quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

11/01/2021: Seguir a Jesus

É PRECISO CAMINHAR ATRÁS DE JESUS, POIS ELE É A PALAVRA DIVINA

Segunda-Feira da I Semana Comum

Primeira Leitura: Hb 1,1-6

1 Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; 2 nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo. 3 Este é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser. Ele sustenta o universo com o poder de sua palavra. Tendo feito a purificação dos pecados, ele sentou-se à direita da majestade divina, nas alturas. 4 Ele foi posto tanto acima dos anjos quanto o nome que ele herdou supera o nome deles. 5 De fato, a qual dos anjos Deus disse alguma vez: “Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei?” Ou ainda: “Eu serei para ele um Pai e ele será para mim um Filho?” 6 Mas, quando faz entrar o Primogênito no mundo, Deus diz: “Todos os anjos devem adorá-lo!”

Evangelho: Mc 1,14-20

14 Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: 15 “O tempo se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!” 16 E, passando à beira do mar da Galileia, Jesus viu Simão e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. 17 Jesus lhes disse: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”. 18 E eles, deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus. 19 Caminhando mais um pouco, viu também Tiago e João, filhos de Zebedeu. Estavam na barca, consertando as redes; 20 e logo os chamou. Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados, e partiram, seguindo Jesus.

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1. Jesus Cristo É a Palavra Divina Que Nos Salva

Durante quatro semanas leremos, a partir de hoje, no Ano Ímpar, a Carta ao Hebreus. Esta Carta cujo autor desconhecemos (mesmo que esteja seguro de que está inspirada na doutrina de são Paulo) e que se considera escrita em torno dos anos 67 e é dirigida aos cristãos provenientes do judaísmo. Toda a Carta lhes exorta a perseverarem e lhes mostrando que Jesus é superior a Moisés e aos demais profetas antigos e aos próprios anjos. É superior aos sacerdotes do Antigo Testamento e faz inúteis os sacrifícios de antes. Jesus Cristo, em pessoa, é o Sacerdote e o sacrifício e o templo e o profeta. Portanto, não terão que alimentar nenhum tipo de nostalgia do passado. Tudo que se relaciona com o Antigo Testamento é sombra e promessa de Cristo Jesus. Vale a pena manter-se fieis na fé cristã, apesar do cansaço ou das perseguições. 

O texto da Primeira Leitura de hoje nos introduz diretamente, sem demasiados preâmbulos, ao mistério mais profundo de Cristo, o Senhor glorificado: “O Filho” “Herdeiro de tudo” que nos revela quem é Deus (“reflexo da glória de Deus”), que sustenta o universo com sua palavra poderosa, superior aos anjos e que realizou a purificação dos pecados com sua morte e ressurreição que agora está sentado à direita de Deus.

De certa forma, pode-se dizer que estes versículos iniciais servem como resumo de tudo o que o autor vai dizer ao longo da Carta. Desde logo, é um salto notável da perspectiva recente do Menino nascido no Natal até esta cristologia tão densa e profunda.

Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo” (Hb 1,1-2), assim lemos no texto da Primeira Leitura. 

Este texto tirado da Carta ao Hebreus, que lemos na Primeira Leitura, alude à história da Palavra de Deus na antiga Aliança, mas que se centra na glorificação de Jesus. Ele nos trouxe a mensagem da salvação e nos abriu o caminho para chegar a Deus. No Filho, isto é, em Jesus, se compendiam e se complementam todas as intervenções salvíficas precedentes. 

O texto também sublinha a superioridade de Jesus em relação aos anjos que eram para os judeus mediadores da revelação. Deus intervém no mundo por meio da Palavra. Por meio da Palavra criou o céu (Gn 1) e se revela aos homens (Hb 1). Se o homem é palavra, comunicação, é porque primeiro Deus é Palavra (Jo 1,1-18). Se o homem existe é porque esta Palavra o chamou e o mantém na existência.

