quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Nossa Senhora Do Rosário-Memória, 07 De Outubro

BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA DO ROSÁRIO

SER DISCÍPULO-MODELO A EXEMPLO DE MARIA

Primeira Leitura: At 1,12-14

Depois que Jesus foi elevado ao céu, 12 os apóstolos voltaram para Jerusalém, vindo do monte das Oliveiras, que fica perto de Jerusalém, a mais ou menos um quilômetro. 13 Entraram na cidade e subiram para a sala de cima, onde costumavam ficar. Eram Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão Zelota e Judas, filho de Tiago. 14 Todos eles perseveravam na oração em comum, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus.

Evangelho: Lc 1, 26-38

Naquele tempo, 26 o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Naza­ré, 27 a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da Virgem era Maria. 2 8O anjo entrou onde ela estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” 29 Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. 30 O anjo, então, disse-lhe: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. 31 Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. 32Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. 33 Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim”. 34Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?” 35 O anjo respondeu: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. 36 Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, 37 porque para Deus nada é impossível”. 38 Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o anjo retirou-se.

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A memória de Nossa Senhor do Rosário (de caráter devocional) está ligada à vitória de Lepanto em 1571 contra a inavasão do exército turco. A vitória foi obtida por uma particular proteção da Santíssima Virgem Maria. O Papa Pio V (o Papa dominicano) instituiu, então, a festa de Nossa Senhora da Vitória em Roma. Dois anos depois, a pedido da Ordem dominicana o Papa Gregório XIII, sucessor do Pio V, estendeu esta festa para toda a Igreja (universalmente). O Papa Gregório XIII mudou o nome da festa: de Nossa Senhora da Vitória passa a ser chamada de Santíssimo Rosário da Bem-aventurada Virgem Maria. Era celebrada no primeiro domingo do mês de outubro. A reforma rubrical de 1960 retocou o título da festa de “SS.Rosário da Bem-Aventurada Virgem” para “Bem-aventurada Virgem Maria do Rosário”. A nova denominação desloca oportunamente o acento da forma de oração (o rosário) para a PESSOA da Mãe de Deus. Dai deriva o convite a não vermos no rosário o objeto da celebração, e muito menos “uma arma de guerra”, e sim a exortação a olhar para Aquela que gerou o mistério da nossa pacificação, Cristo Senhor. O gesto expresso pelo Papa Paulo VI na viagem à Turquia em julho de 1967 é muito eloquente: devolvendo ao presidente turco o estandarte mulçumano que caíra nas mãos dos cristãos, o Papa Paulo VI demonstrava que seu gesto queria indicar que “as divergências do passado haviam cessado definitivamente e que a Igreja tinha por todos os povos uma só mensagem, a da paz”. Atualmente a festa é celebrada no dia 7 de outubro.

Na Idade Média a Virgem Maria é saudada com o título de rosa, símbolo da alegria. O Bem-aventurado Hermann dizia a Maria: “Alegra-te, Tu, a mesma beleza. Eu Te digo: Rosa, Rosa”. E num manuscrito francês medieval está escrito: “Quando a bela Rosa Maria começa a florescer, o inverno de nossas tribulações se desvanece e o verão da terna alegria começa a brilhar”. As imagens da Virgem Maria eram adornadas ou decoradas com uma coroa de rosas e se cantava a Maria como “Jardim de rosa” (em latim medieval rosarium). Assim se explica a etimologia do nome que chegou a nossos dias. Nessa época, os que não sabiam recitar os 150 Salmos do Oficio Divino, eles substituíam por 150 Ave Marias, acompanhadas de genuflexões.

 O Rosário e Seus Mistérios

A oração do rosário parece uma das orações mais fáceis propostas pela Igreja. Na realidade o rosário é uma oração contemplativa. Ele nos faz passarmos através de todos os mistérios de nossa redenção.

Nos mistérios gozosos, por exemplo, nós entramos na casa da Mulher bendita de Nazaré (Maria) para escutar a mensagem salvífica do Divino Mensageiro, o Anjo Gabriel (Lc 1,26-38). Logo depois, vamos a Ain Karim (para a casa de Isabel e Zacarias) onde com Isabel e com ela (Maria) proclamamos a Maternidade divina de Maria (Maria é chamada de “Mãe do meu Senhor” por Isabel cf. Lc 1,43). Em Belém ficamos com pasmo diante da manjedoura onde se deita o Salvador do mundo e honramos com os pastores ao mesmo Salvador, Jesus Cristo (cf. Lc 2,8-14). Logo em seguida, vemos o mesmo Salvador no Templo apresentado a Deus pelos seus pais (Lc 2,22-40), e reencontra entre os doutores cheios de estupor por sua inteligência (Lc 2,41-52). E nos mistérios luminosos contemplamos a vida publica de Jesus para aprender d’Ele como devemos viver como cristãos para que, um dia, possamos contemplar a vida glorificada. Ou, nos mistérios dolorosos, contemplamos a Paixão de Jesus e de Maria que O acompanhava, desde Getsêmani até o Calvário (cf. Jo 19,25-27). E nos mistérios gloriosos, refletimos sobre o triunfo de Jesus, no qual tem parte Sua Mãe na economia da salvação.

Por essa razão, o rosário (ou o terço) não é apenas mariológico, mas, principalmente, cristológico, pois nele se contemplam os mistérios de Cristo que são os mistérios de nossa redenção. Na sua Carta Apostólica sobre o Rosário o Papa João Paulo II escreveu:

·      O Rosário, de fato, ainda que caracterizado pela sua fisionomia mariana, no seu âmago é oração cristológica. Na sobriedade dos seus elementos, concentra a profundidade de toda a mensagem evangélica, da qual é quase um compêndio. Nele ecoa a oração de Maria, o seu perene Magnificat pela obra da Encarnação redentora iniciada no seu ventre virginal. Com ele, o povo cristão freqüenta a escola de Maria, para deixar-se introduzir na contemplação da beleza do rosto de Cristo e na experiência da profundidade do seu amor. Mediante o Rosário, o crente alcança a graça em abundância, como se a recebesse das mesmas mãos da Mãe do Redentor”. (ROSARIUM VIRGINIS MARIAE no.1)

Assim começando com a oração que Jesus nos ensinou (Pai Nosso) e que nos autoriza a invocarmos ao Seu Pai como nosso Pai, nós repetimos a Ave Maria, a saudação do Anjo dada à maior de todas as criaturas (Maria) e a saudação de Isabel para a mesma (primeira parte da Ave Maria) e ao mesmo tempo, somos convidados a contemplar os maiores mistérios de nossa redenção em cada dezena de Ave-Marias.

