VIVER COMO CRISTÃO É VIVER NA PERMAENENTE VIGILÂNCIA
I DOMINGO DO ADVENTO DO ANO “B”
Primeira Leitura: Is 63,16b-17.19b;64,2b-7
16b Senhor, tu és nosso Pai, nosso redentor; eterno é o teu nome. 17 Como nos deixaste andar longe de teus caminhos e endureceste nossos corações para não termos o teu temor? Por amor de teus servos, das tribos de tua herança, volta atrás. 19b Ah! Se rompesses os céus e descesses! As montanhas se desmanchariam diante de ti. 64,2b Desceste, pois, e as montanhas se derreteram diante de ti. 3 Nunca se ouviu dizer nem chegou aos ouvidos de ninguém, jamais olhos viram que um Deus, exceto tu, tenha feito tanto pelos que nele esperam. 4 Vens ao encontro de quem pratica a justiça com alegria, de quem se lembra de ti em teus caminhos. Tu te irritaste, porque nós pecamos; é nos caminhos de outrora que seremos salvos. 5 Todos nós nos tornamos imundície, e todas as nossas boas obras são como um pano sujo; murchamos todos como folhas, e nossas maldades empurram-nos como o vento. 6 Não há quem invoque teu nome, quem se levante para encontrar-se contigo; escondeste de nós tua face e nos entregaste à mercê da nossa maldade. 7 Assim mesmo, Senhor, tu és nosso pai, nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos.
Segunda Leitura: 1Cor 1,3-9
Irmãos: 3Para vós, graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. 4Dou graças a Deus sempre a vosso respeito, por causa da graça que Deus vos concedeu em Cristo Jesus: 5Nele fostes enriquecidos em tudo, em toda palavra e em todo conhecimento, 6à medida que o testemunho sobre Cristo se confirmou entre vós. 7Assim, não tendes falta de nenhum dom, vós que aguardais a revelação do Senhor nosso, Jesus Cristo. 8É ele também que vos dará perseverança em vosso procedimento irrepreensível, até ao fim, até ao dia de nosso Senhor, Jesus Cristo. 9Deus é fiel; por ele fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso.
Evangelho: Mc 13,33-37
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 33 Cuidado! Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento. 34 É como um homem que, ao partir para o estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo a cada um sua tarefa. E mandou o porteiro ficar vigiando. 35 Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem: à tarde, à meia-noite, de madrugada ou ao amanhecer. 36 Para que não suceda que, vindo de repente, ele vos encontre dormindo. 37O que vos digo, digo a todos: Vigiai!”
-------------------
I. ADVENTO
Estamos novamente no Tempo do Advento. O termo “advento” é cristão, mas de origem profana/pagã, pois significava chegada, vinda; aniversário de uma chegada, de uma vinda; ou visita oficial de uma personagem importante no tempo de sua posse. Nos escritos cristãos dos primeiros séculos (especialmente a partir do século IV) o termo tornou-se termo clássico para designar a vinda de Cristo.
O tempo do advento tem uma dupla característica:
1. É o tempo de preparação para a solenidade do Natal, em que se recorda a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens. O advento nos lembra a dimensão histórico-sacramental da salvação. O Advento é o tempo litúrgico no qual é lembrada a grande verdade da história como lugar da atuação do plano salvífico de Deus. Deus do Advento é o Deus da história, o Deus que veio plenamente para a salvação do homem em Jesus de Nazaré em que se revela a face do Pai (Jo 14,9). A história é o lugar da realização das promessas de Deus. Por isso, não apenas vivemos no kronos (tempo medido pelos segundo), mas também kairós, tempo da salvação de Deus, tempo da graça.
2. Simultaneamente o Advento é o tempo no qual, através desta recordação, o espírito é conduzido à espera da segunda vinda de Cristo no final dos tempos. O advento é o tempo litúrgico em que se evidencia fortemente a dimensão escatológica do mistério cristão. Estamos em permanente viagem rumo à casa do Pai. Cristo veio na nossa carne, manifestou-se e revelou-se como ressuscitado, depois da morte, aos apóstolos e às testemunhas previamente escolhidas por Deus (cf. At 10,40-42) e aparecerá glorioso no fim dos tempos (At 1,11). Os cristãos, na sua peregrinação terrena, vivem continuamente a tensão do já da salvação toda realizada em Cristo e o ainda não da sua realização plena em nós e de sua plena manifestação na volta gloriosa do Senhor juiz e salvador.
