O
QUE ESTAIS PROCURANDO NESTA VIDA?
II
Domingo Comum
“Ano B”
Primeira Leitura: 1Sm 3,3b-10.19
Naqueles dias, 3b Samuel
estava dormindo no templo do Senhor, onde se encontrava a arca de Deus. 4 Então
o Senhor chamou: “Samuel, Samuel!” Ele respondeu: “Estou aqui”. 5 E correu para
junto de Eli e disse: “Tu me chamaste, aqui estou”. Eli respondeu: “Eu não te
chamei. Volta a dormir!” E ele foi deitar-se. 6 O Senhor chamou de novo:
“Samuel, Samuel!” E Samuel levantou-se, foi ter com Eli e disse: “Tu me
chamaste, aqui estou”. Ele respondeu: “Não te chamei, meu filho. Volta a
dormir!” 7 Samuel ainda não conhecia o Senhor, pois, até então, a palavra do
Senhor não se lhe tinha manifestado. 8O Senhor chamou pela terceira vez:
“Samuel, Samuel!” Ele levantou-se, foi para junto de Eli e disse: “Tu me
chamaste, aqui estou”. Eli compreendeu que era o Senhor que estava chamando o
menino. 9 Então disse a Samuel: “Volta a deitar-te e, se alguém te chamar,
responderás: ‘Senhor, fala, que teu servo escuta!’” E Samuel voltou ao seu
lugar para dormir. 10 O Senhor veio, pôs-se junto dele e chamou-o como das
outras vezes: “Samuel, Samuel!” E ele respondeu: “Fala, que teu servo escuta”.
19 Samuel crescia, e o Senhor estava com ele. E não deixava cair por terra
nenhuma de suas palavras.
Segunda Leitura: 1Cor 6,13c-15a.17-20
Irmãos: 13c O corpo não
é para a imoralidade, mas para o Senhor, e o Senhor é para o corpo; 14 e Deus,
que ressuscitou o Senhor, nos ressuscitará também a nós, pelo seu poder. 15ª Porventura
ignorais que vossos corpos são membros de Cristo? 17 Quem adere ao Senhor
torna-se com ele um só espírito. 18 Fugi da imoralidade. Em geral, qualquer
pecado que uma pessoa venha a cometer fica fora do seu corpo. Mas o fornicador
peca contra seu próprio corpo. 19 Ou ignorais que o vosso corpo é santuário do
Espírito Santo, que mora em vós e que vos é dado por Deus? E, portanto,
ignorais também que vós não pertenceis a vós mesmos? 20 De fato, fostes
comprados, e por preço muito alto. Então, glorificai a Deus com o vosso corpo.
Evangelho:
Jo 1,35-42
Naquele
tempo, 35João estava de novo com dois de seus discípulos 36e, vendo Jesus passar,
disse: “Eis o Cordeiro
de Deus!” 37Ouvindo essas
palavras, os dois
discípulos seguiram Jesus. 38Voltando-se para
eles e vendo que
o estavam seguindo, Jesus perguntou: “O que
estais procurando?” Eles disseram: “Rabi (o que quer dizer: Mestre), onde moras?” Jesus respondeu: “Vinde ver”.
Foram, pois, ver onde ele morava
e, nesse dia, permaneceram com ele. Era por volta das quatro
da tarde. 40André, irmão de Simão Pedro, era
um dos dois que ouviram a palavra
de João e seguiram Jesus. 41Ele
foi encontrar primeiro seu irmão Simão
e lhe disse: “Encontramos o Messias” (que quer dizer: Cristo). 42Então
André conduziu Simão a Jesus. Jesus olhou bem para ele e disse: “Tu és Simão, filho
de João; tu serás chamado Cefas” (que quer dizer: Pedra).
