terça-feira, 22 de outubro de 2024

25/10/2024-Sextaf Da XXIX Semana Comum

DEUS, PAI DE TODOS NÓS, ESTÁ NA VIDA COTIDIANA: ESTEJAMOS UNIDOS E ATENTOS PARA SUA PRESENÇA

Sexta-Feira da XXIX Semana Comum

Primeira Leitura: Efésios 4,1-6

Irmãos, 1 eu, prisioneiro no Senhor, vos exorto a caminhardes de acordo com a vocação que recebestes: 2 Com toda a humildade e mansidão, suportai-vos uns aos outros com paciência, no amor. 3 Aplicai-vos a guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz. 4 Há um só Corpo e um só Espírito, como também uma só é a esperança à qual fostes chamados. 5 Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, 6 um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos.

Evangelho: Lc 12, 54-59

Naquele tempo, 54 Jesus dizia às multidões: “Quando vedes uma nuvem vinda do ocidente, logo dizeis que vem chuva. E assim acontece. 55 Quando sentis soprar o vento do sul, logo dizeis que vai fazer calor. E assim acontece. 56 Hipócritas! Vós sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabeis interpretar o tempo presente? 57 Por que não julgais por vós mesmos o que é justo? 58 Quando, pois, tu vais com o teu adversário apresentar-te diante do magistrado, procura resolver o caso com ele enquanto estais a caminho. Senão ele te levará ao juiz, o juiz te entregará ao guarda, e o guarda te jogará na cadeia. 59 Eu te digo: daí tu não sairás, enquanto não pagares o último centavo”.

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Sejamos Unidos, Pois Todos Nós Formamos Uma Única Família Na Fé

Há um só Corpo e um só Espírito, como também uma só é a esperança à qual fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos”.

Continuamos a nossa reflexão sobre a Carta aos Efésios. Os primeiros capítulos da Carta aos Efésios (Ef 1-3) são mais teológicos. Nos primeiros capítulos São Paulo, sendo prisioneiro por Cristo, em Roma, nos apresenta com entusiasmo o mistério de Cristo e de sua Igreja.

Agora, a partir do Ef 4 o autor da Carta entra em uma seção mais exortativa e prática (Ef 4,1-6,22). Nessa seção há variedade de exortações porque a vida é variada. Algumas são dirigidas a todos contra a mentira, a impureza, a ira, a avareza, enfim, todas as “obras das trevas”. Outras exortações são dirigidas para as diversas categorias de pessoas: há admoestação para maridos e esposas, pais e filhos, escravos e senhores.

Essas exortações são, na verdade, a aplicação prática do mistério de Cristo e da Igreja. A aplicação do mistério à vida pede que “caminhardes de acordo com a vocação que recebestes”. Em seguido, são Paulo concretiza: a primeira consequência é que vivamos a unidade dentro da Igreja: “Aplicai-vos a guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz”.

O tema de fundo em Ef 4,1-16 é o da unidade. Cristo (cabeça) e a Igreja (Corpo místico) são inseparáveis; são bem unidos. Para ser  comunidade cristã autêntica e unida, onde vive como irmãos, os comportamentos não podem ser improvisados, mas somente aquelas inspiradas pela humildade, gentileza, magnanimidade e tolerância mútua (Ef 4,2), como resposta a um chamado de Deus (Ef 4,1.4). A razão da unidade está na unicidade de Deus: “um só Corpo e um só Espírito, como também uma só é a esperança à qual fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4,4-5),

Teologicamente o verbo “unir” significa salvar. Unir é salvar. Salvar é unir. Por isso, o bom Pastor vai atrás da ovelha perdida para reunir novamente com o resto das ovelhas (Lc 15,4-6). O próprio Deus é, em si mesmo, um mistério de unidade: Três constituídos em um.

