quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Quarta-feira Da XXVIII Semana Comum,13/10/2021

VIVER NO ESPÍRITO DO SENHOR É VIVER NO AMOR E NA JUSTIÇA

Quarta-Feira da XXVIII Semana Comum

Primeira Leitura: Rm 2,1-11

1 Ó homem, qualquer que sejas, tu que julgas, não tens desculpa; pois, julgando os outros, te condenas a ti mesmo, já que fazes as mesmas coisas, tu que julgas. 2 Ora, sabemos que o julgamento de Deus se exerce segundo a verdade contra os que praticam tais coisas. 3 Ó homem, tu que julgas os que praticam tais coisas e, no entanto, as fazes também tu, pensas que escaparás ao julgamento de Deus? 4 Ou será que desprezas as riquezas de sua bondade, de sua tolerância, de sua longanimidade, não entendendo que a benignidade de Deus é um insistente convite para te converteres? 5 Por causa de teu endurecimento no mal e por teu coração impenitente, estás acumulando ira para ti mesmo, no dia da ira, quando se revelará o justo juízo de Deus. 6 Deus retribuirá a cada um segundo as suas obras. 7 Para aqueles que, perseverando na prática do bem, buscam a glória, a honra e a incorruptibilidade, Deus dará a vida eterna; 8 porém, para os que, por espírito de rebeldia, desobedecem à verdade e se submetem à iniquidade, estão reservadas ira e indignação. 9 Tribulação e angústia para toda pessoa que faz o mal, primeiro para o judeu, mas também para o grego; 10 glória, honra e paz para todo aquele que pratica o bem, primeiro para o judeu, mas também para o grego; 11 pois Deus não faz distinção de pessoas. 

Evangelho: Lc 11,42-46

Naquele tempo, disse o Senhor: 42 “Ai de vós, fariseus, porque pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as outras ervas, mas deixais de lado a justiça e o amor de Deus. Vós deveríeis praticar isso, sem deixar de lado aquilo. 43 Ai de vós, fariseus, porque gostais do lugar de honra nas sinagogas, e de serdes cumprimentados nas praças públicas. 44 Ai de vós, porque sois como túmulos que não se veem, sobre os quais os homens andam sem saber”. 45 Um mestre da Lei tomou a palavra e disse: “Mestre, falando assim, insultas-nos também a nós!” 46 Jesus respondeu: “Ai de vós também, mestres da Lei, porque colocais sobre os homens cargas insuportáveis, e vós mesmos não tocais nessas cargas, nem com um só dedo”.

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Ninguém Escapará Do Julgamento De Deus Baseado Sobre a Verdade 

Depois que descreveu a decadência pagã, Paulo agora descreve o extravio ou descaminho dos próprios judeus. O "panorama" da degradação a que chegou a existência ateísta é tão sombria. A razão disto é esta: “Por causa de teu endurecimento no mal e por teu coração impenitente, estás acumulando ira para ti mesmo, no dia da ira, quando se revelará o justo juízo de Deus”, que muitos homens, particularmente os fiéis judeus ou cristãos de HOJE, são tentados a dizer: "Não sou como estes". Agora, São Paulo quer que todo homem, seja ele quem for, tome consciência de sua condição radicalmente pecaminosa. O homem autoconfiante, o homem que se considera perfeito e santo, tende a "julgar os outros" por seu complexo de superioridade. Porém, ao fazer isso, ele se julga a si mesmo porque há nele as próprias raízes do mesmo mal. Somos todos pecadores, sim. “Se dissermos ‘Não temos pecado’, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1Jo 1,8). 

São Paulo nos alerta que Deus é absolutamente imparcial, e julgará a cada um sem levar em consideração privilégios de etnia, de religião, de condição social ou de qualquer outro tipo. Ninguém escapará ao justo julgamento de Deus, pois “Deus retribuirá a cada um segundo as suas obras” (Rm 2,6). Consequentemente, ninguém pode se sentir seguro nesta vida. Não é por acaso que são Paulo repete com frequência as seguintes expressões: conforme o seu merecimento (Rm 2,6), a prática do bem (Rm 2,7), os que fazem o bem (Rm 2,10), os que levam os preceitos da lei escritos em seu coração (Rm 2,15). Neste julgamento cada um responderá diante de Deus que não se vende. 

Infelizmente, nós também podemos ter "um coração impenitente" ou "rebelar-nos contra a verdade e render-nos à injustiça". Existe pecado em nossa vida e podemos cair na mediocridade e no abandono, não respondendo de forma consistente ao dom de Deus. 

As advertências de são Paulo aos cristãos judeus seguem as mesmas linhas das advertências de Jesus aos fariseus de sua época, cheios de seus próprios méritos. Mas vamos pensar em nós mesmos. Não temos muitos motivos para nos orgulhar, muito menos para julgar os outros. Seja quem for você, você não tem defesa diante do julgamento do justo Deus.  Ninguém é autorizado para julgar os outros a não ser somente a ordem para amar (Cf. Jo 13,34-35; 15,12), pois “No entardecer de nossa vida seremos julgados sobre o amor” (São João da Cruz). Não é Deus quem condena, é o homem que “endurece o coração” e que ceifará “segundo as suas obras”. Aqui temos motivos para refletir sobre a importância de nossa liberdade e de nosso destino. 

A demora que Deus nos concede antes do julgamento final deve permitir que “nos convertamos”. A “conversão”, metanóia, é a inversão do coração, é a mudança de vida. É afastar-se do mal para voltar-se a Deus. 