A riqueza mística da oração de rosário permite a cada sacerdote, de maneira especial, entrar no mistério da própria vocação, contemplar os princípios da vida sacerdotal e dar a possibilidade de retornar aos momentos mais íntimos nos quais nascia, crescia e amadurecia a chamada de Jesus a segui-Lo. Como aconteceu com Jesus, a vida sacerdotal passa pelos momentos gozosos e dolorosos para chegar aos momentos gloriosos que terão seu cumprimento na vida futura para a qual são dirigidas as seguintes palavras: “Venha o Teu Reino!”. Por isso, a contemplação dos mistérios do Rosário pode chegar a ser um exame de consciência da devoção sacerdotal a Maria. Essa devoção consiste em imitar as virtudes de Maria. Não é por acaso que o Papa João Paulo II dizia as seguintes palavras:

·      “O Rosário é a minha oração predileta. Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade. Nesta oração repetimos muitas vezes as palavras que a Virgem Maria ouviu ao Arcanjo e à Sua parente Isabel. A estas palavras associa-se a Igreja inteira. Pode dizer-se que o Rosário é, em certo modo, um Comentário-prece do último capítulo da Constituição Lumen Gentium do Vaticano II, capítulo que trata da admirável presença da Mãe de Deus no mistério de Cristo e da Igreja. De fato, sobre o fundo das palavras "Ave Maria" passam diante dos olhos da alma os principais episódios da vida de Jesus Cristo. Eles dispõem-se no conjunto dos mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos, e põem-nos em comunhão viva com Jesus através — poderíamos dizer — do Coração de Sua Mãe. Ao mesmo tempo o nosso coração pode incluir nestas dezenas do Rosário todos os fatos que formam a vida do indivíduo, ela família, da nação, da Igreja e da humanidade. Acontecimentos pessoais e os do próximo, e de modo particular daqueles que nos estão mais vizinhos, que temos mais no coração. Assim a oração simples do Rosário marca o ritmo da vida humana”. (Angelus, 29.10.1978)

Mensagem Do texto Do Evangelho Deste Dia

No texto do evangelho lido neste dia, inicialmente o Anjo de Deus não chama Maria pelo nome, mas chama-a simplesmente de “Cheia de graça”. O termo ‘graça’ significa benefício absolutamente gratuito, livre e sem motivo (cf. 1Cor 15,10). Também tem outro significado: um efeito do favor divino que torna alguém belo, amável e encantador. A graça da criatura depende da graça de Deus, e não vice-versa.        

Na graça reside a completa explicação de Maria, a sua grandeza e a sua beleza. Maria encontrou graça, isto é, favor, junto de Deus; ela é cheia do favor divino. Como as águas preenchem o mar, assim a graça preenche a alma de Maria. Maria é cheia de graça também em outro sentido: ela é bela, daquela beleza que chamamos de santidade. Sendo agraciada, Maria é também graciosa.

Maria lembra cada um de nós que tudo na nossa vida é graça. A graça é a presença de Deus. As duas expressões: “cheia de graça” e “o Senhor está contigo” são quase a mesma coisa. Esta presença de Deus no homem realiza-se agora em Cristo e por Cristo. De fato ele é o Emanuel, o Deus-Conosco (Mt 1,23; 18,20;28,20).

A primeira coisa que cada um de nós deve fazer como resposta à graça de Deus é dar graças. A graça de Deus tem de ser acompanhada pelo agradecimento do homem. Dar graças significa, antes de tudo, reconhecer a graça, aceitar a gratuidade da mesma. Dar graças significa aceitar-se como devedor, como dependente; deixar que Deus seja Deus. É preciso fazer o possível para renovar cada dia o contato com a graça de Deus que está em nós. Pela graça podemos manter, desde esta vida, o contato com Deus. Precisamos crer na graça, crer que Deus nos ama, que nos é favorável de verdade, pela graça fomos salvos.

O texto quer dizer também que Maria é a primeira cristã por causa do seu sim a Deus para que possa nascer para a humanidade Jesus Cristo, nosso Salvador. Não era nenhuma princesa nem nenhuma patroa na sociedade do seu tempo. Era uma mulher simples do povo, uma moça pobre. Mas Deus se compadece dos humildes e dos simples. Para Deus tudo é simples, e para o simples tudo é divino. A simplicidade atrai a bênção de Deus e a simpatia humana. O simples, o humilde é o terreno fértil onde a graça de Deus encontra seu lugar e através do qual Deus fala para o mundo.

De certa forma, podemos dizer que com o sim de Maria à vontade de Deus a Igreja começou. A Virgem Maria, no momento de sua eleição radical e no momento de seu sim a Deus foi início e imagem da Igreja. Quando ela aceitou o anúncio do anjo, da parte de Deus, pode-se dizer que começou a Igreja: a humanidade, nela representada, começou a dizer sim à salvação que Deus lhe ofereceu. Nela e através dela a humanidade foi abençoada. Podemos olhar, por isso, para Maria como modelo de fé e motivo de esperança e de alegria.

O sim de Maria à Palavra de Deus expressa um compromisso total, uma confiança absoluta no amor e no poder de Deus que a faz sair de si mesma e aposta totalmente sua vida no poder de Deus. E este compromisso total de uma moça simples com a Palavra de Deus compromete também o destino da humanidade. Nós, cristãos, devemos ter uma consciência mais clara daquilo que sucede quando nos reunimos para celebrar a Eucaristia. A participação da Palavra e do Corpo de Cristo é algo que produz a união mais íntima possível com Cristo vivo. Por isso, o sim pronunciado no momento desta participação eucarística é o que compromete de uma maneira mais profunda todos nós cristãos.

Toda vez que dissermos Sim à vontade de Deus e aos seus mandamentos geraremos algo de bom, algo de humano e algo de divino para o mundo. Toda vez que dissermos a Deus conscientemente “Faça-se em mim segundo a Sua Palavra!”, nossa vida se encherá de Deus (cheia de graça), seremos instrumentos eficazes de Deus e faremos nascer algo de Deus para salvar o mundo. Toda vez que dissermos Sim a Deus e à Sua vontade, sairemos de nós para ir ao encontro dos demais para ajudá-los.  Cada cristão é chamado a dizer Sim ao bem, à bondade, ao amor, à justiça, à solidariedade, à honestidade, à retidão e assim por diante, pois tudo isso significa dizer Sim a Deus.                 

O compromisso da vida cristã é deixar-se fecundar pelo Espírito de Deus, como Maria, escutando a Palavra de Deus que vem por meio de mensageiros, tendo em conta nossa situação e nossas forças, mas respondendo a Deus com confiança e interesse. O cristão deve deixar-se encarnar pela Palavra de Deus para que se torne Boa Nova para os demais como Maria.

“Ó, Virgem fiel, dia e noite permaneces em profundo silêncio, em uma paz inefável, em uma oração divina, que não cessa nunca, com a alma inteiramente inundada por eternos resplendores. (...) Em uma paz inefável, em um misterioso silêncio, penetraste no insondável levando em ti o Dom de Deus. Guarda-me sempre em um abraço divino. Que leve sempre em mim a estampa deste Deus de amor”. (Isabel da Trindade)

P. Vitus Gustama,SVD

MARIA, MULHER DA ESCUTA, DA DECISÃO E DA AÇÃO

(Oração à Maria no final da recitação do Santo Rosário na Praça de São Pedro, 31 de maio de 2013)

Por Papa Francisco

Maria, Mulher da escuta, abre os nossos ouvidos; faz com que saibamos ouvir a Palavra do teu Filho Jesus, no meio das mil palavras deste mundo; faz com que saibamos ouvir a realidade em que vivemos, cada pessoa que encontramos, especialmente quem é pobre e necessitado, quem se encontra em dificuldade.

Maria, Mulher da decisão, ilumina a nossa mente e o nosso coração, a fim de que saibamos obedecer à Palavra do teu Filho Jesus, sem hesitações; concede-nos a coragem da decisão, de não nos deixarmos arrastar para que outros orientem a nossa vida.

Maria, Mulher da ação, faz com que as nossas mãos e os nossos pés se movam ´apressadamente´ rumo aos outros, para levar a caridade e o amor do teu Filho Jesus, para levar ao mundo, como tu, a luz do Evangelho. Amém!”

