terça-feira, 19 de janeiro de 2021

22/01/2021-Ser Apóstolo

SER APÓSTOLO DO SENHOR, NOSSO ETERNO SACERDOTE

Sexta-Feira da II Semana Comum

Primeira Leitura: Hb 8,6-13

Irmãos, 6 agora, Cristo possui um ministério superior. Pois ele é o mediador de uma aliança bem melhor, baseada em promessas melhores. 7 De fato, se a primeira aliança fosse sem defeito, não se procuraria estabelecer uma segunda. 8 Com efeito, Deus adverte: “Dias virão, diz o Senhor, em que concluirei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma nova aliança. 9 Não como a aliança que eu fiz com os seus pais, no dia em que os conduzi pela mão para fazê-los sair da terra do Egito. Pois eles não permaneceram fiéis à minha aliança; por isso, me desinteressei deles, diz o Senhor. 10 Eis a aliança que estabelecerei com o povo de Israel, depois daqueles dias – diz o Senhor: porei minhas leis na sua mente e as gravarei no seu coração, e serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. 11 Ninguém mais ensinará o seu próximo, e nem o seu irmão, dizendo: ‘Conhece o Senhor!’ Porque todos me conhecerão, desde o menor até o maior. 12 Porque terei misericórdia das suas faltas, e não me lembrarei mais dos seus pecados”. 13 Assim, ao falar de nova aliança, declarou velha a primeira. Ora, o que envelhece e se torna antiquado está prestes a desaparecer.

Evangelho: Mc 3,13-19

Naquele tempo, 13Jesus subiu ao monte e chamou os que ele quis. E foram até ele. 14Então Jesus designou Doze, para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar, 15com autoridade para expulsar os demônios. 16Designou, pois, os Doze: Simão, a quem deu o nome de Pedro; 17Tiago e João, filhos de Zebedeu, aos quais deu o nome de Boanerges, que quer dizerFilhos do trovão”; 18André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o cananeu, 19e Judas Iscariotes, aquele que depois o traiu.

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Novo Sacerdócio Da Nova Aliança De Jesus Cristo

Os capítulos 8 e 9 da Carta aos Hebreus formam a seção central da Carta onde o autor mostra a superioridade do sacerdócio de Cristo sobre o sacerdócio dos outros sacerdotes de origem terrena. O autor explica que o sacerdócio de Cristo não é de ordem terrena, pois na terra, Cristo nem mesmo seria um sacerdote e sim um simples “leigo” (Hb 8,4; Cf. 7,13-14). Por isso, se Cristo é sacerdote, não é com base em critérios de ordem humana ou terrena e sim em critérios particulares que o autor busca precisamente na vocação “celeste” de Jesus, isto é, em sua pertença ao mundo divino (Hb 8,1-5; Cf. Jo 3,13). Portanto, segundo o autor da Carta, o sacerdócio de Cristo não pode ser analisado com base nos critérios “terrenos”, habituais, como o sacerdócio da Primeira Aliança (AT). 

Os critérios elaborados para caracterizar o sacerdócio da Antiga Aliança (AT) e todo sacerdócio terreno, não podem ser aplicados para se discernir o sacerdócio de Cristo.

Há duas razões: primeira razão é que a Primeira Aliança não era perfeita: “De fato, se a primeira aliança fosse sem defeito, não se procuraria estabelecer uma segunda” (Hb 8,7). Há muitos defeitos entre os quais a desobediência que mereceu a desaprovação de Deus: “Com efeito, Deus adverte: Dias virão, diz o Senhor, em que concluirei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma nova aliança’” (Hb 8,8; Cf. Jr 31,30-33).

Segunda razão, o sacerdócio da nova aliança não se apoia mais sobre disposições exteriores e sim sobre um espirito difundido no coração mesmo de todo homem, seja no leigo seja no sacerdote, para que este possa assumir uma atitude pessoal e livre em face da vontade de Deus: “Ninguém mais ensinará o seu próximo, e nem o seu irmão, dizendo: ‘Conhece o Senhor!’ Porque todos me conhecerão, desde o menor até o maior. Porque terei misericórdia das suas faltas, e não me lembrarei mais dos seus pecados. (Hb 8,11-12). A presença do Espírito no coração de cada homem implica que a religião não será já uma religião de autoridade na qual um clero especializado anuncia, de fora para dentro, as normas queridas por Deus, pois cada qual tem acesso direto ao conhecimento de Deus: “Ninguém mais ensinará o seu próximo, e nem o seu irmão, dizendo: ‘Conhece o Senhor!’ Porque todos me conhecerão, desde o menor até o maior”. Mesmo sendo pecador, o homem não precisa mais recorrer a ritos exteriores de abluções ou a sacrifícios para obter sua reabilitação: o conhecimento de Deus implica arrependimento e perdão: “Porque todos me conhecerão, desde o menor até o maior”. Ao saber da vontade de Deus e ao reconhecer nossa vida fora da vontade de Deus surgem, então, no coração o arrependimento e o pedido de perdão.

