sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Quarta-feira Da XXII Semana Comum, 01/09/2021

SER SALVO POR DEUS PARA SERVIR AO PRÓXIMO

Quarta-Feira da XXII Semana Comum

Primeira Leitura: Cl 1,1-8

1 Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus e o irmão Timóteo, 2 aos santos e fiéis irmãos em Cristo que estão em Colossas: graça e paz da parte de Deus, nosso Pai. 3 Damos graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, sempre rezando por vós, 4 pois ouvimos acerca da vossa fé em Cristo Jesus e do amor que mostrais para com todos os santos, 5 animados pela esperança na posse do céu. Disso já ouvistes falar no Evangelho, cuja palavra de verdade chegou até vós. 6 E como no mundo inteiro, assim também entre vós ela está produzindo frutos e se desenvolve desde o dia em que ouvistes a graça divina e conhecestes verdadeiramente. 7 Assim aprendestes de Epafras, nosso estimado companheiro, que é junto de vós um autêntico mensageiro de Cristo. 8 Foi ele quem nos deu notícia sobre o amor que o Espírito suscitou em vós. 

Evangelho: Lc 4,38-44

Naquele tempo, 38 Jesus saiu da sinagoga e entrou na casa de Simão. A sogra de Simão estava sofrendo com febre alta, e pediram a Jesus em favor dela. 39 Inclinando-se sobre ela, Jesus ameaçou a febre, e a febre a deixou. Imediatamente, ela se levantou e começou a servi-los. 40 Ao pôr do sol, todos os que tinham doentes atingidos por diversos males, os levaram a Jesus. Jesus punha as mãos em cada um deles e os curava. 41 De muitas pessoas também saíam demônios, gritando: “Tu és o Filho de Deus”. Jesus os ameaçava, e não os deixava falar, porque sabiam que ele era o Messias. 42 Ao raiar do dia, Jesus saiu e foi para um lugar deserto. As multidões o procuravam e, indo até ele, tentavam impedi-lo de as deixar. 43 Mas Jesus disse: “Eu devo anunciar a Boa Nova do Reino de Deus também a outras cidades, porque para isso é que eu fui enviado”. 44 E pregava nas sinagogas da Judéia.

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Somos Irmãos e Apóstolos de Cristo 

Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus e o irmão Timóteo, aos santos e fiéis irmãos em Cristo que estão em Colossas: graça e paz da parte de Deus, nosso Pai”. Assim lemos no texto da Primeira Leitura que foi tirado da Carta de São Paulo aos colossenses. 

A partir de hoje, durante alguns dias leremos a Carta de São Paulo aos cristãos de Colossos.

Colossos é uma cidade de Ásia Menor, perto de Efeso, atualmente na Turquia. Esta cidade não foi evangelizada por São Paulo (Cf. Cl 2,1; 4,1ss) e sim por Epafras, convertido, provavelmente por São Paulo em Éfeso. Epafras se encontra junto a Paulo no momento de escrever a Carta (Cl 1,7; 2,12s). a comunidade de Colossos era formada, em sua maior parte por cristãos convertidos do paganismo. Mas havia um bom número de judeu-cristãos. Dos judeu-cristãos provieram em boa parte os problemas que são mencionados nesta Carta. 

São Paulo toma a responsabilidade de escrever à comunidade cristã de Colossos porque há várias crises nela. Primeiro, parece que determinados judeus convertidos ao cristianismo não aceitavam desprender-se das tradições judaicas: circuncisão (Cl 2,11-13), o sábado e festas judaicas (Cl 2,16), abstinência de alimentos (Cl 2,16.20-22). Eles pensam que para ser cristão tem que ser judeu, vivendo as tradições judaicas. Segundo, nesta comunidade há uma devoção excessiva aos anjos (Cl 2,18) com o risco de que possam ocupar o lugar de Cristo. Conforme a antiga filosofia os anjos eram os “elementos do mundo”. Os judeus os converteram em anjos e eram considerados guardiões da lei (Gl 3,19) e a estas potestades angélicas se atribui a criação com a consequente influencia sobre os homens. Para estes judeus, os anjos são aqueles que possuem a plenitude da sabedoria e a perfeição e em consequência da função de salvar o indivíduo. Consequentemente, o homem deve servi-los e prestar-lhes culto (Cl 2,18). Com isso, esta doutrina destrona Cristo do lugar e na salvação do homem. Terceiro, em consequência do poder dessas potestades, tinha suma importância chegar ao conhecimento das mesmas, de seu modo de atuar e tê-las animadas. Para isso, eram precisos ritos de iniciação nos mistérios ocultos e um ascetismo rígido: purificações, abstinência de certos alimentos e celebrações de festas (Cl 2,2; 3,16). Estes erros eram graves, pois misturados de elementos cristãos, judeus e pagãos que ameaçavam obscurecer o mistério de Cristo, único mediador e redentor nosso. Por isso, nesta Carta São Paulo insistirá em destacar o papel centra e insubstituível de Cristo. Consequentemente, o autor da Carta destacará, com toda a ênfase, a unicidade de Cristo e a sua primazia apresentando Cristo pré-existente como mediador da criação, e Cristo ressuscitado como reconciliador do universo, acentuando, por sua vez, sua posição de cabeça e senhor de toda potestade e dominação.