P. Vitus Gustama,SVD

OS MISTÉRIOS DO ROSÁRIO

 

MISTÉRIOS DA ALEGRIA/gozosos (Segundas e Sábados)

1.º Mistério: A Anunciação do Anjo a Nossa Senhora. (Lc 1, 26-38)

2º Mistério: A Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel. (Lc 1, 39-56)

3º Mistério: O Nascimento de Jesus no presépio de Belém. (Lc 2, 1-20)

4º Mistério: A Apresentação do Menino Jesus no Templo. (Lc 2, 22-38)

5º Mistério: O Encontro do Menino Jesus no Templo, entre os Doutores. (Lc 2, 41-50)

 

MISTÉRIOS DA DOR/dolorosos (Terças e Sextas)

1.º Mistério: Oração e Agonia de Jesus no Jardim das Oliveiras. (Mt 26, 36-46)

2º Mistério: A Flagelação de Nosso Senhor Jesus Cristo. (Mt 27, 24-26)

3º Mistério: O Coroação de espinhos. (Mt 27, 27-31)

4º Mistério: Jesus a caminho do Cálvário e o encontro com Sua Mãe. (Lc 23, 26-32)

5º Mistério: A Crucificação e Morte de Jesus  (Jo 19, 17-30)

 

MISTÉRIOS DA GLÓRIA/ gloriosos (Quartas e Domingos)

1.º Mistério: A Ressurreição de Jesus Cristo. (Mt 28, 1-10)

2º Mistério: A Ascensão de Jesus ao Céu. (At 1, 6-11)

3º Mistério: A descida do Espírito Santo sobre Nossa Senhora e os Apóstolos, reunidos no Cenáculo. (At 1, 12-14 e 2, 1-4)

4º Mistério: A Assunção de Nossa Senhora ao Céu em corpo e alma. (1Cor 15, 12-23)

5º Mistério: A Coroação de Nossa Senhora, como Rainha do Céu e da Terra. (Ap 12, 1-17)

 

MISTÉRIOS DA LUZ/luminosos (Quinta-Feira)

1.º Mistério: O Batismo de Jesus no Rio Jordão. (Mt 3, 13-17)

2º Mistério: A Revelação de Jesus nas Bodas de Caná. (Jo 2, 1-11)

3º Mistério: O Anúncio do Reino de Deus. Um convite à conversão (Mt 4, 12-17-23)

4º Mistério: A Transfiguração de Jesus no Monte Tabor. (Lc 9, 28-36)

5º Mistério: A Última Ceia de Jesus com os Apóstolos e a Instituição da Eucaristia. (Lc 22, 14-20)

P. Vitus Gustama,svd

XXVII Domingo Comum Ano "B", 06/10/2024

A BELEZA DO MATRIMÔNIO CRISTÃO


XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO “B”

Primeira Leitura: Gênesis 2,18-24

18 O Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele”.19 Então o Senhor Deus formou da terra todos os animais selvagens e todas as aves do céu, e trouxe-os a Adão para ver como os chamaria; todo o ser vivo teria o nome que Adão lhe desse. 20 E Adão deu nome a todos os animais domésticos, a todas as aves do céu e a todos os animais selvagens; mas Adão não encontrou uma auxiliar semelhante a ele. 21 Então o Senhor Deus fez cair um sono profundo sobre Adão. Quando este adormeceu, tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne. 22 Depois, da costela tirada de Adão, o Senhor Deus formou a mulher e conduziu-a a Adão. 23 E Adão exclamou: “Desta vez, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada ‘mulher’ porque foi tirada do homem”. 24 Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne.

Segunda Leitura: Hebreus 2,9-11

 Irmãos: 9 Jesus, a quem Deus fez pouco menor do que os anjos, nós o vemos coroado de glória e honra, por ter sofrido a morte. Sim, pela graça de Deus em favor de todos, ele provou a morte. 10 Convinha de fato que aquele, por quem e para quem todas as coisas existem, e que desejou conduzir muitos filhos à glória, levasse o iniciador da salvação deles à consumação, por meio de sofrimentos. 11 Pois tanto Jesus, o Santificador, quanto os santificados, são descendentes do mesmo ancestral; por esta razão, ele não se envergonha de os chamar irmãos.                       

Evangelho: Mc 10,2-16

Naquele tempo, 2 alguns fariseus se aproximaram de Jesus. Para pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher. 3 Jesus perguntou: “O que Moisés vos ordenou?” 4 Os fariseus responderam: “Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la”. 5 Jesus então disse: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. 6 No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. 7 Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. 8 Assim, já não são dois, mas uma só carne. 9Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!” 10 Em casa, os discípulos fizeram, novamente, perguntas sobre o mesmo assunto. 11 Jesus respondeu: “Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a primeira. 12 E se a mulher se divorciar de seu marido e se casar com outro, cometerá adultério”. 13 Depois disso, traziam crianças para que Jesus as tocasse. Mas os discípulos as repreendiam. 14 Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse: “Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas. 15 Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”. 16 Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos.

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Complementaridade: Osso dos Meus Ossos e Carne da Minha Carn

Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele. Da costela tirada de Adão, o Senhor Deus formou a mulher e conduziu-a a Adão. E Adão exclamou: Desta vez, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne”.

Seja qual for a explicação (mulher foi feita da costela de Adão), denota sempre um valor básico: a mulher é outra parte, a ajuda correta, o complemento do homem e dele foi tirada.  A mulher é o “alter ego” do homem, idêntica a ele (osso dos meus ossos, carne da minha carne), iguais em tudo, no ser e no poder. O aparecimento da mulher ao lado de Adão elimina a ansiedade e a solidão do homem: “Não é bom que o homem esteja só”.  Dois ensinamentos justapõem-se: o cuidado do Senhor na formação da mulher e a pertença mútua de ambos os sexos. Nela e com ela atinge o ápice o processo criador.

Homem e mulher, em hebraico, se dizem, respectivamente, ‘ish (varão) e ‘isha (mulher). São palavras parecidas, e a assonância de ambas é muito próxima. Sem exagero, pode-se dizer que uma palavra está dentro da outra. Fala-se, então, da complementaridade.

A Primeira Leitura fala, então, de uma relação de amor e de complentaridade entre duas pessoas e não de submissão em que um é superior e outro é inferior, pois a mulher faz parte do homem e o homen faz parte da mulher. A complementaridade somente se encontra entre os seres humanos, o que não acontece no mundo dos animais. Entre duas pessoas que vivem no amor e na complementaridade é que pode  construir-se um novo mundo, uma nova relação, uma troca de sentimentos, de projetos.

A Indissolubilidade Do Matrimônio

O Que Deus Uniu o Homem Não Separe

No evangelho deste Domingo os fariseus fazem uma pergunta maliciosa a Jesus: “O marido pode mandar a mulher embora?”. Sem dúvida nenhuma os fariseus sabiam que Jesus tinha outra posição sobre o matrimônio. Através desta pergunta, os fariseus querem colocar Jesus à prova. É interessante observar que os faiseus não perguntam a Jesus: “É lícito a esposa mandar o marido embora?”, porque há uma forte dominação masculina e a marginalização da mulher.

Jesus situa o debate em seu verdadeiro horizonte e por isso, a solução deve partir de sua raiz: a intenção originária do próprio Criador: Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele. Eles serão uma só carne”. O que lemos na Primeira Leitura. Por isso, Jesus disse aos fariseus: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne”. Deste modo, Jesus recupera as Escrituras e a dignidade das mulheres (Gn 2,24), afirmando a igualdade de ambos (homens e mulheres) nos direitos e dveres. Se os fariseus usam as Escrituras para inferiorizar a mulher, Jesus lê as Escrituras para recuperar a dignidade e os direitos da mulher.

Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento”, disse Jesus aos fariseus. A dureza do coração, anotada por Jesus, quer indicar o coração humano insensível às instruções divinas como consequência de sua contínua desobediência aos mandamentos de Deus.

O Que Deus Uniu o Homem Não Separe”, afirma o Senhor. Esta expressão contém a grandeza essencial do matrimônio. O que une profundamente o homem e a mulher é o amor. O sim ao amor mútuo é dito dentro do sim de Cristo à Igreja. O matrimônio baseado num amor exclusivo e definitivo torna-se ícone do relacionamento de Deus com o seu povo e, vice-versa, a maneira de amar de Deus converte-se na medida do amor huano (veja Encíclica Deus Caritas Est nn 10-11 do Papa Bento XVI).

