sábado, 16 de outubro de 2021

Sábado Da XXIX Semana Comum,23/10/2021

CONVERTER-SE PERMANENTEMENTE PARA PRODUZIR CONSTANTEMENTE OS FRUTOS DE AMOR

Sábado da XXIX Semana Comum

Primeira Leitura: Rm 8,1-11

Irmãos, 1 não há mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. 2 Pois a lei do Espírito que dá a vida em Jesus Cristo te libertou da lei do pecado e da morte. 3 Com efeito, aquilo que era impossível para a Lei, já que ela estava enfraquecida pela carne, Deus o realizou; tendo enviado seu próprio Filho numa condição semelhante àquela da humanidade pecadora, e por causa justamente do pecado, condenou o pecado em nossa condição humana, 4 para que toda a justiça exigida pela Lei seja cumprida em nós que não procedemos segundo a carne, mas segundo o Espírito. 5 Os que vivem segundo a carne aspiram pelas coisas da carne; os que vivem segundo o Espírito, aspiram pelas coisas do Espírito. 6 Na verdade, as aspirações da carne levam à morte e as aspirações do Espírito levam à vida e à paz. 7 Tudo isso, porque as tendências da carne são inimizade contra Deus: não se submetem — nem poderiam submeter-se — à Lei de Deus. 8 Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus. 9 Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o Espírito de Deus mora em vós. Se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo. 10 Se, porém, Cristo está em vós, embora vosso corpo esteja ferido de morte por causa do pecado, vosso espírito está cheio de vida, graças à justiça. 11 E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós, então aquele que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que mora em vós.

Evangelho: Lc 13, 1-9

1 Naquele tempo, vieram algumas pessoas trazendo notícias a Jesus a respeito dos galileus que Pilatos tinha matado, misturando seu sangue com o dos sacrifícios que ofereciam. 2 Jesus lhes respondeu: “Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem sofrido tal coisa? 3 Eu vos digo que não. Mas se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo. 4 E aqueles dezoito que morreram, quando a torre de Siloé caiu sobre eles? Pensais que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? 5 Eu vos digo que não. Mas, se não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”. 6 E Jesus contou esta parábola: “Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi até ela procurar figos e não encontrou. 7 Então disse ao vinhateiro: ‘Já faz três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro. Corta-a! Por que está ela inutilizando a terra?’ 8 Ele, porém, respondeu: ‘Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. 9 Pode ser que venha a dar fruto. Se não der, então tu a cortarás’”.

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Viver Segundo o Espírito Divino

Os que vivem segundo a carne aspiram pelas coisas da carne; os que vivem segundo o Espírito, aspiram pelas coisas do Espírito. Na verdade, as aspirações da carne levam à morte e as aspirações do Espírito levam à vida e à paz” (Rm 8,5-6). 

Rm 8 é o capítulo em que são Paulo alcança o ponto culminante no seu discurso teológico, pois neste capitulo ele coloca todos os temas principais da Carta aos Romanos: a força salvadora de Deus, a ação libertadora de Cristo por meio de sua morte e de sua ressurreição, o poder mortífero do pecado ativado pela lei, a permanência dos desejos desordenado em nossa existência de crentes (fieis), a posse de uma vida nova como primícias da glória que esperamos, nossa condição de filhos de Deus em Cristo em que ninguém poderá nos separar do amor eterno do Pai. E o que dá unidade para tudo isto é a presença e a ação do Espírito Santo. Das trinta e quarto vezes que são Paulo utilizou o termo pneuma (Espírito) na Carta aos Romanos, vinte e uma aparecem em Rm 8. 

A vida do novo povo de Deus é vida no Espírito. Estar ou existir “na carne” é viver a partir de si e para si, com perspectivas limitadas a esta terra e isoladas pelo egoísmo. 

Existir “no Espírito” é viver motivado pelo Espírito de Jesus e radicado na Sua pessoa. É aceitar com alegria seus horizontes, seus ensinamentos e seus objetivos e, como consequência, sua ressurreição que é a plenitude da vida cristã.

O homem que está na carne” é aquele que sofre a opressão do pecado do mundo e sente em si as consequências do pecado: a morte e uma concupiscência desenfreada que o escraviza. Tal homem perdeu sua harmonia interior e não reflete em sua vida a "glória de Deus" (cf. Rm 3, 23). Para Paulo, todo homem é "carne" ou "está na carne" quando é privado da graça de Deus. Portanto, "carne" não significa aqui uma parte constitutiva do homem, o corpo, mas uma dimensão da existência humana. 

