quarta-feira, 27 de outubro de 2021

XXXI Domingo Comum B,31/10/2021

AMAR DE CORAÇÃO

XXXI DOMINGO COMUM DO ANO B

Primeira Leitura: Dt 6,2-6

Moisés falou ao povo dizendo: 2 “Temerás o Senhor teu Deus, observando durante toda a vida as suas leis e os seus mandamentos que te prescrevo, a ti, a teus filhos e netos, a fim de que se prolonguem os teus dias. 3 Ouve, Israel, e cuida de os pôr em prática, para seres feliz e te multiplicares sempre mais, na terra onde corre leite e mel, como te prometeu o Senhor, o Deus de teus pais. 4 Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. 5 Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. 6 E trarás gravadas em teu coração todas estas palavras que hoje te ordeno.

Segunda Leitura: Hb 7,23-28

Irmãos: 23 Os sacerdotes da antiga aliança sucediam-se em grande número, porque a morte os impedia de permanecer. 24 Cristo, porém, uma vez que permanece para a eternidade, possui um sacerdócio que não muda. 25 Por isso ele é capaz de salvar para sempre aquele que, por seu intermédio, se aproximam de Deus. Ele está sempre vivo para interceder por eles. 26 Tal é precisamente o sumo-sacerdote que nos convinha: santo, inocente, sem mancha, separado dos pecadores e elevado acima dos céus. 27 Ele não precisa, como os sumos-sacerdotes oferecer sacrifícios em cada dia, primeiro por seus próprios pecados e depois pelos do povo. Ele já o fez uma vez por todas, oferecendo-se a si mesmo. 28 A lei, com efeito, constituiu sumos-sacerdotes sujeitos à fraqueza, enquanto a palavra do juramento, que veio depois da Lei, constituiu alguém que é Filho, perfeito para sempre.

Evangelho: Mc 12,28-34

Naquele tempo, aproximou-se de Jesus um escriba e perguntou-Lhe: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?”. Jesus respondeu: “O primeiro é este: 'Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças'. O segundo é este: 'Amarás o teu próximo como a ti mesmo'. Não existe outro mandamento maior que estes”. Disse-Lhe o escriba: “Muito bem, Mestre! Tens razão quando dizes: Deus é único e nãooutro além d'Ele. Amá-lo com todo o coração, com toda a inteligência e com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios”. Ao ver que o escriba dera uma resposta inteligente, Jesus disse-lhe: “Não estás longe do reino de Deus”. E ninguém mais se atrevia a interrogá-Lo.

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“Perguntavas de que amor ou que tipo de amor está falando? Escutas em outro texto: O fim do preceito é o amor que procede de um coração puro.’ Amarás o teu próximo como a ti mesmo!’. Com efeito, se te amas a ti mesmo mal e de forma inútil, amando assim ao próximo, de que lhe aproveitas? Se amas a iniquidade, podes pensar que te amas a ti mesmo? Te equivocas… Não busques na Escritura nenhuma outra coisa; ninguém os ordene nada mais. Nos textos obscuros da Escritura está oculto este amor, e nos textos claros, está claro este amor (Santo Agostinho).

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Um Olhar Geral Sobre As Leituras Deste Domingo

O Evangelho de hoje (Mc 12,28-34) e a Primeira Leitura (Dt 6,2-6) nos apresentam o “primeiro mandamento”, o critério básico da vida cristã. São palavras centrais que não deveriam passar por alto, por muito conhecidas que pareçam. 

Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. E trarás gravadas em teu coração todas estas palavras que hoje te ordeno” (Dt 6,4-6), assim lemos na Primeira Leitura como lemos também no Evangelho de hoje com algum acréscimo da parte de Jesus. 