Tudo isto equivale a dizer que Cristo extrai seu sacerdócio do Espírito de Deus que habita n´Ele: o Espírito que lhe proporciona o conhecimento perfeito da vontade de amor de seu Pai; um conhecimento que supõe obediência espontânea e livre, e também perdão dos pecados para toda a humanidade. Daqui é que Cristo exerce um ministério de ordem radicalmente novo que constitui sua mediação e seu sacerdócio: “Agora, Cristo possui um ministério superior. Pois ele é o mediador de uma aliança bem melhor, baseada em promessas melhores (Hb 8,6).

Para o autor da Carta aos Hebreus, a caducidade da Primeira Aliança fica demonstrada pelo mero fato de ter sido substituída. A antiga aliança foi gravada em pedra de Sinai. Mas seus resultado conduz a uma obediência externa, meramente legalista. Pelo contrário, a segunda aliança, cujo Mediador é Jesus Cristo, é toda ela interior. Com efeito, em Jesus, a vontade de Deus alcançou o desejo do homem. Por esta razão, os mandamentos não estão mais escritos em pedra e sim no coração de cada homem.

A base da nova aliança consiste no novo princípio determinante da aliança: o princípio da presença operante de Deus no coração humano, no próprio interior do homem para que possam ser cumpridas e obedecidas com gozo as exigências da nova aliança, baseada no conhecimento amoroso de Deus. 

Nós pertencemos ao “Novo Testamento” ou seja, à “Nova Aliança”. Se a Nova Aliança é toda ela interior, isto é, está escrito no coração, fica para nós a pergunta, será que, ao participarmos nossa liturgia, seguimos com a tentação do meramente exterior e ritualista, como a antiga aliança?

Na Eucaristia recebemos “o Sangue da Nova e eterna Aliança”. Não somente cremos em Jesus Cristo. Participamos da vida que nos comunica, primeiro em sua Palavra e logo no Sacramento de seu Corpo e seu Sangue. Consequentemente, ao longo da jornada, supõe-se que vivamos segundo o espirito desta Aliança.

O Evangelho e Suas Lições Para Nós

conhecemos a chamada ou vocação de Simão (Pedro), André, Tiago e João. Jesus os escolheu para convertê-los em pescadores de homens (cf. Mc 1,16-20). Em seguida, chamou Levi (Mc 2,13-14). No evangelho de hoje Marcos nos narra a instituição solene dos Doze. A eleição se faz entre os discípulos. Trata-se de um grupo que se distancia do grupo. Este grupo é chamado Apóstolos. São doze discípulos. Eles são testemunhas oculares de toda a vida de Jesus, são fundamento de nossa , pois estão unidos a Cristo pedra angular (Ef 2,20). E essa pedra angular faz visível no ministério de Pedro (cf. Mt 16,18-19). 

1. É Preciso Vivermos Os Valores Cristãos Para Ter Ampla Visão Sobre a Tudo Na Vida

Para a instituição dos Doze, Jesus escolheu um monte, um lugar solitário. É mesma coisa que ele fez quando terminou a jornada entusiasta em Cafarnaum (Mc 1,35), e depois que ele curou muitas pessoas: se retirou. Mas agora, Jesus não está . Seus discípulos estão com ele. 

Jesus subiu ao monte”. Um monte é expressão da proximidade com Deus, e é cenário das grandes revelações divinas (cf. Ex 19,20; 24,12; Nm 27,12; Dt 1,6-18). Monte é o lugar das grandes decisões, um lugar solitário propício para a oração, um lugar de amplos horizontes de onde se longe.

Jesus nos ensina a aprendermos a ampliar nosso horizonte. Para isso, temos que ter coragem de subir, de sair de nosso canto de sempre, sem medo. É aprender a ver a vida de maneira multiangular.  O conservador não tem futuro porque não aceita novidade e teme por aquilo que é novo. Mas o mundo continua mudando. O amor nos leva a termos uma visão ampla sobre o mundo, as pessoas, a vida e seus acontecimentos. Um coração que ama é capaz de penetrar até o âmago das coisas e chega até Deus. O amor nos assemelha com Deus, poisDeus é amor” (1Jo 4,8.16). “Quanto mais amas, mais alto tu sobes”, dizia Santo Agostinho. Quanto mais alto subimos, mais coisas nós veremos. O topo de uma montanha amplia nossa visão e vemos mais coisas.

