quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Domingo,31 de Janeiro de 2021:

VIVER NO ESPÍRITO DE JESUS É VIVER COM AUTORIDADE

IV DOMIMGO DO TEMPO COMUM “B”             


       

Primeira Leitura: Dt 18,15-20

Moisés falou ao povo dizendo: 15 “O Senhor teu Deus fará surgir para ti, da tua nação e do meio de teus irmãos, um profeta como eu: a ele deverás escutar. 16 Foi exatamente o que pediste ao Senhor teu Deus, no monte Horeb, quando todo o povo estava reunido, dizendo: ‘Não quero mais escutar a voz do Senhor meu Deus, nem ver este grande fogo, para não acabar morrendo’. 17 Então o Senhor me disse: ‘Está bem o que disseram. 18 Farei surgir para eles, do meio de seus irmãos, um profeta semelhante a ti. Porei em sua boca as minhas palavras e ele lhes comunicará tudo o que eu lhe mandar. 19 Eu mesmo pedirei contas a quem não escutar as minhas palavras que ele pronunciar em meu nome. 20 Mas o profeta que tiver a ousadia de dizer em meu nome alguma coisa que não lhe mandei ou se falar em nome de outros deuses, esse profeta deverá morrer’”.

Segunda Leitura: 1Cor 7,32-35

Irmãos: 32 Eu gostaria que estivésseis livres de preocupações. O homem não casado é solícito pelas coisas do Senhor e procura agradar ao Senhor. 33 O casado preocupa-se com as coisas do mundo e procura agradar à sua mulher 34 e, assim, está dividido. Do mesmo modo, a mulher não casada e a jovem solteira têm zelo pelas coisas do Senhor e procuram ser santas de corpo e espírito. Mas a que se casou preocupa-se com as coisas do mundo e procura agradar ao seu marido. 35 Digo isto para o vosso próprio bem e não para vos armar um laço. O que eu desejo é levar-vos ao que é melhor, permanecendo junto ao Senhor, sem outras preocupações. 

Evangelho: Mc 1,21-28

21 Na cidade de Cafarnaum, num dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar. 22 Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da Lei. 23 Estava então na sinagoga um homem possuído por um espírito mau. Ele gritou: 24 “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus”. 25 Jesus o intimou: “Cala-te e sai dele!” 26 Então o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu. 27 E todos ficaram muito espantados e perguntavam uns aos outros: “O que é isto? Um ensinamento novo dado com autoridade: Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem!” 28ª E a fama de Jesus logo se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia.

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Um Olhar Geral Sobre As Leituras Deste Domingo

Educar-Se e Educar

"Ensinar", "ensinamento" são palavras frequentes nos textos do Novo Testamento. Também aparecem várias vezes na liturgia deste Quarto Domingo do Tempo Comum. Jesus é apresentado por São Marcos como o Mestre "que ensina com autoridade", "um ensinamento novo" (Evangelho). Não é um ensinamento qualquer, e sim um ensinamento de um profeta, ao estilo de Moisés, protótipo do profetismo na mente dos israelitas, mestre de seu povo (Primeira Leitura). São Paulo, como profeta do Novo Testamento, comunica aos Coríntios seu ensinamento sobre o casamento e o celibato, dois estados e dois caminhos para viver a dedicação e a entrega ao apostolado na Comunidade eclesial (Segunda Leitura). Este ensinamento profético, novo e dado com autoridade, é dirigido ao homem para que o receba e seja receptor ativo de sua eficácia. 

Ensinar ou educar é ajudar a ser. É fazer passar do seio materno da natureza em dependência e ignorância (não ter conhecimento) para o reino da verdade e da liberdade. Educação é o caminho de libertação: da ignorância e da pobreza. Ensinar ou educar é possibilitar o nascimento do ser para que o educado possa percorrer seu próprio caminho e construir seu próprio lugar no mundo. Quais são os valores supremos deverão reger o nosso esforço? Quais são as luzes que deverão nos iluminar e orientar? São algumas perguntas para nos educarmos. Através da educação ou do ensinamento recebido o cristão saberá de sua existência ou da vocação com que foi agraciado, e reconhecerá sua tarefa histórica, e assumirá com coragem o seu fazer concreto neste mundo. O cristão aprende e ensina, ao mesmo tempo.

“Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ensinava como quem tem autoridade. E todos ficaram muito espantados e perguntavam uns aos outros: ‘O que é isto? Um ensinamento novo dado com autoridade’”. Esta é a reação dos ouvintes na sinagoga diante do ensinamento de Jesus Cristo. 