Este é um dos textos centrais do Antigo Testamento. Muitas outras passagens dos livros sagrados, especialmente os salmos e os profetas, especialmente Oseias e Jeremias, supõem o fato do amor de Deus, mas só Deuteronômio consegue formulá-lo com tanta veemência, e também convertê-lo em um mandamento explícito. Mas como pode o mais livre de todos os atos humanos, o amor, ser objeto de preceito? Um amor governado pode ser chamado de amor? Precisamente o Deuteronômio, o mais parenético ou exortativo dos livros da Lei, é aquele que expôs de forma mais significativa e comovente o grande amor que Deus tem pelo seu povo. Por isso, pode exigir do povo que corresponda com amor ao amor, e que por amor se apliquem ao cumprimento da Lei. Nele encontrarão "vida", a felicidade e posse da pátria, três promessas que ao longo dos séculos espiritualizarão progressivamente o seu conteúdo, sob a dura pedagogia das calamidades. 

Escuta, ó Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor”. Somos chamados a reconhecer Deus como “Único Senhor”. Ele é o Único seguro e definitivo que existe, o único que merece o amor “com toda a alma, com todo o ser”. Deveríamos repetir estas palavras como uma oração, como as repetia o povo israelita, chamada “Shema”.

Uma das orações preferidas dos piedosos judeus, e que era rezada pela manhã e à noite na sinagoga, era o "Shema" (= "Escuta ..."), que começava justamente com Dt 6,4-6, acrescentando Dt 11, 13-21 e Nm 15, 37-41. Para um judeu praticante que frequentava a sinagoga, o "Shema", guiado pela profissão de fé monoteísta e pela exortação ao amor a Deus, era mais ou menos o que o Pai Nosso é para um cristão. 

Shema” é parte integrante da oração matutina e vespertina feita por qualquer israelita: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças”. Mas esta oração é também a última confissão que termina a vida dos mártires judeus de todos os tempos. Milhões de judeus, sofrendo os horrores dos campos de concentração, rezavam ou murmuravam em meio aos tormentos mais hediondos, Shema. E em todos os tempos, também durante a vida de Jesus, grandes fariseus ou escribas como Nocodemos, José de Arimateia, Gamaliel e outros, procuravam algo maior do que a lei e a justiça: o amor e a equidade. A oração “Shema” era tão conhecida entre os israelitas como entre nós hoje, o Pai-Nosso. 

E no evangelho, Jesus repete aquilo que foi dito na Primeira Leitura, porém Ele acrescenta outro conteúdo mais importante também: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças. O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há nenhum mandamento maior que estes”.

São palavras dirigidas a nós. Trata-se de o mandamento que une inseparavelmente Deus e o próximo. O amor a Deus e o amor ao próximo vão unidos em qualquer momento de nossa vida. “Disse ser semelhante porque dois mandamentos são alternadamente consoantes e convertem-se reciprocamente: pois quem ama a Deus, ama suas criaturas. Mas a principal criatura de Deus é o homem, razão pela qual quem ama a Deus deve amar todos os homens; já quem ama o próximo que muitas vezes provoca escândalos, com muito maior razão deve amar quem sempre oferece benefícios; e, assim, devido à coerência entre estes mandamentos, acrescenta: Não há outro mandamento maior do que estes’” (Teofilacto de Ócrida In Santo Tomás de Aquino: Catena Aurea Vol.2, Evangelho de São Marcos, Ed. Ecclesiae, 2019 p.223). 

O texto de hoje destrói, então, pela base, a crítica sobre Deus como inimigo ou competidor do homem. Deus não se compadece na morte. Sua glória é a vida do homem (disse são Irineu de Lyon). 

E Jesus acrescenta, citando novamente a Bíblia: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). Nosso Deus é um Deus de vida, um Deus que tem em seu coração a criação inteira. Um Deus que se revelou através de um homem como nós. Por isso, a verdade de nosso amor a Deus com todo nosso ser se traduz no amor ao próximo. E por isso, um homem que ama aos demais homens, ama já, de alguma forma, ainda que não diga, a Deus (Cf. Mt 25,40.45). 

Um exemplo maior do amor a Deus e ao próximo inseparavelmente é Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote que lemos Segunda Leitura (Hb 7,23-28). 

