NOSSA GENEROSIDADE PROLONGA O AMOR GENEROSO DE DEUS
Sexta-Feira da XXXI Semana Comum
Primeira Leitura: Fl 1,1-11
Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com os seus bispos e diáconos: 2 graça e paz a vós da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo. 3 Dou graças ao meu Deus, todas as vezes que me lembro de vós. 4 Sempre em todas as minhas orações rezo por vós, com alegria, 5 por causa da vossa comunhão conosco na divulgação do evangelho, desde o primeiro dia até agora. 6 Tenho a certeza de que aquele que começou em vós uma boa obra, há de levá-la à perfeição até ao dia de Cristo Jesus. 7 É justo que eu pense assim a respeito de vós todos, pois a todos trago no coração, porque, tanto na minha prisão como na defesa e confirmação do Evangelho, participais na graça que me foi dada. 8 Deus é testemunha de que tenho saudade de todos vós, com a ternura de Cristo Jesus. 9 E isto eu peço a Deus: que o vosso amor cresça sempre mais, em todo o conhecimento e experiência, 10 para discernirdes o que é o melhor. E assim ficareis puros e sem defeito para o dia de Cristo, 11 cheios do fruto da justiça que nos vem por Jesus Cristo, para a glória e o louvor de Deus.
Evangelho: Lc 14,1-6
1 Aconteceu que, num
dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles o
observavam. 2 Diante de Jesus, havia um hidrópico. 3 Tomando a palavra, Jesus
falou aos mestres da Lei e aos fariseus: “A Lei permite curar em dia de sábado,
ou não?” 4 Mas eles ficaram em silêncio. Então Jesus tomou o homem pela mão,
curou-o e despediu-o. 5 Depois lhes disse: “Se algum de vós tem um filho ou um
boi que caiu num poço, não o tira logo, mesmo em dia de sábado?” 6 E eles não
foram capazes de responder a isso.
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A Unidade Se Alcança Através Do Caminho Da Humildade e Do Auto-Despojamento
Hoje iniciamos a leitura contínua da Epístola aos Filipenses. É a mais pessoal das cartas de São Paulo, e com o tom muito afetuoso e confidencial. A Carta aos filipenses é uma Carta cheia de carinho por parte de são Paulo, que correponde assim ao afeto que lhe tinha aquela comunidade. A Carta aos Filipenses é o testamento de são Paulo estando ele na prisão domiciliar. A comunidade cristã de Filipos é a primícia da missão de são Paulo no continente europeu. É a comunidade que são Paulo mais aprecia.
O nome “Filipos” se deve ao rei Filipo II da Macedônia, pai de Alexandre Magno, que no ano 358 a.C., transformou algumas aldeias em uma cidade fortificada a qual deu o seu nome.
Quando Paul, Silas, Timóteo chegam a Filipos, entre os anos 49-51 depois de Cristo (alguns especialistas dizem em torno do ano 49, outros dizem que entre os anos 50-51, na segunda viagem missionária de Paulo), Filipos estava povoada. Havia também nessa cidade um pequeno grupo de judeus, mas não havia nenhuma sinagoga, pois segundo At 16,13, esses judeus tinham que reunir-se “à beira do rio” para orar. Atos dos Aóstolos destaca como protagonista Lidia (At 16,14-15). Segundo At 16,16-40 e 1Ts 2,2 Paulo e seus companheiros se deiveram por pouco tempo em Filipos. De fato, quando Paulo e seus companheiros partem dessa cidade, eles já deixam em andamento uma comunidade cristã que cresceu e progrediu admiravelmente e manteve sempre com Paulo alguns laços singulares de carinho e de apoio, mesmo Paulo estando na prisão, inclusive no aspecto material. (cf. 1Cor 4,12; 9,15; 2Cor 11,7-11; 1Ts 2,9).
Segundo os especialistas a Carta aos Filipenses contém três Cartas: a Carta de A e B teriam sido escritas estando na prisão em Éfeso entre os anos 55-56. E Carta C teria sido escrita no ano 57, encontrando-se Paulo em Corinto.
Os Filipenses estão sofrendo uma hostilidade considerável de seus concidadãos (Fl 1,28-30). Paulo vê a capacidade dos Filipenses de resistir seriamente enfraquecida por divisões internas, causadas pelo egoismo e pelo orgulho ou prepotência. Com grande amor, Paulo os incita a trabalharem juntos e a encontrarem uma unidade mais profunda por meio de altruísmo. Ao mesmo tempo, Paulo desenvolve uma mística do sofrimento, a partir da própria experiência de Paulo, pela causa do Evangelho para conortá-los: assim como compartilham de seu sofrimento (na prisão), deveriam compartilhar também da alegria que emana da união profunda com Cristo que esse sofrimento traz. A Carta gira em torno da ideia da Koinonia, “participação comum”, “comunhão: a Koinonia no sofrimento intensifica a união entre o apóstolo e a comunidade; ao mesmo tempo, a Koinonia básica em Cristo deveria modelar e determinar seus relamentos mútuos. At para fazer o bem encontramos dificuldades.
