terça-feira, 22 de outubro de 2024

24/10/2024-Quintaf Da XXIX Semana Comum

Oi9OPTAR POR JESUS É OPTAR PELA VIDA E SALVAÇÃO DE TODOS COMO FILHOS DO MESMO PAI DO CÉU A QUEM DEVEMOS ADORAR

Quinta-Feira da XXIX Semana Comum

Primeira Leitura: Efésios 3,14-21

Irmãos, 14 eu dobro os joelhos diante do Pai, 15 de quem toda e qualquer família recebe o seu nome, no céu e sobre a terra. 16 Que ele vos conceda, segundo a riqueza de sua glória, serdes robustecidos, por seu Espírito, quanto ao homem interior, 17 que ele faça habitar, pela fé, Cristo em vossos corações, que estejais enraizados e fundados no amor. 18 Tereis assim a capacidade de compreender, com todos os santos, qual a largura, o comprimento, a altura, a profundidade, 19 e de conhecer o amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento, a fim de que sejais cumulados até receber toda a plenitude de Deus. 20 Àquele que tudo pode realizar superabundantemente, e muito mais do que nós pedimos ou concebemos, e cujo poder atua em nós, 21 a ele glória, na Igreja e em Jesus Cristo, por todas as gerações, para sempre. Amém.

Evangelho: Lc 12, 49-53

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 49 Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso! 50 Devo receber um batismo, e como estou ansioso até que isto se cumpra! 51 Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão. 52 Pois, daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três; 53 ficarão divididos: o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra.'

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Deus É a Origem De Toda Paternidade e Pai De Todos Os Homens

Continuamos a acompanhar a leitura da Carta aos Efésios. O autor termina a primeira parte da Carta aos Efésios, a parte mais teológica, com uma oração e uma doxologia final de louvor ao Deus Trino. Como no início essa parte começa com uma oração ou louvor, também termina como uma prece ou súplica.

Irmãos, eu dobro os joelhos diante do Pai, de quem toda e qualquer família recebe o seu nome, no céu e sobre a terra”. São Paulo  começa a orar, pelos Efésios, com um gesto de submissão a Deus. Aqui “Dobrar os joelhos” manifesta o ato de humildade diante de Deus. São Paulo invoca o nome do Pai que é a fonte de toda forma de vida no universo. Portanto, olhar inicialmente se concentra maravilhado na imensidão da paternidade cósmica de Deus. Quando contemplamos o universo, não tem como não ficar maravilhados e ao mesmo tempo não tem como não se sentir pequenos. Somos apenas um pontinho dentro do universo. Quando chegarmos a esta consciência, a prepotência não tem mais lugar na nossa vida. Nenhum ser humano é poderoso a não ser o próprio Deus que criou o universo. São Paulo faz um movimento: da exterioridade (contemplação do universo) para entrar na interioridade (reconhecimento da pequenez diante do universo criado por Deus). É o movimento da imensidão do universo para a pequenez do coração do homem (veja Salmo 8). Precisamente no coração do homem é que Cristo quer habitar (Ef 3,17), porque é somente ali, na intimidade da alma humana que pode ser claramente percebida a amplitude simplemente infinita do amor divino.

A oração de são Paulo é muito sincera: "dobrando os joelhos diante do Pai", pede pelos Efésios que se apeguem mais às atitudes de fé que já possuem: "Fortalecer-se profundamente dentro de seu ser"; "Que Cristo habite pela fé em seus corações"; "Que o amor seja sua raiz e fundamento"; "entendendo o que transcende toda filosofia: amor". Trata-se do amor cristão, isto é, o amor ao estilo de Cristo, o Amor de Cristo amando em e através de nosso coração, de nossas mãos, de nossos pés, de nossos olhares, de nossas palavras. Trata-se do amor ágape, amor que salva e que não espera nada em troca. "E assim chegarás à plenitude, segundo a plenitude de Deus". O amor é o único caminho da plenitude, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). Basta amar de verdade, o cristão cumprirá toda a Lei (Rm 13,10). A Eucaristia da qual participamos é a escola de amor ativo ao próximo, pois o Senhor renova sua entrega por nós por amor para que tenhamos mais mais vida e mais amor ao próximo, pois o Senhor é o Pão da Vida dado por amor.

Para são Paulo não basta a simples exposição do mistério de Cristo, que lemos no dia anterior (Ef 3,2-12), pois há algo maior do que a inteligência: somente o Espirito e a graça de Deus podem iluminar o mistério divino. Por isso, o autor da Carta aos Efésios se põe a rezar, e ele faz essa oração com tanta espontaneidade, pois ele considera a oração como o complemento natural de sua pregação. A oração é a mediação entre Deus e homens.