O texto da Primeira Leitura é denso, e constitui o final da demonstração da superioridade do sacerdócio de Cristo sobre o sacerdócio levítico, pois seu sacerdócio se apoia em sua qualidade de Filho e de Senhor (Sl 2,7) e que está de acordo com o “juramento de Deus” (Hb 7,20-22) e por isso, é para sempre.

A lista que apresenta sobre os contrastes com os sacerdotes levíticos é grande: Estes eram muitos, homens imperfeitos, caducos, de sacerdócio efêmero, temporal, pecadores, obrigados antes a fazer sacrifício por seus próprios pecados, com sacrifícios diários e repetidos, de matérias alheias, incapazes, portanto, de salvar. 

Diante de tudo isso está Jesus Cristo que é sacerdote único, Filho de Deus e perfeito, incontaminado, e sem necessidade de oferecer por seus pecados, mas que se oferece a si mesmo pelos demais, tem um sacerdócio perpétuo, está sempre vivo para interceder e, portanto, capaz de salvar os que por ele se aproximam de Deus: “Ele é capaz de salvar para sempre aqueles que, por seu intermédio, se aproximam de Deus. Ele está sempre vivo para interceder por eles”. É uma fórmula admirável que poderíamos saborear durante o dia. É olhar para a humanidade como uma imensa caravana que trata de avançar até Deus. Todos temos este desejo de descobrir Deus, de ver Deus. Mas que, no fundo, o homem é incapaz de abrir o caminho, a não ser o próprio Jesus que é o próprio Caminho (cf. Jo 14,6). Jesus Cristo nos abre a porta de par em par, de maneira definitiva. Sua ressurreição é a garantia da eternidade de sua missão a respeito de nós todos. Jesus Cristo não deixa de orar, de suplicar ao seu Pai por nós, por mim, por você, por todos os homens. Do ponto de vista cristão, este mundo está sendo transformado, divinizado, porque Jesus é o sacerdote que mantém seu oferecimento eterno diante do Pai pela salvação da humanidade. 

Um Olhar Específico Sobre O Texto Do Evangelho De Hoje

O Homem Morre Não Quando Deixa De Viver, e Sim Quando Deixa De Amar 

Encontramos no evangelho de hoje um escriba sincero (versão Marcos) que se aproxima de Jesus não para criticá-lo, mas para dialogar com ele a respeito do maior de todos os mandamentos: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?”, ele pergunta a Jesus. 

Os rabinos do tempo de Jesus, estudando a Bíblia, tinham chegado a compor uma lista dos mandamentos nela contidos. Ensinavam que o conjunto dos preceitos era de 613. Desses, 365 (como os dias do ano) eram proibições e 248 (como membros do corpo) eram ações a serem cumpridas. Os guias religiosos de Israel ensinavam que todos esses mandamentos tinham a mesma importância e eram igualmente obrigatórios.

Por isso, um dos mestres da lei (escriba) pergunta a Jesus, não para experimentá-lo e sim para saber de sua posição: “Qual é o maior mandamento da Lei?”. Aqui o escriba em questão não chama Jesus de “Mestre” na pergunta, como em Mateus (cf. Mt 22,36) e Lucas (cf. Lc 10,25).

Jesus responde citando ao pé da letra a passagem do Dt 6,4-5 onde se encontra a seguinte afirmação: “Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças”. Ao mesmo tempo Jesus cita a passagem do Lv 19,8, também ao pé da letra, onde se encontra o seguinte mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. E para Jesus ambos os mandamentos são como um só inseparavelmente: “Não existe outro mandamento maior do que estes”. É um só porque não se pode amar a Deus sem amar ao próximo. Por isso, na sua primeira Carta são João nos diz: “Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4,20). Então, entre o mandamento do amor a Deus e o preceito de amar ao próximo existe uma conexão necessária. Inclusive os rabinos entendiam que o amor ao próximo era como um resumo da lei. Por exemplo, se atribui ao Rabino Hillel esta sentença: “Não faças ao outro o que não desejas para ti. Esta é toda a lei. O resto é interpretação”. Neste mandamento de amor se funda a única piedade verdadeira. 

O amor se expressa com todas as faculdades do homem: coração, alma, mente, ser: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças”. 