Palavra de Deus foi também a Aliança. No Sinai Deus se revela, mas permanece inacessível. A revelação de Sinai, em forma de palavra (decálogo = Dez palavras), será o tipo de todo encontro do homem com Deus. Deus é “esta Palavra” (Dt 4) que ressoa no monte e que Israel escuta. É esta palavra que ressoa em todo momento. 

A encarnação é uma nova revelação da Palavra, superior às precedentes. A Palavra criadora e salvadora tem em Cristo seu centro, pois Cristo é a “Palavra que se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Criação e história encontram sentido n´Ele. A Palavra feita carne se converte em voz que suplica ao Pai, em boca de nossa natureza, para gritar a Deus a necessidade que o homem tem de salvação e redenção. 

Para o homem, falar é também viver. Pela palavra ele dá sentido às coisas e ao mundo. Por meio da palavra se faz homem, ao receber dos outros o significado dos vocábulos, dos seres e da realidade. O homem fala e dá forma ao mundo. O homem nasce em um mundo em que se fala. E ao longo de sua vida, o homem se arriscará a falar do que vive, do que sente e do que é, sem chegar nunca a esgotar a palavra capaz de expressar, relativamente, a totalidade de sua existência. Por isso, para o homem, falar é viver. Também para Deus falar é viver. Desde o princípio, Deus existe falando. Deus é diálogo em seu próprio ser: Pai e Filho, palavra em concordância tal que suscita uma mesma respiração, o Espirito. Para Deus, de certa forma, existir é falar, é dialogar. A Santíssima Trindade é o eterno diálogo do amor, no amor e por amor. 

Deus sempre nos dirige sua Palavra em todos os momentos de nossa vida. Nosso Deus não é um Deus mudo; Ele não se fecha em Si mesmo. Ele sai da Si e nos fala. Basta pararmos para escutar e decifrar seu significado. Isto significa que Deus está sempre próximo de nós. Ele sai de si e nos fala. Em Jesus Cristo sua Palavra chegou à plenitude. Nós cristãos temos uma missão de ser palavra que fortalece, consola, guia, corrige, alerta e assim por diante, pois somos seguidores da Palavra Divina. Nossas palavras devem fazer os outros viverem bem. Nossas palavras jamais podem destruir a dignidade dos outros. 

2. Deus Busca Os últimos

 

Terminada a atividade de João Batista que representa o fim do tempo de Moisés (Lei) e dos Profetas, começa a atividade de Jesus que é o início da nova época do relacionamento de Deus com a humanidade. Jesus começa sua atividade na Galileia. A Galileia era considerada pelos rabinos de Jerusalém como um lugar onde a obediência à Lei (Torah) não era tão exata, e também era um lugar onde acontecia o contato com os pagãos que causou o sincretismo religioso. E Jesus escolheu a Galileia como o centro de sua missão salvífica (cf. Mc 1,16.28.39;3,7;7,31;9,30). 

Quando começa sua missão, Jesus se dirige à Galileia, região campesina de gente pobre; não se dirige a Jerusalém, centro político e espiritual de Palestina e do judaísmo. Ele se dirige aos últimos, aos explorados por um sistema político a serviço do governo romano, por um sistema militar que oprime e explora o povo empobrecido mediante a cobrança de tributo para o império, por um sistema religioso que justifica a situação presente em nome de Deus.

O Deus de Jesus Cristo é realmente um Deus de surpresa, pois ele vai na direção em que o homem nunca pensou em  trilhar. Os conterrâneos desprezavam a Galileia e Jesus a escolheu como o centro de sua missão. E nós, seguidores de Jesus, temos que andar atrás do Mestre e que muitas vezes não sabemos para onde ele vai nos levar, pois ele apenas nos diz: “Segue-me!”, mas não devemos ter medo de Ele nos levar para onde ele quer ou quiser, pois ele é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6). Podemos encontrar cruz ou cruzes no caminho, mas sendo Jesus na nossa frente, as cruzes se transformarão em ressurreição, isto é, em uma vida gloriosa. 