Ele começa a oração com esta frase: “Por isso, eu dobro os joelhos diante do Pai, de quem toda e qualquer família recebe o seu nome, no céu e sobre a terra”.  Dobrar os joelhoscom todo o corpo inclinado até o solo para prostrar-se põe em destaque um profundo sentimento de adoração. Deus é o Pai de todos e de tudo (origem) que merece uma intensa adoração. “Mas então que significa adorar a Deus? Significa aprender a estar com Ele, demorar-se em diálogo com Ele, sentindo a sua presença como a mais verdadeira, a melhor, a mais importante de todas. ... Adorar o Senhor quer dizer dar-Lhe o lugar que Ele deve ter; adorar o Senhor significa afirmar, crer – e não apenas por palavrasque Ele é o único que guia verdadeiramente a nossa vida; adorar o Senhor quer dizer que vivemos na sua presença convencidos de que é o único Deus, o Deus da nossa vida, o Deus da nossa história. ... Daqui deriva uma consequência para a nossa vida: despojar-nos dos numerosos ídolos, pequenos ou grandes, que temos e nos quais nos refugiamos, nos quais buscamos e muitas vezes depomos a nossa segurança. São ídolos que frequentemente conservamos bem escondidos; podem ser a ambição, o carreirismo, o gosto do sucesso, o sobressair, a tendência a prevalecer sobre os outros, a pretensão de ser os únicos senhores da nossa vida, qualquer pecado ao qual estamos presos, e muitos outros. ... Adorar é despojarmo-nos dos nossos ídolos, mesmo os mais escondidos, e escolher o Senhor como centro, como via mestra da nossa vida.” (Papa Francisco: Homilia pronunciada na Celebração Eucarística do III Domingo de Páscoa, Roma, 15 de Abril de 2013).

O autor chama Deus de Pai. A paternidade descreve o relacionamento mais íntimo de amor, da proximidade e do cuidado.

Para o autor da Carta aos Efésios, a origem de toda a paternidade está em Deus como o Pai por excelência. Mas  o vocábulo grego “paternidade”, colhido no Antigo Testamento, tem um sentido concreto, isto é, exprime uma pluralidade de indivíduos que provém de uma comum cabeça de estirpe. Em outras palavras, “paternidade” significa toda forma social de origem natural. Deus se mostra Pai “dos povos” justamente porque chama os pagãos  à salvação em Jesus Cristo.

Também “paternidade” alude ao Deus-Criador. Ele é o único Deus que criou o universo e em Jesus Cristo o redimiu. Uma das características da verdadeira paternidade é a vontade de salvar todos. Para isso, procura todos os meios para realizar esta vontade. Ninguém está excluído do amor do Pai.

Ao mencionar Deus como Pai, isto é, a origem de toda a paternidade, o autor da Carta aos Efésios quer demonstrar sua preocupação pela ideia da unidade. Através do evento de Cristo (Ef 1,18), todos os homens, todas as criaturas têm um Pai comum.  Para o autor da Carta, esta é a base da comunidade humana e a base da harmonia para o resto do universo. Nenhum homem, nenhuma Igreja, nenhuma nação tem possessão exclusiva de Deus. A paternidade de Deus se extende para todos os homens. Isto significa que devemos amar e respeitar uns aos outros. Se somos do mesmo Pai, não deveria haver a desuinião e divisão entre nós. todos devem voltar à mesma origem.

O autor de Carta aos Efésios quer nos relembrar que tudo de bom tem sua origem em Deus. Viver com fé significa reconhecer nossa origem em Deus através de Jesus Cristo, Palavra do Pai, pois “Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito” (Jo 1,3).

Ninguém Fica Indiferente Diante De Jesus

Continuamos a ouvir atentamente para as ultimas e mais importantes lições de Jesus dadas durante seu caminho para Jerusalém. Tratam-se das Lições do Caminho (Lc 9,51-19,28). E estamos ainda dentro do tema sobre a vigilância. A opção por Jesus e seus ensinamentos provoca a separação, pois quem quiser estar com Jesus deve estar do lado do bem.

Eu vim lançar fogo à terra, e que tenho eu a desejar se ele já está aceso?   Julgais que vim trazer paz à terra? Não, digo-vos, mas divisão”, diz o Senhor no evangelho deste dia.  A metáfora do “fogo” é muito usada em qualquer literatura antiga e moderna, com significados diversos: pode significar purificação, renovação, amor etc.... Em toda a Bíblia, o fogo é símbolo de Deus: na sarça ardente encontrada por Moisés (Ex 3,1-15); no fogo ou raio da tempestade no Sinai (Ex 19,16-25); nos sacrifícios do Templo onde as vitimas passadas pelo fogo; como símbolo do juízo final que purifica todas as coisas. Na tradição bíblico-profética, o “fogo” é um elemento purificador que consome as impurezas.  Na linguagem bíblica e apocalíptica “fogo” significa também juízo que supõe o fim do mundo e o início do outro. O fogo é o sinal do julgamento que, como o fogo, purifica e consome (cf. Lc 17,29-30).