O amor matrimonial que une um homem a uma mulher é simultaneamente dom e mandamento. O amor é dom, pois somos capazes de amar porque Deus no amou primeiro (1Jo 4,19). Quando o amor se enfraquecer no casamento, os casais devem pedir a Deus, fonte de amor, que fortaleça o amor mútuo entre eles (casal). Mas, ao mesmo tempo, o amor é um mandamento: “Amarás!”. Obedecer ao mandamento do amor nos levará a realizarmos todas as obrigações da família cristã. no fim de contas, todas as obrigações re reduzem a estas: a fidelidade a honestidade conjugal/matrimonial, a paternidade responsável e a educação dos filhos. a Igreja doméstica, a "pequena Igreja” indica que a família vive no espírito do mandamento do amor: na sua verdade interior, no seu esforço cotidiano para permanecer no amor mútuo,, na sua beleza espiritual e na sua força para manter viva e intacta a Igreja doméstica.

O casamento é uma aliança estável no amor, à semelhança daquela com o próprio Deus fez com seu povo. Da aliança matrimonial nasce a fidelidade conjugal, uma fidelidade sustentada e alimentada pelo amor e não pela lei. O amor, em referência constante ao amor de Deus, será capaz de encontrar sempre a luz e a força necessárias para superar os diversos obstáculos no seguimento de Jesus Cristo através do casamento.

O Papa Francisco, na sua Exortação Apóstolica, Amoris Laetitia, n.98, escreveu: “Jesus lembrava aos seus discípulos que, no mundo do poder, cada um procura dominar o outro, e acrescentava: ‘não seja assim entre vós’ (Mt 20, 26). A lógica do amor cristão não é a de quem se considera superior aos outros e precisa de fazer-lhes sentir o seu poder, mas a de ‘quem no meio de vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo’ (Mt 20, 27). Na vida familiar, não pode reinar a lógica do domínio de uns sobre os outros, nem a competição para ver quem é mais inteligente ou poderoso, porque esta lógica acaba com o amor. Vale também para a família o seguinte conselho: ‘Revesti-vos todos de humildade no trato uns com os outros, porque Deus opõe-se aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes’ (1Pd 5, 5)”.

Estendamos Mais Nossa Reflexão A Partir Do Evangelho Proclamado Neste Domingo!

I. SITUAÇÃO DA MULHER NO TEMPO DE JESUS         

Na Palestina a estrutura social é patriarcal. O pai é o único que tem direito de dispor, dar ordens, castigar, pronunciar as orações, oferecer os sacrifícios. O marido é dono da mulher, e ela não pode dispor nem dos ganhos do seu trabalho.       

A mulher judia era considerada em tudo inferior ao homem. Ela pertence completamente ao seu dono: ao pai, se for solteira (o pai pode vender sua filha como escrava quando ela tem entre 6 e 12 ou 12 anos e meio de idade); ao marido, se for casada; ao cunhado solteiro, se for viúva sem filhos (Dt 25,5-10).        

No Templo e na sinagoga homens e mulheres ficavam rigorosamente separados: as mulheres sempre em lugares inferiores, secundários. O culto na sinagoga era celebrado apenas caso houvesse ao menos 10 homens. As mulheres não contavam, por mais numerosas que fossem. Os rabis não tinham “discípulas”.       

A consciência da superioridade religiosa masculina era muito difundida no tempo de Jesus e das primeiras comunidades cristãs não só entre os judeus, mas também entre gregos e romanos. O homem grego, por exemplo, agradecia aos deuses a sorte de ter nascido ser humano e não animal, grego e não bárbaro, livre e não escravo, homem e não mulher.        

Entre os judeus havia um ditado: “Bem-aventurado aquele cujos filhos são homens. Ai daquele cujos filhos são mulheres”.        

Na oração que os judeus dos séculos I e II d.C faziam na sinagoga, três vezes o homem judeu agradecia a Deus o fato de não ter nascido pagão, escravo e mulher. Rabi Jehuda diz: devem ser feitas três orações diárias: “Bendito seja Deus que não me fez pagão. Bendito seja Deus que não me fez mulher. Bendito seja Deus que não me fez ignorante. Bendito seja Deus que não me fez pagão: porque todas as nações diante dele são como nada(Is 40,17). Bendito seja Deus que não me fez mulher: porque a mulher não está obrigada a cumprir os mandamentos. Bendito seja Deus que não me fez ignorante: porque o ignorante não se envergonha de pecar”.        

Em hebraico as palavras: piedoso (hasid), justo (çadiq) e santo (qadosh) não possuem forma feminina.        

A mulher não podia atuar como testemunha num tribunal, nem como testemunha de acusação. Apoiando-se em Gên 18,11-15, consideravam que seu testemunho carecia de valor por causa de sua inclinação à mentira.        

Em relação ao matrimônio, somente o marido tinha direito de romper o matrimônio, exigindo o divórcio. Somente o homem podia ter várias mulheres, e a esposa devia tolerar a existência de concubinas consigo em sua própria casa. É claro que isso era privilégio dos ricos.        

Se a noiva tinha relações com outro homem era considerada como adúltera, e podia ser castigada com a morte a pedradas; para a adúltera casada reservava-se o castigo do estrangulamento. Para o homem que participou dessa relação não havia castigo.        

A sociedade consumista de hoje utiliza a mulher apresentando-a como objeto de atração, sedução, vício etc. e a publicidade ganha com essa degradação, e não poucas mulheres seguem esse caminho que se lhes apresenta como o único possível para realizar-se e triunfar na vida.        

Lamentavelmente, em não poucos lares cristãos “machistas”, marcados pela sociedade “patriarcal” encontra-se ainda que o pai continua sendo “senhor”, o amo, a autoridade indiscutível, o privilegiado.        

Qual é a atitude de Jesus para com as mulheres ?        

Devemos ter presente que os primeiros seguidores do movimento de Jesus foram homens judeus e mulheres judias. Para o Reino de Deus, anunciado por Jesus, todos são convidados: as mulheres e os homens, as prostitutas e os piedosos fariseus. Ninguém é excluído.     

Com seu comportamento na vida diária, Jesus se levantou contra esse sistema sociorreligioso, dominante e opressivo para a mulher. Com sua atuação concreta, Jesus dá à mulher o seu lugar na vida social e religiosa. Para Jesus, a mulher tem a mesma dignidade, categoria e direitos que o homem. Por isso, ele abertamente rejeita as leis e costumes discriminatórios que menosprezam essa dignidade, categoria e direitos, arriscando com isso o seu prestígio e a sua vida.        

Jesus admite em sua comunidade homens judeus e mulheres judias (Cf. Lc 10,39: ficar aos pés de Jesus significa ser discípulo/discípula de Jesus) com os mesmos direitos (segundo evangelho) de aprender, ser discípulos-discípulas, seguidores-seguodoras de Jesus pelo Reinado de Deus. As exigências e responsabilidades do seguimento são iguais para todos, homens e mulheres.        

Que traços da sociedade patriarcal ainda hoje se conservam entre nós ? Em quais aspectos trabalhistas, familiares, políticos, religiosos etc. a mulher é discriminada hoje, entre nós ? 

II.  JESUS PERANTE O MATRIMÔNIO E O DIVÓRCIO           

A Lei permite a possibilidade de um homem repudiar a mulher (mas não vice-versa) e determina que ele lhe dê um documento legal de divórcio, que a deixe livre para se casar (Dt 24,1-4; Jr 3,8). O Deuteronômio dá uma razão geral para o marido divorciar-se da mulher: “Esta logo depois não encontra mais graça aos seus olhos, porque viu nela algo de inconveniente” (Dt 24,1). Expressava a superioridade do homem e seu domínio sobre a mulher e refletia a opressão exercida em todos os níveis da sociedade judaica.        