O ser humano pode se educar porque é livre, e pode ser livre porque se educa. Por isso, só é possível educar o ser humano libertando-o e só é possível libertá-lo educando-o. Educar ou ensinar é libertar-se de algo para atingir o que enriquece e aperfeiçoa. Somente o que aperfeiçoa pode libertar. O que rebaixa é escravizador. Isto significa que o ser humano não se limita a ser o que é, pois pode sê-lo de maneiras muito diferentes. Educar é ajudar os demais a ser. E isso só é possível à medida que se transmitem a eles forças para ser, sabedoria para descobrir o que são e o que podem ser, esperanças e visões para continuar. Jesus ensina o povo a se libertar.

O homem, ao nascer, não é um ser já formado; possui somente a capacidade de educar-se. Necessita, portanto, de mestres. Na história da humanidade existem diversos âmbitos em que a criança e o jovem recebem o ensinamento de seus maiores: a família, a escola ou a universidade, a sinagoga, a igreja, a mesquita, a academia ou o clube de debates e assim por diante. Todos os ensinamentos que recebem podem ser uteis e enriquecedores na obra da educação de uma pessoa. Jesus não é um concorrente de tais ensinamentos, mas um Mestre que com seus ensinamentos infunde uma alma em todos os outros. Porque seu ensinamento afeta a história, mas também olha para o mundo do futuro, além da história.

Ensinar Com Autoridade

Este é o dado do evangelho que a Primeira Leitura parece quer pôr em destaque. Jesus é o profeta prometido por boca de Moisés, em cujos lábios Deus colocou suas palavras (Cf. Jo 14,10; 12,49) das quais Deus vai nos pedir contas (Cf. Lc 10,16; Mt 10,40). As pessoas que escutavam Jesus ficavam impactadas por seu modo de falar porque o fazia com autoridade. O evangelho nos conta um fato eloquente: mandam uns guardas para prender Jesus. Porém, os guardas regressaram sem Jesus. Por que? A resposta: “Ninguém falou jamais como este homem” (Jo 7,32ss). Ou na linguagem do evangelho de hoje é porque Jesus fala com autoridade.

De onde veio a autoridade de Jesus? A resposta: Jesus falava as palavras do Pai e por isso, cheias de autoridade. Por que as pessoas experimentavam a força de Deus nas palavras de Jesus? Sem dúvida, porque suas palavras brotavam de uma experiência profunda com Deus, seu Pai (Cf. Jo 8,38). No próprio evangelho de hoje Jesus mostra a força, a autoridade de sua palavra conjurando o demônio.

Nossas palavras somente terão algo daquela força de convicção que tinham as palavras de Jesus, se nascerem de uma verdadeira experiência com Deus, se falarmos do que realmente vivemos e testemunhamos. Como o profeta Ezequiel, devemos comer o livro (Ez 3,1-3), isto é, se sob a ação do Espirito Santo interiorizarmos a Palavra de Deus de modo que vivamos dela no nosso cotidiano. 

No grande mercado da palavra, não é fácil encontrar uma palavra viva e vivificante. Quantas palavras, quantos “ensinamentos” chegam aos ouvidos do homem, do cristão hoje? Milhões! Entre todos esses milhões de palavras, onde está a palavra que dá vida e nutre a alma naquele dia? O mestre cristão: sacerdote, pai de família, catequista, etc., atualizando o ensinamento de Jesus Cristo, deve dizer palavras vivas, palavras com força de eternidade, que não passam, mas duram e dão sentido e servem de força e de ânimo para todos os milhões de pessoas que necessitam delas. Diante dessa realidade estupenda, ficamos tentados a se perguntar por que as homilias dominicais, às vezes, são tão aborrecidas? O que estamos fazendo com a Palavra de Vida de Deus? Por que, estando viva, a Palavra de Vida de Deus não aviva o coração do pregador e ouvinte cristão? 

Prefiguração e Prolongamento da Palavra

Na tradição judaica, o profeta, da Primeira Leitura, era interpretado como prefiguração do Messias, que deveria aparecer diante de seus contemporâneos como outro Moisés, isto é, como um profeta e mestre legislador do novo povo. Não é difícil imaginar que o próprio Jesus e com ele os primeiros cristãos, se apropriam esta prefiguração ao ser Jesus o Messias esperado e ao ser a comunidade cristã o novo povo formado pelo ensinamento e pela ação de Jesus Cristo entre os homens. Sendo Jesus o profeta por excelência, ele é a chave de toque do verdadeiro ou falso profetismo ou como o ponto de referência e o juiz de qualquer outra forma de profetismo extrabíblico. Por sua vez, são Paulo não é um profeta ou mestre autônomo e sim que seu ensinamento faz referência a Cristo Mestre ou seja, é um ensinamento iluminado pela presença de Cristo glorioso nos lábios ou na pluma de são Paulo sob a ação viva e vivificante do Espírito Santo. São Paulo ensina com autoridade, mas não própria, e sim a mesma autoridade de Cristo presente nele pelo poder do Espirito Santo. São Paulo ensina que há dois estados de vida: matrimônio e virgindade. Ambos são dons de Deus, ambos são chamados à dedicação e entrega no apostolado. Mas, ao mesmo tempo, são Paulo ensina que o celibatário está em condições de viver mais radicalmente esta dedicação e entrega apostólicas do que quem vive em compromisso matrimonial.

Um Olhar Específico Sobre Outros Detalhes Do Evangelho De Hoje

O texto do Evangelho deste domingo relata o primeiro dia da atividade apostólica ou missionária de Jesus em Cafarnaum. Depois de ter formado o primeiro grupo de discípulos (veja o Evangelho do Domingo anterior), Jesus começa a dar início à sua atividade tomando contato com os israelitas na instituição religiosa (Sinagoga) que aceitam a doutrina oficial transmitida pelos Mestres da Lei. Neste ambiente é que Jesus começa a ensinar. No ensinamento de Jesus, os ouvintes percebem a força do Espírito Santo nas suas palavras.

A reação é, então, favorável pois reconhecem nele a autoridade de um profeta: ”Ele ensina como quem tem autoridade” (v.22). Não se diz o conteúdo do ensinamento de Jesus. Diz-se apenas a reação de admiração do povo. A marca inconfundível do ensinamento de Jesus é autoridade.

O ensinamento cheio de autoridade é o ensinamento capaz de fazer ouvinte crescer no bem, e que o leva a ter um senso crítico cada vez mais. A maior parte dos seres humanos, talvez por preguiça e comodidade, segue o exemplo da maioria por falta de uma análise crítica do que se vive e do que se faz. Muitas vezes acontece que muitas pessoas seguem o exemplo da maioria por medo de crítica. Neste contexto, pertencer à maioria é tornar-se vulnerável. Quantas pessoas aderem a uma ideologia, religião ou partido político só porque está na moda ou para serem bem vistas pelos demais. Uma maneira disfarçada de manipular as opiniões e mudar os sistemas de valores é anunciar que são adotados pela maioria da população. Tudo isso facilita a instalação de regimes totalitários ou sistemas de dominação. Mas quando aprendermos a escutar a voz interior onde Deus fala diretamente a nós e onde habita a verdadeira sabedoria divina, nós nos tornaremos livres. Não podemos ter medo da grandeza de ser filhos e filhas de Deus.

Jesus possui a autoridade e o poder de quem, anunciando a chegada do Reino de Deus (cf. Mc 1,15), a torna realidade. A poderosa palavra doutrinal (ensinar legitimamente) e a poderosa ação exorcista constituem por igual um sinal do poder divino de Jesus e ao mesmo tempo, um sinal de que nele e com ele se abre o caminho para a soberania de Deus no mundo. Nada melhor que a cura de um homem possuído por um espírito mau para confirmar a autoridade de Jesus.          

Como conseqüência, o ensinamento de Jesus provoca o desprestígio do ensinamento habitual dos Mestres da Lei: “Ele ensina como quem tem autoridade e não como os mestres da lei” (v.22). Os mestres da lei, quando fizeram uma afirmação, citaram os grandes mestres do passado. Jesus, ao contrário, quando fala, ele não necessita nenhum autoridade e nenhuma citação de um especialista. Ele fala com a finalidade da voz de Deus. Por isso, o povo percebe a diferença. Certamente Jesus, com seu ensinamento, pretende alargar o horizonte do povo. Com seu ensinamento Jesus consegue libertar o povo da dependência dos Mestres da Lei e do Deus enquadrado criado por eles. Ele provoca o início da tomada da consciência crítica no povo para avaliar a realidade em que se encontra com a maneira de Deus em Jesus Cristo.         

Cada um de nós, de certa forma, exerce alguma autoridade, no grupo, no trabalho, em casa etc.... Exercer a autoridade é sentir-se realmente responsável pelos outros e por seu crescimento, sabendo que eles não são nossa propriedade, nossos objetos, mas pessoas que têm um coração, nas quais existe a luz de Deus, e que são chamadas a crescer na liberdade da verdade e do amor. O maior perigo para alguém que tem autoridade é manipular as pessoas e dirigi-las para seus próprios objetivos e sua necessidade de poder. Uma pessoa que realmente tem autoridade é aquela que encoraja, ensina, dá apoio e aconselha, e se for necessário, corrige, para ajudá-lo a ter confiança em si próprio e a crescer para uma maturidade, sabedoria e liberdade maiores. Uma pessoa que tem a verdadeira autoridade é aquela que trabalha visando justiça para todos, especialmente para aqueles que não podem se defender, que fazem parte de uma minoria oprimida. É aquela que não se compromete com o mal, com a mentira e com as forças da opressão que esmagam as pessoas, principalmente os indefesos. A autoridade existe para a liberdade e o crescimento das pessoas.         

Será que sabemos também viver e ensinar com autoridade? Você será uma pessoa cheia de autoridade se for amado mais do que obedecido ou temido. Quem é amado é respeitado. Quem não é amado, como autoridade, é temido. 

Sinagoga e o Espírito mau         

Jesus vai à sinagoga. Ele vai lá para ensinar e purificar. Pela imundice que a habita (um homem está possuído por um espírito imundo/mau dentro da sinagoga), a sinagoga não é mais a “Casa de Deus”, ou a “Assembléia de Javé”. O povo reunido (sinagoga quer dizer reunião) não é mais o lugar santo onde Deus habita (Ex 19,5s). Jesus vai à sinagoga para livrar o povo do poder da instituição que o aliena e com isso, denuncia, ao mesmo tempo, seu caráter perverso e opressor. Jesus quer convidar o povo para um novo espaço (a casa: onde acontecerá a cura da sogra de Pedro. Saberemos isso no evangelho do próximo domingo), onde acontecerão possíveis nova relações.          

Entre os fiéis da Sinagoga há quem se identifica de maneira tão fanática com o ensinamento dos Mestres da Lei, que não tolera que a autoridade doutrinária deles seja submetida a censura. Para exprimir o fanatismo, Marcos usa a expressão “estar possuído por um espírito imundo/mau” (em oposição ao Espírito Santo que está com Jesus).  O fanatismo é a força que despersonaliza o homem e impede todo espírito crítico. O fanatismo é, em concreto, uma ideologia contrária ao plano de Deus. O fanatismo fomenta a ideia da superioridade própria e o conseqüente desprezo dos demais. O possesso é, neste texto, homem inteiramente alienado pela adesão fanática a essa ideologia e sai em defesa dos Escribas.          

O espírito “mau/impuro” toma o homem por inteiro fazendo com que o homem não pense nem aja por si mesmo. O espírito mau, em outras palavras, aliena o homem, cortando os laços de relacionamento com os outros e tirando o homem da sua existência como um ser social (socius = amigo), um ser amigo/irmão para os outros. O homem possesso personifica a alienação total.          

É interessante observar que o próprio possesso fica dividido dentro de si mesmo. Porque, por um lado, ele não pode negar a autoridade divina de Jesus: “Sei quem Tu és: Tu és o Santo de Deus”. É interessante observar que somos informados que o espírito imundo conhecia nosso Senhor. O espirito imundo sabia quem era Jesus, embora os escribas ignorassem a respeito d´Ele e os fariseus preferissem não reconhece-Lo (Não se esqueça que o objetivo do Evangelho de Marcos é para responder a seguinte pergunta: Quem é Jesus? A resposta está logo em Mc 1,1). Mas trata-se de uma mero conhecimento, pois não o espirito imundo não aceita que Jesus é Salvador para ele. 

Por outro lado, o espírito imundo não admite que a autoridade divina de Jesus possa opor-se à autoridade da instituição religiosa e da sua doutrina (que para ele também divina). Por isso, ele diz: ”Que tens contra nós, Jesus Nazareno. Vieste para nos destruir?”. Ao chamar Jesus de Nazareno, o possesso sugere-lhe que, segundo a sua origem (de Nazaré), Jesus deveria professar as idéias nacionalistas. Aqui Jesus é tentado (primeira vez que ocorre a tentação do poder, cf.1,13) para que ponha sua autoridade divina a serviço do sistema, aceitando o papel de Messias nacionalista. Mas Jesus o interrompe e, apesar da sua resistência, liberta-o do seu fanatismo, isto é, consegue convencê-lo do erro do seu posicionamento.        

Até aqui podemos fazer perguntas para nós mesmos: Você é fanático(a) na sua religião ou em outras áreas de vida? Fanático é aquele que se julga inspirado por uma divindade qualquer, e o resto não. É uma adesão cega a uma doutrina ou sistema. Será que muitas vezes ou alguma vez você abusa da sua autoridade ou do seu poder (político ou econômico ou intelectual) para dominar os outros e para conseguir algo que moralmente ou de ponto de vista da doutrina de Jesus é ilícito ou errado? Lembre-se de que Jesus não se submeteu à tentação do poder.

Com Jesus Seremos Libertados         

Olhando para essa cena chegamos a uma lição que o processo de libertação não é fácil. Por um lado, os opressores não querem abrir mão de suas intenções e métodos. Por outro lado, os oprimidos acabam por se acostumar à sua situação, já não fazendo mais caso dela. A libertação começa quando o escravo do mal se insurge contra sua situação com a ajuda de Jesus Cristo. Trata-se, por isso, de uma terrível luta interior. Às vezes (como o possesso) se pensa que a presença de Jesus só sirva para perturbar ou atrapalhar o sossego ou comodismo. Mas devemos estar conscientes sempre de que a presença de Jesus purifica o ser humano dos espíritos imundos que flagelam e contaminam. Livres de toda escravidão, os que tinham sido beneficiados por Jesus, sem dúvida nenhuma, tornam-se sinal do poder efetivo de Deus nesta terra.          

Somente se Deus for reconhecido como Deus, e amado com eterno amor, saberemos o que é o pecado, mas saberemos também o que é o perdão divino, insondável e sem nenhuma outra razão de ser do que o amor do pai que procura a felicidade dos seus filhos.        

Se toda a vida de Jesus foi perpassada de luta contra as forças do mal e não cruzava os braços ao se deparar com quem era vítima do mal e do pecado, mas sua presença fazia o dinamismo libertador do Reino em ação neste mundo, então que cada um de nós, como seguidor(a) dele, saiba, com a ajuda de Jesus, se esforçar para sair de todo tipo de escravidão dentro de si mesmo que criamos. Ninguém pode ter medo de ser feliz e livre. Por isso, devemos abandonar as cadeias que nós mesmos fizemos. Sabemos que tudo isso não é fácil. Trata-se de uma terrível luta interior sem parar.

O Espírito De Jesus Contra O Espírito Imundo           

Percebemos também através deste Evangelho que entre o Espírito de Jesus e o espírito imundo nada tem em comum. O Espírito de Jesus liberta o ser humano, enquanto o espírito imundo o escraviza. Um recupera as pessoas para Deus, já o outro as afasta sempre mais do plano ou da vontade de Deus. Um restaura no coração humano o sentido da vida e o da vida fraterna e solidária, o outro, pelo contrário, gera discórdia e divisão dentro si e entre as pessoas. Um encarna a novidade da misericórdia de Deus, o outro insiste no caminho inconveniente da soberba.         

Por isso, a única intenção de Jesus que deve ser também a nossa intenção como seguidores verdadeiros dele é derrotar este espírito mau/imundo. Com Jesus tudo se torna possível, pois ele é o nosso Libertador.        

Até aqui nós podemos perguntar: Você está, realmente, com o Espírito de Jesus ou ainda está com outro espírito? Verifique suas atitudes e compare com o Espírito de Jesus.

Deixar-Se Ajudar Por Jesus         

O Evangelho nos relata também que à ordem de Jesus, o espírito mau deixou o possesso, depois de agitá-lo violentamente e fazer grande grito.         

Esta é, na verdade, a imagem do que se passa no coração de cada um de nós: o espírito mau reluta em abandonar o espaço conquistado no nosso coração. Se não nos deixarmos ajudar por Jesus Cristo, correremos o risco de permanecer escravos desse espírito imundo. A situação do homem possesso representa a condição daquele que ainda não encontrou Jesus Cristo: vive subjugado por forças hostis que o destroem e que ele não consegue controlar. 

O discipulado cristão exige que façamos a experiência de ser libertados pelo Senhor Jesus Cristo, pois é impossível compatibilizá-lo com as forças do mal que age dentro de nós.         

Aqueles que, diante das forças hostis ou obstáculos, desanimam e desistem da luta, mostram que não confiam ainda na força da Palavra de Jesus Cristo que continua ressoando nas nossas comunidades ou famílias, como naquele Sábado de dois mil anos atrás na Sinagoga de Cafarnaum.         

Perguntemo-nos sinceramente: a Palavra de Deus que hoje ecoa nas nossas celebrações ou nos nossos ouvidos, provoca alguma transformação, causa alguma inquietação e desembaraça situações aparentemente irremediáveis?        

Portanto, peçamos ao nosso Pai celeste que nos dê forças suficientes para que jamais permitamos ao poder do mal prevalecer sobre nós e sobre nossa família. Seja o nosso coração e o coração de nosso lar totalmente voltado para Deus e seu Reino. Pois só nele cada um de nós e o nosso lar encontraremos o porto seguro ou refúgio.

P. Vitus Gustama,SVD

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