Por esta dupla característica, o tempo do advento se apresenta como um tempo da expectativa vigilante e alegre. A expectativa vigilante é acompanhada sempre pelo convite à alegria, pois o Senhor vem nos salvar. O Advento é tempo de expectativa alegre porque aquilo que se espera certamente acontecerá, pois Deus é fiel. Na palavra dos profetas do Antigo Testamento, a alegria caracteriza os tempos messiânicos.
No Advento, a Igreja toda também vive a sua grande esperança. O Advento é o tempo da esperança. O advento celebra o Deus da esperança (Rm 15,13) e vive a alegre esperança (cf. Rm 8,24s) com fé. A fé une o homem a Cristo, a esperança abre esta fé para o vasto futuro de Cristo. A fé transforma a esperança em confiança e certeza; e a esperança torna a fé ampla e lhe dá a vida. O Advento é o tempo litúrgico da grande educação para a esperança: uma esperança forte e paciente; uma esperança que aceita a hora da provação, da perseguição; uma esperança que confia no Senhor e liberta das impaciências subjetivistas.
O Advento também é o tempo de conversão. Não existe possibilidade de esperança e de alegria sem retornar ao Senhor de todo o coração, na expectativa de sua volta. A vigilância exige luta contra o torpor e a negligência; requer prontidão, e, portanto, desapego dos prazeres e bens terrenos (Cf. Lc 21,34ss) para dar lugar à graça de Deus. O cristão convertido a Deus é filho da luz. Consequentemente, ele permanecerá acordado e resistirá às trevas, símbolo do mal. São Paulo nos convida para despertarmos, para sairmos do sono e para estarmos preparados a fim de recebermos a salvação definitiva (Cf. Rm 13,11-14). A pregação de João Batista, que ressoa no texto do Evangelho do Segundo Domingo do Advento é apelo à conversão como uma forma de preparar o caminho do Senhor.
Em outras palavras, dentro da alegre esperança, os cristãos são chamados a viver algumas atitudes essenciais à expressão evangélica da vida: a espera vigilante e jubilosa, a esperança, e a conversão. Os cristãos podem acreditar em Deus de Jesus Cristo cegamente porque o Deus da revelação é o Deus da promessa que em Cristo manifestou a sua fidelidade ao homem (cf. 2Cor 1,20). Os cristãos vivem esta espera na vigilância e na alegria. Mas Deus que entra na história põe em causa o homem, questiona- o. Por isso, o tempo do advento, sobretudo através da pregação de João Batista, é o convite à conversão para preparar os caminhos do Senhor e acolher alegremente o Senhor que vem pois ele só traz a salvação.
O duplo caráter do Advento, que celebra a espera do Salvador na glória (Parusia) e a sua vinda na carne (Natal) emerge das leituras bíblicas festivas. O Primeiro Domingo orienta para a Parusia final. O Segundo e o Terceiro Domingo chamam a nossa atenção para a vinda cotidiana do Senhor. O Quarto Domingo do Advento preparar-nos para a natividade de Cristo.
1. O evangelho do PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO nos fala da segunda vinda do senhor e nos exorta à vigilância. Se o Reino dos céus está próximo, é necessário preparar os caminhos. Este domingo no relembra sobre a dimensão futura de nossa vida. Vivemos o presente mas sempre com o olhar posto no Senhor. A nossa vida é uma caminhada rumo à comunhão plena com Deus, nosso Criador. É necessário que estejamos preparados para acolher o reino que nos é oferecido todos os dias. Assim estaremos preparados para o encontro derradeiro com o Nosso Criador, Deus.
2. Por isso, o evangelho do SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO contém a pregação da penitência de João Batista, Precursor do Senhor. O pecado bloqueia o canal da graça para chegar até nós. O pecado faz o coração fechado diante da graça. Pecar significa dizer não a Deus. A penitência e a conversão fazem com que o coração esteja aberto novamente à graça de Deus, e, consequentemente, a graça de Deus não encontrará nenhum impedimento para entrar no nosso coração.
