EU VIVO NA ESPERANÇA PORQUE CREIO NO DEUS
DA VIDA
Sábado, 24 de Novembro de
2012
Sto. André Dung-Lac e Comps.
Texto de Leitura: Lc 20,27-40
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O tema da ressurreição dos mortos
opõe os fariseus aos saduceus. Os fariseus defendem a fé na ressurreição dos
mortos. Enquanto que os saduceus não acreditam na ressurreição por uma coisa
muito prática como lemos no Evangelho deste dia.
Mas quem são os saduceus?
Os saduceus são uma das três seitas
judaicas descritas por Josefo, o historiador judeu do século I d.C (as outras
duas são fariseus e essênios). Esse grupo é formado por grandes proprietários
de terras/latifundiários (anciãos), pelos membros da elite sacerdotal e pelos
grandes comerciantes. Eles controlam a administração da justiça no Tribunal
Supremo conhecido como Sinédrio que condena Jesus à morte. Habitualmente o sumo
sacerdote, a figura mais poderosa no Templo é escolhido de famílias
pertencentes a este grupo. Eles também são colaboracionistas com os romanos
para manter sua posição de privilégio. Por isso, eles são ricos e poderosos.
Eles são uma “classe separada” e bem organizada. Por isso, ninguém pode entrar
neste grupo. Eles são conservadores em
matéria de religião. Eles admitem apenas a Lei de Moisés/Tora (Pentateuco).
Como na Torá não se fala claramente da ressurreição dos mortos e da “outra
vida”, eles não acreditam nela. Para eles, tudo termina com a morte: não há
ressurreição dos mortos e nem recompensa na vida futura. Não há salvação além
da terrena. Neste mundo, salve-se quem puder, porque é o homem e apenas o homem
quem causa a própria salvação e felicidade ou desgraça e não- salvação. Por
isso, eles são hedonistas: interessa-lhes principalmente acumular riquezas e
desfrutá-las o mais possível nesta curta vida terrena (Lc 12,15-21).
Moralmente, eles são relaxados. A religião só vale dentro do templo. Fora dele
cada um pode fazer o que quiser. Entre os próprios saduceus há separação no
matrimônio.
Negando a ressurreição, os saduceus
enfrentam Jesus com uma pergunta a partir de uma história, um tanto grotesca,
fundada numa teologia mal-enfocada: como fica a mulher que se casou sete vezes
com homens diferentes, de quem ela será na ressurreição. Supõe-se,
erroneamente, que a ressurreição seja a continuação pura e simples da vida
terrena. Ao questionar Jesus, os saduceus têm a intenção de ridicularizar os
fariseus (partido rival), cuja fé na ressurreição dos mortos é conhecida. Os
saduceus queriam também conhecer a posição de Jesus.
Justamente uma das questões que
mais preocupam a pessoa humana é a vida e a vida após a morte. Toda pessoa tem
o desejo natural de saber o que acontecerá consigo após a morte. Diante do que
não conhece, o ser humano sente medo. A vida após a morte é a condição para a
plenitude da felicidade procurada pelo homem. O contrário disso é o desespero,
a auto-suficiência, que termina na fatalidade da morte ou na busca de soluções
em filosofia da reencarnação.
Jesus responde, estabelecendo uma
distinção entre “este mundo” e o “outro”. Na sua explicação Jesus diz que as
relações humanas estarão livres de alguns embaraços que complicam a vida.
Cessam-se, ai, as preocupações terrenas e desaparecem, também, as ameaças da
morte. Os esquemas terrenos não têm validade. Segundo Jesus, é vão e insensato
imaginar que o mundo futuro tenha as mesmas características deste mundo. Por
isso, Jesus usa uma expressão “...eles são semelhantes aos anjos...”(v.36) para
sublinhar a impossibilidade de descrever o modo de vida que pertence ao
mistério de Deus. A comunhão com o Pai celeste torna-se penhor de vida eterna.
A morte dá início, neste caso, a uma explosão de vida.
O poder de Deus é maior que as
forças destrutivas presentes na história e na natureza. A partir do momento em que ressuscita Jesus
Cristo, Deus mostra a todos que essa morte não é o último passo do ser humano.
A morte não tem palavra final para o ser humano. Pelo fato de Deus ressuscitar
Jesus Cristo, podemos ter a certeza de que esse mesmo Deus em quem acreditamos
firmemente, apesar de nossas fraquezas e pecados, nos ressuscitará também.
Adorar o Deus da vida é acreditar que ele tem poder de preservar a vida, mesmo
que isso supere a precisão e compreensão humanas. E sendo o Deus da vida, Ele
não criou ninguém para a morte, mas para a aliança definitiva com Ele.
A fé na ressurreição é o fundamento
da esperança. Cremos e por isso, esperamos. E a esperança é o horizonte da fé.
Esperamos e por isso, cremos. A atitude do cristão se baseia no próprio
testemunho de Deus. Deus mesmo se comunica e nos fala: “O Verbo se fez carne e habitou
entre nós” (Jo 1,14). É o Deus vivo e pessoal. Nele todos estão vivos.
Nossa meta final é o Senhor.
Deste fundamento, a fé cristã tem
importantes funções. Ela liberta o homem do medo, da auto-suficiência, do poder
destruidor da ignorância de Deus, do medo da morte. A fé no Deus dos vivos tem
força em si mesma para vencer o medo da morte; tem luz para iluminar a
obscuridade da vida e da morte; tem coragem para superar o medo que nos
paralisa; cura as feridas dos fracassos na luta para mudar este mundo e
convertê-lo em reino de Deus.
O senhor nos chamou para fortalecer
sua união conosco mediante a Eucaristia da qual participamos e a qual
celebramos permanentemente. O Senhor é nosso e nós somos do Senhor. Ao receber
a Eucaristia não somente recebemos um pedaço do pão consagrado, mas recebemos o
próprio Cristo que vem fazer-se um conosco. Jesus nos dá sua vida para que
tenhamos vida (cf. Jo 10,10). Assim nós devemos dar a vida por nossos irmãos
para que todos nós participemos dos dons de amor, de vida e de salvação que o
Senhor nos oferece. Deus nos chama para que sejamos consolo para os tristes,
socorro para os pobres, esperança para os desesperados, força os que caíram na caminhada nesta vida, amor
para os que vivem se odiando e salvação para os pecadores.
“Ter medo de amar é ter medo da
vida, os que temem a vida já estão em boa parte mortos” (Bertrand Russel).
“Devemos tratar de viver de maneira que, quando morrermos, até o coveiro tenha
dó” (Mark Twain).
P. Vitus Gustama,svd
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