Um grupo dos exegetas pensam que São Paulo escreveu essa Carta ao final de sua vida, durante seu cativeiro em Roma (ano de 61 a 63). Nesta carta encontramos uma síntese teológica mais curta, mas que expressa o pensamento mais maduro de São Paulo como se manifesta abertamente na Carta aos Efessos. 

Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus e o irmão Timóteo, aos santos e fiéis irmãos em Cristo que estão em Colossas: graça e paz da parte de Deus, nosso Pai”, assim inicia a Carta, como lemos na Primeira Leitura  

Aqui São Paulo chama a si próprio de “apóstolo”. A palavra “apóstolo” literalmente significa aquele que é enviado. São Paulo é enviado do Senhor para ser seu embaixador. Além disso, ele é apóstolo “por vontade de Deus”. Isto quer nos dizer que o cargo de “apóstolo” não foi adquirido pelo próprio São Paulo. É algo dado por Deus. A vocação não provém da vontade de São Paulo e sim da vontade de Deus: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi” (Jo 15,16). 

Um dia Jesus disse aos discípulos: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Mt 9,37). Esta frase é dirigida para cada cristão. É um convite de Jesus a cada um para trabalhar com ele em favor dos abandonados, dos desorientados, dos doentes e de outros com suas variedades de problemas, de muitos que vivem como “ovelhas sem pastor”. São Gregório Magno dizia: “A messe é muita, mas os operários poucos... Ao escutarmos isto, não podemos deixar de sentir uma grande tristeza, porque é preciso reconhecer que há pessoas que desejam escutar coisas boas; falta, no entanto, quem se dedique a anunciá-las”. 

Além disso aqui São Paulo usa duas vezes o termo “irmão”. Era a maneira de nomear-se entre os primeiros cristãos. Com efeito, o cristianismo é para nós uma grande fraternidade. Não se trata somente de solidariedade humana. Mas trata-se de considerar as relações humanas a partir do ângulo da fé: Somos irmãos em Cristo. Somos os homens unidos ao mesmo Cristo e por isso, somos irmãos. Eu sou de Cristo com os outros cristãos, unicamente de Cristo, Cabeça e centro da unidade. Eu sou da Igreja como os outros cristãos, em comunhão com todos os irmãos. Eu sou para os demais, em atitude de solidariedade e de serviço a exemplo de Cristo. 

Na Primeira leitura de hoje São Paulo quer nos relembrar que necessitamos dar graças a Deus permanentemente: “Damos graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, sempre rezando por vós, pois ouvimos acerca da vossa fé em Cristo Jesus e do amor que mostrais para com todos os santos, animados pela esperança na posse do céu”. 

Uma pessoa agradecida é interiormente rica. Não somente tem consciência dos dons recebidos, como também reconhece que todo o bem procede de Deus. Quanto mais grata for uma pessoa, maior riqueza interior possui. O agradecido guarda na memória todas as boas experiências vividas. O ingrato, ao contrário, é um ser mesquinho, um isolado. Ele é infeliz por dentro apesar da sua aparente satisfação. 

O objetivo da ação de graças de São Paulo na leitura de hoje é a fé, a esperança e a caridade dos colossenses. A fé, a caridade e a esperança caracterizam os cristãos. 