3. Deus Quer Nos Encontrar No Nosso Lugar

Nessa região pobre é que ele chama seus parceiros, seus primeiros discípulos. Jesus não se encontra com o homem em uma esfera particularmente religiosa ou privilegiada de algum modo e sim na beira do Lago onde vive verdadeiramente o homem, na vida cotidiana.          

O “lago” é o lugar no qual vivem as pessoas da Galileia e ali é que elas trabalham para buscar o seu sustento. Certamente Jesus procura e encontra o povo ou cada um de nós em sua própria situação e lugar. E Jesus chama cada um de nós a segui-lo ali onde se encontra, na própria situação concreta. Ele apresenta a cada um o convite ali onde se encontra, numa situação comum, honesta e honrada como aquela dos pescadores ou, então, numa situação desonrada e moralmente difícil como aquela do cobrador dos impostos, como Levi (cf. Mc 2,14) etc.         

Se Jesus quer encontrar cada um de nós ali onde se encontra, vamos ficar, então, no nosso lugar. Como as letras de um canto que dizem: “Quando Jesus passar eu quero estar no meu lugar”. Se eu não ocupar meu lugar, por simples que ele seja, ele não vai me encontrar. Consequentemente surge uma pergunta para mim: “Onde está o meu lugar?”.

4. Deus Chama Para a Conversão E a Fé 

Para podermos seguir a Jesus e levarmos adiante seus ensinamentos é necessário nos converter: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos, e crede no Evangelho!”. 

O Reino de Deus é a soberania de Deus, porém no sentido de compaixão e de salvação. Deus é soberano no sentido de amor, pois Ele é amor (Cf. 1Jo 4,8.16). Como Amor por excelência Deus não admite o ódio, a exclusão, a discriminação, a marginalização e desvalorização do ser humano.

Para uma mudança de mentalidade e do modo de viver e conviver dignamente é preciso ter fé e conversão: “Convertei-vos, e crede no Evangelho!”. Converter-se significa literalmente tomar uma direção de salvação, mudar de rumo onde se encontra a humanidade para assumi-la como algo divino, pois foi o próprio Deus que a criou. Consequentemente converter-se significa não ficar onde se está e como está; é esforçar-se para chegar a ser o que se deve ser. Para se tornar divino o homem precisa ser muito humano, muito irmão dos outros homens. É permitir que Deus seja Deus e o homem seja homem. Quando houver este reconhecimento, não haverá nenhum espaço no homem para a auto-suficiência. Com este reconhecimento o homem abandonará o egoísmo e a rivalidade fatal para começar a abraçar a humanidade querida por Deus.

Além da conversão, o que se exige é fé. A fé significa estar com Deus, fazer tudo conforme o mandamento de Deus que se resume no amor fraterno; é abertura e disposição para viver de acordo com a vontade de Deus que é a própria salvação do homem. estando com Deus, aconteça o que acontecer, o homem vencerá todos os obstáculos cedo ou tarde, pois Deus pode tardar, mas jamais falha, pois Ele é a própria Sabedoria que conhece profundamente cada criatura Sua.

5. Deus Precisa De Cada Um De Nós Como Parceiro Do Bem

“Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”. Esta frase é dirigida para os primeiros discípulos do Senhor: Simão e André, seu irmão; e Tiago e João, filhos de Zebedeu. Todos são pescadores. O que se sublinha no chamamento é o aspecto pessoal: através de um colóquio familiar. Jesus Simão e André, Tiago e João e aproxima-se deles familiarmente, fala com eles e os chama. Ele faz lhes ouvir aquela palavra de esperança e de confiança que é o chamado a segui-lo. Jesus não se encontra com o homem para dirigir-lhe o convite numa esfera particularmente religiosa ou privilegiada de algum modo, e sim na beira do lago onde vive verdadeiramente o homem, na vida cotidiana: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”.