"O homem que está no espírito" é o homem que foi salvo por Cristo e recebeu o Espírito vivificante de Deus. O Espírito de Deus também é chamado de Espírito de Cristo, porque nele habita plenamente e participamos em sua plenitude. Estamos mortos para o pecado e agora devemos viver para a justiça de Deus (cf. Rm 7, 4ss; 6,11; 3,21-31; 5,1 e 21). 

Se o mesmo Espírito de Deus que atuou na ressurreição de Cristo habita já em nós, então podemos esperar que atue novamente na nossa ressurreição.

Em resume, a antropologia de são Paulo está cheia de esperança. Vivem em carne, mas “não estamos na carne”. Somos carne em nossa debilidade e dimensão pecadora, mas há em nós outro elemento vivificador que é o Espírito de Cristo que é o de Deus a quem devemos nos entregar incondicionalmente para não estarmos na carne. E este Espírito que ressuscita os mortos, é o que tem a última palavra. Portanto, há esperança para todos os homens. Vivendo no Espírito de Cristo e de acordo com o Espírito de Cristo, seremos definitivamente vivificados e transfigurados. Com a presença do Espírito em nós, nossa condição carnal fica superada e nossa condição mortal fica vencida. 

Portanto, já não podemos viver segundo a carne, que é a lei de pecado e sim no Espírito, isto é, “pela justiça”. E já não devemos ter medo da morte (o fim da vida aqui neste mundo), porque o Espírito “vivificará nossos corpos mortais”. 

A Conversão Nos Faz Crescer No Amor a Deus e Ao Próximo

Continuemos a ouvir atentamente as últimas e mais importantes lições de Jesus no seu caminho para Jerusalém (Lc 9,51-19,28), pois logo depois ele será crucificado, morto e glorificado (ressuscitado).

No dia anterior o evangelista Lucas nos relatou a exortação de Jesus sobre a importância do discernimento sobre os sinais dos tempos para perceber neles o querer de Deus para nossa salvação. Para isso é preciso ter um coração e a mente abertos. Como foi dito anteriormente, o coração aberto é a chave para a mente aberta, e vice-versa.

Por isso, em seguida, Jesus nos dá a lição sobre a importância da conversão permanente, a lição no evangelho de hoje, para que a vontade de Deus fique nítida na nossa visão diária. O pecado ofusca a vontade de Deus. A conversão não implica apenas a mudança de pensamento (metanoia), mas uma mudança radical de direção do próprio caminho que se vive na experiência cotidiana. A conversão é abertura constante para o futuro do Reino que se experimenta antecipadamente, embora não seja completo ainda. 

A existência humana na história não é eterna. Um dia o homem partirá deste mundo. Mas o momento dessa partida é incerto ou desconhecido. O fato de não conhecermos o momento em que a morte virá, nos leva à conversão diariamente. O tempo da salvação e o da conversão se encontram na nossa história. Não procuremos a salvação fora da história. Cada momento é kairós, isto é, o momento de Deus, e, por isso, é o momento de salvação que precisamos saber usá-lo para nosso bem. A resistência à conversão nos torna excluídos do Reino de Deus. Deus não quer excluir ninguém do Reino, pois ele quer salvar a todos (1Tm 2,4). Além disso, do ponto de vista humano, viver sem a conversão paralisa nosso crescimento e nos torna cruzes para os demais. Os erros não corrigidos é uma forma de cometer outros novos erros. 

 “Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem sofrido tal coisa? Eu vos digo que não. E aqueles dezoito que morreram, quando a torre de Siloé caiu sobre eles? Pensais que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? Eu vos digo que não”, assim nos disse o Senhor hoje. 

Os judeus do tempo de Jesus, como os povos de todos os tempos, como nós mesmos atualmente, tratavam de explicar os desastres e a dor, provocados pela natureza ou pelas pessoas, de forma que aqueles que sofriam as consequências tiveram alguma culpa. Essa era a forma de pensar na justiça de Deus. Se para essas pessoas sucediam essas coisas tão más, era ou é, porque elas são também más. Se uma pessoa tinha uma grave enfermidade era porque havia cometido muitos pecados. O mesmo se pensava dos galileus assassinados no Templo de Jerusalém pelos soldados de Pilatos ou dos que morreram esmagados pela queda da Torre de Siloé. 

Para o pensamento na época de Jesus não há culpa sem castigo. Se há grandes catástrofes é porque há grandes pecados. Qualquer doença é a consequência do pecado cometido. É uma maneira fácil de justificar-se e de calar a consciência. Será que ainda encontramos este tipo de pensamento na nossa época? 

Em vez de seguir esse pensamento, Jesus opta por outro caminho. Trata-se de um apelo permanente para a conversão: “Mas se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”, disse Jesus. Para Jesus, viver sem conversão é uma morte eterna preanunciada. Em grego “metanoeite” é algo mais do que arrepender-se: pensar de outro modo. Equivale a renunciar-se.

