quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Festa Da Transfiguração, 06/08/2021

NA TRANSFIGURAÇÃO COM O SENHOR

Primeira Leitura: Dn 7,9-10.13-14

9 Eu continuava olhando até que foram colocados uns tronos, e um Ancião de muitos dias aí tomou lugar. Sua veste era branca como neve e os cabelos da cabeça, como lã pura; seu trono eram chamas de fogo, e as rodas do trono, como fogo em brasa. 10 Derramava-se aí um rio de fogo que nascia diante dele; serviam-no milhares de milhares, e milhões de milhões assistiam-no ao trono; foi instalado o tribunal e os livros foram abertos. 13 Continuei insistindo na visão noturna, e eis que, entre as nuvens do céu, vinha um como filho do homem, aproximando-se do Ancião de muitos dias, e foi conduzido à sua presença. 14 Foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá. 

Evangelho: Mc 9,2-10

Naquele tempo, 2 Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E transfigurou-se diante deles. 3 Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar. 4 Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus. 5 Então Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: “Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. 6 Pedro não sabia o que dizer, pois estavam todos com muito medo. 7 Então desceu uma nuvem e os encobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” 8 E, de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus com eles. 9 Ao descerem da montanha, Jesus ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos. 10 Eles observaram esta ordem, mas comentavam entre si o que queria dizer “ressuscitar dos mortos”.

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O evangelho deste dia fala sobre a transfiguração de Jesus. O relato da transfiguração podemos encontrar também em outros dois evangelhos sinóticos (Mt 17,1-13; Lc 9,28-29), e numa versão independente dos evangelhos, mas somente fragmentária, que se encontra em 2Pd 1,16-18. 

O relato da Transfiguração forma um bloco ou seção com a confissão de Pedro, o anúncio da paixão, a reação de Pedro, a repreensão de Jesus e o apelo ao seguimento: "quem perder a vida por minha causa, a salvará" (Lc 9,24) . A Transfiguração é uma joia desse conjunto. E a garantia em que tudo se sustenta está nas palavras ouvidas da nuvem: "Este é o meu Filho amado; escute-o".

Dentro do evangelho de Marcos, duas observações literárias podem nos ajudar a compreender o significado da transfiguração na vida de Jesus e no trama do evangelho de Marcos. Este episódio (Mc 9,2-13) está colocado intencionalmente entre a primeira e a segunda predição ou anúncio da paixão. E os diversos detalhes da narrativa (o vocabulário, as imagens, as referências ao Antigo Testamento) demonstram que este episódio pertence ao gênero epifanico-apocalíptico: intenta ser uma revelação dirigida aos discípulos, revelação que tem como objeto o significado profundo e escondido da pessoa de Jesus e de seu “caminho”. 

Alguns elementos, como a nuvem e a voz celestial, a presença de Moisés e de Elias, evocam a presença em Sinai. Com isto se quer afirmar que Jesus é o “Novo Moisés”, que n´Ele se cumprem as esperanças, a Aliança e a Lei.

Outros elementos, como a transfiguração de seu rosto, as vestiduras brancas, evocam ao Filho do Homem do profeta Daniel, glorioso e vencedor, e parecem ser uma antecipação da ressurreição: intentam ou querem nos revelar o significado escondido da vida de Jesus, seu destino pessoal.

Jesus que caminha para a Cruz é realmente o Senhor. e é precisamente este caminho messiânico que encerra um significado pascal. Ou seja, a transfiguração é a Páscoa antecipada.

E tudo isso com uma indicação: o gênero epifânico-apocalíptico ao qual pertence esta cena de transfiguração não se limita a revelar o futuro. A Transfiguração tenta manifestar o significado profundo que a realidade já tem agora, um significado oculto que a maioria não descobre e que as aparências parecem negar. Desse modo, a transfiguração se torna a revelação não só do que Jesus será depois da cruz, mas do que ele é ao longo de sua jornada a Jerusalém. Esta é uma chave que nos permite compreender a verdadeira natureza de Jesus por trás do que poderíamos chamar de sua realidade fenomenal.  Jesus é Cristo e é Filho de Deus, como escreveu Marcos no início do se Evangelho (Mc 1,1). 

A cenografia, as palavras da nuvem, a repreensão de Jesus a Pedro (que concorda com a resposta de Jesus à terceira tentação, segundo Mt 4:10) relacionam este texto com o do batismo (que se relaciona com a cena da tentação ). Se então a voz do céu proclamou Jesus como o Filho amado (“Este é o meu Filho amado”), agora a voz da nuvem diz imperativamente aos discípulos para ouvi-lo (“Escutai o que ele diz!”). “Para que suportassem o escândalo da cruz”, comenta o prefácio de hoje.          