Os homens aspiram a unidade. Estar juntos. Estar de acordo. Amar e ser amado. Colaboração e diálogo em vez de rivalidade. A concórdia e solidariedade em vez da atmosfera de suspeita e de domínio. O ser humano ama ser acariciado. No entanto, a humanidade sempre está desgarrada e os conflitos de hoje são mais profundos do que nunca: discriminação, divisão, separatismo e assim por diante. Mas a aspiração subsiste como um sonho de felicidade. Por isso, ainda encontramos tantas pessoas que lutam para que todos vivam na solidariedade uns dos outros, dialoguem a fim de evitar conflitos desnecessários. Deus está naqueles que lutam pela solidariedade, pelo diálogo, pela defesa da vida, pela união, pela paz e assim por diante. “A soberba gera a divisão. A caridade, a comunhão”, dizia Santo Agostinho..

A raiz última desta unidade segundo esta Carta é que temos um só Espírito, um só Senhor, um só Deus e Pai. Também todos temos uma mesma fé e uma única esperança, um só Batismo: “Há um só Corpo e um só Espírito, como também uma só é a esperança à qual fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos”. Mas tudo isso não será realizado se as outras recomendações não forem cumpridas: "Sejam sempre humildes e amáveis, suportem-se uns aos outros no amor".

O autor da Carta quer nos dizer que mesmo que tenha todos os argumentos, por profundos e teológicos que sejam em favor da unidade, se não houver a caridade e o amor em nossas comunidades, tudo ficará sem sentido. Viver bem como cristão quem testemunha a vida cristã com a própria vida mais do que com um belo discurso.

Um só Corpo....Um só Espírito...Um só Deus e Pai. Fórmula Trinitária: a exigência da unidade de todos os homens é absoluta e essencial. O segredo da “unidade” de todos os homens procede da vida comum das Três Divinas Pessoas. O Concílio Vaticano II revalorizou esta convicção: “A Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano, pretende ela, na sequência dos anteriores Concílios, pôr de manifesto com maior insistência, aos fiéis e a todo o mundo, a sua natureza e missão universal. E as condições do nosso tempo tornam ainda mais urgentes este dever da Igreja, para que deste modo os homens todos, hoje mais estreitamente ligados uns aos outros, pelos diversos laços sociais, técnicos e culturais, alcancem também a plena unidade em Cristo” (LG n.1).

O Senhor nos chamou a vivermos unidos a Cristo. Feitos um com Ele e n´Ele, não podemos gerar divisões entre nós mesmos. Esta unidade é fruto da presença do mesmo Espírito em nós. Ele nos põe ao serviço do bem que temos que fazer para os demais homens. O Senhor nos convida a vivermos como irmaos em torno de nosso único Deus e Pai, que reina sobre todos, de tal forma que ninguém é mais importante do que os outros. diante de Deus todos nós somos seus filhos e ninguém é superior aos demais.

Para manter a unidade tem que ter a humildade e a mansidão. ”Com toda a humildade e mansidão, suportai-vos uns aos outros com paciência, no amor”. O manso é a pessoa boa nas relações com os outros. Jesus se proclama o Mestre “manso e humilde de coração” (Mt 11,28-30), pois ele é totalmente aberto a Deus e é bom com os outros a ponto de compartilhar de sua existência. A “mansidão” é fruto do Espírito (Gl 5,23) e é sinal da presença da sabedoria do alto (Tg 3,13.17). A mansidão é a virtude a ser invocada e conquistada por quem pretende seguir fielmente a Jesus manso.

Além da mansidão é precisa viver na humildade para manter a unidade. O humilde é aquele que tem noção da própria capacidade e da própria fraqueza e limitações e está aberto totalmente a Deus e para qualquer correção fraterna a fim de ter o crescimento no bem. É na humildade e da humildade que germinam nossos autênticos valores.

A humildade e a mansidão precisa ser vividas com paciência no amor. A vivência do amor misericordioso nos leva a ter paciência como Deus tem tido paciência para conosco apesar de nossos contínuos desvios do caminho de Deus. O paciente não é aquele que é cego, nem aquele que fecha os olhos às qualidades e às idéias menos boas ou até más dos outros. Seremos pacientes na medida em que saibamos aceitar as nossas próprias limitações e agradecer ao nosso próximo o fato de nos aceitar, apesar das nossas sombras e dos nossos defeitos. O impaciente veste sempre a pele do “infalível”, porque não reconhece nem vive os próprios limites e defeitos.

