quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Dia de Finados, 02/11/2024

DIA DE FINADOS

I. Qual O Sentido Da Morte A Partir Do Novo Catecismo Da Igreja Católica?

·      Artigo 1010

Graças a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo. «Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro» (Fl 1, 21). «É digna de fé esta palavra: se tivermos morrido com Cristo, também com Ele viveremos» (2 Tm 2, 11). A novidade essencial da morte cristã está nisto: pelo Baptismo, o cristão já «morreu com Cristo» sacramentalmente para viver uma vida nova; se morremos na graça de Cristo, a morte física consuma este «morrer com Cristo» e completa assim a nossa incorporação n'Ele, no seu acto redentor: “É bom para mim morrer em Cristo Jesus, mais do que reinar dum extremo ao outro da terra. É a Ele que eu procuro, Ele que morreu por nós: é a Ele que eu quero, Ele que ressuscitou para nós. Estou prestes a nascer [...]. Deixai-me receber a luz pura: quando lá tiver chegado, serei um homem” (Santo Inácio de Antioquia, Rm 6,1-2).

·      Artigo 1011

Na morte, Deus chama o homem a Si. É por isso que o cristão pode experimentar, em relação à morte, um desejo semelhante ao de S. Paulo: “Desejaria partir e estar com Cristo” (Fl 1, 23). E pode transformar a sua própria morte num acto de obediência e amor para com o Pai, a exemplo de Cristo (592): “O meu desejo terreno foi crucificado: [...] há em mim uma água viva que dentro de mim murmura e diz: ‘Vem para o Pai’” (Sto.Inácio de Antioquia, Rm 7,2). “Ansiosa por ver-te, desejo morrer” (Sta. Teresa de Jesus, Poesia 7). “Eu não morro, entro na vida” (Sta. Teresinha do Menino Jesus, Lettre).

·      Artigo 1012.

A visão cristã da morte é expressa de modo privilegiado na liturgia da Igreja: “Para os que crêem em Vós, Senhor, a vida não acaba, apenas se transforma: e, desfeita a morada deste exílio terrestre, adquirimos no céu uma habitação eterna” (Prefácio Dos Fiéis Defuntos I).

·      Artigo 1013. A morte é o fim da peregrinação terrena do homem, do tempo de graça e misericórdia que Deus lhe oferece para realizar a sua vida terrena segundo o plano divino e para decidir o seu destino último. Quando acabar “a nossa vida sobre a terra, que é só uma” (Lumen Gentium,48), não voltaremos a outras vidas terrenas. “Os homens morrem uma só vez” (Hb 9, 27). Não existe “reencarnação” depois da morte.

·      Artigo 1014. A Igreja exorta-nos a prepararmo-nos para a hora da nossa morte (“Duma morte repentina e imprevista, livrai-nos, Senhor”: antiga Ladainha dos Santos), a pedirmos à Mãe de Deus que rogue por nós “na hora da nossa morte” (Oração da Ave-Maria) e a confiarmo-nos a S. José, padroeiro da boa morte: “Em todos os teus actos em todos os teus pensamentos, havias de te comportar como se devesses morrer hoje. Se tivesses boa consciência, não terias grande receio da morte. Mais vale acautelares-te do pecado do que fugir da morte. Se hoje não estás preparado, como o estarás amanhã?” (Imitação de Cristo 1,23,5-8). “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã a morte corporal, à qual nenhum homem vivo pode escapar. Ai daqueles que morrem em pecado mortal: Bem-aventurados os que ela encontrar a cumprir as tuas santíssimas vontades, porque a segunda morte não lhes fará mal» (S. Francisco de Assis, Cântico das Criaturas).         

