sábado, 16 de janeiro de 2021

20/01/2021- Cristo, o Sumo Sacerdote

SALVAÇÃO DO HOMEM ESTÁ ACIMA DA LEI E DA CRENÇA

Quarta-Feira da II Semana Comum

Primeira Leitura: Hb 7,1-3.15-17

Irmãos, 1 Melquisedec, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, saiu ao encontro de Abraão, quando esse regressava do combate contra os reis, e o abençoou. 2 Foi a ele que Abraão entregou o dízimo de tudo. E o seu nome significa, em primeiro lugar, “Rei de Justiça”; e, depois: “Rei de Salém”, o que quer dizer, “Rei da Paz”. 3 Sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem início de dias, nem fim de vida! É assim que ele se assemelha ao Filho de Deus e permanece sacerdote para sempre. 15 Isto se torna ainda mais evidente quando surge um outro sacerdote, semelhante a Melquisedec, 16 não em virtude de uma prescrição de ordem carnal, mas segundo a força de uma vida imperecível. 17 Pois diz o testemunho: “Tu és sacerdote para sempre na ordem de Melquisedec”.

Evangelho: Mc 3,1-6

Naquele tempo, 1Jesus entrou de novo na sinagoga. Havia ali um homem com a mão seca. 2Alguns o observavam para ver se haveria de curar em dia de sábado, para poderem acusá-lo. 3Jesus disse ao homem da mão seca: “Levanta-te e fica aqui no meio!”  4E perguntou-lhes: “É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?” Mas eles nada disseram. 5Jesus, então, olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração; e disse ao homem: “Estende a mão”. Ele a estendeu e a mão ficou curada. 6Ao saírem, os fariseus com os partidários de Herodes, imediatamente tramaram, contra Jesus, a maneira como haveriam de matá-lo.

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Jesus Cristo é Nosso Sacerdote Eterno e Nosso Irmão

Irmãos, Melquisedec, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, saiu ao encontro de Abraão, quando esse regressava do combate contra os reis, e o abençoou... Sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem início de dias, nem fim de vida! É assim que ele se assemelha ao Filho de Deus e permanece sacerdote para sempre” (Hb 7,1.3).

Hoje começamos a profundar a exposição cristológica da Carta aos Hebreus (Hb 7,1-10,18.  Pode também aprofundar este tema a partir de Hb 5,11-10,39 que fala de Jesus Cristo como Sumo Sacerdote). O tema central desta parte é o sacerdócio e o sacrifício de Jesus Cristo. Neste ponto, o escrito é absolutamente original; é o único do Novo Testamento que atribui a Jesus Cristo o título de sacerdote. O ponto de partida do pensamento da Carta é o gozosa mensagem da comunhão do homem com Deus por Jesus Cristo, superando assim o pecado e chegando à salvação. O autor da Carta expõe esta fé na chave cultual: a grande meta do homem é “aproximar-se” do Deus vivo para “dar-Lhe culto” e, assim, ser “purificado” do pecado e conseguir a “perfeição” por meio do “sacerdote, o Filho de Deus e Homem perfeito. 

O capítulo sete da Carta aos Hebreus é dedicado ao tema do sacerdócio. O autor encontra no Antigo Testamento um texto que lhe permite falar tanto do sacerdócio de Cristo como do antigo: “Javé jurou e jamais desmentirá: ‘Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec’” (Sl 110/109,4). A alusão a Melquisedec o conduz a Gn 14,18-20 (único texto histórico onde aparece este personagem: Melquisedec), passagem da qual faz uma leitura curiosa e profunda. O relato do Gn 14 não menciona nem o nascimento nem a morte do Melquisedec. Melquisedec é como “o homem de nenhuma parte ou lugar”. Assim, pois, Melquisedec não se conhecia nem pai, nem mãe nem genealogia. O sumo sacerdote parece participar da eternidade divina: se assemelha ao “Filho de Deus”, como se faz notar na Carta aos Hebreus. Com efeito, para o autor da Carta aos Hebreus, a ausência de descendência levítica e a perpetualidade do sacerdócio parecem ser os traços mais característicos do sacerdócio “novo estilo”.

