quinta-feira, 24 de outubro de 2024

São Simão e São Judas Tadeu-28/10/2024

JUDAS TADEU E SIMÃO-APÓSTOLOS

SER CRISTÃO É SER ENVIADO DO SENHOR E SER FATOR DA UNIDADE 


28 de Outubro 

Primeira Leitura: Ef 2,19-22

Irmãos, 19 já não sois mais estrangeiros nem migrantes, mas concidadãos dos santos. Sois da família de Deus. 20 Vós fostes integrados no edifício que tem como fundamento os apóstolos e os profetas, e o próprio Jesus Cristo como pedra principal. 21 É nele que toda a construção se ajusta e se eleva para formar um templo santo no Senhor. 22 E vós também sois integrados nesta construção, para vos tornardes morada de Deus pelo Espírito.

Evangelho: Lc 6,12-19

12 Naqueles dias, Jesus foi à montanha para rezar. E passou a noite toda em oração a Deus. 13 Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de apóstolos: 14 Simão, a quem impôs o nome de Pedro, e seu irmão André; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; 15 Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelota; 16 Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, aquele que se tornou traidor. 17Jesus desceu da montanha com eles e parou num lugar plano. Ali estavam muitos dos seus discípulos e grande multidão de gente de toda a Judeia e de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia. 18 Vieram para ouvir Jesus e serem curados de suas doenças. E aqueles que estavam atormentados por espíritos maus também foram curados. 19 A multidão toda procurava tocar em Jesus, porque uma força saía dele, e curava a todos.

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No dia 28 de outubro a Igreja celebra a festa dos Apóstolos Simão, o Cananeu, e Judas Tadeu (que não se deve confundir com Judas Iscariotes), juntos. Nos evangelhos e nos Atos dos Apóstolos, os dois estão sempre juntos na lista dos Apóstolos, um ao lado do outro (cf. Mt 10, 4; Mc 3, 18; Lc 6, 15; At 1, 13). Não há muitos dados a respeitos dos dois.

No Evangelho de Mateus Simão tem qualitativa de “cananeu”. Em hebraico o verbo “qanà” significa “ser zeloso”. Não é por acaso que o evangelho de Lucas chama-o de “zelota” ou “zelote” ou “dedicado”. Ser zeloso, aqui, significa ser dedicado no serviço total a Deus e no serviço do povo para o qual foi eleito (cf. Ex 20,5; 1Rs 19,10: Elias se dedica totalmente ao Deus único, defensor do monoteísmo).

O segundo Apostolo cuja festa nós celebramos também neste dia é Judas Tadeu (mais popular do que Simão, por ser considerado, popularmente, como santo das causas e coisas impossíveis). Os evangelhos Mateus e Marcos chamam esse Apostolo com um nome só: “Tadeu” (Mt 10,3; Mc 3,18); Lucas chama-o com dois nomes: “Judas de Tiago” ou “Judas filho de Tiago” (Lc 6,16; At 1,13).

Sobre o Apóstolo Judas Tadeu, também, temos muito poucos dados. O evangelista João registrou a pergunta desse Apostolo para Jesus, cuja atualidade jamais perdida: “Senhor, por que te manifestarás a nós e não ao mundo?” (Jo 14,22: durante a Última Ceia). De fato, o Ressuscitado não se manifestou aos seus adversários para mostrar que quem vence é sempre Deus e quem está com Deus (cf. Rm 8,31-39). Deus continua respeitando a liberdade do homem, mas continua espera a volta de cada homem com misericórdia (cf. Lc 15,11-32). O caminho de Deus é totalmente diferente dos caminhos dos homens (cf. Is 55,8). O homem gosta de se exibir (cf. Mt 23,1-12). Deus prefere o caminho simples, sem barulho (cf. 1Rs 19,1-18; Mt 11,25-28). Segundo Jesus, na sua resposta à pergunta de Judas, Deus se manifesta e faz Sua morada no coração que sabe amar: “Se alguém me ama, guardará minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada” (Jo 14,23). O amor no coração nos faz percebermos a presença de Deus. “Amando ao próximo tu limpas os olhos para ver a Deus” (Santo Agostinho. In Joan. 17,8).

Uma das Cartas do NT, chamadas cartas “católicas” (porque não são destinadas para determinada comunidade ou Igreja), é atribuída a Judas Tadeu (Carta de São Judas tem apenas 25 versículos). Nesta pequena Carta Judas Tadeu adverte a todos para não seguirem ensinamentos falsos e inaceitáveis, pois capazes de criar divisão dentro da própria comunidade. Segundo o autor dessa Carta, aqueles que seguem as doutrinas falsas e inaceitáveis são comparados com “os anjos caídos”, “nuvens sem água que os ventos levam”, “arvores sem frutos” (cf. vv. 11-13). Alem disso, nessa Carta, o autor encoraja os leitores para não terem medo diante das dificuldades e desafios, pois Deus vai guardar Seus fieis (v. 24). É preciso ter fé em Deus (v.20). Mas, ao mesmo tempo, o autor pede que andemos pelo caminho de indulgência: “Vocês, porém, amados, construam sobre o alicerce da santíssima fé que vocês têm; rezem movidos pelo Espírito Santo; mantenham-se no amor de Deus, esperando que a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo lhes dê a vida eterna. Procurem convencer os vacilantes: salvem a uns, arrancando-os do fogo; tenham compaixão de outros, mas com temor. Detestem até a roupa contaminada pelos instintos egoístas dos ímpios..." (vv. 20-23).