Há que ter presente que na antropologia semítica o coração não se considera tanto como a sede dos afetos e dos sentimentos, mas principalmente da inteligência e da vontade. “Alma” quer dizer vida. E pode significar, além disso, da exigência de amar a Deus em todas as circunstancias da existência, também a de sacrificar a própria vida se for exigida a fidelidade. “Com todo teu ser” ou “Com todas as tuas forças” entende-se a vontade. Trata-se de amar com a totalidade ou plenitude. Há que amar a Deus com um amor que brota do centro da pessoas e invade toas as faculdades. A resposta do homem deve ser completa. 

"Amarás a teu próximo como a ti mesmo". É importante a pontualização “como a ti mesmo”. Sugere-se a possibilidade e inclusive, o dever de se amar a si mesmo. Obviamente é muito distinto de ser egoísta. Há um amor são a si mesmo que está na base do autêntico amor aos demais. Há uma boa relação consigo mesmo que constitui o fundamento das relações autenticas com os demais. 

Amar! Este é o mandamento do Senhor. A acumulação dos termos: “coração, alma, mente, força” quer significar uma plenitude de amor que compreende todas as nossas faculdades de amar. É preciso que o amor arda em nossos pés à cabeça, em nosso espírito ao corpo, em nossa manhã até a noite, em nossa infância à velhice. 

Amor é a essência para qualquer relacionamento com suas três direções: a Deus, ao próximo e a mim mesmo. Amor é relação, comunicação, encontro. Para eu poder valorizar o outro eu preciso saber me valorizar. Para eu poder amar o outro, eu preciso saber me amar. Para eu poder compreender o outro, eu preciso me compreender. Para eu poder fazer o encontro com o outro, eu preciso fazer o encontro comigo mesmo, reconhecendo tantos minhas capacidades e virtudes como também meus defeitos e limitações. Não basta amar a Deus, alguém tem que amar também o próximo. Não basta amar o outro, mas tem que saber se amar: “Amar a Deus com toda força e o próximo como a ti mesmo”. Não faça do outro como objeto de sua carência de amor. Isto não é amor. É exploração. Para amar tem que ser livre. O amor liberta, dá segurança e possibilita o crescimento. Quando uma pessoa começar a sufocar a outra pessoa é porque está faltando amor. 

Por isso é que Jesus não fala de qualquer amor. Ele fala do amor ágape. Ágape é uma palavra grega que significa o amor que se dirige unicamente para o outro, incondicional, e que não espera nada em troca. É uma doação pura de si mesmo. Por isso, Jesus chegou a fazer uma afirmação muito extrema: “Amai vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem” (Mt 5,43-44). A única coisa que se espera dos inimigos é o bem deles. Este é o amor-ágape. É o amor que salva e liberta. Com efeito, a atitude de fé é procurar descobrir o projeto de amor de Deus e corresponder a ele. Amar a Deus significa escutá-Lo, adorá-Lo, encontrar-nos com Ele na oração e na vida e amar o que ele ama. Amar o próximo não apenas significa deixar de fazer o mal, e sim estar pronto para ajudá-lo, acolhê-lo e perdoá-lo. Amor é o único meio que em si tem capacidade de convencer o outro, até os ateus, de que somos cristãos. 

Amor é capacidade de sair de si mesmo, de transferir-se para outro ser, de participar de outro ser e de entregar-se por um outro ser. Aquele que ama está totalmente no outro, conservando sua identidade. O amor não pode realizar-se na esfera de um sujeito isolado. O verdadeiro amor é sempre como uma experiência de derrota que se transforma em vitória; uma experiência de entrega que se transforma em enriquecimento; uma experiência de sair de si que se transforma no mais profundo encontro consigo mesmo; uma experiência de morte que se transforma em vida. O ponto final do amor é a vitória sobre a morte. O ponto final do egoísmo é a morte, e a ausência do amor é a ausência de Deus. 

