sábado, 23 de janeiro de 2021

25 DE JANEIRO DE 2021

SÃO PAULO, COM SUA CONVERSÃO, ME ENSINA A ENXERGAR O CAMINHO DE DEUS

(Um olhar para dentro de mim a partir da experiência de são Paulo)

25 de Janeiro

At 22,3-16

Naqueles dias, Paulo disse ao povo: 3"Eu sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas fui criado aqui nesta cidade. Como discípulo de Gamaliel, fui instruído em todo o rigor da Lei de nossos antepassados, tornando-me zeloso da causa de Deus, como acontece hoje convosco. 4Persegui até à morte os que seguiam este Caminho, prendendo homens e mulheres e jogando-os na prisão. 5Disso são minhas testemunhas o Sumo Sacerdote e todo o conselho dos anciãos. Eles deram-me cartas de recomendação para os irmãos de Damasco. Fui para , a fim de prender todos os que encontrasse e trazê-los para Jerusalém, a fim de serem castigados. 6 Ora, aconteceu que, na viagem, estando perto de Damasco, pelo meio dia, de repente uma grande luz que vinha do céu brilhou ao redor de mim. Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: `Saulo, Saulo, por que me persegues?' 8 Eu perguntei: `Quem és tu, Senhor?' 7 Ele me respondeu: `Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem tu estás perseguindo'. 9Meus companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz que me falava. 10 Então perguntei: `Que devo fazer, Senhor?' O Senhor me respondeu: `Levanta-te e vai para Damasco. Ali te explicarão tudo o que deves fazer'. 11Como eu não podia enxergar, por causa do brilho daquela luz, cheguei a Damasco guiado pela mão dos meus companheiros. 12Um certo Ananias, homem piedoso e fiel à Lei, com boa reputação junto de todos os judeus que moravam, 13veio encontrar-me e disse: `Saulo, meu irmão, recupera a vista!' No mesmo instante, recuperei a vista e pude vê-lo. 14Ele, então, me disse: `O Deus de nossos antepassados escolheu-te para conheceres a sua vontade, veres o Justo e ouvires a sua própria voz. 15Porque tu serás a sua testemunha diante de todos os homens, daquilo que viste e ouviste. 16E agora, o que estás esperando? Levanta-te, recebe o batismo e purifica-te dos teus pecados, invocando o nome dele!'

Mc 16,15-18

Naquele tempo, Jesus se manifestou aos onze discípulos, 15 e disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o evangelho a toda criatura! 16 Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. 17 Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; 18 se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”.

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No dia 25 de janeiro a Igreja celebra a conversão de São Paulo. A conversão de São Paulo é um dos maiores acontecimentos da época apostólica. Ele, chamado de Saulo, nasceu em Tarso, na região da Cilícia, Ásia menor, atual Turquia (At 9,11; 21,39; 22,3; cf. 9,30; 11,25). Foi educado dentro das exigências da Lei de Deus e das tradições paternas (Gl 1,14). Aos 18 anos ele se mudou para Jerusalém para ter aulas com o escriba Gamaliel (At 22,3).

Saulo de Tarso, antes de sua conversão, era um judeu convencido de sua religião e totalmente contrário à nova fé (cristianismo) que começava a se difundir por Palestina e seus redores. Teve alguma responsabilidade no martírio de são Estêvão, protomártir, de que se fala os Atos dos Apóstolos. Saulo encontrou Jesus ressuscitado no caminho de Damasco e este acontecimento mudou radicalmente seu modo de crer e de pensar. O Senhor ressuscitado se converteu no centro de sua espiritualidade e de sua teologia. Uma vez Apóstolo do Evangelho, Paulo estabeleceu em Antioquia de Síria o ponto de partida de suas viagens missionárias onde apareceu como testemunha incansável da fé em Jesus ressuscitado. Estas viagens motivaram Paulo a escrever diversas cartas endereçadas para várias comunidades cristãs que ele fundou. Mas como verdadeiro e autêntico apóstolo, Paulo sempre levou em conta sua volta para Jerusalém com o desejo de confrontar-se com os apóstolos para não correr em vão na sua missão.

Paulo sempre foi um homem profundamente religioso, judeu praticante, irrepreensível na mais estrita observância da Lei (Fl 3,6; At 22,3). Ele era cheio de zelo pelas tradições paternas (Gl 1,14). Para defendê-las chegou a perseguir os cristãos. “A palavra ‘perseguição’, associada à experiência religiosa, evoca imagens de tortura e sofrimento físicos a que são submetidos indivíduos ou grupos fieis por parte de uma instituição hostil à fé deles. Essas medidas repressivas podem culminar com a morte violenta do perseguido” (Rinaldo Fabris). Saulo era perseguidor dos cristãos com que Cristo se identifica (At 9,6-8). Como judeu praticante, e de espírito violento, São Paulo era contra e perseguia qualquer um que não seguisse a Lei de Deus: “Ouvistes certamente da minha conduta de outrora no judaísmo, de como perseguia sobremaneira e devastava a Igreja de Deus...” (Gl 1,14b; cf. At 7,55-8,1). Antes de sua conversão, São Paulo via as mesmas coisas de sempre: a vida, as pessoas, a Bíblia, o povo, a sinagoga, o trabalho e tudo que pertencia ao seu mundo.