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II. Dia de Finados É o Dia Familiar

Hoje é o dia especial em que todos nós somos chamados a voltar para a raiz familiar onde todos nós voltamos a sentir de uma maneira especial a presença de todos os membros de nossa família tanto dos vivos como dos que partiram. É o dia de saudade. A saudade é, paradoxalmente, a presença forte na ausência. Por algum instante visitamos na memória o passado no qual convivíamos e que no presente estão ausentes fisicamente. É um dia de saudade dos que conviveram conosco, mas partiram antes de nós, mas com a esperança de que, um dia, possamos nos encontrar todos na comunhão plena e eterna com o Deus da Vida. É o dia de saudade porque quando a morte atinge nossos entes queridos, parte de nós se vai com eles. Nós nos unimos à sua entrega total e sabemos que também nós estamos morrendo. Algo de nós se vai para sempre quando uma pessoa amada morre. Nesta altura percebemos que a vida é sempre uma partida. Há uma partida para os olhos que se fecham, para os ouvidos que se cansam e para o corpo que envelhece.  A condição humana é ser passageiro, ser transitório. Estamos sempre na saudação dos que chegam no nascimento e da despedida dos que partem sem volta. Em tudoum adeus. E ninguém tem poder de parar o tempo.          

Por isso, a morte é o caminho necessário de todos os viventes. Todo nascimento é uma referência existencial à morte que é seu termo. Em outras palavras, a chegada será sempre uma partida. A morte é o caminho que termina em Deus, de onde, um dia, saímos. Isto significa que nós pertencemos ao Senhor, como diz São Paulo: “Se vivemos, é para o Senhor, que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14,8). A vida que nos foi dada não pertence ao homem, mas a Deus.  Essa pertença a Deus é o que torna a vida algo sagrado. Por isso, quem dá a vida, quem a mantém, quem a leva à plenitude não é o homem, mas o próprio Deus. E para todos os homens, a vida temporal é dada como semente de vida eterna. Os bens que recebemos de Deus e os bens que fizemos são do Senhor, embora tenham frutificado para nós. Por isso, morrer significa entregar totalmente a vida a Deus. O mesmo Senhor que nos criou por amor, nos acolhe para um amor infinito, para uma perfeita comunhão com Ele.      

Por isso, para aquele que morre em comunhão com Deus, morrer é um privilégio, pois estará em comunhão eterna com Deus, é a vida de Deus participada plenamente ao homem. É uma partida com chegada definitiva. São Pedro expressa esta realidade nestas palavras: “Fugindo da corrupção, nos tornamos participantes da natureza divina” (2Pd 1,4). A morte é um acontecimento essencialmente ligado ao privilégio de viver dado por Deus.         

Por isso, a vida pode ser vivida em profundidade quando se sabe por quem e para quem se vive. Para o homem religioso ou espiritual, viver significa viver para o Senhor, e morrer é entregar a vida para Deus a exemplo de Jesus Cristo, que ao entregar a vida totalmente à vontade de Deus, ele experimentou a ressurreição. A ressurreição de Jesus é a mensagem mais clara sobre o futuro do homem.   

Hoje a maioria pensa apenas naqueles que partiram. Mas este dia é para os que ficam também.  Os falecidos cumpriram sua missão de maneira plena ou menos plena. Alguns morreram doando-se. Outros morreram por causas sublimes. E nós que ainda nos resta a vida o que devemos fazer?          

Em primeiro lugar, precisamos valorizar a presença, pois ela é um dom. Muitas vezes sentimos a importância de uma pessoa somente na sua ausência. Precisamos estar conscientes de que como é bom estarmos juntos enquanto for dado a nós o dom de convivência, pois vai chegar um dia em que seremos obrigados a viver de outra maneira.

Em segundo lugar, não precisamos acumular as flores para formar um dia uma coroa de flores para um caixão, pois uma flor oferecida para uma pessoa viva vale muito mais do que uma coroa de flores para um morto. Que a coroa de flores na hora de morte seja uma acumulação de tantas flores oferecidas à pessoa em questão durante a vida.