3. O TERCEIRO DOMINGO DO ADVENTO é conhecido por muitos como o domingo “GAUDETE” (alegra-te!). Se a graça de Deus estiver no nosso coração, então teremos motivos para ficar alegres. A graça sempre traz a alegria para nós. Por isso, este domingo nos convida a tomarmos parte na alegria do advento, pois Deus vem nos salvar (cf. Fl 4,4s). Deus vem para nos salvar porque com a nossa própria força humana não sairíamos de nossa condição de pecadores. O mistério de alegria nasce de Deus, é um dom, e por isso não se compra em nossos mercados nem se encontra em nossas salas de festa. A alegria brota de dentro e tem sua origem no Espírito Deus. Dois amores, quando estiverem juntos, são sempre felizes, onde quer que eles estejam. Seria blasfêmia apresentar Deus como inimigo da vida e da alegria. O homem foi criado para expandir-se na alegria e é, por isso, chamado por Deus para expandir a alegria. Um aspecto que logo nos chama a atenção são os paramentos róseos usados na missa (embora não seja obrigatório). Estes paramentos substituem o roxo severo dos domingos anteriores e assinalam a alegria antecipada do Natal. O evangelho do terceiro domingo do advento nos coloca diante da figura do Batista.
4. O QUARTO DOMINGO DO ADVENTO nos coloca no mais próximo da preparação para a festa do nascimento do Senhor ou anuncia a vinda iminente do Messias. Neste domingo aparece a figura de José, Maria, Isabel. Por isso, os textos próprios da missa são determinados por aqueles acontecimentos.
· No ano A o evangelho fala do conflito interior de José e da mensagem que o anjo lhe transmite, e segundo a qual ele deve receber Maria.
· Nos ciclos B e C leem-se as perícopes da Anunciação do Senhor (Lc 1,26-38) e da visita de Maria à sua parenta Isabel, onde Maria é proclamada feliz por causa de sua fé e entoa o Magnificat (Lc 1,39-47).
---------------------
Um Olhar Geral Sobre As Leituras Do Primeiro Domingo Do Advento
Com este Domingo iniciamos o ciclo B, ano em que acompanhamos a leitura e a meditação sobre o Evangelho de Marcos. Este domingo nos oferece o tema da salvação e sua desejosa espera como vínculo de união das leituras.
Na Primeira Leitura, nos encontramos com uma belíssima oração que expressa os sentimentos dos israelitas que voltavam gozosos para sua pátria depois do desterro (na Babilônia), mas que achavam a demora de Deus na sua intervenção: “Ah! Se rompesses os céus e descesses!”. Nesta petição há simultaneamente angústia por causa dos pecados cometidos e confiança na salvação oferecida por Deus. Há dor da realidade atual, mas há também esperança inquebrantável na promessa do Senhor.
A grande invocação do profeta Isaías (Is 63,19), que sintetiza muito bem a espera de Deus presente, antes de tudo, na história do povo de Israel da Bíblia, e no coração de todo homem, não foi pronunciada em vão. Deus escutará e descerá cinco séculos mais tarde encarnando-se no seio de uma Virgem chamada Maria de Nazaré.
A Primeira leitura de hoje, por um lado, põe em destaque o momento crítico em que vive a comunidade: o perigo dos ídolos e as divisões internas. Por outro lado, manifesta esta esperança enraizada e indestrutível: em meio de todas as coisas (enraizados em uma situação concreta), “Senhor, tu és nosso pai, nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos”.
No sofrimento mais intenso, na humilhação mais injusta, podem nascer os sentimentos mais puros e elevados. Do desamparo e da marginalização podem brotar plena confiança, ternura contagiante, humildade corajosa. São os efeitos das purificações necessárias, as noites dos sentidos ou do espírito.
No exílio babilônico, o povo judeu foi amplamente purificado. E no exílio esse povo aprendeu a crer e a ter esperança. No exílio, surgiram profetas magníficos e belíssimas orações. No exílio, eles encontraram Deus de uma maneira diferente.
Esta oração que ouvimos/lemos hoje respira em todas as suas palavras o perfume da humildade e da confiança e, sobretudo, do amor filial. O pai sabe muito bem como tratar o filho, mesmo que ele tenha sido rebelde. Como soa bem a repetida expressão "Tu és nosso Pai"! ou "Nós, o barro, você, o oleiro". E o desejo irreprimível: "Eu gostaria que você rasgasse o céu e descesse!" Não nos cansaremos de repetir este pedido: “Senhor, tu és nosso pai, nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos”. “Ah! Se rompesses os céus e descesses!”.