Eu vim lançar fogo à terra”, disse Jesus. Em algumas partes dos evangelhos encontramos o uso do termo fogo. Jesus se compara com aquele que leva em sua mão a pá para limpar a eira e recolher o trigo e queimar as palhas (Mt 3,12). Jesus fala do joio que jogará no fogo (Mt 13,40). Mas Jesus recusa fazer baixar fogo do céu sobre os samaritanos (Lc 9,54). A Igreja vive do “fogo do Espírito” descido em Pentecostes (At 2,3). Esse fogo ardia no coração dos peregrinos de Emaús quando escutavam o Ressuscitado sem conhecê-Lo (Lc 24,32).

Vir trazer fogo à terra significa que a presença de Jesus tem a força de purificar o mundo da impureza, do egoísmo, da desigualdade, da discriminação, da exclusão, da insensibilidade e assim por diante e por isso, tem força de separar o bem do mal. Através da purificação dessas impurezas a graça tem seu lugar para brilhar em todo seu esplendor. Por isso, a divisão imposta por Jesus significa a eliminação da ilusória convivência do bem com o mal, pois ninguém pode servir a dois senhores (cf. Lc 16,13; Mt 6,24). Quem pratica o bem se afasta do mal. O mal praticado é a ausência da bondade vivida diariamente. Quem ama é porque é bom. Quem é bom ama.

O fogo de Jesus é o mesmo Reino de Deus que traz um elemento destruidor de pecado. É o fogo que vai queimando as impurezas dos homens, destruindo a arrogância (altivez) dos soberbos. Não poderá surgir a nova humanidade, se não forem destruídas as estruturas que oprimem o homem por dentro e por fora. Este fogo do Espírito destrói e purifica ao mesmo tempo. Jesus é o portador do fogo de Deus sobre a terra. Neste sentido sua missão fundamental consiste em purificar o homem velho ao destruir o que se encontra pervertido nele. Jesus proclama uma mensagem que é fogo, que coloca as consciências diante de sua própria verdade profunda. Conseqüentemente causa divisão: ou opta pela verdade que Jesus que significa salvação ou manter-se na falsidade e mentira que tem como resultado final, a perdição eterna.

Jesus acendeu um fogo e nos convida a mantê-lo aceso; um fogo que deve queimar dentro da Igreja tantas coisas inúteis, tanto organismos estéreis e paralizantes, tantas palavras vazias, tantas falhas morais e éticas, e assim por diante. É preciso morrer o que é velho em nós para surgir o novo.

O que acontece quando esse fogo não fica aceso na Igreja e em cada um em particular? Quando é que esse fogo não fica aceso? Ele não fica aceso quando vivemos o cristianismo não como novidade original que nos renova permanentemente; quando vivemos sem nos opor às estruturas que criam na humanidade um estado de injustiça, de fome, da violação dos direitos humanos, de exploração dos pequenos e assim por diante. Não haverá esse fogo de Jesus quando tudo continua igual, quando os sacramentos não significam mais que um ato social que não nos levam para uma vida transformada. Não haverá o fogo de Jesus quando a instituição religiosa se contenta com repetir mecanicamente gestos ou ritos que os homens de hoje não entendem nem lhes interessam.

Julgais que vim trazer paz à terra? Não, digo-vos, mas divisão”, diz o Senhor no evangelho deste dia. A paz é um dos maiores benefícios que o homem deseja. Os hebreus se saúda dizendo “Shalom”. Jesus despede os pecadores e as pecadoras com esta frase cheia de sentido: Vá em paz (Lc 7,50; 8,48; 10,5-9). E seus discípulos desejavam a “paz” para as casas onde entravam. Trata-se da paz nova que vem transtornar a paz deste mundo. Mas não é uma paz fácil, pois há que construí-la na dificuldade e com muito esforço e maturidade espiritual.

Jesus traz a paz, dá a paz, mas não a qualquer preço. Pôr-se ao lado de Jesus supõe uma opção, uma decisão e com freqüência romper com a vida anterior ou com os laços humanos familiares e sociais que não salvam: “Daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três; ficarão divididos: o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra”. O Pai não pode compactuar com a maldade do filho e vice-versa. A mãe não pode participar da desonestidade da filha e vice-versa. Cada membro de uma família deve ficar do lado do bem, da honestidade, da verdade e assim por diante. Somente acontecerá tudo isto, se o fogo de Jesus permanecer aceso na nossa vida e no nosso coração. Por isso, diante de Jesus não se pode ficar neutro.

Mas devo ser batizado num batismo; e quanto anseio até que ele se cumpra!”, acrescenta Jesus. Jesus vive sua vocação/ missão como uma paixão. Este batismo do qual Jesus fala é sua própria morte assassinada, conseqüência do seu amor incondicional pelos homens, esquecendo-se de si próprio.

Quem quiser seguir a Jesus fielmente, quem quiser viver piedosamente todos os ensinamentos de Jesus deve estar preparado para ser perseguido até ser morto (cf.2Tm 3,12). Mas trata-se de uma morte que termina na glorificação da vida em Deus. Não há o amor verdadeiro sem sacrifício.

P. Vitus Gustama,svd

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