Lição Do Caminho: Quem Ama, Pratica a Justiça E a Caridade 

Continuamos a ouvir as ultimas e importantes lições de Jesus no Seu caminho para Jerusalém (Lc 9,51-19,28). Hoje Jesus nos dá a lição sobre a importância da vivência da justiça e da caridade inseparavelmente. Sem a prática da justiça e da caridade todos os atos religiosos (oração, dízimo, esmola, ritos etc.) ficariam carentes de sentido. 

“Ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças e deixais de lado a justiça e o amor de Deus. Estas coisas era preciso fazer, sem deixar de lado aquelas” (Lc 11,42). O texto anterior (Lc 11,37-41) nos mostra que a verdadeira pureza de vida não consiste em observar todas as regras de purificação externa (cuidar apenas da aparência) que resulta na hipocrisia (viver como um ator diante de uma plateia) e sim em amar a Deus que se traduz na caridade fraterna e no respeito pelo outro. Chegamos até Deus através do próximo (cf. Mt 25,31-45). Eu sou ocasião de salvação para o outro e o outro é ocasião de salvação para mim. 

No texto do evangelho lido neste dia Jesus volta a criticar os fariseus (e os escribas) porque invertem o valor das coisas. Pagar o dízimo faz parte da religiosidade do povo. É o que os fariseus fazem. Eles acham que com o pagamento do dízimo eles poderiam ficar tranquilos diante de Deus (como se comprasse Deus com algo tão terreno). No entanto, os fariseus não se preocupam em amar a Deus verdadeiramente e em praticar a justiça para com o próximo. Consequentemente, o pagamento de dízimo carece de sentido e se torna um exibicionismo. Eles continuam a praticar a injustiça contra o próximo e a cultivar a vanglória. Deste jeito, eles vivem como hipócritas. “Ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças e deixais de lado a justiça e o amor de Deus. Estas coisas era preciso fazer, sem deixar de lado aquelas”, são palavras de Jesus com um tom profético que denuncia a injustiça e o desamor contra o próximo.

Jesus quer tirar os fariseus e escribas de seu pecado e os leva à conversão. O pecado dos fariseus está em colocar escrupulosamente a importância nas normas insignificantes enquanto desprezam o essencial; em querer aparecer como reprováveis para serem honrados como piedosos (cf. Mt 23,6-7; Mc 12,38-39). Nessa advertência de Jesus está seu convite para todos os seus seguidores. Os discípulos de Jesus (cristãos) devem valorizar as coisas segundo sua importância. Não devem desprezar o pequeno por ser pequeno, mas devem centrar seu esforço no fundamental: a justiça e o amor a Deus e ao irmão. 

Amor e justiça andam como uma moeda de dois lados. Quem ama, pratica a justiça. Quem não ama, pratica a injustiça. Com efeito, todas as injustiças são consequências da falta de amor. Você comete a maior injustiça quando não ama. Por isso, o mais importante não é você ser reconhecido socialmente e sim seu comportamento com as pessoas (amor e respeito) e com as causas justas. Praticamos a justiça para que o próximo não seja explorado e injustiçado. 

A caridade (amor) é sempre maior do que a justiça. A justiça é o reconhecimento do direito do outro. Dar ao outro o que é dele é a justiça. A caridade (amor) é dar ao outro o que é meu. Mas para dar ao outro o que é meu, eu preciso respeitar o que é do outro. O Papa Bento XVI, na sua encíclica Caritas In Veritate escreveu: “A caridade supera a justiça, porque amar é dar, oferecer ao outro do que é ‘meu’; mas nunca existe sem a justiça, que induz a dar ao outro o que é ‘dele’, o que lhe pertence em razão do seu ser e do seu agir. Não posso ‘dar’ ao outro do que é meu, sem antes lhe ter dado aquilo que lhe compete por justiça. Quem ama os outros com caridade é, antes de mais nada, justo para com eles. A justiça não só não é alheia à caridade, não só não é um caminho alternativo ou paralelo à caridade, mas é ‘inseparável da caridade’, é-lhe intrínseca. A justiça é o primeiro caminho da caridade...”  (no.6).

O amor sempre oferece ao outro o que lhe falta, mas o egoísmo devora tudo que o outro tem. E nunca o egoísmo é tão prejudicial, como quando se disfarça de amor. Quem não sabe se amar, não cresce. Quem não aprende a amar, não deixa que os outros cresçam. O amor nunca morre porque é o nome próprio de Deus (1Jo 4,8.16), isto é, Sua própria essência. As caricaturas do amor é que não duram muito tempo. A felicidade está em amar e em ser amado. Somos felizes quando amamos e quando somos amados. O ardor do amor abre os corações. 

E a justiça não é questão de números e quantidades e sim de amor. Você pratica a justiça não é com o objetivo de alcançar a perfeição para si e sim para que você não trate seu irmão (próximo) injustamente. Se você buscar a justiça escutando seus irmãos, você se sentirá em dívida todos os dias. “O amor é a única dívida que mesmo depois de paga nos mantém como devedores” (Santo Agostinho). 

Portanto, o ser humano cresce, a comunidade e a comunhão se criam, a fraternidade se vive quando o amor e a justiça têm voz e vez nas relações interpessoais. Outras coisas são importantes, mas o amor e a justiça são muito mais importantes e são essenciais para quem acredita verdadeiramente em Deus. Por isso, jamais podemos deixar de lado a justiça e o amor de Deus na nossa vida como cristãos. Praticamos a justiça para que o irmão não seja tratado injustamente. E nada compromete tanto como o amor, pois o amor é o nome próprio de Deus (cf. 1Jo 4,8.16) e seremos julgados a partir do amor fraterno que praticamos ou deixamos de praticar (cf. Mt 25,40.45).

P. Vitus Gustama,svd

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