O cristãos, enquanto peregrinos nesta terra, sabem que o motor, o dinamismo das outras duas virtudes é a esperança. Os cristãos estão em marcha e sabem aonde vão: vão para o céu. A fé e a caridade são como algo antecipado desse céu que realizará na plenitude de todas as aspirações do homem. A esperança sustenta a fé e frutifica em obras de amor. O amor no Espirito que os colossenses professam não é somente um amor meramente humano. Mas é muito mais do que isso: é um amor sobrenatural baseado no amor de Cristo que nos amou até o fim (cf. Jo 13,1). 

Somos Salvos Para Servir e Salvar Os Outros 

O que Jesus anunciou na sinagoga de Nazaré, no seu discurso programático (Lc 4,14-30), ele vai o cumprindo. Aplicando para si a profecia de Isaias, Jesus diz que vem anunciar a salvação aos pobres e curar os cegos e dar a liberdade aos oprimidos. 

Hoje lemos o programa de uma jornada de Jesus “ao sair da sinagoga”: curar a febre da sogra de Pedro, impor as mãos e curar os enfermos que as pessoas trouxeram para Jesus, libertar os possuídos pelo demônio e não se cansar de ir ao encontro do povo para anunciar o Reino de Deus. Mas, no meio de suas atividades missionárias, Jesus nunca deixa de buscar momentos de paz para rezar pessoalmente num lugar solitário. 

Depois de sair da Sinagoga, em Nazaré, Jesus e alguns discípulos foram para a casa de Simão Pedro. Jesus saiu de um lugar oficial (sinagoga é lugar de oração, de ensino e de catequese para os judeus) para um ambiente familiar: casa. Em casa todos tem seu espaço e cada um é chamado pelo nome e não pelo título (se é um doutor, deputado, presidente e assim por diante). Cada um é gente em casa. Em casa um se preocupa com o outro. Basta um membro sofrer, todos sofrerão. Basta um membro ter sucesso, todos experimentarão a felicidade. Ninguém fica feliz sozinho como também ninguém sofre sozinho, pois não somente vivemos, mas convivemos. Nossa vida é cercada por outras vidas. Oxalá possamos viver a espiritualidade familiar também fora de nossa família, como Jesus nos diz hoje: “Eu devo anunciar a Boa Nova do Reino de Deus também a outras cidades, porque para isso é que eu fui enviado” (Lc 4,43). O cristão existe para os outros. Nisto consiste o sentido de sua vida de cristão. 

Pedro encontra sua sogra com febre em sua casa. No pensamento daquela época, a febre era causada pelo demônio. Com um gesto familiar, Jesus se aproximou da mulher, tocou-a e a ajudou a se levantar e a febre desapareceu. A sogra de Pedro começou a servir a todos imediatamente. 

A febre representa tudo que nos impede de servirmos aos outros. Cada um pode descobrir que tipo de “febre” que o impede de servir aos outros, “febre” que faz a vida perder seu sentido (ficar deitado todo tempo). O que é que me faz viver uma “vida deitada”, isto é, sem ação, sem ânimo, sem perspectivas. Eu preciso convidar Jesus para entrar na minha casa onde estou “deitado” para que ele se aproxime de mim, me toque e me ajude a me levantar. A palavra “levantar-se” no Novo Testamento, em outros contextos, também significa ressuscitar. Eu preciso me levantar de uma vida estéril (deitar) para uma vida fecunda (servir). Para isso, eu preciso segurar a mão de Jesus, mão que me potencia, mão que me levanta, mão que me cura e liberta, mão que me torna uma mão que ajuda os outros.

Um outro detalhe que chama nossa atenção no evangelho deste dia é que Jesus não deixava os demônios falarem, e os expulsou (Lc 4,41). Nesta marca comum nos antigos exorcismos se descobre que é preciso lutar contra o mal sem deter-se em discutir suas pretensões.

Todos nós sabemos que o mal pode vestir-se de uma aparência boa, enganando os que procuram escutar suas “orações” ou “pedidos”. Jesus não ficou parado nisto. Jesus sabe que tudo que destrói o homem é perverso e Jesus se esforça para vencê-lo, devolvendo assim a dignidade para as pessoas sofridas. 

Outro detalhe que chama bastante nossa atenção é que diante da obra de Jesus surge uma reação bastante egoísta entre as pessoas: querem monopolizar o aspecto mais extenso da atividade de Jesus e utilizá-lo como um simples curandeiro: “As multidões o procuravam e, indo até ele, tentavam impedi-lo de as deixar”. 