Questionando Jesus sobre o divórcio, os fariseus se aproximam de Jesus para tentá-lo (cf. 1,13;8,11.33) e pretendem levá-lo a dizer algo que iria causar conflito com as autoridades em Jerusalém, ou com os romanos pois ambos permitiam a dissolução do casamento; ou então, com a família de Herodes, na qual o divórcio era freqüente. Os fariseus querem saber se Jesus diz alguma coisa contra a lei: “É lícito a um marido repudiar sua mulher?” Se responder “sim”, Jesus se mostra como seguidor de Moisés, assim Jesus não será maior que Moisés. Se responder “não”, Jesus estará em oposição à lei de Moisés .        

Jesus, porém, não está preocupado com a lei que mantém a lógica dominante. Ele mostra que a lei simplesmente cede às conveniências humanas. Ele levanta duas questões: Por que Moisés escreveu tal lei? E será que Moisés a escreveu com intenção de permitir o divórcio? Por isso, Jesus responde: “Foi por causa da dureza do coração de vocês que Moisés escreveu esse mandamento. Mas, desde o início da criação, Deus os fez homem e mulher...os dois serão uma só carne/ser” (Mc 10,6-9). 

Para o hebreu, coração significa o centro da pessoa, da sua liberdade, dos seus relacionamentos: lá onde a pessoa se abre e se dá na conversão, no amor e no compromisso. Era esta transformação do coração que os profetas tinham anunciado que iria acontecer no tempo messiânico, quando Deus iria “tirar o coração de pedra e dar um coração de carne” (Ez 36,26-27). A vitória do Reino será justamente a transformação do coração humano. A condição de “dureza de coração” impede que se perceba o valor que cada pessoa tem aos olhos de Deus (Mc 3,5). A dureza de coração causa cegueira diante da manifestação do Amor de Deus acontecendo em Jesus Cristo (Mc 6,52;8,17). Agora ele diz aos fariseus que esta mesma condição pode criar uma incapacidade de realizar o Plano de Deus a respeito do casamento.  

Com esta resposta Jesus retoma o projeto original de Deus (cf. Gn 2,24), que a lei contradiz. E nesse projeto original, a união matrimonial é sinal da própria fidelidade de Deus para com seu povo. Jesus invalida a lei porque ela não corresponde à vontade original do projeto de Deus. Na adesão amorosa não existe lugar para leis casuísticas. E pouco ama quem se preocupa com a lei.        

Ao lermos este texto sabemos que Jesus não queria ensinar que o casamento é um simples contrato legal que não pode ser dissolvido. Pois um simples contrato pode sempre ser dissolvido, porque se trata apenas de um acordo entre duas vontades humanas. Jesus vai além disso e mostra que o casamento é mais do que uma lei. Ele é graça de Deus. É uma união de amor. “O amor é o único jogo no qual dois podem jogar e ambos ganharem”(Erma Freesman). “O fundo de uma agulha é bastante espaçoso para um casal que se ama; mas o mundo todo é pequeno para dois inimigos”(Solomon Ibn Gabirol).  É neste nível que deve ser compreendido, e é neste plano que os esposos devem viver. Jesus dá, então, ao casamento uma dignidade nova.        

O profeta Oséias já havia preparado o caminho com a sua profecia (Os 2,20ss) sobre a profundeza do amor no casamento que se realiza na medida do amor de Deus. Os esposos devem amar-se assim. Devem perdoar como o próprio Deus, que perdoa tudo, e está sempre pronto a começar tudo de novo, e de maneira mais intensa. O casal que ama como Deus ama, tem relacionamento que vem de Deus, e cuja medida é o próprio Deus. Isso salva de toda fraqueza e infidelidade, e dá ao casal a possibilidade de criar um ambiente e uma situação de amor na qual as pessoas se salvam.        

Se a instituição do matrimônio é tão ameaçada atualmente, e se muitos jovens não querem comprometer-se no casamento por achar que o amor por uma pessoa até a morte não seja mais possível, talvez porque nossa cultura tenha aspectos que favoreçam a condição de dureza de coração. Valoriza-se a liberdade, mas sem compromissos. Cria-se um conceito da afetividade e sexualidade que é baseado mais no egoísmo do que no respeito pela dignidade do outro, e no espírito de doação.        

Hoje sentimos como é necessário ajudar as pessoas a conhecerem a pessoas de Jesus, e a encarar a vida conjugal como uma vocação, ou seja, como um chamamento a viver o Amor do Reino neste estado de vida. Continuamos na obrigação de educar para um amor capaz de assumir compromissos definitivos. Isso se faz para valorizar a confiança mútua, a fidelidade ao outro e a si mesmo, para dar uma chance à felicidade que estava no plano de Deus desde o começo. Não vemos casamento indissolúvel como uma obrigação a ser carregada, mas como um direito que não deve ser sacrificado num mundo que fez do descartável um modo de vida. Responsabilidade, desejo de fidelidade, seriedade na palavra empenhada têm muito a ver com o direito de ser e fazer feliz. Queremos casamento assumido com responsabilidade para mais gente ser feliz. 

III. A BELEZA E A PROFUNDIDADE DO MATRIMÔNIo CRISTÃO         

Jesus insiste na insolubilidade do matrimônio. Por que ele se posiciona firmemente sobre a indissolubilidade do matrimônio? Onde é que consiste a beleza e a profundidade do matrimônio indissolúvel? 

1. A Beleza Do Matrimônio Consiste Na Sua Definitividade E Na Superação De Cada Crise          

Todos sabem que viver já é difícil, quanto mais conviver, especialmente no matrimônio. Mas a beleza e a profundidade do matrimônio precisamente consiste na sua definitividade e durabilidade: “O que Deus uniu o homem não separe”(Mc 10,9). E o Compêndio do Catecismo diz: “Deus, que é amor e criou o homem por amor, chamou-o a amar. Criando o homem e a mulher, chamou-os no Matrimônio a uma íntima comunhão de vida e de amor entre si, ‘assim eles não são mais dois, mas uma só carne’(Mt 19,6)”. A definitividade do matrimônio faz com que o amor se torne cada vez mais maduro, pois ele é refletido toda vez que encontra sua dificuldade e seus obstáculos. Precisamente na medida em que os momentos de crise matrimonial se superam, cresce também uma nova dimensão do amor e ao mesmo tempo se abre uma porta para uma dimensão da vida. Na superação de cada momento de crise abre-se uma porta para uma nova dimensão da convivência matrimonial e familiar. Com efeito, a verdadeira beleza do matrimônio não consiste apenas na sua harmonia, mas também na superação de cada momento de crise, como a beleza do dia não consiste apenas na sua claridade pelo sol, mas também na sua escuridão da noite. A beleza da noite muita vezes apresenta um aspecto diferente, do que a beleza que o dia ensolarado apresenta. Para chegar a essa superação os esposos devem aprender permanentemente a caminhar juntos, a amar-se novamente, a perdoar mutuamente, a buscar juntos uma solução para os problemas existentes para que possam trilhar o caminho do matrimonia até o fim. 