Em terceiro lugar, não precisamos esperar alguém morrer para elogiá-lo ou para falar de suas virtudes. É bom elogiarmos quem merece ser elogiado enquanto ele estiver convivendo conosco. Pois um elogio sincero dado para um vivo vale muito mais do que um elogio triste para um caixão, pois o caixão não tem ouvidos. Perdoemo-nos mutuamente enquanto estivermos vivos, pois como é bom experimentarmos o que é que a ressurreição ou a libertação enquanto para nós é dado o dom de viver um pouco mais.

Em quarto lugar, como é triste morrer sem ter sabido viver e ao mesmo tempo como é triste viver sem aprender a morrer. Para vivermos melhor e com outra intensidade precisamos aprender a morrer. É o paradoxo da vida: para viver precisamos morrer. Precisamos aprender a morrer de nosso egoísmo, de nossa prepotência, de nosso rancor, de nossa falta de perdão, de nossa vingança, de nossa soberba que mata a caridade e a fraternidade, de nossa preguiça de rezar e de participar do banquete celeste aqui na terra que é a eucaristia. Em outras palavras, precisamos aprender a morrer de nossa morte para que possamos ressuscitar para uma vida com Deus.

Em quinto lugar, precisamos rezar mutuamente para que um dia possamos nos encontrar todos no céu.

Portanto, a verdadeira questão não é se há vida após a morte e sim, se há a vida antes da morte. “A grande desgraça acontece quando você pensa que você tem tempo” (Budá). Mas repentinamente, você perde tudo e todas as oportunidades. Aprendamos a valorizar o que temos, para não ser tarde demais em valorizar o que você tinha. Às vezes você nunca vai saber do valor do momento até que se torne uma memória. Como um dia bem aproveitado traz um sono feliz, assim também a vida bem vivida e convivida traz a morte feliz. Se você quiser ter algo que nunca teve, faça algo que nunca fez. Você nunca vai ser corajoso, se nunca sofreu alguma ferida; você nunca vai aprender, se nunca errou na vida; e você nunca vai ser uma pessoa sucedida, se nunca falhou na vida. A grande tragédia não é a morte e sim algo valioso que está morrendo dentro de você enquanto você está vivo. Que os falecidos descansem em paz e que convivamos em paz neste mundo. Assim seja!

Pe. Vitus Gustama, SVD

Para Refletir

Prefiro que partilhes comigo uns poucos minutos,

Agora que estou vivo,

E não uma noite inteira quando eu morrer.

Prefiro que apertes suavemente a minha mão,

Agora que estou vivo,

E não apóies o teu corpo sobre mim quando eu morrer.

Prefiro que faças uma só chamada,

Agora que estou vivo,

E não faças uma inesperada viagem, quando eu morrer.

Prefiro que me ofereças uma só flor,

Agora que estou vivo,

E não me envies um formoso ramo e uma coroa de flores

Quando eu morrer.

Prefiro que elevemos juntos ao céu um oração,

Agora que estou vivo,

E não uma oração poética quando eu morrer.

Prefiro que me digas umas palavras de alento,

Agora que estou vivo,

E não um dilacerante poema quando eu morrer.

Prefiro que um só acorde de guitarra,

Agora que estou vivo,

E não uma comovedora serenata quando eu morrer.

Prefiro que me dediques uma leve prece,

Agora que estou vivo,

E não um político epitáfio sobre minha tumba quando eu morrer.

Prefiro desfrutar de todos os mínimos detalhes do tempo de nossa convivência,

Agora que estou vivo,

E não de grandes manifestações quando eu morrer.

Prefiro escutar-te e ver-te um pouco nervos@

Dizendo o que sentes por mim,

Agora que estou vivo,

E não um grande lamento porque não o disseste no tempo certo, e agora estou mort@....

Aproveitemos a convivência fraterna e amorosa com os nossos seres queridos

Agora que estão entre nós...

Valorize as pessoas que estão à tua volta.

Ama-as, respeita-as e lembra-te delas,

Enquanto estão vivas.

Deus te abençoe!                                

Pe. Vitus Gustama, SVD

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