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Um Olhar Geral Sobre As Leituras Deste Domingo
A chamada ou vocação ocupa o lugar central
das leituras deste domingo. É uma chamada ao seguimento; uma chamada a
permanecer com Jesus Cristo; é uma chamada para a qual deve dar uma resposta
generosa, como disse Samuel na Primeira Leitura: “Fala, Senhor, que teu servo escuta!”. É uma chamada que implica um
não pertencer-se a si mesmo e sim a Deus e a seu Espírito. Dai há uma clara
exigência de uma vida pura, longe de luxúria e tudo que seja contrário à
pertença ao Senhor, como lemos na Segunda Leitura de hoje.
Na origem da concepção cristã da vida está a
realidade de uma chamada. É Deus quem chama à existência, à fé, à vida laical,
à vida consagrada ou sacerdotal, ao encontro feliz com Ele na eternidade. Esta
chamada implica já em si a consciência de que o homem não é absolutamente
autônomo. O homem depende de Alguém (Deus) que pronuncia seu nome e o chama,
como Deus chama Samuel pelo seu nome: “Samuel,
Samuel!”. Na própria origem da existência está o chamado de Deus, e o
próprio desenvolvimento da vida não será outro senão o desenvolvimento das
chamadas divinas em cada situação ou momento. Destas situações é que se surgem
os profetas. Neste contexto geral da chamada se situa também a vocação
sacerdotal ou religiosa; é esta chamada que Deus dirige a uns poucos homens
para estar com Ele e para estabelecer pontes entre Ele e os homens.
Se na origem da concepção cristã da vida está
a realidade de uma chamada, isto quer nos dizer, como consequência, que todo
homem, todo sacerdote, todo religioso, todo profeta, todo leigo é um “chamado”,
e na correta resposta à chamada, isto é, viver de acordo com aquilo para o qual
foi chamado, se joga sua identidade, sua realização pessoal, e sua felicidade
temporal e eterna. Na fidelidade à vocação para a qual foi chamado por Deus, o
homem encontra sua felicidade e sua realização pessoal. Se a chamada vem de
Deus, consequentemente não somos nós homens que determinamos as circunstâncias e sim o próprio Deus que chama. Muitas vezes Deus nos chama para uma
circunstância que nunca imaginávamos.
Também a chamada de Deus não conhece
determinada idade. Deus pode chamar aos 12, 15, 18, 25 ou 30 anos de idade e
assim por diante. Samuel, na Primeira Leitura, foi chamado quando ainda era
menino. O lugar e o momento também é Deus quem determina ou escolhe: pode ser
durante o descanso, como Samuel; pode ser durante alguma atividade, como os
primeiros discípulos de Jesus no Evangelho de João; pode ser durante algum
encontro espiritual ou retiro; dentro da igreja ou fora dela, e assim por
diante.
Diante da chamada o homem tem direito para
replicar. Senhor, por que me chamou tão jovem? Por que me chamou tão tarde, meu
Deus?
O primeiro passo da chamada é a busca que o
próprio Deus semeia no coração do homem. A busca é a
consequência da inquietude. “Fizeste-nos
para Ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti”
(Santo Agostinho: Confissões 1,1). A inquietude surge espontaneamente no homem
como passo prévio da vocação. Assim a chamada de Deus aparece, aos olhos dos
homens, como uma desemboca de sua inquietude e de sua busca.
Para os dois discípulos de João Batista que
vão atrás d´Ele, Jesus Cristo lhes pergunta: “O que estais procurando?”.
Não buscariam se Deus não colocasse neles o desejo de buscar. Mas a própria
busca é algo pessoal, intransnadável; é já uma primeira resposta. A quem, de
alguma maneira, “busca ou procura”? (Cf. Jo 20,15). Geralmente, Deus não chama
por via direta e sim através das mediações humanas: Eli, na Primeira Leitura,
foi o mediador entre Deus e Samuel; Jesus o foi entre Deus e os primeiros
discípulos. Para o cristão, a Igreja é também o lugar da “mediação”. É nela e
através dela é que Deus continua chamando os homens.
