sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Quinta-feira Da XXXI Semana Comum,04/11/2021

DEUS NOS AMA COM AMOR MISERICORDIOSO

Quinta-Feira da XXXI Semana Comum

Primeira Leitura: Rm 14,7-12

Irmãos, 7ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo. 8Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Portanto, vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor. 9Cristo morreu e ressuscitou exatamente para isto, para ser o Senhor dos mortos e dos vivos. 10E tu, por que julgas o teu irmão? Ou, mesmo, por que desprezas o teu irmão? Pois é diante do tribunal de Deus que todos compareceremos. 11Com efeito, está escrito: “Por minha vida, diz o Senhor, todo joelho se dobrará diante de mim e toda língua glorificará a Deus”. 12Assim, cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus.

Evangelho: Lc 15, 1-10

Naquele tempo, 1 os publicanos e pecadores aproximaram-se de Jesus para o escutar. 2 Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus. “Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles”. 3 Então Jesus contou-lhes esta parábola: 4 “Se um de vós tem cem ovelhas e perde uma, não deixa as noventa e nove no deserto, e vai atrás daquela que se perdeu, até encontrá-la? 5 Quando a encontra, coloca-a nos ombros com alegria, 6 e, chegando a casa, reúne os amigos e vizinhos, e diz: ‘Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida!’ 7 Eu vos digo: Assim haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão. 8 E se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e a procura cuidadosamente, até encontrá-la? 9 Quando a encontra, reúne as amigas e vizinhas, e diz: ‘Alegrai-vos comigo! Encontrei a moeda que tinha perdido!’ 10 Por isso, eu vos digo, haverá alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte”.

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Conhecer Jesus, O Salvador Do Mundo, É Maior Do Que Qualquer Riqueza Do Mundo 

O texto da Primeira Leitura se encontra na parte exortativa da Carta aos Romanos (Rm 12,1-15,13). Esta parte começa com um significativo: “Eu os exorto” (Rm 12,1). Numa parte exortativa, os verbos no imperativo predominam todo o conjunto. Há imperativos negativos como também há imperativos afirmativos. Por exemplo: “Não façam isso, mas aquilo” (cf. Rm 12,2.3.16.19.21; 13,13-14; 14,13). 

De modo especial o texto da Primeira Leitura se encontra no conjunto de Rm 14,1-15,13 no qual se fala dos fortes e dos fracos na comunidade. Somente dentro deste conjunto podemos entender o conteúdo do texto da Primeira Leitura. 

A comunidade cristã de Roma estava dividida. Em seu interior havia dois grupos com posições diferentes que são Paulo denomina “fracos” (Rm 14,1.2;15,1) e “fortes” (Rm 5,1). Eram fracos e fortes em relação à fé cristã, interpretada e vivida diversamente. Fraqueza e força de fé eram entendidas em relação em relação à concepção sacral ou não do mundo.

Qual é a posição de são Paulo? Teoricamente são Paulo faz parte dos mais “fortes”. Porém, ele repreende a sua atitude prática de ostentação da própria liberdade, em prejuízo dos fracos. Do mesmo modo, ele reconhece o direito dos “fracos” de seguir a própria prática ascética e ritual, mas rejeita sua pretensão de julgar os fortes. 

Concretamente podemos dizer que são Paulo vê que nas comunidades há distintas maneiras de pensar: uns dão importância para alguns detalhes, outros dão importância para outros detalhes. Por exemplo sobre as comidas: “Há quem, pela fé, acredita que pode comer tudo; mas quem é fraco só come legumes. Pois bem, quem come não despreze aquele que se abstém; e quem se abstém não julgue aquele que come, porque Deus o acolheu.  ...  quem come o faz para o Senhor, porque a Deus se dirige a prece de agradecimento. E quem se abstém o faz para o Senhor, e também ele agradece a Deus” (Rm 14,2-6). 

Para nós vem a lição: nessas coisas que não são importantes, temos de ser tolerantes e não querer impor nossa opinião: “Quem come não despreze quem não come”. Uns e outros que sigam sua consciência, pois “quem come o faz para o Senhor. Quem não come o faz para o Senhor”. Por isso, o seguinte ponto de referência deve ser mantido: “Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Portanto, vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor. Cristo morreu e ressuscitou exatamente para isto, para ser o Senhor dos mortos e dos vivos” Rm 14,8-9). 

Em qualquer grupo humano e nas comunidades cristãs, temos necessidade de uma maior abertura de coração. Precisamos ser mais pluralistas e respeitar a conduta dos demais ainda que seja distinta da nossa. O que é fundamental que saibamos distinguir o que é importante e o que pode deixar-se livremente à consciência de cada um e que vivamos e trabalhemos para o Senhor e para os irmãos, em consequência. 