Mas Deus quer libertar Paulo deste caminho. Na estrada de Damasco Paulo, em vez de perseguir, ele foi perseguido por Cristo (At 9,1ss). A ação devastadora de Paulo serve de contraponto à intervenção de Deus que o transforma num instrumento eleito para levar o nome de Jesus aos pagãos (At 9,15). Paulo, que persegue os seguidores da doutrina de Cristo, terá, por sua vez, de “sofrer” por causa do seu nome (At 9,16). 

A entrada de Jesus na vida de Paulo não foi pacífica, mas sim de uma maneira violenta como ele violentou os cristãos. Deus não pediu licença a Paulo. Ele entrou e o derrubou (At 9,4;22,7;26,14). Caído no chão, Paulo se entregou. Lucas não diz que Paulo cai do cavalo, mas “cai por terra”, porque essa é a fraseologia usada em alguns textos bíblicos para descrever a reação humana diante da manifestação divina (cf. Ez 1,28; cf. 43,3;44,4; cf. Dn 10,7.9; 8,17-18). A queda de Paulo na estrada de Damasco foi a linha divisória para sua vida entre antes e depois. Essa queda é a chave geral para entender Paulo e toda a sua luta incansável. Paulo crê perseguir, mas na verdade ele é perseguido pelo Senhor. Do perseguidor passa a ser apóstolo do Senhor. Com o recebimento do Batismo, Paulo recuperou a vista (At 9,17): acontecimento simbólico que ilustra a natureza de toda conversão: passagem das trevas para a luz (At 26,18).

A partir da experiência de Damasco, no encontro pessoal com o Senhor Jesus, São Paulo não colocou mais sua segurança na observância da Lei, mas sim no amor de Deus por ele (Gl 2,20s; Rm 3,21-26). O amor é, para ele uma lei máxima. Basta amar, alguém estará cumprindo a lei plenamente (cf. Rm 13,10). Poucas vezes um diálogo tão breve transformou tanto a vida de uma pessoa, como aconteceu com São Paulo.

A partir da experiência no caminho para Damasco, Paulo começou a crer firmemente em Jesus Cristo. Crer implica, antes de tudo, encontrar pessoalmente uma pessoa, o Deus feito homem, Jesus de Nazaré. Não se crê em uma doutrina, em uma fórmula, em um sistema e sim em uma pessoa, a única digna de ser crido ou acreditado. A fé é um encontro que não se esgota em um determinado momento de nossa própria vida e sim que continua sempre até a morte. A exemplo de são Paulo, quem encontra Jesus se dá conta de que não pode viver sem Ele e deve aprofundar em seu conhecimento pessoal. “ não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”, escreveu são Paulo aos Gálatas (Gl 2,20).

Quando se levantou, Paulo estava cego. A cegueira na Bíblia é claramente relacionada com o pecado, com a desorientação do homem, com o seu andar trôpego e incapaz de encontrar uma direção (cf. At 13,9-11). Mas no seu interior brilhava a luz de Cristo. Essa experiência renovou por dentro todo o seu relacionamento com Deus e com o próximo, e mudou totalmente sua visão sobre a vida e as pessoas, e ele se tornou uma nova criatura: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura. Passaram-se as coisas antigas; eis que se fez uma realidade nova”, diz ele (2Cor 5,17). “Minha vida presente na carne, eu a vivo pela no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim”, acrescentou (Gl 2,20b).  Esta nova experiência do amor de Deus em Jesus (Rm 8,39) mudou os olhos, e ajudou Paulo a descobrir novos valores que antes não via. A partir de então Cristo começou a ser o centro de sua vida. A queda no caminho para Damasco representava para São Paulo um autêntico ponto sem retorno. A experiência da gratuidade do amor de Deus faz Paulo suportar lutas e perseguições, viagens e canseira, o peso do dia-a-dia (2Cor 11,23-27); sofrer com aqueles que sofrem (2Cor 11,29). Realizou, assim, o único desejo de sua vida: estar com seu Senhor e Mestre Jesus Cristo.