Em resume: Este misterioso personagem (Melquisedec), que saiu ao encontro de Abrão (Gn 14) apresenta várias características que fazem seu sacerdócio muito distinto que logo seria o sacerdócio da herança da tribo de Levi. Melquisedec não tem genealogia, não constam quem são seus pais; não se indica o tempo: seu início ou seu final, que aponta para um sacerdócio duradouro; é rei de Salém, que significa “paz”; o nome de Melquisedec significa “justiça”; é sacerdote na era patriarcal, antes da constituição do sacerdócio da tribo de Levi. 

Tudo isto se aplica aqui a Cristo para indicar sua superioridade. Não é como os sacerdotes da tribo de Levi. Ele não herdou seu sacerdócio de uma família. Ele não tem princípio e fim, porque Ele é eterno. Ele é que nos traz a verdadeira paz e justiça.

Consequentemente, quando dizemos, como o Salmo 109: “Tu és sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedec”, queremos expressar esta singularidade de Jesus em sua missão de Mediador entre Deus e a humanidade, pois Jesus Cristo é sacerdote não segundo umas leis humanas e sim de um modo especial. Melquisedec aparece assim como figura e profecia de Cristo, o verdadeiro sacerdote que Deus nos enviou na plenitude dos tempos.

No regime antigo (AT), cada sacerdote era distinto. Agora, ao contrário, cada sacerdote celebra, e especialmente, consagra a Santíssima Eucaristia “em Pessoa de Cristo” (In Persona Christi), pois está claríssimo que nenhum ser humano, por si mesmo, tem potestade ou o poder próprio, para fazer possível a presença real de Cristo e de sua oferenda sobre o altar eucarístico. Neste aspecto, há que afirmar que o sacerdócio de Cristo não se “divide” em seus sacerdotes, nem “cessa” em uns sacerdotes para alcançar os outros como aconteceu no sacerdócio antigo (AT). Cada sacerdote, portanto, deve estar consciente de que ele celebra In Persona Christi para não transformar a celebração em “show” ou em pequeno teatro. Por isso, os paramentos usados na celebração têm seu próprio significado.

A Carta aos Hebreus nos ajuda a centrarmos nossa atenção neste Sumo Sacerdote que era, que é e que será: Jesus Cristo. Estamos gozosamente convencidos de que Jesus tem sido constituído Sacerdote e Mediador em ambas as direções. Porque é o Filho de Deus e é o Irmão dos homens, Ele nos traz, da parte de Deus, a salvação, o perdão, a Palavra, e Ele leva a Deus nossos louvores, petições e oferendas. Assim temos acesso à comunhão de vida com Deus.

Convém nos recordar esta relação entranhável que temos com Jesus Cristo. Toda bênção, toda palavra, todo perdão recebemos de Deus por Ele, com Ele e n´Ele. Assim como todo nosso louvor sobe ao Pai por Ele, com Ele e n´Ele, e assim também todas as nossas orações dirigimos a Deus “por Jesus Cristo, nosso Senhor”. Em Cristo Jesus, Sacerdote eterno, temos a salvação e a fonte de vida eterna. N´Ele fica apagada nossa culpa; n´Ele também participamos da Vida divina, e somos apresentados diante do Deus Pai como filhos seus. Não há graça maior do que tudo isso.

O Homem É Mais Sagrado Do Que Qualquer Lei Humana

O Reino de Deus propõe a reconstrução do ser humano de modo integral (de dentro e de fora). Nos evangelhos se simbolicamente que esta reconstrução vai sucedendo gradualmente: uma vez, a cura de sua vista, outra vez, de sua mão, ou transformar suas ações ressuscitar quem se encontra morto. Por isso, para Jesus deixar de fazer o bem no dia de sábado, negando uma cura para um pobre que necessita é pecar. Assim, a dinâmica do Reino também é exigente: se não reconstruirmos o homem, estaremos colaborando na sua destruição.

Continuamos ainda a acompanhar a controvérsia entre Jesus, de um lado, e os fariseus e os escribas, de outro lado. O tema da controvérsia ainda está em torno da observância do preceito de Sábado. Novamente Jesus quer manifestar sua convicção de que a lei do sábado está a serviço do homem e não o contrário. Por isso, diante de seus inimigos que espiam suas atuações Jesus cura o homem do braço paralisado. E Jesus o fez provocativamente dentro de uma sinagoga no dia de sábado.

O que tem o valor supremo: a lei ou o bem do homem e a glória de Deus? Esta é a questão nessa controvérsia. Em sua luta contra a mentalidade legalista dos fariseus, ontem Jesus disse: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado”. Hoje Jesus aplica o principio para um caso concreto contra a interpretação que alguns faziam que preocupados mais com uma lei minuciosa do que com o bem das pessoas, sobretudo, com os que sofrem. 