2. A Beleza Do Matrimônio Consiste Na Formação De Uma Família Humana: Ser Ninho Do Amor E De Outros Valores.          

As pessoas se casam para formar uma família onde cada membro é preparado para entrar na sociedade maior. A família é o ambiente em que cada um aprende a dar e a receber o amor, a sacrificar pelo outro, a ser solidário com o outro, a carregar juntos o fardo que se encontra na caminhada, a perdoar mutuamente pelas ofensas que muitas vezes são frutos não da maldade, mas das limitações naquele momento em que elas ocorreram. A grandeza de um matrimônio e de uma família consiste na entrega sincera de si mesmo ao outro. Nada pode substituir a existência de uma família, pois ela é a base de uma história, de um crescimento, da maturidade humana e cristã, etc. . A família é um bem necessário para cada ser humano para toda a sua vida. Quando uma família não vai bem, a sociedade também não vai bem. Por isso, a beleza de um matrimônio consiste na transmissão dos valores para os filhos, frutos de uma profunda união. Não é por acaso que cada família cristã é chamada de Igreja doméstica, pois através da vivência dos valores a família se torna uma comunidade de graça e uma escola das virtudes humanas e cristãs. A linguagem da fé de cada cristão se aprende no lar. A fé e a ética cristã se aprendem no lar que vão marcar a vida de cada membro para o resto da vida. Nenhum de nós adquiriu por si só os conhecimentos básicos para a vida. Cada um recebe de outros, principalmente da família, a vida e as verdades básicas para viver uma vida sadia pessoal, social e comunitariamente. Neste sentido, os próprios pais são exemplo e professores das virtudes humanas e cristãs. Somente desta maneira cada família pode superar a cultura que exalta o egoísmo e o individualismo como se cada um se fizesse só e se bastasse a si mesmo esquecendo o valor de uma relação com os outros e sua responsabilidade diante dos outros. 

3. A Beleza Do Matrimônio Consiste Em Expressar A Importância Do Valor De Uma Companhia          

“Não é bom que o homem esteja só”. Estas palavras são postas na boca de Deus pelo autor javista(2,18a). O ponto de partida do texto é a necessidade humana de estar em companhia. O homem não é um ser autônomo, encerrado em si mesmo. Não podemos viver sós. O homem só, sem companhia nem ajuda não é homem nem pode viver como tal. O ser humano não encontra a plenitude do sentido de sua existência em si mesmo, mas na relação com os demais. O homem que vive fechado em si próprio, que escolhe percorrer caminhos de egoísmo e de auto-suficiência, que recusa o diálogo e a comunhão com aqueles que caminham a seu lado, que tem o coração fechado ao amor e à partilha, é um homem profundamente infeliz, que nunca conhecerá a felicidade plena. Por ter nascido de Deus, o homem é participação. Estamos feitos para a relação com os demais. Estamos feitos a base de relação com os demais. Por isso, quando morre uma pessoa querida, uma parte de nós mesmos morre com ela porque formamos um todo com ela.  O mistério do homem é que para ser ele mesmo, ele tem necessidade do outro, para encontrar-se a si mesmo, ele precisa partilhar, e necessita dar para chegar a ser. O mistério do homem é que para poder existir como “EU”, necessita que exista outro que lhe diga “TU”. O mistério do homem é que ele é sociedade. O homem, desde sua origem, é um ser conjugal. Desde então, ser parceiro é sacramento de Deus. O ser humano deixaria de ser imagem de Deus, se ele não se relacionasse com os demais, pois um Deus com uma pessoa só já não seria o Amor. Deus é Amor(1Jo 4,8.16) e o amor é encontro e para existir como Amor, tem que ser Trindade.          

Esta relação e companhia se realizam com uma plenitude, distinta de qualquer outra relação, na união do homem e a mulher: “Eles serão uma só carne”(Gn 2,24;Mc 10,7). A palavra “carne” expressa na linguagem bíblica a existência terrena do homem; ser da mesma carne significa compartilhar a mesma existência, o mesmo projeto vital. A complementaridade entre homem e mulher conduz a compartilhar a mesma existência. E o sacramento do matrimônio é a experiência mais plena de acompanhamento mútuo que se converte em sinal público e eclesial o amor absoluto que é Deus(1Jo 4,8.16). Por isso, o matrimônio é um sacramento não porque consagre a promessa solene dos esposos, nem por fundar-se na mútua ternura. O matrimônio é sacramento por ser imagem mais perfeita do que Deus é e do que é a vida segundo Deus. Na relação entre um homem e uma mulher descobrimos e experimentamos que Deus é encontro, dom, participação e amor.          

Este ideal que Jesus Cristo apresenta no Evangelho de hoje consiste no amor que dura e cresce sempre, que quer seriamente o bem do outro, que faz todo o necessário para cultivar esse amor. Mas este ideal não é fácil como são os demais ideais que Jesus apresenta no evangelho como: amar os inimigos, perdoar sempre, vender tudo para dar aos pobres. No entanto, sabemos que um mundo que realizar todos estes ideais será verdadeiramente o mundo de Deus, ou seja, o mundo para os homens. Cada cristão é chamado e enviado para anunciar estes ideais e lutar para realizá-los, mas sempre está ao lado de Deus, pois sem Deus nada podemos fazer(Jo 15,5). Realizar estes ideais significa seguir o caminho de Deus, e ser testemunha do Seu amor.           

“Não separe o homem o que Deus uniu”, diz Jesus. Jesus está sempre contra a corrente. Palavra incompreensível para muitos homens e mulheres, qualquer seja a sua idade. O ser humano foi criado à imagem de Deus por amor. O casal humano é chamado por Deus a tornar-se o primeiro lugar de encarnação deste movimento de amor. O amor humano, sob todas as suas formas, não nasceu dos acasos da evolução biológica. É dom de Deus. Quando os homens recusarem este dom, impedirão Deus de imprimir neles a sua imagem.           

Que esta Eucaristia fortaleça o amor dos casais presentes, o amor que eles consagraram um para o outro no dia de seu casamento. O casamento indissolúvel é um grito para todas as pessoas ao redor que existe o amor. É o mesmo que dizer: Deus existe, pois ele é Amor (1Jo 4,8.16). 

Para Refletir

“O amor humano encontra sua plenitude quando participa do amor divino, do amor de Jesus que se entrega solidariamente por nós em seu amor pleno até o fim (cf. Jo 13,1; 15,9). O amor conjugal é a doação recíproca entre um homem e uma mulher, os esposos: é fiel e exclusivo até à morte e fecundo, aberto à vida e à educação dos filhos, assemelhando-se ao amor fecundo da Santíssima Trindade. O amor conjugal é assumido no Sacramento do Matrimônio para significar a união de Cristo com sua Igreja. Por isso, na graça de Jesus Cristo, encontra sua purificação, alimento e plenitude (Ef 5,23-33)” (Doc. Aparecida n.117). 

“Amar é também tornar-se amável, e nisto está o sentido do termo  asjemonéi. Significa que o amor não age rudemente, não atua de forma inconveniente, não se mostra duro no trato. Os seus modos, as suas palavras, os seus gestos são agradáveis; não são ásperos, nem rígidos. Detesta fazer sofrer os outros. A cortesia «é uma escola de sensibilidade e altruísmo», que exige que a pessoa «cultive a sua mente e os seus sentidos, aprenda a ouvir, a falar e, em certos momentos, a calar».[107] Ser amável não é um estilo que o cristão possa escolher ou rejeitar: faz parte das exigências irrenunciáveis do amor, por isso «todo o ser humano está obrigado a ser afável com aqueles que o rodeiam».[108] Diariamente «entrar na vida do outro, mesmo quando faz parte da nossa existência, exige a delicadeza duma atitude não invasiva, que renova a confiança e o respeito. (...) E quanto mais íntimo e profundo for o amor, tanto mais exigirá o respeito pela liberdade e a capacidade de esperar que o outro abra a porta do seu coração».[109] (Papa Francisco, Amoris Laetitia, n.99). 