Portanto, hoje Jesus nos oferece a chave fundamental para cumprir a vontade de Deus: o amor íntegro a Deus como único Senhor e o amor ativo e efetivo e desinteressado para próximo. São Paulo nos relembra através da Carta aos romanos: “Não fiqueis devendo nada a ninguém… a não ser o amor que deveis uns aos outros, pois quem ama o próximo cumpre plenamente a Lei. De fato, os mandamentos: ‘Não cometerás adultério’, ‘Não matarás’, ‘Não roubarás’, ‘Não cobiçarás’, e qualquer outro mandamento, se resumem neste: ‘Amarás o próximo como a ti mesmo’. O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei” (Rm 13,8-10). 

Ao colocar o amor como o maior e o primeiro mandamento, Jesus quer nos dizer que o amor é parte essencial de nosso ser. Toda vez que amamos, afirmamos nosso ser. E toda vez que não amamos, negamos nosso ser. Sem amar não se pode Ser. Ao amar nos conectamos com nosso aspecto mais essencial e mais íntimo, poisDeus é amor” (1Jo 4,8.16). Ao amarmos revelamos nosso ser e com ele cultivamos nosso espírito. Não é por acaso que Victor E. Frankl afirma: “Amo, logo sou”. 

Tudo na verdadeira vida se resume nesta palavra: amor! Por isso, devo orar a partir desta palavra: amor. Devo olhar para a minha vida e para a minha convivência a partir desta palavra. Devo liderar, orientar e governar a partir desta palavra. Devo corrigir os outros a partir desta palavra. Devo olhar para tudo que faço a partir desta palavra, “pois não importa se você faz muito ou pouco, mas que você coloque o amor naquilo que você faz. Não importa se vocêmuito ou pouco, mas que você coloque o amor naquilo que você dá” (Madre Teresa de Calcutá). 

Portanto, “Amor” é a mensagem central do cristianismo e é o eixo sobre o qual giram todas as virtudes e doutrinas do NT. Todas as virtudes lhe servem de alimento e nenhuma virtude subsiste sem o amor. Alguém pode ter todas as virtudes e habilidades, mas sem o amor, todas elas servem apenas como instrumento de exibicionismo e de vaidade pessoal de quem as tem. Na linguagem de São Paulo pode-se dizer que aquele que tem todas as virtudes, mas sem o amor, ele se transforma em nada; a pessoa deixa de ter valor para Deus (cf. 1Cor 13,1-11). Por isso, dizia Santo Agostinho: “Põe amor nas coisas e as coisas terão sentido. Retira-lhes o amor e se tornarão vazias”. Quando o egoísmo pessoal, o egoísmo de grupo e o exibicionismo tomam conta de nossa vida é porque há um vazio crescente de amor dentro de nós e dentro do grupo. O egoísmo e o amor não convivem. Nós nos tornaremos solitários à medida que nos preocuparmos com o egoísmo ou com a vaidade. 

Hoje Jesus nos oferece a chave fundamental para cumprir a vontade de Deus: o amor íntegro a Deus como único Senhor e o amor ativo e efetivo e desinteressado para próximo. São Paulo nos relembra através da Carta aos romanos: “Não fiqueis devendo nada a ninguém… a não ser o amor que deveis uns aos outros, pois quem ama o próximo cumpre plenamente a Lei. De fato, os mandamentos: ‘Não cometerás adultério’, ‘Não matarás’, ‘Não roubarás’, ‘Não cobiçarás’, e qualquer outro mandamento, se resumem neste: ‘Amarás o próximo como a ti mesmo’. O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei” (Rm 13,8-10). 

O homem morre não quando deixa de viver, mas quando deixa de amar. E Jesus nos alerta que no fim de nossa vida seremos examinados precisamente a partir do amor vivido ou praticado (cf. Mt 25,31-46). O amor ao próximo em nome de Cristo nos leva a fazermos aos irmãos o que o próprio Deus está lhes fazendo. Em outras palavras, não apenas fazer o que Deus manda, mas olhar como Deus olha o nosso próximo, suportá-lo como Deus o perdoa, conquista-lo como Deus o procura (Cf. Lc 15,4-10).

P. Vitus Gustama,svd

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