A Igreja de Cristo nos quer como um sinal de seu amor para a humanidade de todos os tempos e lugares. Devemos viver unidos como irmaos, pois enquanto surgirem divisões entre nós, não poderemos ser um sinal do amor de Deus no mundo. sejamos uma Igreja humilde, isto é, disponíveis ao serviço dos demais. não busquemos honras e sim somente o saber entregar a Cristo e a seu Evangelho.

Deus Faz o Apelo Para Nós Diariamente Através Dos Acontecimentos

Continuamos a acompanhar as últimas e mais importantes lições que Jesus nos dá no Seu caminho para Jerusalém, as Lições do Caminho (Lc 9,51-19,28). Tratam-se dos últimos testamento do Senhor para nós. Por isso, é preciso ouvi-los atentamente.

Hoje, na passagem do evangelho, Jesus quer que estejamos atentos para a presença de Deus através de vários sinais na nossa vida, como estamos atentos para a mudança do tempo (previsão do tempo): “Vós sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabeis interpretar o tempo presente?.  Jesus nos convida a irmos além do aspecto físico da realidade para o sentido querido por Deus através da realidade. Em cada acontecimento Deus deixa Seu recado para quem o presencia. É preciso estar ligado à realidade, pois Deus está em tudo e em todos. Em cada luz, aparece a luz do próprio Deus. Em cada vida, Deus é a vida. Em cada coisa sentida é o próprio Deus que está sendo sentido. Em cada existir, Deus é o próprio Ser. Ao tocarmos uma flor temos a certeza de que, misteriosamente, estamos ticando o Criador da flor. A flor não é Deus, mas ela nos leva à própria perfeita beleza de Deus e ao próprio Criador da flor. O homem profundo é aquele que vive sua humanidade a partir da graça e da presença permanente de Deus na sua vida.

Quando vedes uma nuvem vinda do ocidente, logo dizeis que vem chuva. E assim acontece. Quando sentis soprar o vento do sul, logo dizeis que vai fazer calor. E assim acontece. Hipócritas! Vós sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabeis interpretar o tempo presente?”. Os homens sempre se interessam pelo tempo e pelo clima, especialmente para os agricultores, os aeronáuticos, os marinheiros e assim por diante em função de suas tarefas. Temos um grande discernimento nas coisas materiais, mas não naquelas espirituais.  Conhecemos aquilo que é útil materialmente, mas não aquilo que é necessário para a vida inesgotável: a vida eterna. Não é por acaso que Jesus nos chama no evangelho de hoje de “hipócritas”.

No evangelho de hoje, Jesus nos chama nossa atenção, porque sabemos muito bem prever o clima, mas não sabemos discernir ou ler os sinais abundantes e claros que Deus nos envia diariamente. O Senhor continua passando perto de nossa vida, com suficientes referências ou sinais. Mas podemos ter perigo de que não captamos nem reconhecemos essa presença. O Senhor se faz presente na enfermidade ou na tribulação (cf. Mt 25,38-40), nas pessoas com as quais trabalhamos ou com as quais formamos nossa família, nas boas notícias que cada pessoa espera para sua vida, sua família e assim por diante. Nossa vida será bem diferente, se estivermos bastante conscientes da presença divina na nossa vida diária. Se tivermos consciência da presença de Deus na nossa vida diária (cf. Mt 28,20), desaparecerá de nossa vida a rotina, o mau-humor, as tristezas e as preocupações exageradas porque viveremos com muita fé na providência divina.

Jesus reprova seus concidadãos de não serem capazes de interpretar os “sinais dos tempos”, quando são perfeitamente capazes de interpretar os sinais meteorológicos.