“A fim de se predispor para um verdadeiro encontro com o outro, requer-se um olhar amável pousado nele. Isto não é possível quando reina um pessimismo que põe em evidência os defeitos e erros alheios, talvez para compensar os próprios complexos. Um olhar amável faz com que nos detenhamos menos nos limites do outro, podendo assim tolerá-lo e unirmo-nos num projecto comum, apesar de sermos diferentes. O amor amável gera vínculos, cultiva laços, cria novas redes de integração, constrói um tecido social firme. Deste modo, uma pessoa protege-se a si mesma, pois, sem sentido de pertença, não se pode sustentar uma entrega aos outros, acabando cada um por buscar apenas as próprias conveniências, e a convivência torna-se impossível. Uma pessoa anti-social julga que os outros existem para satisfazer as suas necessidades e, quando o fazem, cumprem apenas o seu dever. Neste caso, não haveria espaço para a amabilidade do amor e a sua linguagem. A pessoa que ama é capaz de dizer palavras de incentivo, que reconfortam, fortalecem, consolam, estimulam. Vejamos, por exemplo, algumas palavras que Jesus dizia às pessoas: «Filho, tem confiança!» (Mt 9, 2). «Grande é a tua fé!» (Mt 15, 28). «Levanta-te!» (Mc 5, 41). «Vai em paz» (Lc 7, 50). «Não temais!» (Mt 14, 27). Não são palavras que humilham, angustiam, irritam, desprezam. Na família, é preciso aprender esta linguagem amável de Jesus” (Amoris Laetitia, n.100). 

No seio de uma família, a pessoa descobre os motivos e o caminho para pertencer à família de Deus. Dela recebemos a vida que é a primeira experiência do amor e da fé. O grande tesouro da educação dos filhos na fé consiste na experiência de uma vida familiar que recebe a fé, a conserva, a celebra, a transmite e dá testemunho dela. Os pais devem tomar nova consciência de sua alegre e irrenunciável responsabilidade na formação integral dos filhos(Doc. Aparecida n.118).

P. Vitus Gustama,SVD

05/10/2024-Sábado Da XXVI Semana Comum

TER NOME ESCRITO NO CÉU É A MAIOR RECOMPENSA PARA QUEM É FIEL A DEUS ATÉ O FIM  

Sábado Da XXVI Semana Comum

Primeira Leitura: Jó 42,1-3.5-6.12-16

1 Jó respondeu ao Senhor, dizendo: 2 “Reconheço que podes tudo e que para ti nenhum pensamento é oculto. — 3 Quem é esse que ofusca a Providência, sem nada entender? — Falei, pois, de coisas que não entendia, de maravilhas que ultrapassam a minha compreensão. 5 Conhecia o Senhor apenas por ouvir falar, mas, agora, eu o vejo com meus olhos. 6 Por isso me retrato e faço penitência no pó e na cinza”. 12 O Senhor abençoou a Jó no fim de sua vida mais do que no princípio; ele possuía agora catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de bois e mil jumentas. 13 Teve outros sete filhos e três filhas: 14 a primeira chamava-se “Rola”, a segunda “Cássia”, e a terceira “Azeviche”. 15 Não havia em toda a terra mulheres mais belas que as filhas de Jó. Seu pai lhes destinou uma parte da herança, entre os seus irmãos. 16 Depois desses acontecimentos, Jó viveu cento e quarenta anos, e viu seus filhos e os filhos de seus filhos até a quarta geração. E Jó morreu velho e repleto de anos.

Evangelho: Lc 10,17-24

Naquele tempo, 17 os setenta e dois voltaram muito contentes, dizendo: “Senhor, até os demônios nos obedeceram por causa do teu nome”. 18 Jesus respondeu: “Eu vi Satanás cair do céu, como um relâmpago. 19 Eu vos dei o poder de pisar em cima de cobras e escorpiões e sobre toda a força do inimigo. E nada vos poderá fazer mal. 20 Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu”. 21 Naquele momento, Jesus exultou no Espírito Santo e disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 22 Tudo me foi entregue pelo meu Pai. Ninguém conhece quem é o Filho, a não ser o Pai; e ninguém conhece quem é o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”. 23 Jesus voltou-se para os discípulos e disse-lhes em particular: “Felizes os olhos que veem o que vós vedes! 24 Pois eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que estais vendo, e não puderam ver; quiseram ouvir o que estais ouvindo, e não puderam ouvir”.

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Quem Está Com Deus Apesar Dos Sofrimentos Terá Uma Vida Feliz

O Senhor abençoou a Jó no fim de sua vida mais do que no princípio. Jó viveu cento e quarenta anos, e viu seus filhos e os filhos de seus filhos até a quarta geração. E Jó morreu velho e repleto de anos”.

Hoje terminamos a leitura do Livro de Jó, um dos livros sapienciais com o texto que lemos na Primeira Leitura. No desenrolar do Livro de Jó, o autor apresenta uma fé madura e forte, apesar dos pesares, no proganista Jó. Jó confia em Deus até o fim. Nessa fé madura e forte Jó reconhece a grandeza de Deus e se mostra disposto a aceitar os desígnios de Deus.

Em Jo 42 (últimi capítulo do livro)  Jó enxergou a presença de Deus. As tragédias que atingiram Jó justo e inocente não tinham explicação fácil e muito menos a partir das teorias tradicionais representadas por seus três amigos. Diante dos fracassos dos sábios e teóricos, incapazes de consolar e esclarecer a Jó em sua dor, como saída, o autor coloca Deus em seu devido lugar como Criador, e Jó no seu lugar como criatura. O autor consegue colocar Jó cara a cara com seu Deus. Essa experiência religiosa profunda com Deus supera toda a tradição teológica das escolas e dos discursos dos sábios: “Conhecia o Senhor apenas por ouvir falar, mas, agora, eu o vejo com meus olhos” (Jó 42,5). Da teoria para a prática, da notícia para a experiência: nem tanto falar de Deus como falar com Deus e trata-Lo diretamente, senti-Lo, experimentá-Lo. A partir da experiência com Deus na meditação e conemplação os problemas anteriores de Jó não são mais problemas. Com isso, terminou a noite escura de Jó.

É preciso fazer experiência com Deus na meditação/reflexão e contemplação para conhecer e entender o sentido das coisas e dos acontecimentos, especialmente da dor que sentimos. Somente quando decidirmos sair de nós mesmos (ex) a fim de procurar compreender as coisas e dos acontecimentos de todos os lados (peri), adquiremos o conhecimento (ciência) ou sentido das coisas e dos acontecimentos.

Por isso, falar de Deus é muito diferente do falar com Deus. Qualquer pessoa, inclusive um ateu, pode falar de Deus, sem nenhuma autoridade, mas nem qualquer pessoa pode falar com Deus. Somente quem fala com Deus na oração e na contemplação, tem autoridade para falar de Deus.Quantas vezes falando com Deus, desabafo e choro. E alívio pro meu coração eu a Ele imploro. E então sinto a Sua presença, Seu amor, Sua luz tão intensa. Que ilumina o meu rosto e me alegra em minha oração. Quanta paz, quanta luz! Deus nos ouve, nos mostra o caminho que a Ele conduz. Deus é Pai, Deus é luz. Deus nos fala que a Ele se chega seguindo Jesus (Música de Roberto Carlos).

É evidente que o autor do livro de Jó não possui a ciência divina, mas sua teologia supera a teologia dos amigos de Jó. Quando Deus se digna responder, não o faz diretamente, e sim com uma interrogação (umas perguntas retóricas). E Deus abençoa Jó com bens inclusive superiores aos que tinha ao princípio. Por certo, as três filhas têm direitos iguais que os sete filhos, coisa não muito frequente em seu tempo.

O autor do livro de Jó quer mostrar que Jó é justo e Deus o recompensa e que Jó tem um conceito melhor de Deus do que seus amigos. O Deus de Jó é misterioso e desconcertante. A conclusão do livro de Jó é a seguinte: também o homem justo pode sofrer nesta vida, e talvez mais do que os outros. Porém, nem o sofrimento é um castigo de Deus, nem Deus tem prazer de ver o homem sofrer. Agora sabemos que a recompensa para uma vida honesta é o próprio Deus, mais do que os bens materiais que pertencem ao próprio Deus.