Podemos ter a tentação ou a tendência para este tipo de relacionamento com Jesus no sentido de que nós aceitamos Jesus simplesmente na medida em que ele nos ajuda a resolver nossos problemas para garantir tranqüilidade psicológica ou uma ordem na família, ou uma garantia na vida financeira. Santo Agostinho nos relembra que a razão de nossa existência neste mundo é a vida eterna. Temos que viver e conviver dentro desta dimensão. Conseqüentemente eu sou uma ocasião de salvação para o próximo e o próximo é uma ocasião de salvação para mim. Jesus nos salva na medida em que cada um se torna uma ocasião de salvação para o outro (cf. Mt 25,40.45; veja também Lc 22,31-32). Estando conscientes disso entenderemos que Jesus é muito maior do que um fazedor de milagres. Ele é a nossa Salvação (cf. Jo 6,68-69). Que Jesus Cristo é nosso Salvador é uma das afirmações mais sólidas e repetidas do Novo Testamento. É a primeira noticia do céu à terra através do anjo falando a uns pastores: “Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11). A salvação alcança o que foi criado, pessoas humanas em umas condições concretas. Anunciar a salvação é anunciar a vida em todas as suas dimensões, inclusive em algo tão relativo como a saúde (a palavra “salus” [salvar/salvação] exige previamente uma cura. Para um cego, depois da recuperação de vista, Jesus disse: “Tua fé te salvou” [Mc 10,52]). Cada cristão existe para ajudar, proteger e salvar o outro. Se um cristão é egoísta é porque ele deixa de ser cristão. Se um cristão é desonesto, injusto, incoerente, etc., não ele não pode ser chamado mais de cristão, como dizia Santo Agostinho: “O nome de cristão traz em si a conotação de justiça, bondade, integridade, paciência, castidade, prudência, amabilidade, inocência e piedade. Como podes explicar a apropriação de tal nome se tua conduta mostra tão poucas dessas muitas virtudes?” (De vit. christ. 6).

A resposta de Jesus, para a tentação de monopólio, é clara: “Eu devo anunciar a Boa Nova do Reino de Deus também a outras cidades, porque para isso é que eu fui enviado” (Lc 4,43). Sua exigência se traduz em um dom que fica aberto para todos os que O esperam. Certamente o Evangelho é um presente que enriquece a existência, porém um presente que não se pode encerrar e sim um presente que nos abre sem cessar para os outros.

Podemos revisar alguns traços significativos do texto do evangelho lido neste dia. Em primeiro lugar, o texto diz que Jesus foi para casa de Pedro ao sair da sinagoga. Trata-se de um bom programa para qualquer cristão. “Ao sair da sinagoga...”. Ou seja, na nossa linguagem “ao sair de nossa missa ou de nossa oração”, nos espera uma jornada de trabalho, de pregação e evangelização, de serviço curativo para os demais traduzindo nossas orações em ações. É colocar a oração na vida e a vida na oração. Em segundo lugar, Jesus, em meio de uma jornada com um horário intensivo de trabalho e dedicação missionária, encontra momentos para rezar sozinho. Em terceiro lugar, Jesus não quer “se instalar” num lugar onde ele é bem acolhido: “Eu devo anunciar a Boa Nova do Reino de Deus também a outras cidades, porque para isso é que eu fui enviado”. É preciso que nós evitemos dois perigos: o ativismo exagerado, descuidando da oração (espiritualidade) e a tentação de ficarmos no ambiente em que somos bem recebidos, descuidando da universalidade de nossa missão. É preciso que olhemos para Cristo para saber o que precisamos fazer: Jesus é evangelizador, libertador, orante.

Para Refletir Mais...

Uma das atitudes fundamentais de Jesus, que Lucas nos descreveu no seu evangelho, é a sua grande misericórdia. A misericórdia leva Jesus a ser disponível para os demais. Por causa da misericórdia, para Jesus não há momento determinado para ajudar, para curar e para atender aos que O procuram e necessitam dele. Todo tempo de Jesus é para os necessitados, para os quais ele foi enviado (cf. Lc 4,18-19). E todos encontram nele alívio, consolo e força para continuar a seguir adiante na vida. Servir é amar. E amar é viver para sempre, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).

Que “motor” que nos move a trabalharmos como cristãos tanto na Igreja como na sociedade em geral? Como está nossa disponibilidade como cristãos? Existe algum momento dedicado para os outros no nosso dia-a-dia para ajudar, consolar, aconselhar ou simplesmente para escutar o outro?

P. Vitus Gustama,svd

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