Lendo e meditando as palavras de Jesus no evangelho deste dia o Concilio Vaticano II, através de um dos seus famosos documentos, chamado Gaudium et Spes (GS) afirma: “é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e da vida futura, e da relação entre ambas. É, por isso, necessário conhecer e compreender o mundo em que vivemos, as suas esperanças e aspirações, e o seu caráter tantas vezes dramático” (GS, no.4). “O Povo de Deus, movido pela fé com que acredita ser conduzido pelo Espírito do Senhor, o qual enche o universo, esforça-se por discernir nos acontecimentos, nas exigências e aspirações, em que participa juntamente com os homens de hoje, quais são os verdadeiros sinais da presença ou da vontade de Deus. Porque a fé ilumina todas as coisas com uma luz nova, e faz conhecer o desígnio divino acerca da vocação integral do homem e, dessa forma, orienta o espírito para soluções plenamente humanas (GS no. 11).

Analisando o estado atual do mundo, “o momento presente”, o Concílio reconheceu alguns “sinais dos tempos” essenciais: a solidariedade crescente dos povos apesar do barulho do pequeno grupo que sempre faz o contrário, o ecumenismo apesar da resistência de alguns grupos religiosos; a preocupação pela liberdade religiosa apesar de determinados país prenderem a liberdade de escolha.

O Espírito de Deus continua atuando no mundo através de muitos sinais. Ele continua atuando nos olhos dos que choram, nos que sofrem por serem justos, honestos, e verdadeiros; nos que trabalham pela paz apesar da resistência diante da reconciliação; em quantos trabalham pela erradicação da fome e da pobreza apesar da exploração e da corrupção de alguns grupos insensíveis às questões sociais; em todo o homem e a mulher que procura Deus com coração sincero apesar das dores encontradas na vida. A sua vontade de rezar e de meditar a Palavra de Deus é sinal de que o Espírito de Deus continua atuando em você. O Espírito de Deus continua atuando em você quando reza por si e pelos outros; em tantas pessoas que estão sempre prontas para ajudar quem está em necessidade. Numa palavra, em tudo o que é bondade e amor, paz e bem porque tudo isto é reflexo e semente do sinal básico do sacramento perene do próprio Deus. Em tudo que aconteceu e acontece e acontecerá na nossa vida Deus quer nos dizer alguma coisa a respeito de nossa salvação, mas que nem sempre sabemos criar o silêncio para ouvir a mensagem de Deus. O silêncio é o vazio fecundo que possibilita a presença do Eterno, ou da Plenitude na nossa vida.

Segundo o convite de Jesus, é preciso dar-nos conta do momento em que nos encontramos. Em outras palavras, precisamos transformar o kronos, isto é, o tempo medido pelos segndos, em kairós, isto é , tempo da graça de Deus e da oportunidade de salvaçao. A consciência do tempo de Deus transforma nossas atividades diárias em atividades salvíficas e transforma nossos trabalhos em vivência do amor fraterno.

Portanto, é preciso que façamos a revisão de nossa vida e o modo pelo qual vivemos. A finalidade da “revisão de vida” é tratar, humildemente de “reconhecer” a ação de Deus nos acontecimentos, em nossas vidas, nas pessoas com as quais encontramos diariamente ou ocasionalmente, nos sofrimentos e nas dores, nas vitórias e nos desafios de cada dia, e assim por diante, para encontrá-Lo e participar nessa ação de Deus a fim de revelá-Lo, enquanto for possível, aos que O ignoram. Somente quem vive aberto ao Espírito de Deus, percebe sua voz, sua chamada e sua presença. Por isso, há que estar sempre alerta e atento.

Portanto, é bom cada um se perguntara: O que é que Deus quer de mim através de todos os acontecimentos da vida minha vida e de todos os acontecimentos ao meu redor? Que resposta eu devo dar a tudo isto? Que ação eu devo fazer como resposta ao convite de Deus através desses acontecimentos? Deus nunca deixa de nos dar recado diariamente. Basta abrir os olhos e o coração.

P. Vitus Gustama,svd

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