Afinal “Todos somos próximos uns dos outros pela condição de nascimento terreno e irmãos pela esperança da herança celestial” (Santo Agostinho: In ps. 25, 2,2). “Vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor”.  Esta é uma das persuasões fundamentais da vida cristã: que sempre estejamos nas mãos, no coração, na providência de Deus sobre nós. E não devemos duvidar disto, pois para isso viveu, morreu e ressuscitou Jesus Cristo.

Tudo isso se exige de nós a conversão sincera e permanente. A razão de nossa conversão é que Deus nos ama com um amor infinito. Seu amor por nós jamais acabará. Esse amor levou o Filho de Deus a descer da eternidade para fazer-se um de nós, para sair em nossa busca, pois desandamos, como enfatiza o Evangelho de hoje. 

E na Eucaristia, o Senhor sai ao nosso encontro para nos oferecer seu perdão, sua Vida, seu Espírito. Alimentar-se de Cristo é entrar em comunhão de vida com o Senhor. E entrar em comunhão de vida com o Senhor significa abrir nosso coração para que habite o Senhor em nós e nos transforme fazendo-nos viver como filhos seus, deixando-nos amor por Ele, amando-O acima de tudo e amando ao próximo como Deus nos mandou. Quem vive sua fé fechado em si mesmo, não pode identificar-se com Cristo que sai a buscar a ovelha perdida até encontrá-la.

Deus Me Ama Apesar Das Minhas Fraquezas e Do Meu Afastamento D´Ele 

Estamos acompanhando Jesus no seu caminho para Jerusalém escutando suas últimas e importantes lições para todos nós, seus seguidores (Lc 9,51-19,28).

O capítulo 15 de são Lucas, onde se encontra o texto de hoje, é chamado “o coração do evangelho”. Ele nos transmite umas parábolas muito característica, as da misericórdia: hoje lemos a da ovelha agarrada e a da moeda perdida. A do filho pródigo, a mais famosa, lemos na Quaresma. Deus é rico em misericórdia. Seu coração está cheio de compreensão e clemência. Apesar de nos afastarmos d´Ele, Deus nos busca até nos encontrar e se alegra mais que o pastor pela ovelha e a mulher pela moeda.

Este Evangelho nos faz sentirmos o gozo, mas, sobretudo, a esperança. Quem não se sentiu alguma vez como a ovelha perdida? Não somente pelo pecado, mas também há tantos conflitos e problemas na vida! Todos nós conhecemos dias mais amargos de nossa vida. Mas nossa vida tem sentido porque Deus cuida de nós, nos ama e se alegra com nossas alegrias e soluciona conosco nossas dificuldades. Deus está sempre ao nosso lado e não ao lado de nosso pecado. Ele odeia o pecado, mas ama o pecador.

Na passagem do evangelho de hoje Jesus nos revela o amor sem limite de Deus para todos nós, o amor misericordioso. Deus nos ama apesar de nossos pecados. Esse amor misericordioso deve nos fazer voltarmos para Deus. Quando tivermos consciência dessa verdade, viveremos na alegria permanente, e na constante ação de graças, pois saberemos que há Alguém que nos envolve e nos ama de todos os lados: nosso Pai do céu. 

Com a passagem do evangelho de hoje, começam aqui as três parábolas chamadas de as parábolas da misericórdia: a parábola da ovelha perdida (Lc 15, 3-7); a da moeda de prata perdida (Lc 15,8-10); e a parábola do pai misericordioso, ou conhecida como a parábola do filho pródigo (Lc 15,11-32). Ao contar estas parábolas Lucas procede do menos precioso (ovelha e moeda de prata) ao mais precioso (ser humano). Nestas três parábolas Jesus nos mostra, como uma característica do coração de seu Pai, a predileção com que seu amor se inclina até os mais necessitados, contrastando com a mesquinhez humana que busca sempre os triunfadores.

O que é admirável na parábola da ovelha reencontrada é a medida drástica que o pastor toma para buscar uma ovelha perdida. Ele deixa noventa e nove ovelhas para que a perdida possa ser trazida de volta ao aprisco. A ovelha não se desgarrou (cf. Mt 18,12), mas “se perdeu”, e o pastor toma a iniciativa de encontrá-la. Essa é a condição do pecador antes da conversão, e a resposta de Deus é buscar o perdido. Um cardeal escreveu que Deus não sabe matemática, pois deixa 99 ovelhas para buscar uma ovelha perdida. Isto nos mostra que cada um tem seu próprio valor diante de Deus. Outro aspecto que Lucas sublinha também é o tom de alegria que acompanha essa bem-sucedida conversão. Para Lucas, o resultado da verdadeira conversão é a experiência de estar perdido, depois encontrado, que leva à alegria sem limites.         

A segunda parábola é a da moeda reencontrada, desta vez usando uma mulher como personagem central. É uma parábola paralela do mesmo motivo. A mulher pobre faz tudo para encontrar a moeda perdida. ”Acende uma lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente até encontrá-la” (Lc 15,8). Os verbos mostram o esforço incansável para recuperar a moeda perdida. Com essa solicitude, com essa impaciência amorosa, com esse carinho Deus se comporta como pai paciente e misericordioso que busca todos os meios para encontrar e salvar os perdidos.          