Os dois Apóstolos nos ajudam a vivermos nossa fé incansavelmente apesar das aparências poderosas das situações e dificuldades que encontramos na nossa vida. Deus é bom e Ele é amor, e por isso, podemos confiar nele em todos os momentos de nossa vida.

Vós fostes integrados no edifício que tem como fundamento os apóstolos e os profetas, e o próprio Jesus Cristo como pedra principal”, escreveu São Paulo aos Efésios que lemos na Primeira Leitura.

Os apóstolos e os profetas são o cimento sobre o qual foi edificado o novo povo de Deus pela sua pregação e doutrina. Os profetas dos quais se fala são os do Novo Testamento que desempenharam uma papel importante similar aos dos apóstolos. Por isso os profetas aqui são colocados depois dos apóstolos.

Mas o próprio Cristo é a pedra angular da nova “casa de Deus”. Pedra angular é aquela sobre a qual um edifício está alicerçado. A pedra angular tem função de dar coesão e firmeza para os fundamentos e une as diversas partes. Dizer que Cristo é “pedra angular” significa que sobre Ele que está alicerçado o edifício da Igreja que tem poder de sustentar e consolidar os fundamentos e une entre si os dois povos que o formam (judeus-cristãos). Em Cristo se ergue e vai crescendo o edifício que é a Igreja para formar um templo consagrado ao Senhor.

Se Cristo é o fator importante (pedra angular) que une e dá firmeza ao todo, logo ser cristão significa ser fator da unidade. Os cristaos devem estar ausentes de qualquer atitude diabólica, isto é, a atitude que desune. Unir e reunir são termos que teologicamente significam salvar. Esta união é o objeto da oração de Cristo na sua despedida de seus discípulos (Cf. Jo 17,11b.20-23).

O texto do evangelho deste dia fala da eleição dos Doze Apóstolos. A eleição dos Doze é precedida de uma prolongada oração de Jesus. Lucas faz referência à oração de Jesus nos momentos mais decisivos de sua vida. Lucas é o evangelista que põe mais ênfase sobre a figura orante de Jesus do que outros evangelistas. Onze vezes em seu evangelho, Lucas fala da “oração” de Jesus (Lc 3,21; 5,16; 6,12; 9,18; 9,28; 10,21; 11,1; 22,32; 22,41; 23,34; 23,46). Para tomar uma decisão importante Jesus entra, primeiro, em oração prolongada.

Jesus subiu ao monte para orar”. Muitos dos acontecimentos importantes da vida de Jesus acontecem num monte: Monte das Bem-aventuranças, Monte Tabor da Transfiguração; Monte Gólgota da Crucificação e da morte de Jesus. Portanto, Monte é o lugar das grandes decisões, um lugar solitário propício para a oração, um lugar de amplos horizontes de onde se vê longe e amplamente. Quanto mais subirmos espiritualmente, mais ampla será a visão que teremos sobre a vida e a salvação. Porém, para subir é preciso esforçar-se e de muito fôlego.

Jesus nos ensina a aprendermos a ampliar nosso horizonte, dialogando com Deus e meditando Sua Palavra, “subindo” até Ele diariamente. Temos que consagrar algum tempo diariamente para entrar em contato com o nosso Salvador, Jesus Cristo. Aquele que tem tempo para o Senhor diariamente, vai ganhar seu tempo. Somente no dialogo prolongado na oração é que ganharemos o horizonte maior para nossa vida, pois o nosso olhar estará dentro do olhar de Deus. Temos que ter coragem de subir até onde os valores maiores se encontram capazes de vermos tudo com claridade e com uma visão mais ampla sobre a vida e os seus acontecimentos de cada dia, como diz a Carta aos colosenses:Se ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensai nas coisas do alto, e não nas coisas da terra, pois morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus: quando Cristo, que é vossa vida, se manifestar, então também com Ele sereis manifestados em glória” (Cl 3,1-4).

Através de um diálogo permanente com Deus na oração e através da meditação diária da Palavra de Deus aprendemos a ver a vida de maneira multiangular. Quando mantivermos nossas orações diariamente, acabaremos conhecendo e captando o plano de Deus sobre nossa vida. Isso significa que a oração tem como objetivo ou resultado não para mudar Deus e sim para mudar quem reza.