Em relação à vocação ou à chamada, o ponto central do texto do
Evangelho proclamado neste domingo, antecipado já pela Primeira Leitura, é a
figura do discípulo. Há uma imagem global de discípulo: Samuel, o menino, está
disposto a escutar Eli, e mais ainda, está disposto a escutar como um servo a
Palavra de Deus: “Fala, Senhor, que teu servo escuta!”.
O salmista está disposto a fazer a vontade de Deus, quando este Lhe abre o
ouvido. João Batista que cumpre o que Deus lhe disse que tinha que fazer:
assinalar a presença entre os homens daquele que deve batizar no Espírito: o
Cordeiro de Deus (Jo 1,33-34: é o texto imediatamente anterior ao texto de
hoje). Finalmente, os discípulos de João Batista que, fieis ao mestre e a suas
condições, segue ao “Rabi” Jesus e “nesse dia, permaneceram com ele” (Jo
1,39). Este processo da imagem do discípulo é uma magnífica descrição de discípulos
de Jesus: a partir de uma atitude de abertura espiritual se pode escutar a voz de
Deus, apesar de que, como Samuel, um pensa que são os homens que chamam: “Samuel
correu para junto de Eli e disse: ‘Tu me chamaste, aqui estou?’”.
No entanto, o itinerário da chamada sempre
culmina no Mestre único: o Cristo (Cf. Mt 23,8). Uma vez encontrado, será
preciso conduzir todo mundo até Ele. Assim o faz André com seu irmão Pedro. E este
encontro transforma as pessoas, não somente a experiência religiosa que supõe,
mas também porque o próprio Senhor toma a iniciativa de conferir nova
personalidade para os discípulo: “Tu
serás chamado Cefas” (que quer dizer: Pedra).
Um Olhar Específico Sobre o Texto Do Evangelho De Hoje
O texto
do Evangelho deste domingo
tirado do quarto Evangelho
se encontra na unidade
literária de Jo 1,35-51 que relata a vocação
dos primeiros discípulos
de Jesus. Se compararmos com a vocação dos primeiros
discípulos na versão
dos Evangelhos sinóticos (Mt 4,18-22; Mc
1,16-20; Lc 5,1-11) percebemos a diferença
com a mesma
na versão do quarto
Evangelho (evangelho
de João). Não faremos um estudo de
comparação textual. Refletiremos apenas sobre o próprio texto de João
para tirar mensagens para nós.
O texto
podemos dividir em
três partes:
os vv.35-39 falam do encontro de dois discípulos de
João Batista com
Jesus; os vv.40-42: o encontro com Simão Pedro; e por
fim, o encontro
com Filipe e Natanael (vv.43-51).
1.
EIS O CORDEIRO DE DEUS
Neste texto
João Batista é apresentado como uma figura
estática. Está no mesmo
lugar do dia
anterior (v.35: “...estava lá de novo”). Isto significa que
ele permanece no seu
posto enquanto
dura sua
missão. Isso
nos indica a fidelidade,
compromisso e responsabilidade.
Só se retira
quando começa
a missão de Jesus. Jesus é, pelo contrário,
apresentado em movimento.
Não se sabe de onde
vem nem é dito
para onde
vai. Mas João Batista,
que sabe da origem
de Jesus, volta a olhá-lo e repete seu testemunho:
“Eis o Cordeiro de Deus” (vv.29.36).
“O Cordeiro de Deus” é um dos
16 títulos cristológicos de Jesus no primeiro capítulo do quarto Evangelho (Evangelho de João).
Cada um
desses títulos dá um
acesso ao mistério
de Jesus através de uma ótica. Esses tantos títulos nos querem dizer que a riqueza de Jesus Cristo é inesgotável.
Temos uma impressão quase
certa de que
o autor do quarto
Evangelho escreveu o primeiro
capítulo do seu
evangelho por
último, pois escreve logo o que vem
a ser. Como quem escreve uma tese
ou livro,
a introdução se escreve sempre por último.