O problema do mal não recebeu no livro de Jó uma resposta filosoficamente  convincente, mas ajudou os leitores a crescer. A vida nos educa e as experiências nos tornam maduros. E uma das coisas que mais influenciam em nosso fortalecimento de caráter e em aquilatar nossa fidelidade são as provas, os momentos de dor. Não sabemos o que é ter fé até que algo nos põe a prova. Quando experimentamos a dor em nossa própria carne, confessamos como Jó: “Conhecia o Senhor apenas por ouvir falar, mas, agora, eu o vejo com meus olhos. Será verdade que somente enxergamos Deus no momento da dor?

Por fim, o epílogo do livro de Jó quer nos dizer que Jó tinha razão: era um homem íntegro e fiel a Deus. E que os sofrimentos não eram castigo pelo pecado. A doutrina e a postura dos amigos de Jó, intolerantes e sem caridade, não agradam a Deus. Mas mesmo assim Deus da bondade e da misericórdia perdoa-lhes através da intercessão de Jó que agora passa a ser o justo e não o condenado, segundo pensamentos dos seus amigos. No fim, Jó recupera suas riquezas em dobro e vive longa, como sinal de ser verdadeiro “servo” e amigo de Deus.

Somos Enviados Pelo Senhor Jesus Para Libertar Os Outros Do Mal

Senhor, até os demônios nos obedeceram por causa do teu nome”.

Os símbolos de demônios, serpentes e escropiões  que nos apresenta o relato do Evangelho, nos indicam como o mal está enraizado no coração do ser humano. Os discípulos tem poder sobre esse mal, mas eles têm que ter uma conexão profunda com Deus, pela fé n´Ele. O relato de hoje deixa bem claro que o discípulo não tem razão para vangloriar-se pelas obras realizadas, pois todo o sucesso é obra de Deus através de cada discípulo. Todo o poder que os discípulos possuem para expulsar os demônios é recebido de Jesus Cristo.

O texto do evangelho de hoje se encontra no contexto da volta dos setenta (e dois) discípulos da missão que o Senhor lhes tinha confiado anteriormente (Lc 10,1-12). Os discípulos voltaram da missão alegres, entusiasmados, empolgados por ter sido capazes de libertar os homens do mal, moral e físico pelo uso que fizeram do poder messiânico (o nome) de Jesus: “Senhor, até os demônios nos obedeceram por causa do teu nome”, relataram os discípulos a Jesus.  Todas as forças do mal considerados como inimigos de Deus e dos seres humanos tinham sido desarticulados pelos discípulos através do uso do poder recebido de Jesus. Isto significa que o poder sobre o mal que os discípulos têm é o fruto de sua comunhão plena com Jesus. Estar em plena comunhão com Jesus significa estar em pleno poder de Jesus, poder que liberta e não escraviza. Somente a fé em Jesus, isto é, estar nele e com ele, é que se pode derrotar qualquer poder que escraviza.

E Jesus lhes explica que uma vitória semelhante é o sinal da derrota das forças do mal que dominavam os homens até então: “Eu vi satanás cair do céu como um relâmpago” (Lc 10,18). Trata-se de uma queda brusca e rápida (relâmpago) e de uma grande altura (do céu). Altura de onde inicia a queda de uma coisa ou de uma pessoa determina o impacto sobre o que caiu ao chegar à terra.

Por que caiu do céu (satanás caiu do céu)? O tema da queda de satanás do céu pertence ao mito apocalíptico judaico, em que se alude à presença de satanás sobre o céu. Certamente, segundo esse mito, seu lugar e sua função se diferenciam do lugar e da função de Deus, porém pensa-se que satanás põe o trono nas esferas superiores e domina desde ali toda a marcha dos homens sobre o mundo. Mas a chegada de Jesus abole o estado de escravidão que permite o homem ter acesso à liberdade. A presença de Jesus é a derrota do poder do mal. Basta estar com Jesus e estar nele, o triunfo do poder do mal (satanás) termina seu reinado.

Mas para não cair na ilusão do poder e na idéia de domínio, para não ficar apenas na empolgação, Jesus alerta aos discípulos que o mais importante é ter os nomes escritos no céu. Ter nome escrito no céu é mais importante do que qualquer poder ou domínio na terra. Esta afirmação nos leva ao Livro do Êxodo onde encontramos uma explicação: somente são aqueles que participam do Reino de Deus e vivem conforme as suas exigências têm nome escrito no céu (cf. Ex 32,32). Não há nada que seja melhor para um ser humano do que ter seu nome escrito no céu, no livro da vida: “O vencedor será assim revestido de vestes brancas. Jamais apagarei o seu nome do livro da vida, e o proclamarei diante do meu Pai e dos seus anjos”, diz-nos o Livro de Apocalipse de São João (Ap 3,5). Esta é a grande mensagem do evangelho de hoje. Em outras palavras, os discípulos devem ficar alegres por pertencer a Deus ou participar da grande família do Reino (nome escrito no céu), por estar a serviço de Deus (libertar os homens da escravidão do mal), por gozar da proteção divina (nenhum mal consegue vencê-los), e por ter neles o germe da vida eterna que acaba com as forças da morte.

À luz desta experiência se situa a função dos discípulos missionários. Sua vitória sobre satanás se traduz no fato de que são capazes de vencer (superar) o mal do mundo (Lc 10,19) desde que mantinham sua pertença ao Reino e usem o poder conferido para libertar os outros e não para escravizá-los. Por isso, são declarados felizes: “Felizes os olhos que vêem o que vós vedes. Pois eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que estais vendo e não puderam ver; quiseram ouvir o que estais ouvindo e não puderam ouvir” (Lc 10,23-24). Os discípulos são felizes porque estão experimentando aquela plenitude messiânica que os antigos profetas e os reis de Israel sonhavam experimentar. No entanto, mais uma vez, sua autentica grandeza está no fato de seu encontro pessoal com Deus: seus nomes pertencem ao Reino dos céus (Lc 10,20).

Quem mantiver sua pertença à Família de Deus não estará fadado a ser escravo do poder do mal, mas será revestido do poder de Deus para superar todo mal no mundo e libertar os outros escravizados pelo mal. E quem mantiver unido a Deus, mesmo que seja frágil, ele será um instrumento eficaz nas mãos de Deus para pôr fim ao reino do mal e fazer triunfar o amor fraterna, a solidariedade fraterna, a bondade, compaixão e assim por diante. O espaço totalmente ocupado pelo bem, o mal não tem vez. Quem se mantiver assim até o fim, seu nome estará escrito no céu.

Que seu nome e meu nome estejam escritos no livro da vida, no céu. Para isso, é preciso que aprendamos a ser pequenos e simples diante de Deus. Os pequenos e os simples se mantém abertos ao mistério de Deus e compreendem a verdade de Jesus Cristo: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos” (Lc 10,21ª). A missão se estrutura como expansão do amor em que se unem Deus e o Cristo (Filho). Nesse amor, revelado aos pequenos e escondido para todos os grandes deste mundo, se fundamenta a derrota das forças destruidoras da história. “Com o amor não somente avanço, mas vôo. Um só ato de amor nos fará conhecer melhor Jesus. O amor nos aproximará dele durante toda a eternidade. Eu não conheço outro meio para chegar à perfeição a não ser o amor, dizia Santa Tereza do Menino Jesus e da Sagrada Face, cuja festa é celebrada no dia 01 de outubro.

P. Vitus Gustama,svd

Nossa Senhora Do Rosário-Memória, 07 De Outubro

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