A Segunda Leitura, por sua parte, nos expõe que os Coríntios não careciam de nenhum dom. Todas as graças em Jesus Cristo são concedidas aos Coríntios. Além disso, pela graça de Deus, possuem o maior dos dons: a participação na vida de seu Filho Jesus Cristo. Deus é fiel. Isto é precisamente a salvação.
Esta salvação, segundo o Evangelho de hoje, tem lugar no sacrifício redentor de Cristo. E evangelho quer nos mostrar que nos encontramos entre a Primeira Vinda de Cristo na humildade de nossa carne, fazendo-se um de nós, e a vinda gloriosa de Cristo ao final dos temos, quando vier como juiz universal. Em outras palavras, o Senhor que estamos esperando no Natal é o Senhor que vai nos julgar no final dos tempos.
O tempo de nossa vida pode-se definir, portanto, como um tempo de espera, um tempo de anseio por ver a Deus cara a cara. Este tempo de espera, no Evangelho de Marcos, que lemos neste domingo se expressa com três atitudes:
A primeira atitude: estejamos atentos! Jesus Cristo nos convida a vivermos atentamente, isto é, nos convida a adotar uma atitude de reflexão, de recolhimento, de silêncio interior. Prestar atenção quer dizer concentrar-se numa realidade com toda a alma e dar unidade a todas as capacidades da pessoa humana. Um homem atento é um homem reflexivo e bem disposto para entrar em relação com Deus, com o próximo e consigo próprio. O oposto à atenção é a distração, tão comum em nosso mundo contemporâneo cheio de ruídos, de imagens e de sensações transitórias. Na distração se perde a unidade interior da pessoa, se perde a calma e a paz do coração. Um homem distraído dispersa suas capacidades. O perigo mais grave é o de viver distraídos diante do tema fundamental da vida: a preparação para a vinda de Cristo, Nosso Senhor ao final dos tempos, a preparação para a eternidade que está cada vez mais próxima.
A segunda atitude é VELAR. No original grego velar equivale a “ficar sem dormir”. A grande tentação é ficarmos dormindo em meio da noite. Na Bíblia, a noite é símbolo da ação do maligno que semeia o joio (Mt 13,24-30); é o tempo de sofrimento, da prova, dos ataques por surpresa; é o tempo da angústia diante da vinda do Filho do Homem. Quem não ficar acordado para tudo, será levado pela força do inimigo, pelos atrativos do mundo, pelas forças da paixão cega.
A terceira atitude é VIGILÂNCIA. No evangelho de hoje se repete duas vezes este verbo: Vigiai. É a ação do sentinela que tem que estar alerta, enquanto espera pacientemente a passagem do tempo noturno para ver surgir no horizonte a luz do sol. Estar vigilante significa discernir em meio da noite os sinais dos tempos; é ter um “sexto sentido” para descobrir aquilo que pode ofender minha fé, meu amor à Igreja, minha fidelidade à Palavra de Deus. o cristão deve viver com sentinela de esperança na noite do mundo. algo que deve caracterizar a vida do cristão é sua esperança gozosa no triunfo de Cristo sobre o mal e sobre o pecado.
Um Olhar Específico Sobre o Evangelho de Hoje
Mc 13,1-37, onde se encontra o texto evangélico deste domingo primeiro domingo do Advento do Ano litúrgico “B”, é conhecido como “Apocalipse de Marcos” ou “discurso escatológico”. É um discurso mais amplo de Jesus de todo o evangelho de Mc. Mc abre a seção com a admiração dos discípulos pelo esplendor do Templo(v.1), que recebe a resposta de Jesus sobre o desaparecimento iminente de todo esse esplendor(v.2). Por isso, surge a pergunta dos discípulos sobre o tempo em que tudo isso acontecerá e os sinais que anunciarão isso (vv. 3-4). Percebemos na sequência da narrativa que a pergunta não se faz a respeito da destruição do templo, e sim a respeito dos últimos dias, pois o discurso vai falar dos acontecimentos dos últimos dias e dos sinais que precederão, e não da destruição de Jerusalém e do templo.