Hoje, através da Primeira Leitura, são Paulo pede aos Filipenses encarecidamente que lhe deem esta grande alegria: “Se existe consolação na vida em Cristo, se existe alento no mútuo amor, se existe comunhão no Espírito, se existe ternura e compaixão, tornai então completa a minha alegria: aspirai à mesma coisa, unidos no mesmo amor; vivei em harmonia, procurando a unidade”.
“Aspirai à mesma coisa, unidos no mesmo amor; vivei em harmonia, procurando a unidade”.
A comunidade de Filipo, como todas as demais comunidades, deve ter motivos de tensão e divisões. Por isso, são Paula dá esta recomendação. Os perigos que ameçam a mensagem da cruz de Cristo podem proceder não somente da parte de fora (judaizantes), mas da parte de dentro também. Dentro da própria comunidade pode haver desunião e divisão porque alguns querem exaltar-se ou coupar primeiros lugares que é uma manifestação da falta da humildade e do “esvaziamento” que é o caminho de Jesus. A humildade é a virtude bíblica da “kénosis”, isto é, do auto-despojamento, do desapego. Jesus é a personaficação perfeita da “kénosis”, pelo seu auto-despojamento, pela sua forma de ser Servo por amor aos homens. A “kénosis” cristã é o conhecimento existencial da gratuidade. A “kénosis” é todo um empenhamento para dar lugar à riqueza do poder da graça de Deus.
Para pedir a unidade na comunidade de Filipo, são Paulo apela para a experiência dos próprios filipenses. Eles conhecem os bens espirituais que no texto de hoje são mencionados: a experiência do consolo ou do lívio, da ajuda que procede do ágape (amor mútuo na fraternidade), solidariedade comunitária; a experiência da comunhão no Espírito; a experiência do afeto e do amor mútuo entre são Paulo e os Filipenses; experiência do consolo em Cristo que é o resumo de tudo isso.
Os motivos para esta unidade, então, não são somente humanos, isto é a convivência civilizada e sim se apoiam sobretudo na fé: comunhão no Espirito. O Espirito une; o Diabo desune. O Espirito vivifica; o egoísmo sufoca e mata o amor fraterno. O motivo profundo da unidade é a nossa fé no Deus Uno e Trino. Toda divisão é o contra-testemunho de nossa fé na Santíssima Trindade. Toda união e fraternidade é a manifestação de nossa fé na Santíssima Trindade. Somos lembrados permanentemente da importância da união através do sinal da cruz que fazemos no início e no fim de nossas orações individuais e de nossas celebrações.
Os conselhos de são Paulo para os Filipenses valem para nós todos: “Nada façais por competição ou vanglória, mas, com humildade, cada um julgue que o outro é mais importante, e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro”. A comunidade vai melhorar, se cada membro cuktivar essas atitudes. Todos devem cantar de verdade o Salmo Responsorial de hoje (Sl 130): “Senhor, meu coração não é orgulhoso, nem se eleva arrogante o meu olhar; não ando à procura de grandezas, nem tenho pretensões ambiciosas!”.
Nossoa divisões acontecem porque cada um se crê superior aos demais e se preocupa do seu, sem prestar atenção para os necessidades dos outros. Com isso, reina cada vez mais o egoísmo que mata a convivência fraterna. Alegreremos o coração de Deus e nós mesmos seremos mais felizes, se hoje fizermos o possível para reprimir nossas vaidades exageradas e nossas pretensões.
É Preciso Fazer o Bem Em Qualquer Lugar e Momento
Continuamos escutando as últimas e importantes lições de Jesus na sua última viagem para Jerusalém (Lc 9,58-19,28), pois lá ele será crucificado, morto e glorificado.
Na passagem do evangelho de hoje, Jesus quer nos relembrar que o ser humano é mais sagrado e importante do que qualquer lei por sagrada que ela pareça ser, pois em cada ser humano há o hálito divino (Gn 2,7) que o torna o templo do Espírito Santo (1Cor 3,16-17; 6,19).
“Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus...”, assim o evangelista Lucas nos relatou. Era sábado (shabbat). O Sábado era o dia em que o povo eleito comemorava os grandes benefícios de Deus: a criação (Ex 20,8-11) e a libertação da escravidão do Egito (Dt 5,12-15). Era o dia o qual o Senhor abençoava acima de outros dias da semana (Jubileus 2,31s). Era o dia de reconhecimento de que Deus santificava o povo (cf. Ex 31,13; cf. Hb 4,9). No Sábado os judeus costumavam comer festivamente.
E nesse dia (Sábado) os judeus costumavam convidar as pessoas para a refeição festiva, mas não era qualquer convidado. O convidado de honra para a refeição festiva, além de escribas e fariseus, segundo o evangelho de hoje, era Jesus, pois ele era tratado como mestre. Jesus tinha fama na região toda (Lc 7,17). O povo considerava Jesus como o grande profeta (Lc 7,16; 24,19). Durante este tipo de refeição, costumavam aparecer algumas pessoas sem ser convidadas para ver o convidado de honra (cf. Lc 7,37). Podemos entender porque um hidrópico se encontrou nessa refeição.
“Diante de Jesus, havia um hidrópico”, prossegue Lucas. Para os fariseus e escribas qualquer doença era fruto do pecado cometido e consequentemente, era castigado por Deus. E a causa da hidropisia, segundo eles, era a luxúria. Em vez de se concentrar na refeição, os fariseus e escribas ficam olhando para Jesus e o hidrópico para observar o que Jesus vai fazer com o hidrópico, pois curar um doente faz parte dos 39 trabalhos proibidos no Sábado.
Qual é a posição de Jesus diante de um necessitado como esse hidrópico? Ele quer ajudar e curar o hidrópico mesmo sendo proibido, pois no Sábado. Mas antes de curá-lo Jesus lança uma pergunta bem fundamental com o intuito de que os fariseus e escribas possam refletir sobre a pergunta: “A Lei permite curar em dia de sábado, ou não?... Se algum de vós tem um filho ou um boi que caiu num poço, não o tira logo, mesmo em dia de sábado?”. Trata-se de uma nova maneira de conceber o “descanso” do Sábado, ou do domingo, no nosso caso, como cristãos. Com essa afirmação Jesus quer dizer aos fariseus e escribas e a todos nós que o Sábado ou o Domingo (para nós) é o dia da benevolência divina, o dia da redenção, da libertação, da misericórdia de Deus para os pobres, os excluídos, os perdidos, os pecadores, da ressurreição (para nós cristãos) e assim por diante. É o dia, por excelência, para fazer o bem, curar, salvar, ajudar, se solidarizar. É um dia de abertura aos demais: vida de família e de comunidade. É um dia de “saber descansar juntos”, cultivando valores humanos importantes. É um dia de caridade para partilhar o que somos e temos. Ao contrário, os fariseus e os escribas se preocupam com o descanso no Sábado e esquecem a vontade salvífica e amorosa de Deus pelo homem.
O homem hidrópico foi libertado por Jesus de sua hidropisia. A cura é sinal bastante evidente de que Deus está com Jesus e que Jesus age em virtude e no poder de Deus (At 10,38). Se curar um doente fosse proibido por Deus no Sábado, o homem não ficaria libertado de sua hidropisia.
Deus “pensa” na salvação do homem eternamente. Cada um de nós, seres humanos, está no pensamento de Deus, desde o princípio, pois o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gn1,26; 3,22b). Para Deus ninguém é anônimo, pois Ele chama cada um de nós pelo nome (cf. Is 43,1). O nome de cada um de nós está tatuado nas palmas das mãos de Deus (cf. Is 49,16). E o nome significa pessoa. Em cada nome está a missão de cada um. Em função da importância do homem, Deus até enviou seu Filho unigênito para salvar a humanidade (cf. Jo 3,16). E por causa do amor sem limite de Deus pelo ser humano, o salmista chegou a fazer uma pergunta retórica em forma de oração: “Ó Senhor, nosso Deus, como é glorioso vosso nome em toda a terra! Vossa majestade se estende, triunfante, por cima de todos os céus... Quando contemplo o firmamento, obra de vossos dedos, a lua e as estrelas que lá fixastes: Que é o homem, digo-me então, para pensardes nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles?” (Sl 8,2.4-5).
Jesus põe o ser humano acima de qualquer lei por sagrada que ela pareça ser. Que lugar ocupa o ser humano nas nossas atividades pastorais, nos movimentos, na política, na economia e assim por diante? De que maneira tratamos o ser humano que para Deus ele está acima de tudo? As regras são importantes desde que ajudem o ser humano a se desenvolver para viver na sua dignidade. Será que somos escravos das regras e das normas litúrgicas esquecendo o ser humano? Será que ao colocar as normas acima do ser humano, sem querer, manifestamos nosso pouco amor pelas pessoas? Será que sabemos acolher as pessoas ou nos preocupamos com nossas “atividades pastorais?”.