O próprio Jesus sabe
de onde vem e para
onde vai (Jo 8,14), o que fará (Jo 6,6), o que
lhe acontecerá (Jo 18,4), quando chegará e quando
não chegará ainda
sua hora
(Jo 2,4;13,1;17,1), que conhece os pensamentos e o futuro
dos homens (Jo 1,42.47.48), que não
necessita das informações dadas pelos homens, pois conhece o que há
no homem (Jo 2,25;cf.
4,17-19.29;6,61.64.71;13,11.27;16,30;18,4).
João Batista
“fixa o olhar em Jesus” ao dizer “Eis o Cordeiro de Deus”. Saber olhar faz parte da fé. O olhar do coração ou o olhar da fé ultrapassa a realidade sensível em que penetra. O olhar superficial, ao
contrário, jamais
enxerga alguém, pois
ele somente quer se olhar. Quem se olhar somente para si,
jamais perceberá a presença
do outro nem
a de Deus. O olhar
superficial reflete, na verdade,
a nossa pobreza
espiritual.
João Batista
que vê
Jesus que vem não
guarda para si como propriedade privada o que viu. Ele quer que os outros vejam o que
ele vê.
Ele indica aos outros
o Messias e aceita desaparecer,
pois João Batista
é apenas uma “voz”
que prepara
o caminho do Messias
(Jo 1,23). “Essa é a minha alegria e ela é
completa. É necessário que ele cresça
e eu diminua” (Jo 3,29-30), afirma
João Batista com
toda a humildade
e com a plena
consciência.
A frase
“Eis o Cordeiro
de Deus” só
pode ser compreendida se for contemplada a partir da fé pascal (cf.
Ex 12,13; Is 53,7). “Cordeiro de Deus” refere-se à morte de
Jesus pelos pecados
do mundo. Jesus, como
o Servo (Is 53,7; At 8,32), carrega sobre si o pecado de todos
nós (humanidade).
A partir dessa visão
inicial de Jesus Cristo,
podemos ver o significado
de toda a sua
vida. Ele
é o Cordeiro pascal
que, entregando-se voluntariamente à morte por todos e cada um dos homens
institui a Nova Aliança
de Deus com
a humanidade. Ao tirar
o pecado do mundo
Jesus une novamente o céu e terra. Se o pecado fecha o céu, o perdão
trazido pelo Cordeiro de Deus abre novamente
o céu fechado até
então.
Toda vez
que participamos da Eucaristia
ouvimos ou contemplamos a frase de João Batista:
“Eis o Cordeiro
de Deus que
tira o pecado
do mundo”. Quem
comunga o Cordeiro de Deus
deve estar consciente
da missão de se identificar
com o Cordeiro
que se doa por
amor para salvar os irmãos. Quando a missa
(a palavra “missa”
para designar a celebração eucarística entre
os fiéis encontramos pela primeira vez nos escritos de
Santo Ambrósio de Milão) era celebrada em
latim ouvia-se esta frase,
certamente, no fim
da mesma: “Ite, missa
est!”, “Ide, sois enviados!”.
Enfatiza-se, assim, o compromisso de cada
participante como enviado
de Deus ao sair
da igreja ou
templo depois
que comungou o Cordeiro
de Deus.
O testemunho
de João sobre Jesus como
o Cordeiro de Deus,
é um convite
velado ao seguimento de Jesus. A expressão “seguir Jesus” é
repetida três vezes
no relato (vv.37.38.40). “Seguir” literalmente significa “ir atrás de alguém,
pisando nas suas pecadas”. “Seguir Jesus” significa romper com todo o passado, abandonar tudo (Mt 4,18-22), submetendo-se com
fé e obediência
à salvação oferecida em Cristo (Mt 19,16-30); é unir-se com
Cristo numa comunhão
de vida e de destino,
modelar-se segundo o seu exemplo
(cf. 1Ts 1,6;1Cor 11,1; Rm 15,7; Fl
2,2-8 etc...). No Evangelho de João “seguir Jesus” significa aceitar
sua doutrina
(ensinamentos), entregar-se incondicionalmente à sua
pessoa, colaborar na sua missão e partilhar do seu destino, que inclui a
morte e a glorificação”
(Jo 12,26;14,3;17,24).