A chamada de Cristo para segui-Lo exige uma separação. Não se trata de deixar as redes ou um trabalho. Trata-se de deixar riquezas (cf. Mc 10,21), de abandonar o caminho de domínio e de poder onde são defendidos os privilégios com toda a força de quem os tem (cf. Mc 8,34). 

Seguir Jesus significa servir, dar a vida comoresgate”, o mesmo que Jesus fez por nós; é solidarizar-se com os homens e assumir nossa responsabilidade, como um parente que paga a fiança para obter a liberdade de seus irmãos; é não tomar distância dos que necessitam de nossa ajuda; é sentir-se afetado pelo sofrimento alheio. Isso é significativo para compreendermos o significado do seguimento que, em primeiro lugar, não está a doutrina e sim, uma pessoa e um projeto de existência. No seguimento evangélico, o fato essencial é a pessoa de Jesus. Unicamente Ele é quemforma e conteúdo para a relação com os discípulos-seguidores. Numa escola rabínica é a doutrina que ocupa o primeiro lugar. Os discípulos se unem ao rabino porque busca sua doutrina e quer converter-se em mestre. O discípulo evangélico, por sua vez, renuncia a tudo para seguir Jesus e compartilhar seu destino. Por isso, ser discípulo de Jesus é uma condição permanente. O abandono confiante a Jesus é necessário para poder percorrer o caminho em direção ao conhecimento da vida e do mistério de Jesus.          

Simão e André abandonam imediatamente sua forma de vida anterior. E Tiago e João desvinculam-se da tradição (o pai) e do ambiente social (os dois têm nomes hebraicos). Não é fácil abandonar um hábito ou modo de viver para assumir um outro novo modo de viver. Somos, normalmente, resistentes diante do novo por causa da insegurança e por causa dos hábitos enraizados. Mas a vida é um êxodo, é uma caminhada, é uma peregrinação. A vida é sempre para frente e cheia de surpresas de Deus. É preciso caminhar para ver mais, aprender mais e crescer mais.

Os primeiros discípulos abandonaram imediatamente tudo depois que ouviram o convite de Jesus: “Eles, deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus”. Jesus não é um Mestre que ensina sentado em sua cátedra. Jesus é um Mestre que caminha na frente. Os discípulos não são tanto os que aprendem coisas de Jesus e sim os que O seguem, os que caminham com Jesus. É mais importante a pessoa do que a doutrina.

Eles, deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus”. Isso nos mostra uma boa disposição daqueles pescadores. Às vezes, os laços de parentesco (são irmãos) ou sociais (os quatro primeiros discípulos são pescadores) ou alguma posição social de privilégio (o pai dos irmãos Tiago e João) tem também sua influência na vocação e no seguimento. Logo irão madurecendo-se, mas desde agora manifestam uma e uma entrega total à causa de Jesus. A exemplo dos quatro primeiros discípulos somos convidados a escutar Jesus, nosso autêntico Mestre, pois Ele tem algo para nos dizer e para o levarmos adiante. É a escola de Jesus, o verdadeiro Evangelizador.    

Os primeiros discípulos abandonaram imediatamente tudo depois que ouviram o convite de Jesus. Para nós isto significa que em cada momento em que a Boa Nova nos é oferecida, Jesus nos convida a segui-Lo e ao mesmo tempo nos dá o poder de começar a nova caminhada. Isto requer a conversão, pois sem ela não há boa notícia.         

Seguir significa recorrer o caminho do Mestre, realizar seus gestos preferidos. Mais uma vez, seguir significa servir, dar a vida pelo bem dos outros, assumir todas as responsabilidades que Cristo deixou. E no seguimento evangélico o fato essencial é a pessoa de Jesus e seu projeto de vida: vida para todos (cf. Jo 10,10). A mensagem de Jesus não nos deixa indiferentes. Ele quer que tomemos uma posição radical permanentemente. O seguimento determina nossas opções de cada dia, nossas escolhas na vida, nossas decisões. Ser discípulo é uma coisa séria e permanente.

P. Vitus Gustama,svd

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