Neste capítulo 13, Mc une diversas matérias: algumas são propriamente apocalípticas que descrevem os acontecimentos dos últimos dias e a atitude requerida perante os mesmos (vv.7-8.14-20.24-27; e outro bloco: vv.5-6.21-23); outras têm o tom de consolação e conforto para os cristãos nos momentos de perseguição(vv.9-13). E no fim do discurso encontram-se outras matérias diversas: a parábola da figueira(vv.28-29); o momento da Parusia (vv.30-32) e termina com a exortação para a vigilância(vv.33-37).
Apesar das matérias diversas, Mc consegue colocar todas elas dentro duma inclusão literária constituída pelos vv.5 e 37 que enfatiza a importância da vigilância. Na exortação inicial fala-se do perigo dos falsos messias que surgem sempre quando a sociedade passa por uma crise profunda o que leva a tomar uma atitude de vigilância(vv.5-6). E na última exortação fala-se da falsa segurança. Daí percebemos a intenção de Mc em alertar os cristãos para que estejam vigilantes constantemente, pois ninguém sabe quando chegará o “momento” (v.33). O que o mais importante, então, não é o momento em que isso acontecerá, e sim o que deve-se fazer para que ninguém se pegue de surpresa.
O ensinamento que nos oferece esta unidade narrativa tem como destinatários a um grupo restringido de discípulos (cf. Mc 13,3). Esta unidade se situa imediatamente antes dos acontecimentos da paixão e da morte de Jesus que pode nos induzir a pensar que nos encontramos diante de um discurso de despedida. Em seus últimos dias em Jerusalém, Jesus revelaria aos mais íntimos os sofrimentos e perigos que lhes aguardavam, exortando-lhes a fidelidade e a perseverança na missão que lhes havia confiada. Sem dúvida, neste discurso faltam as marcas características dos discursos de despedida (cf. Jo 13-17). Por isso, este discurso deve-se considerar muito mais como um discurso escatológico, do que um simples discurso de despedida, que com uma linguagem profético- apocalíptica, descreve a missão da comunidade cristã no período intermédio, isto é, no presente.
A
Mensagem Do Texto De Mc 13,33-37
Não é difícil descobrir o tema central do Evangelho deste Domingo: basta observar qual é a palavra que aparece mais vezes. É o verbo “vigiar” que em cinco versículos é repetido com uma insistência quase excessiva.
Por que temos que vigiar?
Jesus nos dá este motivo: “Prestai atenção, vigiai, pois não sabeis quando será o tempo/momento” (v.33). “Tempo” ou “momento” é uma tradução da palavra grega “kairós”. “Kairós” indica um tempo determinado e tem aqui uma conotação escatológica de tempo determinado por Deus para a vinda gloriosa do Cristo. Esse “tempo determinado” é desconhecido dos homens. Daí a necessidade de estar sempre vigilante à espera desse tempo determinado por Deus.
A exortação de Jesus à vigilância visa criar no nosso coração a atitude correta de quem deseja acolher o Senhor que vem ao nosso encontro. A exortação não fornece o temor e a angústia, pois, de fato, nós esperamos o que já temos garantido pela fé que é o fundamento de nossa esperança. E por sua vez, a esperança mantém e reaviva o nosso amor por Cristo que vem. Por isso, a espera cristã deve ser produtiva, alegre e serena.
Mas o que é vigiar?
Nos evangelhos sinóticos, a exortação à vigilância é a principal recomendação de Jesus a seus discípulos como conclusão do seu discurso escatológico. A vigilância caracteriza, portanto, a atitude do cristão/discípulo que espera e aguarda a volta do Senhor: ela consiste antes de tudo em manter-se em estado de alerta, e com isso mesmo exige o desprendimento dos prazeres e dos bens da terra (Lc 21,34ss). A Igreja é a assembleia que sempre deve estar em estado de vigilância, lendo a vinda do Senhor nos acontecimentos, para permitir-lhe um encontro feliz com o Senhor glorioso.