A partir desse significado, será que
eu e você
podemos nos considerar
seguidores(as) de Jesus Cristo?
2. O QUE ESTAIS BUSCANDO? (A busca do essencial)
O testemunho
de João Batista provoca uma inversão no rumo
da vida dos seus
dois discípulos.
Eles começam a seguir
Jesus. “Seguir” Jesus é uma maneira
bíblica de dizer “tornar-se discípulo”;
e Jesus será chamado de Rabbi, Mestre
(v.38).
Ao perceber que os dois estão O
seguindo, Jesus os interroga: “O que estais buscando?”. É interessante comparar a pergunta de Jesus que aqui no início do Evangelho
de João é feita para os dois discípulos (Jo
1,38) com a mesma
pergunta feita por Jesus no fim
do mesmo Evangelho
para Maria Madalena (Jo 20,15). Mas
existe a diferença. No início do caminho
Jesus pergunta: “O que estais
buscando”, ao passo que
no fim de todo
o caminho a pergunta
de Jesus é: “A quem
estais buscando”. Com isso, Jesus sublinha que
a salvação é uma pessoa (a quem) e não
uma coisa (o que)
e que essa pessoa
está sempre ao nosso
lado, pois ela é Emanuel, Deus
conosco (Mt 1,23;18,20;28,20). Essa pessoa chama-se Jesus Cristo,
Aquele que
salva.
“O que
estais buscando/procurando?” são
as primeiras palavras de Jesus no quarto Evangelho. A pergunta feita por Jesus aos dois primeiros discípulos
que começam a segui-lo é dirigida pessoalmente a cada
um de nós.
O que estamos procurando na curta vida
neste mundo? Que
sentido tem nossa
vida? Que
sentido nós
damos à nossa vida?
Para onde a vida vai nos levar? O que
buscamos, essencialmente, em tudo que fizermos, falarmos, comentarmos, projetarmos,
planejarmos? Jesus quer saber
o que mais
buscamos em nossa
vida. É uma pergunta
ao mesmo tempo
existencial e essencial. Jesus provoca
os seus primeiros
discípulos a respeito
de sua busca
fundamental, aquela busca
que vai dar sentido à sua vida. Ela é
dirigida a pessoas que
estão em busca,
que andam inquietas, que se interrogam sobre
o essencial nesta vida.
No fundo, todos
nós estamos sempre
em busca
de algo mais
e por isso
sempre insatisfeitos. Consciente ou conscientemente somos todos
garimpeiros à procura
do diamante da felicidade,
andarilhos à procura
da pérola preciosa,
pela qual
estamos dispostos a vender,
com alegria,
tudo o que
possuímos (cf. Mt 13,44.46). Jesus conhece nossos
desejos mais
profundos e sabe muito
melhor das nossas necessidades
fundamentais mais
do que nós
mesmos sabemos. Quando
nos interpela com
a pergunta essencial,
“o que estais procurando?”, é para obrigar-nos a expressar sua resposta.
Jesus quer que
seus seguidores
explicitem, diante dele, os motivos da sua busca e do seu seguimento. Esta explicitação é necessária
porque as motivações nossas podem ser equivocadas, precipitadas, sem
motivos profundos,
imaturas ou ilusórias.
Se neste momento
Jesus lhe perguntar:
“O que estais procurando e por que estais
o procurando? O que trará para
vós aquilo
que estais procurando?” Qual será sua resposta?
3. MESTRE, ONDE MORAS? (Pergunta essencial
é respondida com pergunta
essencial)
A pergunta, que Jesus faz aos primeiros
discípulos é tão
existencial e essencial, faz os dois não darem conta de respondê-la. Em
vez disso, eles
respondem com outra
pergunta. Quando
os dois discípulos
respondem à pergunta de Jesus com
outra pergunta,”
Mestre, onde
moras”, não
estão dando uma resposta evasiva.