A vida sem oração se reduz na busca das próprias vantagens para servir aos próprios interesses. A vida sem oração é a vida sem rumo ou direção. Não é por acaso que Jesus sempre dedica seu tempo especial para rezar. A vida sem oração e sem  amor se apaga. Podemos ficar doentes, mas nossa oração e nossa fé jamais ficam doentes. Não podemos deixar nossa oração e nossa fé envelhecer e morrer, pois significará a morte total de nossa vida, isto é, a vida sem salvação. Não podemos nos esquecer que a história de nossa vida como cristãos é a história de nossa oração. Trata-se de uma história com Deus que termina feliz. “Reza bem quem vive bem. Vive bem quem reza bem”, dizia Santo Agostinho (De ord. 2,19,51; In ps. 85,7).

Quando rezo/oro eu reconheço como eu mesmo, finito, criatura, passageiro. Ao mesmo tempo, quando oro/rezo eu fico aberto para o Infinito, o Criador, o Eterno. É um ato humano e somente humano. Não há outra criatura ou animal que fica de joelho para orar/rezar. Neste sentido, deixar de orar/rezar é abandonar minha humanidade, minha finitude, que terá como resultado cair no nada, pois sou o que sou por causa de Deus.

Jesus “passou a noite toda em oração a Deus”, assim Lucas nos relatou. A “noite” aqui quer indicar a perplexidade que invade Jesus nas escolha dos Doze Apóstolos. E a oração é meio de clarificação a fim de que Deus dê luz verde naquilo que Jesus quer realizar com a ajuda dos apóstolos para a salvação do mundo. Jesus não escolheu seus apóstolos à noite, mas durante o dia. Por isso, em seguida Lucas nos relatou: “Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de apóstolos”.  A expressão “ao amanhecer” indica que a oração obteve resultados positivos, pois não se pode tomar decisões enquanto alguém estiver nas trevas ou na perplexidade de uma escuridão de vida (“noite”). Estar na oração significa estar com Deus. E estar com Deus é estar com a luz que ilumina tudo na nossa vida (“amanhecer”).

Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu Doze dentre eles....”. Há aqui o objetivo da oração de Jesus durante toda a noite: Sua Igreja. É o projeto que apesar de tudo continua durando até hoje (cf. Mt 16,18). Por isso, a instituição dos Doze é um momento solene para a história da Igreja, particularmente e para a história da humanidade de modo geral.

São doze. É evidentemente um número simbólico. Com esse número Jesus constitui o Novo Israel, a Sua Igreja, para substituir as doze tribos de Israel no Antigo Testamento. Os Doze não são grandes personalidades. É o estilo de Deus que vai escolhendo para sua obra pessoas débeis, mas que se esforçam para dar o melhor de si para salvação do mundo, pois agente principal desta obra continua sendo o próprio Deus.

Apesar da oração de uma noite inteira, apesar do bom discernimento de Jesus, apesar de toda formação, um dos apóstolos era um traidor. É o mistério da liberdade humana.

Os Apóstolos receberam tudo de Jesus para que se tornassem instrumentos de salvação para o próximo. E nós recebemos tudo dos Apóstolos através de várias gerações anteriormente. Nós não podemos quebrar esse elo ou essa cadeia. Se tudo de bom para a salvação do mundo recebemos das gerações anteriores, precisamos continuar essa “corrente” de evangelização. Cada cristão é apóstolo de Jesus. Ele é o apóstolo em qualquer lugar e Jesus espera algo de cada um de nós para a Igreja do Senhor. Ser apóstolo não é trazer os outros para si e sim orientá-los para o encontro pessoal com Jesus, o Salvador.

A comunidade de Jesus é apostólica. Ela é cimentada na pedra angular que é o próprio Jesus Cristo. Mas também tem como fundamento os apóstolos que o próprio Senhor escolheu como núcleo inicial da Igreja. E fazemos parte da comunidade apostólica pelo Batismo. Por isso, somos, por natureza, missionários ou apostólicos (Ad Gentes no. 2). Esta comunidade “apostólica” é que colabora com o Ressuscitado que nos deixou o mandato missionário (cf. Mt 28,19): anunciar o que é bom e digno para a edificação de um ser humano. O cristão não pode perder tempo para as coisas que não edificam. A única preocupação de cada cristão em cada instante é fazer o bem e convidar os demais homens para serem parceiros do bem.

Os Doze não são grandes personalidades. É o estilo de Deus que vai escolhendo para sua obra pessoas débeis, mas que se esforçam para dar o melhor de si para salvação do mundo, pois agente principal desta obra continua sendo o próprio Deus. A lista dos que foram escolhidos como apóstolos se abre com Pedro e se fecha com Judas. Pedro representa fidelidade apesar das fraquezas. Judas representa infidelidade e se desespera. Pedro e Judas, símbolos de fidelidade e infidelidade, resumem a historia da Igreja e a historia pessoal de cada discípulo. O importante é que não cerremos nossa relação com Jesus com uma traição.                 

Os Apóstolos já cumpriram sua missão. E por causa dos missionários próximos de nós, conhecemos Jesus. Não podemos deixar morrer na nossa mão está missão. Precisamos ser apóstolos do Senhor e fazer os outros apóstolos. Ser apóstolo não é trazer os outros para si e sim orientá-los para o encontro pessoal com Jesus, o Salvador. 

P. Vitus Gustama,svd

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