2. A Vocação Pertence Ao Senhor: Características Da Vocação Do Senhor 

Jesus chamou os que ele quis”. Esta frase mostra que uma das características da vocação é a vontade soberana do Senhor. Ele chama os que ele quer.  A vocação é a do Senhor. Alguém pode querer ser discípulo íntimo do Senhor, mas tem que reconhecer que a vocação está na soberania do Senhor. Alguém pode estudar o curso de direito, por exemplo, mas não adianta se não tem vocação para ser advogado.

E eles foram até Jesus”. A segunda característica dessa vocação é a proximidade com Jesus. É viver na intimidade de Jesus, é pertencer a seu grupo. É refletir, rezar e trabalhar com Jesus. Quando Jesus estiver ausente fisicamente, um dia, eles terão que representá-Lo, fazê-Lo presente no mundo. O discípulo é o prolongamento do Senhor neste mundo. Jesus falará e agirá no mundo através de cada discípulo. Para isso, o discípulo precisa manter o contato com Jesus espiritualmente para que as mensagens não sejam manipuladas pelo interesse próprio.

 3. Para Ser Apóstolo É Preciso Estar, Primeiro, Com o Senhor

O evangelista Marcos sublinha, no seu relato, a finalidade da chamada ou da vocação dos Doze: para estar com Jesus. “Jesus designou Doze, para que ficassem com ele”. Depois para enviá-los a pregar, com autoridade para expulsar os demônios”. 

Isto quer nos dizer que aquele que quer ser discípulo ou aquele que quer ser enviado deve ter, primeiro, uma experiência pessoal com o Senhor, poisNão existe discípulo superior ao mestre, nem servo superior ao seu senhor” (Mt 10,24). O enviado deve conviver com Aquele que o envia e saber quais são Seus planos, Seus projetos, isto é, conhecer o plano de salvação de Deus sobre a humanidade para depois o enviado levar o mesmo adiante.

Não somente conhecer a vontade de Deus, mas reconhecer que ele mesmo é objeto dessa vontade salvífica. Conseqüentemente, ele não apenas desempenhará o papel como profeta (que anuncia e denuncia), mas também como testemunha do amor e da misericórdia de Deus. Quem vai em Nome de Jesus, não somente participa de Sua missão, mas também de Seu poder para vencer o mal. Assim, o enviado se converterá em prolongamento de Jesus na historia. Ele será o memorial do Senhor que continua salvando, libertando o homem de suas escravidões.

Aquele que não entrar numa relação de intimidade com o Senhor não pode sentir-se autorizado a proclamar o Evangelho de salvação aos demais, pois não são os meios humanos ou recursos puramente humanos e sim o Espírito Santo é que dá a eficácia necessária ao anúncio do Evangelho para que se converta em Palavra de Salvação para o mundo. A partir de viver unidos a Jesus Cristo pela , poderemos ver com Seus olhos o mundo e sua história.

Marcos resume em três pontos o discipulado: Estar com Jesus, Anunciar o Reino e Expulsar demônios.

Em primeiro lugar, compartilhar a vida com Jesus significa aprender diretamente de seu comportamento o queque fazer. Estar com Jesus não é simplesmente aprender o que ele fez para repeti-lo. Significa algo mais: adquirir seus critérios para ter a liberdade de fazer novas coisas, as que exigem cada tempo, cada lugar, cada cultura, cada nova história, porém sempre de acordo com o critério de Jesus. 

Em segundo lugar, há que dizer que o seguimento de Jesus não está pensado somente da individualidade. Trata-se de um projeto de humanização queque compartilhar com outros, que deve ser anunciado. Para isso, há que romper fronteiras e enfrentar novas circunstâncias histórico-culturais. A lista dos que “estiveram com Jesus” se abre com Pedro e se fecha com Judas. Pedro representa fidelidade apesar das fraquezas. Judas representa infidelidade. Pedro e Judas, símbolos de fidelidade e infidelidade, resumem a historia da Igreja e a historia pessoal de cada discípulo. O importante é que não cerremos nossa relação com Jesus com uma traição.

Em terceiro lugar, Jesus dá aos discípulos o poder de expulsar demônios. Esta figura tem uma carga teológica - cultural. Demônio era o símbolo onde se acumulava o negativo da história: enfermidade, injustiça, pecado, o poder de expulsar demônios não deve ser visto tanto como poder de fazer milagres e exorcismos e sim como a capacidade de humanizar o ser humano para aproximá-lo ao desenho original de ser a imagem mais fiel de Deus Pai.       

Os Doze cumpriram sua missão. Por causa dos missionários conhecemos Jesus. Não podemos deixar morrer na nossa mão está missão. Precisamos ser discípulos-missionários do Senhor.               

P. Vitus Gustama,svd

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