A resposta à pergunta
essencial e existencial feita
por Jesus sobre
nós mesmos,
só pode ser a
pergunta essencial
e existencial feita por
cada um
de nós sobre
Jesus Cristo. Só
respondendo à pergunta de Jesus, podemos encontrar o que
buscamos, o sentido último
e pleno da própria
vida, assim
como os caminhos,
os meios e os modos
de viver esse
sentido, no encontro
com Jesus, encontrando a Jesus que é o Caminho,
a Verdade e a Vida
(Jo 14,6).
O que
o discípulo quer
saber é onde
Jesus mora. A partir
do verbo “menein” (permanecer/morar)
a pergunta se refere à vida
de Jesus, ao seu modo
de existir, ao mistério
de sua pessoa. E acabará sabendo que
o seu “lugar”
está onde seu
Pai e nosso
Pai está (Jo 14,1-6); que a morada de
Jesus e nossa morada
é o Amor do Pai.
Não é por
acaso que
o verbo “morar”
é repetido três vezes
seguidas: “Onde
moras”,
“eles foram e viram onde
morava e permaneceram (de-moraram). A repetição
aponta para a intimidade
com Jesus Cristo,
para o conhecimento
mais profundo
do mistério de Jesus; sobretudo
para o tema
da comunhão permanente
com ele,
que será um
dos temas dominantes
do Evangelho de João.
4. VINDE
E VEREIS e eles FORAM,VIRAM e
PERMANECERAM
A resposta
de Jesus à pergunta dos dois
discípulos é todo
um projeto
de vida: “Vinde
e vereis”. Não é uma ordem. É um convite conciso, direto, que vai
ao essencial, mas
que respeita
a liberdade e o ritmo
do itinerário de cada
um. A busca
de Deus é um
andar em liberdade. “Vinde e vereis” é o começo de uma chamada,
cujas conseqüências são
simplesmente imprevisíveis,
pois escondidos no mistério
do amor de Deus
por se revelar.
“Ver onde ele mora” é
o início da divina
aventura que
exige-se de cada seguidor
uma fé firme,
uma renúncia, um
apego, confiando totalmente
naquele que está na frente.
“Vinde e vereis” é um convite para fazer
a experiência pessoal
com Jesus e o respectivo
engajamento na Sua causa.
A intenção de seguir
a Jesus e a adesão pela
fé é uma decisão
bem pessoal, livre e voluntário.
Para tornar-se discípulo de Jesus são
necessárias duas condições: a primeira, ir
ao seu encontro;
e a segunda, “ver”
no sentido de fazer
a experiência pessoal
do encontro com
o Senhor, de permanecer com ele, de conviver longamente
com ele
para conhecer a fundo sua pessoa e sua missão ou seus projetos através de um diálogo com tempo e espaço para todas as perguntas.
Por isso,
tornar-se discípulo de Jesus não consiste em
estudar sua doutrina, em aderir ao conteúdo de
uma tradição formalmente
recebida ou a um
sistema de verdades
que dê
segurança e dispense a busca
permanente. Não
é possível conhecer
Jesus teoricamente ou estaticamente. Só é possível
conhecê-lo convivendo com ele, através de
uma experiência de comunhão
e de compromisso que
desinstalam. Pela origem
da palavra, o verbo
“conhecer” quer
dizer “com-nascer, nascer
com, fazer-se um
com outro.
Somente conhecemos o outro,
entregando-nos a ele e aceitando que ele se entregue a nós.
Trata-se de uma relação existencial.
Por isso,
a vida e o itinerário
de Jesus Cristo não
são para espectadores, e sim
para atores (os
que prontos
para agir) dispostos a tomar
continuamente decisões novas ao longo
do caminho, a partir
da opção fundamental
de segui-lo. Para conhecer
“seu amor
e sua verdade”
é necessário acampar onde ele
acampou e do jeito que
ele acampou (1,14.17).