Concretamente podemos dizer que vigiar significa pôr em prática as palavra de Jesus, especialmente o mandamento do amor. Significa enfrentar a tentação do egoísmo, que nos leva a convencer-nos da inutilidade de fazer o bem. Significa acreditar que vale a pena lutar para construir o Reino de Deus, a exemplo de Jesus, num mundo onde a injustiça e a maldade parecem falar mais alto. Significa estar sempre disposto a perdoar e a se reconciliar, revertendo a espiral da violência que assume proporções sempre maiores. Significa ser capaz de detectar tudo quanto possa desviar nossa atenção do convite de Deus para o encontro definitivo com Ele. Significa estar vigilante no que se deve falar e no que não se deve: ser vigilante nos comentários, nos julgamentos etc....Vigiar é aprender a falar o necessário. É aprender a ficar em silêncio para avaliar as palavras soltas sem reflexão para não repeti-las novamente.
A vigilância é a atitude própria do amor que vela. O amor sempre mantém o coração alerta. A chegada de Cristo exclui todo temor, pois não há temor no amor. A vigilância nos ensina a ler a vinda do Senhor nos acontecimentos e nas pessoas.
Para manter este estado de vigilância é necessário lutar porque temos a tendência de vivermos de olhos cravados nas coisas da terra. O dono da casa, na parábola, é Jesus Cristo. Isto quer dizer que Ele é o sentido da nossa vida. É a razão de ser da Igreja. Trabalhemos para que na chegada do Senhor a justiça, a misericórdia, o perdão e obras de caridade estejam bem cultivados entre nós.
Mas a vigilância cristã é sempre perseverante e se alimenta da esperança. Por isso, a pessoa vigilante não se abate, ainda que a realidade seja desesperadora porque ele sabe em quem acredita: em Deus que transforma o impossível no possível. Um cristão vigilante sabe olhar para além da História do horizonte material e contemplá-la na perspectiva de Deus, segundo o ensinamento de Jesus. A vigilância permite o cristão descobrir nela uma lógica inacessível para quem não tem fé. Por isso, um cristão verdadeiro nunca será esmagado pelo peso da história e pela situação desesperadora.
Portanto, celebrar o Advento não significa celebrar só as coisas do passado, pois este Advento está sempre em andamento. É o Filho de Deus que continuamente visita e frequenta o coração daqueles que sabem crer, amar e esperar. Cristo está em contínuo advento, sempre e incansavelmente a caminho de nossa casa. E o lugar que Ele mais ambiciona é um coração convertido, que tenha a coragem de se “reformar” e de se abrir ao amor, à fraternidade, à justiça e ao perdão. Por isso, não tenhamos medo de oferecer-lhe nosso ódio, amargura, desapontamento, mágoa, rancor, tristeza, desespero etc. porque o Senhor se revela como AMOR. Só criando espaço para Cristo num coração convertido é que conseguiremos chegar à meta e Cristo virá morar conosco.
Por isso, o Advento é o tempo de purificação, de revermos nossa vida: nossos gestos, nosso lar pois é Deus que se aproxima. Mais do que de flores, de lâmpadas coloridas ou de pinheiros verdes, vamos enfeitar o nosso coração daquilo que não se encontra nas lojas: a paz e a alegria no lar e o amor no coração: o amor é uma “carta” aberta, um presente sem embalagem, pois o amor é a abertura para com os outros. Vamos fazer presépio vivo no nosso coração, um presépio construído com toda a sensibilidade, com a arte de amar, de perdoar, um presépio de carinho. E este presépio vivo dentro de nosso coração se expressa através de amor e de alegria nos cartões, nas cartas e nos telefonemas. Este presépio vivo dentro de nós deve ser eterno, não é preciso acabá-lo dentro de alguns dias durante o Natal. Temos uma vida para aperfeiçoá-la. Vamos fazer de nossa vida um eterno Natal de amor e de alegria.
Portanto, a palavra “vigiar” que aparece várias vezes no Evangelho deste primeiro Domingo do Advento é para a gente vigiar mesmo. Porque quando chega o Natal, as propagandas comerciais, a arrumação da casa e a preocupação dos cartões e dos presentes podem desviar nossa atenção do dono da festa: Jesus Cristo.
Que cada um de nós seja capaz de dizer e de viver esta frase: “Quero neste Natal ser rico por dentro. Não quero ter apenas embalagem, quero ter um coração como o de Cristo, cheio de amor e de justiça e de perdão.”
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário