terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Domingo,17/01/2021: Chamada-Vocação

O QUE ESTAIS PROCURANDO NESTA VIDA?

II Domingo ComumAno B”

Primeira Leitura: 1Sm 3,3b-10.19

Naqueles dias, 3b Samuel estava dormindo no templo do Senhor, onde se encontrava a arca de Deus. 4 Então o Senhor chamou: “Samuel, Samuel!” Ele respondeu: “Estou aqui”. 5 E correu para junto de Eli e disse: “Tu me chamaste, aqui estou”. Eli respondeu: “Eu não te chamei. Volta a dormir!” E ele foi deitar-se. 6 O Senhor chamou de novo: “Samuel, Samuel!” E Samuel levantou-se, foi ter com Eli e disse: “Tu me chamaste, aqui estou”. Ele respondeu: “Não te chamei, meu filho. Volta a dormir!” 7 Samuel ainda não conhecia o Senhor, pois, até então, a palavra do Senhor não se lhe tinha manifestado. 8O Senhor chamou pela terceira vez: “Samuel, Samuel!” Ele levantou-se, foi para junto de Eli e disse: “Tu me chamaste, aqui estou”. Eli compreendeu que era o Senhor que estava chamando o menino. 9 Então disse a Samuel: “Volta a deitar-te e, se alguém te chamar, responderás: ‘Senhor, fala, que teu servo escuta!’” E Samuel voltou ao seu lugar para dormir. 10 O Senhor veio, pôs-se junto dele e chamou-o como das outras vezes: “Samuel, Samuel!” E ele respondeu: “Fala, que teu servo escuta”. 19 Samuel crescia, e o Senhor estava com ele. E não deixava cair por terra nenhuma de suas palavras.

Segunda Leitura: 1Cor 6,13c-15a.17-20

Irmãos: 13c O corpo não é para a imoralidade, mas para o Senhor, e o Senhor é para o corpo; 14 e Deus, que ressuscitou o Senhor, nos ressuscitará também a nós, pelo seu poder. 15ª Porventura ignorais que vossos corpos são membros de Cristo? 17 Quem adere ao Senhor torna-se com ele um só espírito. 18 Fugi da imoralidade. Em geral, qualquer pecado que uma pessoa venha a cometer fica fora do seu corpo. Mas o fornicador peca contra seu próprio corpo. 19 Ou ignorais que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que mora em vós e que vos é dado por Deus? E, portanto, ignorais também que vós não pertenceis a vós mesmos? 20 De fato, fostes comprados, e por preço muito alto. Então, glorificai a Deus com o vosso corpo.

Evangelho: Jo 1,35-42     

Naquele tempo, 35João estava de novo com dois de seus discípulos 36e, vendo Jesus passar, disse: “Eis o Cordeiro de Deus!” 37Ouvindo essas palavras, os dois discípulos seguiram Jesus.  38Voltando-se para eles e vendo que o estavam seguindo, Jesus perguntou: “O que estais procurando?” Eles disseram: “Rabi (o que quer dizer: Mestre), onde moras?” Jesus respondeu: “Vinde ver”. Foram, pois, ver onde ele morava e, nesse dia, permaneceram com ele. Era por volta das quatro da tarde. 40André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram a palavra de João e seguiram Jesus. 41Ele foi encontrar primeiro seu irmão Simão e lhe disse: “Encontramos o Messias” (que quer dizer: Cristo). 42Então André conduziu Simão a Jesus. Jesus olhou bem para ele e disse: “Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas” (que quer dizer: Pedra).

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Um Olhar Geral Sobre As Leituras Deste Domingo 

A chamada ou vocação ocupa o lugar central das leituras deste domingo. É uma chamada ao seguimento; uma chamada a permanecer com Jesus Cristo; é uma chamada para a qual deve dar uma resposta generosa, como disse Samuel na Primeira Leitura: “Fala, Senhor, que teu servo escuta!”. É uma chamada que implica um não pertencer-se a si mesmo e sim a Deus e a seu Espírito. Dai há uma clara exigência de uma vida pura, longe de luxúria e tudo que seja contrário à pertença ao Senhor, como lemos na Segunda Leitura de hoje. 

Na origem da concepção cristã da vida está a realidade de uma chamada. É Deus quem chama à existência, à fé, à vida laical, à vida consagrada ou sacerdotal, ao encontro feliz com Ele na eternidade. Esta chamada implica já em si a consciência de que o homem não é absolutamente autônomo. O homem depende de Alguém (Deus) que pronuncia seu nome e o chama, como Deus chama Samuel pelo seu nome: “Samuel, Samuel!”. Na própria origem da existência está o chamado de Deus, e o próprio desenvolvimento da vida não será outro senão o desenvolvimento das chamadas divinas em cada situação ou momento. Destas situações é que se surgem os profetas. Neste contexto geral da chamada se situa também a vocação sacerdotal ou religiosa; é esta chamada que Deus dirige a uns poucos homens para estar com Ele e para estabelecer pontes entre Ele e os homens.

Se na origem da concepção cristã da vida está a realidade de uma chamada, isto quer nos dizer, como consequência, que todo homem, todo sacerdote, todo religioso, todo profeta, todo leigo é um “chamado”, e na correta resposta à chamada, isto é, viver de acordo com aquilo para o qual foi chamado, se joga sua identidade, sua realização pessoal, e sua felicidade temporal e eterna. Na fidelidade à vocação para a qual foi chamado por Deus, o homem encontra sua felicidade e sua realização pessoal. Se a chamada vem de Deus, consequentemente não somos nós homens que determinamos as circunstâncias e sim o próprio Deus que chama. Muitas vezes Deus nos chama para uma circunstância que nunca imaginávamos.

Também a chamada de Deus não conhece determinada idade. Deus pode chamar aos 12, 15, 18, 25 ou 30 anos de idade e assim por diante. Samuel, na Primeira Leitura, foi chamado quando ainda era menino. O lugar e o momento também é Deus quem determina ou escolhe: pode ser durante o descanso, como Samuel; pode ser durante alguma atividade, como os primeiros discípulos de Jesus no Evangelho de João; pode ser durante algum encontro espiritual ou retiro; dentro da igreja ou fora dela, e assim por diante.

Diante da chamada o homem tem direito para replicar. Senhor, por que me chamou tão jovem? Por que me chamou tão tarde, meu Deus?

O primeiro passo da chamada é a busca que o próprio Deus semeia no coração do homem. A busca é a consequência da inquietude. “Fizeste-nos para Ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti” (Santo Agostinho: Confissões 1,1). A inquietude surge espontaneamente no homem como passo prévio da vocação. Assim a chamada de Deus aparece, aos olhos dos homens, como uma desemboca de sua inquietude e de sua busca.

Para os dois discípulos de João Batista que vão atrás d´Ele, Jesus Cristo lhes pergunta: O que estais procurando?”. Não buscariam se Deus não colocasse neles o desejo de buscar. Mas a própria busca é algo pessoal, intransnadável; é já uma primeira resposta. A quem, de alguma maneira, “busca ou procura”? (Cf. Jo 20,15). Geralmente, Deus não chama por via direta e sim através das mediações humanas: Eli, na Primeira Leitura, foi o mediador entre Deus e Samuel; Jesus o foi entre Deus e os primeiros discípulos. Para o cristão, a Igreja é também o lugar da “mediação”. É nela e através dela é que Deus continua chamando os homens. 

Em relação à vocação ou à chamada, o ponto central do texto do Evangelho proclamado neste domingo, antecipado já pela Primeira Leitura, é a figura do discípulo. Há uma imagem global de discípulo: Samuel, o menino, está disposto a escutar Eli, e mais ainda, está disposto a escutar como um servo a Palavra de Deus: Fala, Senhor, que teu servo escuta!”. O salmista está disposto a fazer a vontade de Deus, quando este Lhe abre o ouvido. João Batista que cumpre o que Deus lhe disse que tinha que fazer: assinalar a presença entre os homens daquele que deve batizar no Espírito: o Cordeiro de Deus (Jo 1,33-34: é o texto imediatamente anterior ao texto de hoje). Finalmente, os discípulos de João Batista que, fieis ao mestre e a suas condições, segue ao “Rabi” Jesus e “nesse dia, permaneceram com ele” (Jo 1,39). Este processo da imagem do discípulo é uma magnífica descrição de discípulos de Jesus: a partir de uma atitude de abertura espiritual se pode escutar a voz de Deus, apesar de que, como Samuel, um pensa que são os homens que chamam: “Samuel correu para junto de Eli e disse: ‘Tu me chamaste, aqui estou?’”. 

No entanto, o itinerário da chamada sempre culmina no Mestre único: o Cristo (Cf. Mt 23,8). Uma vez encontrado, será preciso conduzir todo mundo até Ele. Assim o faz André com seu irmão Pedro. E este encontro transforma as pessoas, não somente a experiência religiosa que supõe, mas também porque o próprio Senhor toma a iniciativa de conferir nova personalidade para os discípulo: “Tu serás chamado Cefas” (que quer dizer: Pedra).

Um Olhar Específico Sobre o Texto Do Evangelho De Hoje

O texto do Evangelho deste domingo tirado do quarto Evangelho se encontra na unidade literária de Jo 1,35-51 que relata a vocação dos primeiros discípulos de Jesus. Se compararmos com a vocação dos primeiros discípulos na versão dos Evangelhos sinóticos (Mt 4,18-22; Mc 1,16-20; Lc 5,1-11) percebemos a diferença com a mesma na versão do quarto Evangelho (evangelho de João). Não faremos um estudo de comparação textual. Refletiremos apenas sobre o próprio texto de João para tirar mensagens para nós.         

O texto podemos dividir em três partes: os vv.35-39 falam do encontro de dois discípulos de João Batista com Jesus; os vv.40-42: o encontro com Simão Pedro; e por fim, o encontro com Filipe e Natanael (vv.43-51). 

1. EIS O CORDEIRO DE DEUS

Neste texto João Batista é apresentado como uma figura estática. Está no mesmo lugar do dia anterior (v.35: “...estava de novo). Isto significa que ele permanece no seu posto enquanto dura sua missão. Isso nos indica a fidelidade, compromisso e responsabilidade. se retira quando começa a missão de Jesus. Jesus é, pelo contrário, apresentado em movimento. Não se sabe de onde vem nem é dito para onde vai. Mas João Batista, que sabe da origem de Jesus, volta a olhá-lo e repete seu testemunho: “Eis o Cordeiro de Deus” (vv.29.36).

“O Cordeiro de Deus” é um dos 16 títulos cristológicos de Jesus no primeiro capítulo do quarto Evangelho (Evangelho de João). Cada um desses títulosum acesso ao mistério de Jesus através de uma ótica. Esses tantos títulos nos querem dizer que a riqueza de Jesus Cristo é inesgotável. Temos uma impressão quase certa de que o autor do quarto Evangelho escreveu o primeiro capítulo do seu evangelho por último, pois escreve logo o que vem a ser. Como quem escreve uma tese ou livro, a introdução se escreve sempre por último.         

O próprio Jesus sabe de onde vem e para onde vai (Jo 8,14), o que fará (Jo 6,6), o que lhe acontecerá (Jo 18,4), quando chegará e quando não chegará ainda sua hora (Jo 2,4;13,1;17,1), que conhece os pensamentos e o futuro dos homens (Jo 1,42.47.48), que não necessita das informações dadas pelos homens, pois conhece o que há no homem (Jo 2,25;cf. 4,17-19.29;6,61.64.71;13,11.27;16,30;18,4).         

João Batistafixa o olhar em Jesus” ao dizerEis o Cordeiro de Deus”. Saber olhar faz parte da . O olhar do coração ou o olhar da ultrapassa a realidade sensível em que penetra. O olhar superficial, ao contrário, jamais enxerga alguém, pois ele somente quer se olhar. Quem se olhar somente para si, jamais perceberá a presença do outro nem a de Deus. O olhar superficial reflete, na verdade, a nossa pobreza espiritual.         

João Batista que Jesus que vem não guarda para si como propriedade privada o que viu. Ele quer que os outros vejam o que ele . Ele indica aos outros o Messias e aceita desaparecer, pois João Batista é apenas uma “vozque prepara o caminho do Messias (Jo 1,23). “Essa é a minha alegria e ela é completa. É necessário que ele cresça e eu diminua” (Jo 3,29-30), afirma João Batista com toda a humildade e com a plena consciência.        

A fraseEis o Cordeiro de Deus pode ser compreendida se for contemplada   a partir da pascal (cf. Ex 12,13; Is 53,7). “Cordeiro de Deus” refere-se à morte de Jesus pelos pecados do mundo. Jesus, como o Servo (Is 53,7; At 8,32), carrega sobre si o pecado de todos nós (humanidade). A partir dessa visão inicial de Jesus Cristo, podemos ver o significado de toda a sua vida. Ele é o Cordeiro pascal que, entregando-se voluntariamente à morte por todos e cada um dos homens institui a Nova Aliança de Deus com a humanidade. Ao tirar o pecado do mundo Jesus une novamente o céu e terra. Se o pecado fecha o céu, o perdão trazido pelo Cordeiro de Deus abre novamente o céu fechado até então.          

Toda vez que participamos da Eucaristia ouvimos ou contemplamos a frase de João Batista: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Quem comunga o Cordeiro de Deus deve estar consciente da missão de se identificar com o Cordeiro que se doa por amor para salvar os irmãos. Quando a missa (a palavramissapara designar a celebração eucarística entre os fiéis encontramos pela primeira vez nos escritos de Santo Ambrósio de Milão) era celebrada em latim ouvia-se esta frase, certamente, no fim da mesma: “Ite, missa est!”, “Ide, sois enviados!”. Enfatiza-se, assim, o compromisso de cada participante como enviado de Deus ao sair da igreja ou templo depois que comungou o Cordeiro de Deus.        

O testemunho de João sobre Jesus como o Cordeiro de Deus, é um convite velado ao seguimento de Jesus. A expressãoseguir Jesus” é repetida três vezes no relato (vv.37.38.40). “Seguirliteralmente significa “ir atrás de alguém, pisando nas suas pecadas”. “Seguir Jesus” significa romper com todo o passado, abandonar tudo (Mt 4,18-22), submetendo-se com e obediência à salvação oferecida em Cristo (Mt 19,16-30); é unir-se com Cristo numa comunhão de vida e de destino, modelar-se segundo o seu exemplo (cf. 1Ts 1,6;1Cor 11,1; Rm 15,7; Fl 2,2-8 etc...). No Evangelho de João “seguir Jesus” significa aceitar sua doutrina (ensinamentos), entregar-se incondicionalmente à sua pessoa, colaborar na sua missão e partilhar do seu destino, que inclui a morte e a glorificação” (Jo 12,26;14,3;17,24).        

A partir desse significado, será que eu e você podemos nos considerar seguidores(as) de Jesus Cristo? 

2. O QUE ESTAIS BUSCANDO? (A busca do essencial)         

O testemunho de João Batista provoca uma inversão no rumo da vida dos seus dois discípulos. Eles começam a seguir Jesus. “Seguir” Jesus é uma maneira bíblica de dizer “tornar-se discípulo”; e Jesus será chamado de Rabbi, Mestre (v.38).

Ao perceber que os dois estão O seguindo, Jesus os interroga: “O que estais buscando?”. É interessante comparar a pergunta de Jesus que aqui no início do Evangelho de João é feita para os dois discípulos (Jo 1,38) com a mesma pergunta feita por Jesus no fim do mesmo Evangelho para Maria Madalena (Jo 20,15). Mas existe a diferença. No início do caminho Jesus pergunta: “O que estais buscando”, ao passo que no fim de todo o caminho a pergunta de Jesus é: “A quem estais buscando”. Com isso, Jesus sublinha que a salvação é uma pessoa (a quem) e não uma coisa (o que) e que essa pessoa está sempre ao nosso lado, pois ela é Emanuel, Deus conosco (Mt 1,23;18,20;28,20). Essa pessoa chama-se Jesus Cristo, Aquele que salva.         

“O que estais buscando/procurando?” são as primeiras palavras de Jesus no quarto Evangelho. A pergunta feita por Jesus aos dois primeiros discípulos que começam a segui-lo é dirigida pessoalmente a cada um de nós. O que estamos procurando na curta vida neste mundo? Que sentido tem nossa vida? Que sentido nós damos à nossa vida? Para onde a vida vai nos levar? O que buscamos, essencialmente, em tudo que fizermos, falarmos, comentarmos, projetarmos, planejarmos? Jesus quer saber o que mais buscamos em nossa vida. É uma pergunta ao mesmo tempo existencial e essencial. Jesus provoca os seus primeiros discípulos a respeito de sua busca fundamental, aquela busca que vai dar sentido à sua vida. Ela é dirigida a pessoas que estão em busca, que andam inquietas, que se interrogam sobre o essencial nesta vida. No fundo, todos nós estamos sempre em busca de algo mais e por isso sempre insatisfeitos. Consciente ou conscientemente somos todos garimpeiros à procura do diamante da felicidade, andarilhos à procura da pérola preciosa, pela qual estamos dispostos a vender, com alegria, tudo o que possuímos (cf. Mt 13,44.46). Jesus conhece nossos desejos mais profundos e sabe muito melhor das nossas necessidades fundamentais mais do que nós mesmos sabemos. Quando nos interpela com a pergunta essencial, “o que estais procurando?”, é para obrigar-nos a expressar sua resposta. Jesus quer que seus seguidores explicitem, diante dele, os motivos da sua busca e do seu seguimento. Esta explicitação é necessária porque as motivações nossas podem ser equivocadas, precipitadas, sem motivos profundos, imaturas ou ilusórias.         

Se neste momento Jesus lhe perguntar: “O que estais procurando e por que estais o procurando? O que trará para vós aquilo que estais procurando?” Qual será sua resposta?

3. MESTRE, ONDE MORAS? (Pergunta essencial é respondida com pergunta essencial)          

A pergunta, que Jesus faz aos primeiros discípulos é tão existencial e essencial, faz os dois não darem conta de respondê-la. Em vez disso, eles respondem com outra pergunta. Quando os dois discípulos respondem à pergunta de Jesus com outra pergunta,” Mestre, onde moras”, não estão dando uma resposta evasiva. A resposta à pergunta essencial e existencial feita por Jesus sobre nós mesmos, pode ser a pergunta essencial e existencial feita por cada um de nós sobre Jesus Cristo. respondendo à pergunta de Jesus, podemos encontrar o que buscamos, o sentido último e pleno da própria vida, assim como os caminhos, os meios e os modos de viver esse sentido, no encontro com Jesus, encontrando a Jesus que é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6).         

O que o discípulo quer saber é onde Jesus mora. A partir do verbomenein” (permanecer/morar) a pergunta se refere à vida de Jesus, ao seu modo de existir, ao mistério de sua pessoa.  E acabará sabendo que o seulugar” está onde seu Pai e nosso Pai está (Jo 14,1-6); que a morada de Jesus e nossa morada é o Amor do Pai. Não é por acaso que o verbomorar” é repetido três vezes seguidas: “Onde moras”, “eles foram e viram onde morava e permaneceram (de-moraram). A repetição aponta para a intimidade com Jesus Cristo, para o conhecimento mais profundo do mistério de Jesus; sobretudo para o tema da comunhão permanente com ele, que será um dos temas dominantes do Evangelho de João.

4. VINDE E VEREIS e eles FORAM,VIRAM e PERMANECERAM         

A resposta de Jesus à pergunta dos dois discípulos é todo um projeto de vida: “Vinde e vereis”. Não é uma ordem. É um convite conciso, direto, que vai ao essencial, mas que respeita a liberdade e o ritmo do itinerário de cada um. A busca de Deus é um andar em liberdade. “Vinde e vereis” é o começo de uma chamada, cujas conseqüências são simplesmente imprevisíveis, pois escondidos no mistério do amor de Deus por se revelar. Ver onde ele mora” é o início da divina aventura que exige-se de cada seguidor uma firme, uma renúncia, um apego, confiando totalmente naquele que está na frente. “Vinde e vereis” é um convite para fazer a experiência pessoal com Jesus e o respectivo engajamento na Sua causa. A intenção de seguir a Jesus e a adesão pela é uma decisão bem pessoal, livre e voluntário.         

Para tornar-se discípulo de Jesus são necessárias duas condições: a primeira, ir ao seu encontro; e a segunda, ver no sentido de fazer a experiência pessoal do encontro com o Senhor, de permanecer com ele, de conviver longamente com ele para conhecer a fundo sua pessoa e sua missão ou seus projetos através de um diálogo com tempo e espaço para todas as perguntas.         

Por isso, tornar-se discípulo de Jesus não consiste em estudar sua doutrina, em aderir ao conteúdo de uma tradição formalmente recebida ou a um sistema de verdades que segurança e dispense a busca permanente. Não é possível conhecer Jesus teoricamente ou estaticamente. é possível conhecê-lo convivendo com ele, através de uma experiência de comunhão e de compromisso que desinstalam. Pela origem da palavra, o verboconhecerquer dizer “com-nascer, nascer com, fazer-se um com outro. Somente conhecemos o outro, entregando-nos a ele e aceitando que ele se entregue a nós. Trata-se de uma relação existencial.         