Na sua Carta Apostólica, Dies Domini, o Papa João Paulo II escreveu: “O domingo, de fato, recorda, no ritmo semanal do tempo, o dia da ressurreição de Cristo. É a Páscoa da semana, na qual se celebra a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, o cumprimento n'Ele da primeira criação e o início da « nova criação » (cf. 2 Cor 5,17). É o dia da evocação adorante e grata do primeiro dia do mundo e, ao mesmo tempo, da prefiguração, vivida na esperança, do « último dia », quando Cristo vier na glória (cf. Act 1,11; 1 Tes 4,13-17) e renovar todas as coisas (cf. Ap 21,5).[Dies Domini,no.1]... “Há-de-se implorar a graça da descoberta sempre mais profunda deste dia, não só para viver em plenitude as exigências próprias da fé, mas também para dar resposta concreta aos anseios íntimos e verdadeiros existentes em todo ser humano. O tempo dado a Cristo, nunca é tempo perdido, mas tempo conquistado para a profunda humanização das nossas relações e da nossa vida” (no.7)... “Recebendo o Pão da vida, os discípulos de Cristo preparam-se para enfrentar, com a força do Ressuscitado e do seu Espírito, as obrigações que os esperam na sua vida ordinária. Com efeito, para o fiel que compreendeu o sentido daquilo que realizou, a Celebração Eucarística não pode exaurir-se no interior do templo. Como as primeiras testemunhas da ressurreição, também os cristãos, convocados cada domingo para viver e confessar a presença do Ressuscitado, são chamados, na sua vida quotidiana, a tornarem-se evangelizadores e testemunhas. A oração depois-da-comunhão e o rito de conclusão — a bênção e a despedida — hão-de ser, sob este aspecto, melhor entendidos e valorizados, para que todos os participantes na Eucaristia sintam mais profundamente a responsabilidade que daí lhes advém. Terminada a assembleia, o discípulo de Cristo volta ao seu ambiente quotidiano, com o compromisso de fazer, de toda a sua vida, um dom, um sacrifício espiritual agradável a Deus (cf. Rom 12,1). Ele sente-se devedor para com os irmãos daquilo que recebeu na celebração, tal como sucedeu com os discípulos de Emaús que, depois de terem reconhecido Cristo ressuscitado na « fracção do pão » (cf. Lc 24,30-32), sentiram a exigência de ir imediatamente partilhar com seus irmãos a alegria de terem encontrado o Senhor (cf. Lc 24,33-35)” (n. 45).
A partir de tudo que foi dito vem a pergunta: De que maneira nós vivemos o nosso Domingo, que é o Dia do Senhor e também é o dia da Igreja? Nós simplesmente cumprimos preceito ao ir à igreja aos domingos ou será que temos consciência de vamos escutar as lições do Senhor através de Sua Palavra proclamada e medita durante a celebração dominical?
Para Rezar e Refletir:
“Quando contemplo o firmamento, obra de vossos dedos, a lua e as estrelas que lá fixastes: Que é o homem, digo-me então, para pensardes nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles? Ó Senhor, nosso Deus, como é glorioso vosso nome em toda a terra!” (Sl 8).
“Que é o homem, de quem cuidas? Um ponto de poeira num cosmos de luz. Mas, no ponto que sou eu, há outra criação ainda mais maravilhosa do que o firmamento e as estrelas. O prodígio do meu corpo, o segredo das minhas células, o relâmpago que há nos meus nervos, o palácio do meu coração... E a animação da minha alma, a centelha do meu entendimento, o frêmito do meu sentimento, o pilar da minha fé. O milagre que está dentro de mim, bem como a Sua assinatura a ele aposta. Sorrio em reconhecimento quando vejo que fizeste de mim o rei da tua criação, inferior tão-somente, a Ti mesmo. Conheço a minha pequenez e a minha grandeza, a minha dignidade e a minha insignificância... Grande é o Teu nome, ó Senhor, por toda a terra... Quando encontro uma dificuldade na vida e penso em Ti, não é para pedir-Te que a remova, mas para que me dês forças para enfrentá-la; não é para impor-Te a minha solução, mas para que eu tome a Tua como minha. Eis por que És a minha fortaleza: porque És o meu ser” (Carlos G. Vallés: Busco Tua Face, Senhor. Ed. Loyola).
P. Vitus Gustama,svd
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