A transfiguração de Jesus é a resposta de Deus ao escândalo causado nos discípulos, mostrando-lhes antecipadamente, ainda que seja só num momento rápido, a glória de Jesus Cristo e a glória futura dos que seguem pelo caminho da cruz por causa de Jesus Cristo. A transfiguração anima os discípulos a seguirem Jesus no seu caminho apesar dos sofrimentos, pois a vitória está garantida para os que perseverarem até o fim (cf. Mt 10,22). A transfiguração é, então, a glorificação antecipada de Cristo na presença de seus três mais íntimos (Pedro, Tiago e João). Os discípulos somente superarão o escândalo da “necessidade” da Paixão depois da Páscoa e de Pentecostes: depois de verem Jesus na sua glória de ressuscitado e de serem fortalecidos pelo Espírito Santo (cf. At 2,1-13).          

Com a transfiguração os discípulos encontram em Jesus as duas faces do mistério da salvação. De um lado, mostra-se a face que causa medo, pois falam-se do sofrimento, da humilhação e da morte. Ninguém quer sofrer. Todos lutam contra sofrimento, pois o sofrimento sempre significa um prenúncio da morte. Por isso, todos fazem qualquer coisa para ficar longe do sofrimento. Não é de admirar que mais tarde Pedro preferirá negar Jesus a confessar-se discípulo do mesmo por medo de ser morto (cf. Mc 14,66-72). Do outro lado, mostra-se a face gloriosa de Jesus: a ressurreição e a glória. Por essa razão, em cada um dos três Anúncios da Paixão acrescenta-se o anúncio da ressurreição “ao terceiro dia” (cf. Mc 8,31;9,31;10,34). O Deus de Jesus é Aquele que mostra logo no início o final feliz, e mostra logo a vitória final logo no início da luta. Ele mostra logo a vitória final de Jesus. A vitória garantida anima qualquer um a lutar até o fim sem se cansar. A vitória garantida lhe dá força para lutar até o fim.

A transfiguração é, portanto, uma mensagem da esperança com intenção de animar qualquer um de nós em qualquer situação onde nos encontramos. Com essa transfiguração Jesus quer dizer aos três discípulos que acompanham Jesus (Pedro, Tiago e João): quando caminha comigo, mesmo que enfrente muitas dificuldades, muitas críticas, bastante recusas, experimentará a vida glorificada, terá uma vida transfigurada. Jesus quer dizer a todos os cristãos: “Comigo não tenham medo de nada e de ninguém, pois a minha Palavra será a última palavra!”. Quando as forças humanas se esgotarem, a fé em Jesus vai surgi-las novamente.

Se cada cristão é chamado a escutar e a seguir Jesus Cristos, o pedido de Pedro “É bom estarmos aqui, Senhor. Vamos fazer três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias”, se converte em grande tentação para ser verdadeiro cristão. O projeto da tenda de Pedro responde ao desejo inconsciente de ter Deus a distância, de marcar limite da presença de Deus em lugares e tempos bem definidos. Mas Deus não aceita nosso jogo. Com sua encarnação Deus escolheu outro jogo, que é muito mais sério: o jogo de nossa realidade de todos os dias; de caminhar com Deus juntamente aos irmãos da jornada de cada dia rumo à Pátria celeste. Jesus não aceita pousada para ele. A hospitalidade que Ele pretende é a doméstica. Por isso, ele, com seus discípulos, desceu da montanha.

Deus desceu para a terra precisamente para habitar na casa do homem, no meio de nós, no seu coração. Deus não habita nas paredes de uma igreja. Ele quer instalar-se em nossa casa, em sua casa, em minha casa, em meu coração, em seu coração. Deus quer instalar-se em nossa vida, em cada família, no centro de nossos trabalhos cotidianos. Que adiante visitarmos Deus nas igrejas que construímos, se Ele não tem nenhum cantinho no seu coração, na sua casa, na sua família, no nosso trabalho, nas nossas conversas? As igrejas que construímos deve ser manifestação de nossa vida de fraternidade, mostrando que somos todos irmãos e irmãs de Jesus, filhos e filhas do mesmo Pai celeste. O coração do homem é o lugar preferido de Deus. Um coração que ama é a melhor morada de Deus: “Se alguém me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada” (Jo 14,23). Se cada um tiver lugar para Deus na sua família, essa família vai experimentar também a transfiguração, a glorificação. 

A voz do Pai do céu fala para nós hoje sobre Jesus: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” Por que precisamos escutar a Jesus permanentemente? Porque ele tem uma palavra para mim, para minha família, para meu casamento, para meu trabalho, para meus problemas, para minha angústia, para minha depressão, para minha confusão até para a minha doença e dor, para meu futuro, para minha comunhão definitiva com o Pai do céu, e assim por diante. Eu posso escutar esta palavra no silêncio e na paz. Eu preciso me alimentar desta escuta para que eu cresça na fé e me realize como pessoa muito humana e muito cristã.

P. Vitus Gustama,SVD

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