A conversão é polivalente. Em sentido geral indica mudança de vida; deixar o comportamento habitual de antes para empreender outro novo; prescindir da busca egoísta de si mesmo para colocar-se a serviço do Senhor que se traduz no amor fraterno. Conversão é toda decisão ou inovação que de alguma forma nos aproxima da vida divina e nos torna mais próximos para com os outros.        

Na Bíblia, a noção básica da conversão é a mudança. Envolve voltar-se do pecado, da morte e das trevas para a graça, a nova vida e luz. A ação dual de voltar-se sempre leva a pessoa a um novo nível de existência humana. É uma mudança total do próprio modo de pensar e de agir, uma renovação total e integral do eu. É um abandono total em Deus. Somente abandonando-se a Deus a ponto de se deixar transformar inteiramente por Ele e permanecer amistosamente abraçado com Ele. O móvel da conversão não é tanto a ameaça de castigo ou de perder a salvação, quanto a fascinação de penetrar na vida do amor trinitário divino. A conversão conduz as pessoas juntas à maturidade espiritual, que se reflete em sua aversão ao mal e sua atração pelo bem. Um aspecto da conversão específico do NT é estar intimamente ligado à pessoa de Jesus Cristo, em quem o Reino se realiza. A conversão é realidade cristológica. É união com o corpo de Cristo e íntimo conhecimento pessoal de Jesus Cristo como Senhor ressuscitado e Salvador. Esta conversão total não pode ser obra do homem; é tarefa que supõe dom e graça. Só pode realizar-se como participação do mistério pascal de Cristo. A conversão só se realiza na fé; propõe-se como resposta ao chamado de Deus, como correspondência à graça redentora.                    

A conversão envolve mudanças internas (de atitude) e externas (comportamentais) na vida. A autêntica conversão cristã nunca está separada de ações concretas que espelham a realidade interior mudada. Assim, a conversão sempre leva a algum aspecto de responsabilidade e justiça sociais.              

A conversão é crescimento contínuo; não é um acontecimento instantâneo, pontual e de uma vez por todas; não é uma carreira acabada, mas que constitui um crescimento sem interrupção e ascendente. Por mais decidida que seja a entrega de um cristão ao Reino, ela tenderá sempre a ser precária. De um coração convertido aos valores do Reino e do Evangelho se seguirão naturalmente os frutos visíveis de uma conversão que atinge a realidade da vida.                  

Jesus quer nos libertar dessa concepção que por um lado, impede-nos de enfrentar as verdadeiras causas dos males que ocorrem conosco ou na sociedade, remetendo-os a demônio para desviar alguém da própria responsabilidade ou a uma espécie de fatalidade que nos leva a nos afundarmos na passividade. Por outro lado, Jesus quer nos apresentar a imagem do Deus de amor e de vida e não um Deus de castigo.  

Pecar é não dar fruto, não produz nada pelo bem da humanidade ou pelo bem dos outros. Esta é a mensagem da parábola da figueira estéril. Esse Deus que Jesus nos apresenta espera com paciência, até o último minuto de nossa vida, os bons frutos que produzimos.         

Para os ouvintes de Jesus era familiar a imagem da figueira infértil, para indicar o comportamento infiel do povo de Deus (cf. Jr 8,13;Mq 7,1). Mas esta imagem é atual para nós. A parábola da figueira estéril revela-nos um Deus paciente e bondoso conosco. Mas ele é paciente para esperar que produzamos bons frutos para o Seu Reino. Perante tamanho amor para com a vinha e para com a pobre figueira, somos convidados a responder e corresponder produzindo bons frutos para uma convivência mais fraterna.  Ser útil para os demais não significa esperar recompensa ou reconhecimento. Precisamos ser como a figueira que produz frutos sem saber quem vai se alimentar com seus frutos. O importante é que outros possam viver com nossa presença frutífera. É necessário que a parábola seja aplicada para nós individualmente e como uma comunidade cristã ou Igreja. Uma Igreja, uma comunidade que não der frutos perde razão de ser. Mas Deus continua esperando, pois para Deus nada é impossível (cf. Lc 1,36-37). Sempre espera com toda esperança.

Cada pessoa tem uma vocação particular, e toda vida que não responde a esse desígnio divino se perde. O Senhor espera correspondência a tantos cuidados, a tantas graças concedidas ainda que não tenha paridade entre o que damos e o que recebemos. No entanto, com a graça é que podemos oferecer aos outros muitos frutos de amor diariamente:  a caridade, o apostolado, o trabalho bem-feito e assim por diante.

P. Vitus Gustama,svd

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