante legado pelo Criador. É uma das áreas humanas que mais chama a atenção das pessoas. O olhar é como uma bússola a guiar nossos passos, nossos gestos, nossas atitudes. O olhar sempre está aí atento a um ou outro detalhe. Os olhos determinam um pouco ou muito do que somos. E o olhar é sempre anterior às nossas palavras.

      

É tão natural olhar, que nem nos damos conta desse misterioso gesto. Muitas vezes olhamos; poucas vezes, porém, nos encontramos. Alguns se limitam a olhar os outros para anotar seus possíveis defeitos. Não deixa de ser a mais trágica expressão de nossa crueldade. O olhar superficial jamais enxerga alguém; os outros são objetos de curiosidade, de conversa.

 

O cego da nossa história está sentado à beira do caminho e pede esmola. O estar sentado significa acomodação, instalação, conformismo. Ele está privado da luz e da liberdade e está conformado com a sua triste situação, sabendo que, por si só, é incapaz de sair dela. E o pedir esmola indica a situação de escravidão e de dependência em que o homem se encontra.

           

Num diálogo público com o cego, Jesus pergunta ao cego sobre o que ele quer: “O que queres que eu faça por ti?”. E o cego sabe muito bem daquilo que ele quer: “Senhor, que eu veja!”. “Enxerga, pois, de novo. Tua fé te salvou” é a resposta de Jesus. E aconteceu o milagre. A Palavra de Jesus devolve ao cego a vista como símbolo da fé. Por isso, o evangelista Lucas nota que esse homem, depois que ficou curado, “seguia a Jesus”. É um corte radical com o passado, com a vida velha, com a anterior situação, com tudo aquilo em que se apostou anteriormente, a fim de começar uma vida nova ao lado de Jesus.

 

Diante de Jesus e com Jesus não há situação por difícil que seja que não haja solução. É preciso, no entanto, que não nos fechemos no nosso egoísmo e na nossa auto-suficiência, surdos e cegos aos apelos de Deus; é preciso que as nossas preocupações com os valores efêmeros não nos distraiam do essencial; é preciso que aprendamos a reconhecer os desafios de Deus nesses acontecimentos banais com que, tantas vezes, Deus nos interpela e questiona.

           

Uma das razões que nos impedem de sermos autenticamente nós mesmos e encontrar nosso caminho é não compreender até que ponto estamos cegos. Mas a tragédia está no fato de que não estamos conscientes de nossa cegueira. Vivemos num mundo de coisas que captam ou chamam nossa atenção e se impõem. O que é invisível, ao contrário, que não se impõe, nós devemos buscá-lo e descobri-lo. O mundo exterior pretende nossa atenção. Enquanto que Deus se dirige a nós com discrição.

 

Ser incapaz de perceber o invisível, ou ver somente o mundo da experiência significa ficar-se fora do mundo da experiência, significa ficar-se fora do pleno conhecimento, significa ficar-se fora da experiência da realidade total que é o mundo de Deus e Deus no coração do mundo.

 

Além de ser incapaz de perceber o invisível, o egoísmo reduz o homem a seus próprios desejos e interesses, lhe fecha os olhos e o coração, o paralisa à margem do caminho por onde percorre a vida. O homem que vegeta em seu egoísmo tem um coração demasiado estreito para acolher o próximo e demasiado estreito para receber Deus.

 

O encontro com o próximo é indispensável para o encontro com Deus, pois isto é o primeiro que cremos: que Deus se fez homem (Jo 1,14). Não é possível escutar a Palavra de Deus, se não estamos dispostos a escutar os homens. Por isso, a dificuldade da fé não é outra coisa que nosso próprio egoísmo, nossa auto-suficiência, porque a fé é abertura, encontro, aceitação.

           

O cego que voltou a ver é o símbolo de todos os homens que desejam ver, caminhar e viver. Sobretudo é um símbolo para todos em tempos de crise, de obscuridade, de desorientação. É um símbolo para o homem que, apesar de tudo, busca e continua buscando sua direção ou seu guia para sua vida. Junto ao homem que busca, Jesus passa como a Vida, a Luz e o Caminho para o homem. Com Jesus o homem se encontra consigo mesmo e com Deus que direciona a vida para sua plenitude. A fé em Jesus é uma luz que ilumina a vida. A luz da fé ilumina e dá sentido à nossa vida porque põe claridade na origem, de onde viemos e no término, no fim de nosso destino.

 

O cego não pede outra coisa a não ser a capacidade de enxergar de novo: “Senhor, que eu possa enxergar de novo”. A luz divina que opera nele não lhe permite ver outra coisa na vida a não ser o caminho que Jesus traçou que ele precisa trilhar para chegar à vida eterna.

 

E os nossos olhos servem para enxergar o caminho de Jesus ou para ver os defeitos dos outros? Quem enxerga apenas os defeitos dos outros é porque a luz divina ainda não operou na sua vida. Precisamos rezar com o cego mendigo: “Senhor que eu possa enxergar de novo!”.

 

P. Vitus Gustama,svd

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