É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?”. Essa foi a pergunta de Jesus aos fariseus.  Como sabemos que o Sábado era um dos preceitos divinos mais claros e mais indiscutíveis. O Sábado era uma espécie de documento de identidade do Povo eleito. Sua observância estava rigidamente regulada. Algumas exceções eram admitidas por motivos de particular gravidade. Por exemplo, era permitido salvar a vida com a fuga, ajudar um homem em perigo ou uma mulher com dores de parto ou em caso de incêndio e assim por diante. Porém, de qualquer forma tratava-se sempre de exceções a uma regra.

Para Jesus, ao contrario, o que muda é a regra. A lei, sim, mas o legalismo, não. A lei é uma necessidade. Porém, atrás de cada lei deve respirar amor e respeito ao homem concreto. Atrás da letra está o espírito e o espírito deve prevalecer sobre a letra. Para Jesus o bem do homem está acima da observância do Sábado, e isso, não somente em caso de perigo de morte, mas em qualquer situação. “Portanto, é licito fazer o bem também no Sábado” (Mt 12,12b). Jesus proclama, assim, o valor absoluto do amor. Jesus recorda a todos que para Deus o mais importante é o homem, o bem do homem e não a regra por regra ou lei por lei. Não somente salvar a vida do homem e sim simplesmente fazer o bem a ele. A lei suprema da Igreja de Cristo são as pessoas, a salvação das pessoas. Se não a Igreja perderia sua razão de existir. A glória de Deus está sempre e unicamente no bem do homem. Não se trata de exaltar o homem constituindo-lhe centro das coisas. Mas trata-se de conhecer mais fundo o coração de Deus que ama o homem a ponto de enviar seu Filho unigênito a fim de que o homem seja salvo (Jo 3,16). O poder de Deus se manifesta no amor e nisto está sua honra. Para Jesus a observância do Sábado deve celebrar esse amor fraterno e não desmenti-lo nem negá-lo. Assim, mais uma vez, Jesus quer manifestar sua maneira de viver de que a lei do sábado está a serviço do homem e não o contrário.

“Havia, na Sinagoga, um homem com a mão seca. ‘Estende a mão, disse Jesus. O homem com a mão seca a estendeu e a mão ficou curada”, assim relatou o evangelista Marcos. Na antropologia bíblica, a mão está carregada de simbolismo. A mão está ligada à ideia de força e de poder. Estar na mão do outro significa estar sob o seu poder. A mão direita era sinal de força, de sabedoria e de fidelidade. Como rezamos no Credo: Jesus “ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus; está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso...”. Isto quer dizer que Jesus mostrou sua fidelidade à vontade de Deus Pai até o fim. a mão esquerda era sinal de fraqueza, de ignorância e de desgraça.

O homem do texto do evangelho de hoje está com a mão seca. É um homem sem iniciativa e incapaz de lutar por seus direitos, e por isso, é uma vitima da desumanização. Jesus é Deus que salva. Por isso, ele toma iniciativa para curar o homem a fim de humanizá-lo novamente. Com a mão curada, o homem volta a ter aptidão para fazer o bem. Ao colocar o homem no meio das pessoas, Jesus quer recordar a todos que qualquer pessoa deve ser respeitada, protegida, defendida, levada em consideração acima de qualquer lei por sagrada que ela pareça ser e acima de qualquer crença. Toda religião deve se preocupar com a salvação do homem e não com a salvação de umas regras.

Jesus quer nos relembrar que nenhuma religião ou nenhuma prática religiosa pode impedir o encontro fraterno e a vivência do amor e do respeito mútuos nem pode impedir serviço solidário. Ao contrário, os que praticam religião devem ter cada vez a sensibilidade humana, devem ser mais humanos e irmãos para com os demais. A passagem para chegar ate Deus passa necessariamente pelo irmão. O próximo é a passagem obrigatória para chegar ao céu. Qualquer um pode não encontrar Deus, mas não tem como não se cruzar com o próximo. O próximo é ocasião de salvação para mim como também sou uma ocasião de salvação para o outro. No sentido bíblico, será que minha mão, sua mão está paralisada? O que deve se fazer para deixar de ficar paralisada?

P. Vitus Gustama,svd

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