domingo, 31 de janeiro de 2021

03 de Fevereiro de 2021

DEUS ESTÁ NO NOSSO COTIDIANO: ESTEJAMOS ATENTOS E HUMILDES PARA RECONHECÊ-LO

Quarta-Feira Da IV Semana Comum

Primeira Leitura: Hb 12,4-7.11-15

Irmãos, 4 vós ainda não resististes até o sangue na vossa luta contra o pecado, 5 e já esquecestes as palavras de encorajamento que vos foram dirigidas como a filhos: “Meu filho, não desprezes a educação do Senhor, não desanimes quando ele te repreende; 6 pois o Senhor corrige a quem ele ama e castiga a quem aceita como filho”. 7 É para a vossa educação que sofreis, e é como filhos que Deus vos trata. Pois qual é o filho a quem o pai não corrige? 11 No momento mesmo, nenhuma correção parece alegrar, mas causa dor. Depois, porém, produz um fruto de paz e de justiça para aqueles que nela foram exercitados. 12 Portanto, “firmai as mãos cansadas e os joelhos enfraquecidos; 13 acertai os passos dos vossos pés”, para que não se extravie o que é manco, mas antes seja curado. 14 Procurai a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor; 15 cuidai para que ninguém abandone a graça de Deus. Que nenhuma raiz venenosa cresça no meio de vós, tumultuando e contaminando a comunidade.

Evangelho: Mc 6,1-6

Naquele tempo, 1 Jesus foi a Nazaré, sua terra, e seus discípulos o acompanharam. 2 Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga. Muitos que o escutavam ficavam admirados e diziam: “De onde recebeu ele tudo isto? Como conseguiu tanta sabedoria? E esses grandes milagres que são realizados por suas mãos? 3 Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de Joset, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?” E ficaram escandalizados por causa dele. 4 Jesus lhes dizia: “Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares”. 5 E ali não pôde fazer milagre algum. Apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos. 6 E admirou-se com a falta de fé deles. Jesus percorria os povoados das redondezas, ensinando.

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Provas e Correções Servem Para Nosso Crescimento e  Maturidade

É para a vossa educação que sofreis, e é como filhos que Deus vos trata. Pois qual é o filho a quem o pai não corrige? O Senhor corrige a quem ele ama, e castiga a quem aceita como filho”, escreveu o autor para os Hebreus. 

É para a vossa educação que sofreis, e é como filhos que Deus vos trata”. O sofrimento não deve ser considerado um castigo de Deus (Cf. Jo 9,1-3) e sim como algo medicinal, pedagógico, como um caminho ou ocasião para aprender a ciência mais importante: a ciência de viver. As provas e os sofrimentos para nós são vantajosos, porque nos corrigem, e neste sentido são prova da solicitude de Deus para conosco. As provas nos aperfeiçoam, nos transformam ao sabermos aprender deles. Por esta transformação interior vamos nos tornando capazes de acolher o Deus Santo no nosso coração. As provas e os sofrimentos fazem parte do caminho de crescimento.

"Aceite a correção, porque Deus trata você como filho!". Muitas vezes os profetas compararam a atitude de Deus com a de um educador que guia seu povo para a idade adulta, não apenas através do ensinamento, mas também com repreensões e até com correções. Essa linguagem, própria, por exemplo, dos escritores deuteronomistas, hoje tem o perigo de ser mal interpretada. No entanto, não é uma boa parte da experiência humana contida nela? Por um lado, as provas são uma realidade que estão aí, na nossa vida cotidiana. Quem é que não passou alguma vez por uma prova ou por um erro ou falha na vida? Por outro lado, o homem não adquire maturidade quando supera essas provas? Crescemos na sabedoria também por causa das provas na vida cotidiana. Os nossos erros também aceleram nosso crescimento e maturidade quando sabemos aproveitá-los. Nossa experiência nesta vida é um composto de muitas lições, lições que facilitam nosso crescimento espiritual, profissional e social. Acreditamos que nem todas as lições são fáceis ou agradáveis à primeira vista, porém as recompensas que obteremos delas serão muito grandes se soubermos aprender com elas. 