Ele cresceu tanto no amor de Cristo, a ponto de dizer: “ não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). O Senhor transformou esse homem violento em evangelizador incansável de Sua Palavra, em um homem dócil ao Espírito de Deus. Cristo é um grande “Caçador” e quer por presa os mais fortes segundo o critério do mundo. São Paulo se rendeu e virou um grande pregador crível da Boa Notícia. O Senhor o levou a um total desapego daquilo que antes lhe parecia sumamente importante. O Senhor lhe conduz a uma percepção absolutamente nova das coisas e da realidade, a uma iluminação. E tudo lhe parece distinto. Chegou a dizer: “Mas essas que eram vantagens para mim, as considero desvantagens por causa de Cristo. Sim, considero tudo isso uma perda em comparação com a sublime vantagem de conhecer a Cristo (Fl 3,7-8). 

Pálido, doente e acabado, Paulo foi levado a um vale solitário chamado Aquae Salviae em Roma. Seu corpo foi açoitado pela última vez. Inclinou a cabeça à espera da espada que o conduziria ao martírio. O lugar onde ele foi martirizado, hoje chama-se Tre Fontane como recordação de Cabeça de Paulo que por três vezes bateu no chão antes de parar no instante dramático da morte. Realizou, assim, o único desejo de sua vida: estar com seu Senhor e Mestre Jesus Cristo.      

O Deus do Evangelho e da misericórdia é Aquele que no instante em que me faz compreender que errei completamente com relação a Ele, porque me coloquei em seu lugar, demonstra-me a sua misericórdia ao perdoar-me e me dá confiança ao chamar-me ao seu serviço, confiando-me a sua própria Palavra.     

Este instante resume para Paulo tudo o que ele sabia de Deus de maneira errada. O escuro se torna claro, o violento se torna misericordioso.          

O evento de Damasco é algo tão rico que devemos aproximar-nos com muita humildade e reverência, convencidos de que compreendemos pouco, que sabemos pouco com relação a isto, mas que poderemos conhecer muito mais pela graça de Deus. Então, compreenderemos melhor a nós mesmos, o caminho da nossa vida e as nossas conversões.

Nós necessitamos de uma conversão pessoal para que nos transformemos em instrumentos dóceis e eficazes na tarefa da nova evangelização. Todos nós temos nosso caminho de Damasco. E de cada um o Senhor se aproxima porque ele nos ama e quer que seja instrumento deste amor para o mundo no qual muitos perderam a consciência de ser irmãos dos outros. Sem a verdadeira conversão cada um virará um novo Saulo que tem espírito perseguidor da dignidade da vida alheia. O homem que não se converter, se julgará totalmente senhor, e não servo, da verdade e cometerá as mais graves aberrações da violência. Através da conversão entenderemos que o Deus do Evangelho e da misericórdia é Aquele que no instante me faz compreender que errei completamente com relação a ele e ao meu próximo e meconfiança ao chamar-me ao seu serviço, confiando-me a sua própria Palavra a ser anunciada para todos. Se nunca realizamos a fundo esta mudança de mentalidade que é essencial para a vida cristã, ainda não chegamos a compreender o que é a novidade do caminho cristão. Se não compreendo bem as coisas ditas sobre Paulo, provavelmente é difícil que compreenda o que aconteceu em mim. 

Algumas Perguntas Para Cada Um Refletir           

Onde tu estavas quando a Palavra de Deus te alcançou? Para que direção te levou o Senhor? Como aconteceu esta passagem? Que existe em ti de parecido, diferente ou análogo à experiência de Paulo? Como podes acolher na tua vida a ação proveniente de Deus que te faz ser o que és? Como e de que maneira o Senhor, que foi para Paulo a revelação da misericórdia divina, é para ti o ponto de referência fundamental para compreender quem és, o que és, de onde vens, para que tu foi chamado? Quais são as posses que te impedem de acolher com liberdade a iniciativa divina com relação a ti?         

Devemos fazer estas perguntas com amor: se as fizermos com espírito possessivo ou autojustificativo, responderemos com pressa e não conseguiremos ver em profundidade a história da nossa vida sob o olhar de Deus. Mas se nos interrogarmos com amor e misericórdia poderá emergir o que em nós é obra de Deus e o que em nós é resistência de Paulo à obra de Deus. Como o próprio Paulo disse: “Esta palavra merece crédito e toda a aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais sou o primeiro” (1Tm 1,15).  O pecado fundamental do homem é não reconhecer Deus como Deus, não reconhecer-se como dom seu, como fruto do seu amor. Carregamos todos dentro de nós a incapacidade de reconhecer a Deus como Deus, “dos quais eu sou o primeiro. E se a misericórdia me foi dada, foi para que Jesus Cristo manifestasse primeiro em mim toda a sua generosidade, para que eu servisse de exemplo aos que devem crer nele a fim de conseguir a vida eterna” (1Tm 1,16).

P. Vitus Gustama,svd

Anunciar o Evangelho não é glória para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!”, escreveu são Paulo (1Cor 9,16).

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