Por isso, a vida e o itinerário de Jesus Cristo não são para espectadores, e sim para atores (os que prontos para agir) dispostos a tomar continuamente decisões novas ao longo do caminho, a partir da opção fundamental de segui-lo. Para conhecerseu amor e sua verdade” é necessário acampar onde ele acampou e do jeito que ele acampou (1,14.17).          

“O que estais procurando? A Quem estais procurando?” É Cristo que estamos procurando, “pois temos tudo em Cristo. Que toda alma chegue a ele, seja a que está doente dos pecados do corpo, seja a que foi virada pelos pregos de algum desejo deste século, seja ainda a imperfeita, contanto que progrida numa meditação perseverante, seja a perfeita em múltiplas virtudes: estas todas dizem respeito ao poder do Senhor, e Cristo é tudo para nós. Se queres curar tua ferida, ele é médico; se queimas de febre, ele é a fonte; se és acusado de iniquidade, ele é a justiça; se necessitas de socorro, ele é a fortaleza; se temes a morte, ele é a vida; se desejas o céu, ele é o caminho para ; se foges das trevas, ele é a luz; se procuras sustento, ele é o alimento. ‘Provai e vede como ele é bom. Feliz o homem que tem nele o seu refúgio!’ [Sl 34,9]” (Santo Ambrósio de Milão, + 397).

5. SER TESTEMUNHA (Discípulo- missionário)       

A experiência da convivência com Jesus é irradiante, contagiosa. Ela faz deslanchar um movimento que nunca termina. O testemunho dos encontros com Jesus põe em movimento todos os personagens, isto é, os que fazem o encontro pessoal com Jesus.  Os verbos usados indicam o movimento: “seguir”, “voltar-se”, “ir”, “vir”, “partir”.         

Por isso, o critério para saber se o encontro com Jesus foi ou não autêntico basta verificar se ao encontro se seguiu ou não o testemunho. Quem fez experiência de encontrar Jesus não guarda egoisticamente para si, não pode calar sobre o que viu e ouviu, mas sente a necessidade de sair em busca de outras pessoas que ainda não o encontrara, para comunicá-lhes a própria experiência e conduzi-las a Jesus, começando pelos mais próximos. Foi exatamente isso o que fizeram todos os convertidos, todos os que encontram Jesus ou melhor, foram encontrados por Jesus. Papa Francisco escreveu na sua primeira exortação as seguintes frases: “O bem tende sempre a comunicar-se. Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura, por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros. E, uma vez comunicado, o bem radica-se e desenvolve-se. Por isso, quem deseja viver com dignidade e em plenitude, não tem outro caminho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem. Assim, não nos deveriam surpreender frases de São Paulo como estas: ‘O amor de Cristo nos absorve completamente’ (2 Cor 5, 14); ‘ai de mim, se eu não evangelizar!’ (1 Cor 9, 16)” [Evangelii Gaudium n.9). Se, depois de havermos encontrado Jesus, não vamos ao encontro das pessoas para levá-las a Jesus, é sinal de que ainda não o encontramos verdadeiramente.          

No relato, Simão Pedro se deixa conduzir ao encontro com Jesus pelo testemunho do irmão André. Simão Pedro é o primeiro discípulo a quem Jesus dirige uma palavra única: “Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas” (v.42). “Kéfas” em aramaico significa rocha, rochedo que evoca solidez, segurança, estabilidade. Sobre esta rocha é que Jesus edificará a sua Igreja (cf. Mt 16,17-18). “Rocha” é quesolidez e coesão à comunidade edificada por Jesus.         

Todos e cada um dos que aceitam ir ao encontro de Jesus, levados por aqueles que o encontraram, são também olhados por Jesus com um olhar singular e contemplados com palavras dirigidas pessoalmente a eles. Embora não seja tão especial como aconteceu com Simão Pedro.        

Portanto, nossa última pergunta é esta: Você encontrou Jesus Cristo? Será que você, como Simão Pedro, deixa-se conduzir pelos outros ao encontro de Jesus? O que você está procurando verdadeiramente na sua vida?                             

P. Vitus Gustama,SVD

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