O autor se baseia em um argumento tomado dos Provérbios (Hb 12, 5-7): os rabinos costumavam corrigir seus discípulos severamente, o que não os impedia de serem chamados de "filhos" (Eclo 23,2; Provérbios 3,11-12; 13,24; 23,12-14). “Não poupes ao menino a correção: se tu castigares com a vara, ele não morrerá; castigando-o com a vara, salvarás sua vida da morada dos mortos” (Pr 23,13-14). As antigas tradições talmúdicas registram essas correções nos meios rabínicos. 

Mas estas duas imagens (a paternidade dos pais da família e a dos rabinos) contêm uma ideia mais profunda: se Deus corrige seus "filhos" (Hb 12,8), é porque ele vê neles seu próprio Filho crucificado (Hb 12,10: "para nos tornar participantes da santidade" adquiridos por Cristo). Portanto, Deus não é um padrasto: quando ele “castiga”, não é por sadismo, e sim em nome da mais alta forma de amor: o ágape, e uma expressão da acolhida amorosa em sua presença: “pois o Senhor corrige a quem ele ama e castiga a quem aceita como filho” (Hb 12,6). 

Com grande confiança no amor de Deus é que o magnífico Salmo Responsorial de hoje destaca (Sl 102): “O amor do Senhor Deus por quem o teme é de sempre e perdura para sempre; e também sua justiça se estende por gerações até os filhos de seus filhos, aos que guardam fielmente sua Aliança. Como um pai se compadece de seus filhos, o Senhor tem compaixão dos que o temem”. 

Esta ideia da correção paterna é bastante original no Novo Testamento. O autor da Carta aos Hebreus a introduz apelando para a experiência comum: cada um teve um pai que, com certa frequência, nos castigou duramente; e nesse momento a correção parecia injusta e difícil de suportar, porém mais tarde se revela benéfica e justa: “No momento mesmo, nenhuma correção parece alegrar, mas causa dor. Depois, porém, produz um fruto de paz e de justiça para aqueles que nela foram exercitados” (Hb 12,12). Há coisas ou experiências que não entendemos seu sentido no momento, porém mais tarde conseguiremos entender seu significado para nossa vida e nosso crescimento (cf. Jo 13,7). Quantos erros que cometemos que aceleraram nosso crescimento e sabedoria!

As provas nos ajudam a descobrirmos valores ocultos que uma vida demasiada fácil ou superficial não nos permite descobrir. 

Segundo são Paulo na Carta aos Éfesos, essas provas e correções contribuem para formar o “Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4,13). 

No Cotidiano Encontra-Se o Divino

Até agora o número de pessoas que recorrem a Jesus fica cada vez maior. Essas pessoas vêm de toda parte da Palestina, inclusive do território pagão (Mc 3,7-8). As pessoas se reúnem em torno de Jesus a ponto de Jesus e seus discípulos não terem tempo nem para comer (Mc 3,20). Eram tão numerosas essas pessoas que faz Jesus subir a uma barca para ensinar (Mc 4,1). Que pensam de Jesus todas essas pessoas? Quem é Jesus para elas? Será que elas creem nele? O que elas creem nele? O Evangelho não nos dá nenhuma resposta explícita para essas perguntas. Percebemos apenas o entusiasmo e a admiração do povo sobre o ensinamento de Jesus (Mc 1,27). 