O tema de perdido e reencontrado culmina na parábola do Pai misericordioso ou na do filho reencontrado (filho pródigo). Na parábola do Pai misericordioso, não se trata mais de um animal, ainda que de estimação, como uma ovelha, nem de um objeto, mesmo precioso como uma moeda de prata, mas de um ser humano amado por Deus, por ser Seu filho ainda que seja um filho transviado. Cada um de nós é precioso nos olhos de Deus e ninguém escapa do olhar misericordioso de Deus. “Veja, Eu tatuei você na palma da Minha mão: suas muralhas estão sempre diante de mim “(Is 49,16). Basta que um de nós esteja perdido para que seja objeto da preocupação de Deus. 

 Por isso, Lucas 15 é o coração do Evangelho de Lucas. É quase um “evangelho“ dentro do Evangelho. Neste capítulo Jesus fala de sua doutrina sobre a Divina Misericórdia e a alegria de Deus por ter reencontrado o que estava perdido. Estes dois temas, misericórdia e alegria, são características da obra de Lucas. Por isso, sem dúvida nenhuma “a face mais bonita do Amor de Deus é a Misericórdia” (João Paulo II). 

Para falar desse tema Jesus começou com esta frase, na parábola sobre a ovelha perdida: “Quem de vós que, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la?” (Lc 15,4).

A aritmética ou a matemática de Deus é diferente de nossa. Por isso, a matemática de Deus não é nossa. O número e a quantidade nos impressionam sempre. Para nós “um” não é igual a “noventa e nove”, pois o nosso critério é a quantidade. Para Deus “um” é igual a “noventa e nove”, pois o critério de Deus é baseado sobre o valor de cada um. Cada homem tem um valor inestimável para Deus. É o mistério do respeito que Deus tem para cada um de nós. Cada um de nós é amado por Deus com um amor “pessoal”, “individualizado”. Deus ama cada um na sua individualidade. Sou amado por Deus independentemente da minha situação atual ou do meu passado. Ele me ama por aquilo que sou. E esse amor me potencia para melhorar minha vida e minha convivência. 

“O pastor vai em busca da ovelha que se perdeu, até encontrá-la?”. É precisamente aquela que se escapou, se perdeu. É para aquela ovelha perdida que o pensamento do pastor é dirigido. É assim nosso Deus! Um Deus que continua pensando nos que O abandonaram, um Deus que ama os que não O amam, um Deus que anda em busca de seus filhos perdidos e desaparecidos de Sua presença. É a ovelha que causa preocupação para Deus. Esta ovelha talvez seja eu, talvez seja você, porque podemos estar ausentes na presença de Deus, podemos comer diante de Deus e não com Deus (cf. Lc 13, 26-27).

E depois de encontrá-la, o pastor a põe nos ombros, cheio de júbilo” (Lc 15,5).   É um homem, um pastor feliz, sorridente, exultante e muito contente. É assim que Deus é apresentado para nós. Deus é um Ser que se alegra, e de Sua alegria faz partícipes os demais. A alegria de Deus é encontrar novamente os filhos que estavam perdidos. Um só que se converteu passa a ter uma importância desmesurada diante dos olhos de Deus. Onde há experiência da graça de Deus (grego: “cháris”) sempre há alegria (grego: “chára”). Somente quando experimentamos que Deus é alegre e que nos contagia sua alegria é que poderemos renunciar a tudo sem sentir que nossa vida fique vazia. Nada é possível sem um coração alegre. A alegria é fonte de heroísmo. O esforço sem alegria gera ressentimento, pois não tolera os erros, como se comportam os fariseus criticados por Jesus. 

Este evangelho nos faz sentirmos gozo, sobretudo esperança. Quem de nós que, alguma vez, não se sentiu como a ovelha perdida? Não só pelo pecado. Há tantos conflitos e problemas na vida. Todos nós conhecemos dias amargos na vida. Mas nossa vida tem sentido porque Deus cuida de nós, nos ama, se alegra com nossas alegrias e nos consola nas nossas tristezas. Além disso, precisamos estar conscientes de que onde estivermos, para onde formos, em que situação nos encontrarmos, Deus continua nos amando do mesmo jeito, pois para Ele cada um tem nome (cf. Is 43,1) e nosso nome está tatuado na palma das mãos de Deus (cf. Is 4916). Quando tivermos essa consciência, aconteça o que acontecer, Deus é nosso Pai que nos ama eternamente (cf. Jr 31,3). Como é bom saber que nós somos amados de Deus e por Deus. Essa consciência nos leva a vivermos nossa vida com força total e com carinho. Sabemos que Deus nos ama e cremos no seu amor.

P. Vitus Gustama,svd

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