“O que
estais procurando? A Quem estais
procurando?” É Cristo que estamos procurando, “pois temos tudo em
Cristo. Que
toda alma
chegue a ele, seja a que está doente dos pecados do corpo,
seja a que foi virada
pelos pregos
de algum desejo
deste século, seja ainda
a imperfeita, contanto
que progrida numa meditação
perseverante, seja a perfeita em múltiplas virtudes:
estas todas dizem respeito ao poder do Senhor, e Cristo é tudo para nós. Se queres curar tua ferida, ele é médico; se queimas
de febre, ele
é a fonte; se és acusado de iniquidade,
ele é a justiça;
se necessitas de socorro, ele é a fortaleza;
se temes a morte, ele
é a vida; se desejas o céu, ele é o caminho para lá; se foges das trevas,
ele é a luz;
se procuras sustento,
ele é o alimento.
‘Provai e vede como ele
é bom. Feliz
o homem que
tem nele o seu refúgio!’
[Sl 34,9]” (Santo Ambrósio de Milão, + 397).
5. SER TESTEMUNHA
(Discípulo- missionário)
A experiência
da convivência com
Jesus é irradiante, contagiosa.
Ela faz deslanchar
um movimento
que nunca
termina. O testemunho dos encontros com
Jesus põe em movimento
todos os personagens,
isto é, os que
fazem o encontro pessoal
com Jesus. Os verbos
usados indicam o movimento: “seguir”, “voltar-se”, “ir”, “vir”, “partir”.
Por isso,
o critério para
saber se o encontro
com Jesus foi ou
não autêntico
basta verificar
se ao encontro se seguiu ou não o testemunho. Quem
fez experiência de encontrar
Jesus não guarda
egoisticamente para si,
não pode calar
sobre o que
viu e ouviu, mas sente a necessidade de sair em busca de
outras pessoas que
ainda não
o encontrara, para comunicá-lhes a própria experiência
e conduzi-las a Jesus, começando pelos mais próximos.
Foi exatamente isso
o que fizeram todos
os convertidos, todos os que encontram Jesus ou
melhor, foram encontrados por Jesus. Papa
Francisco escreveu na sua primeira exortação
as seguintes frases:
“O bem
tende sempre a comunicar-se. Toda a experiência
autêntica de verdade
e de beleza procura,
por si
mesma, a sua
expansão; e qualquer
pessoa que viva uma libertação
profunda adquire maior
sensibilidade face
às necessidades dos outros.
E, uma vez comunicado,
o bem radica-se e desenvolve-se. Por isso, quem deseja viver com dignidade e em plenitude, não
tem outro caminho
senão reconhecer
o outro e buscar
o seu bem. Assim, não nos deveriam surpreender frases de São
Paulo como estas: ‘O amor de Cristo nos absorve completamente’
(2 Cor 5, 14); ‘ai de mim, se eu não evangelizar!’ (1
Cor 9, 16)” [Evangelii Gaudium n.9).
Se, depois de havermos encontrado Jesus,
não vamos ao encontro
das pessoas para
levá-las a Jesus, é sinal de que ainda não o encontramos verdadeiramente.
No relato, Simão Pedro se deixa conduzir ao encontro com
Jesus pelo testemunho
do irmão André. Simão Pedro é o primeiro discípulo a quem Jesus dirige uma palavra
única: “Tu
és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas” (v.42). “Kéfas” em aramaico
significa rocha, rochedo
que evoca solidez,
segurança, estabilidade.
Sobre esta rocha
é que Jesus edificará a sua Igreja (cf.
Mt 16,17-18). “Rocha” é que dá solidez
e coesão à comunidade
edificada por Jesus.
Todos e cada um dos que aceitam ir ao encontro de Jesus, levados
por aqueles
que já
o encontraram, são também
olhados por Jesus com
um olhar singular e contemplados com
palavras dirigidas pessoalmente
a eles. Embora
não seja tão
especial como
aconteceu com Simão Pedro.
Portanto, nossa última pergunta é esta: Você encontrou
Jesus Cristo? Será que
você, como
Simão Pedro, deixa-se conduzir pelos outros ao
encontro de Jesus? O que você está procurando
verdadeiramente na sua vida?
P. Vitus Gustama,SVD
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