Agora Jesus está de volta para sua terra, Nazaré. Mais ou menos durante trinta anos vivendo em Nazaré, convivendo com as pessoas comuns de Nazaré, vivendo com elas e Ele era tão comum como seus conterrâneos. Mais ou menos trinta anos mantendo-se tão semelhante àquele povo que não se notava diferença alguma entre Ele e Tiago, José, Judas ou Simão. Mais ou menos durante trinta anos morando num lugar desconhecido e desprezado. Até um dos futuros discípulos de Jesus, Natanael, lançará esta pergunta: “De Nazaré pode sair algo de bom?” (Jo 1,46). Jesus está de volta para Nazaré depois que instituiu os Doze (Mc 3,13-19). Ele volta para suas raízes antes de continuar sua missão itinerante. Agora é a hora de se manifestar e de receber o juízo de seu povo sobre ele. O que pensa o povo de Nazaré sobre Jesus? Quem é Jesus para seus conterrâneos? Será que Deus tem um aspecto tão humano? Será que é possível Deus estar tão próximo dos homens comuns como os de Nazaré? Será que Deus não pode estar tão perto dos homens no seu dia a dia como em Nazaré? Ou onde está Deus? Onde Deus habita? Para o povo, onde Deus mora? Onde fica Sua morada? 

É preciso abrir os olhos e a mente, e deixar o coração aberto para poder experimentar Deus e sentir Sua presença no cotidiano, no aspecto cotidiano da vida. Deus está aqui e agora. Sinta e experimente Sua presença! Aprenda a saborear o momento, mesmo que ele não dure para sempre. Há momentos de nossas vidas que podem ser eternos mesmo que não sejam permanentes, por causa da presença da própria eternidade que é Deus. Deus estar presente permanentemente como o silêncio está sempre presente, mas somos nós que preenchemos o silêncio com barulho. Assim que o barulho cessar o silêncio volta a reinar novamente o ambiente. Deus sempre nos surpreende, porque na sua atuação ele não tem esquemas prévios, métodos preestabelecidos, lógica precisa ou raciocínio bem lógico. Pode desistir de uma lógica, mas não desista da vida cuja origem está em Deus! Deus está sempre acima de nosso raciocínio, “Pois meus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir não é meu” diz o Senhor (Is 55,8). Por isso, onde menos O esperamos, onde O menos imaginamos, Ele aparece, comunicando-se conosco e convivendo conosco (Jo 1,14). “No meio de vós está quem vós não conheceis”, alerta-nos o evangelista João (Jo 1,26). Deus habita e está no homem e não nas paredes de um templo ou de uma igreja (cf. Mt 25,40.45). Os animais não questionam o sentido da vida, mas as pessoas sim porque em cada um de nós há uma dimensão divina e somos imagem de Deus (Gn 1,26) que nos faz perguntar por que estamos vivos. Nós somos homens com dimensão transcendente e por isso somos capazes de ir e de ver além da aparência. Deus quer encontrar seu povo onde este vive e atua. 

A encarnação de Deus em um carpinteiro de Nazaré nos descobre que Deus não é um exibicionista que se oferece em espetáculo. Deus não é o Ser todo-poderoso que se impõe, mas propõe e convida. Podemos descobrir Deus nas experiências mais normais de nossa vida cotidiana: em nossas tristezas inexplicáveis, na felicidade insaciável, na solidão em busca da comunhão, em nosso amor frágil, mas apaixonante, na saudade de uma presença de quem se foi, mas que está presente fortemente na sua ausência, e nos sonhos de uma vida de paz e serenidade, na reconciliação por amor, nas perguntas mais profundas sobre a vida e seu sentido, em nosso pecado mais discreto, nas nossas decisões mais responsáveis, na nossa busca sincera do bem e da verdade, no nossobom dia, boa tarde, boa noite” endereçado para as pessoas para o seu bem, no nossoobrigadopelo bem que o outro fez por nós, no nosso agradecimento pelo novo dia que nos é dado por puro amor de Deus. Por isso, a raiz da incredulidade é precisamente esta incapacidade de acolher a manifestação de Deus no cotidiano. 

O que necessitamos são uns olhos mais limpos, simples e menos preocupados em possuir coisas e em ter poder. As coisas são meios e elas jamais são fim de nossa vida. As coisas continuam alheias a nós, pois não são nossos semelhantes (cf. Gn 2,20-23). Um ônibus é um meio que me leva até o centro da cidade, mas o ônibus não é o centro da cidade. O que necessitamos é uma atenção mais profunda e desperta para o mistério da vida que não consiste somente em terespírito observador” e sim em saber contemplar e acolher com simpatia as inumeráveis mensagens e chamadas que a mesma vida irradia permanentemente. Deus não está longe dos que O buscam. Deus está no centro de nossa vida. Deus nos visita (Lc 1,68; 7,16) como visitou seu povo em Nazaré que jamais ele abandonou. É preciso abrir a porta de nosso lar e de nosso coração para a visita do Senhor como a própria sinagoga em Nazaré aberta para o Senhor entrar nela e falar das coisas essenciais da vida para seu povo reunido nela.

Em Nazaré o povo ficou admirado pelo ensinamento de Jesus, mas ficou desiludido por causa de sua origem: “De onde é que este homem consegue tudo isso? De onde vem a sabedoria dele? Como é que faz esses milagres? Por acaso ele não é o carpinteiro, filho de Maria? Não é irmão de Tiago, José, Judas e Simão? As suas irmãs não moram aqui? Por isso ficaram desiludidos com ele. Quando seus conterrâneos falam dele, não pronunciam seu nome, o designam somente com pronomes depreciativos para sua pessoa e sua atividade (ele, este etc.). Os nazarenos, apesar de conhecer as Escrituras, não conseguiram recordar aquilo que Moisés havia dito: “O Senhor, teu Deus, te suscitará dentre os teus irmãos um profeta como eu: a ele que deveis ouvir” (Dt 18,15). Os nazarenos não conseguiram captar a novidade de Deus em Jesus; não reconheceram nele o enviado de Deus. Somente são os discípulos que fazem a seguinte pergunta: “Quem é este?” (Mc 4,41), mas a multidão nunca e os nazarenos nem sequer  sonhavam uma pergunta semelhante, pois eles sabiam quem era Jesus: um artesão, o filho de Maria; conheciam seus parentes. Mas não quiseram ir além disso; eles ficaram presos em juízos puramente humanos; eles encontraram em Jesus um obstáculo para a .

E Jesus “ficou admirado com a falta de que havia ali.  O amor oferecido é recusado. Mas o amor não pode resignar-se diante da recusa. O amor continua a existir mesmo tendo a recusa, pois é eterno. “Deus é amor”, afirmou São João (1Jo 4,8.16). Diante dessa recusa, Jesus precisa ir a outras aldeias onde o amor é bem acolhido. 

O evangelista Marcos acrescenta um provérbio citado por Jesus para explicar a incompreensão e a falta de de seus conterrâneos: “Um profeta é respeitado em toda parte, menos na sua terra, entre os seus parentes e na sua própria casa. A não se adquire por ativismo ou por herança. A precede aos milagres, nunca ao contrário. Por isso, é inútil montar uma apologética paraprovar” a divindade de Jesus partindo da existência de uns fatos superiores às forças da natureza. Quem vive sua vida profundamente e com muita consciência, quem leva seu ser a sério, não tem como não ter em Deus que está muito além da inteligência humana. 

Reconhecer em Jesus o Messias, o Ungido de Deus, não é fácil. Somente quem crê, O reconhece, aceita suas palavras e admira suas obras. Muitos olham sem ver e ouvem sem escutar. Cristo continua desconcertando: sua palavra escandaliza, sua mensagem gera oposição e sua vida e obras criam conflitos. Outros O conhecem, O aceitam e sua vida adquire um novo sentido. A madura caminha à descoberta e não evita as perguntas e a obscuridade. Hoje o Senhor nos pede mais n’Ele para realizar coisas que superam nossas possibilidades humanas.

P. Vitus Gustama,SVD

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