SEJAMOS PERSEVERANTES TESTEMUNHAS DO BEM ATÉ O FIM
Quarta-feira, 28 de
Novembro de 2012
Texto: Lc 21,12-19
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 12“Antes que estas coisas aconteçam, sereis presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e postos na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por causa do meu nome. 13Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé. 14Fazei o firme propósito de não planejar com antecedência a própria defesa; 15porque eu vos darei palavras tão acertadas, que nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater. 16Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles matarão alguns de vós. 17Todos vos odiarão por causa do meu nome. 18Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. 19É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!”
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Estamos ainda no discurso
escatológico ou apocalíptico na versão de Lucas. Não podemos nos esquecer que o
evangelho de Lucas foi escrito depois da destruição de Jerusalém que aconteceu
em 70 d. C na guerra dos judeus contra Roma em 66-70 d.C. O fim de Jerusalém é,
para Lucas, uma prefiguração do fim. As perseguições eram fatos e não se tratava
de uma previsão.
Segundo Jesus, cada dificuldade ou perseguição deve se tornar uma oportunidade de dar testemunho dele: “Mas isto será para vós uma ocasião de dar testemunho de mim” (v.13).
Por incrível que pareça a perseguição é o momento oportuno para o cristão porque é uma ocasião de anunciar a Boa Nova, de dar testemunho sobre o bem maior; é uma oportunidade de evangelização. Para São Paulo, por exemplo, foram úteis todas as perseguições para evangelizar: eram meio paradoxal de dirigir-se às mais altas autoridades na época (cf. At 26,1; 18,12; 24,1; 25,1). Na Carta aos Filipenses, São Paulo escreveu: “Meus irmãos, quero fazer-vos saber que os acontecimentos que me envolvem estão redundando em maior proveito do Evangelho” (Fl 1,12).
“Antes que estas coisas aconteçam, sereis presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e postos na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por causa do meu nome. Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé”, disse Jesus.
A palavra “testemunhar/testemunho/testemunha” é uma das palavras preferidas por Lucas, especialmente nos Atos dos Apóstolos (aparece 13 vezes em Atos). Na parte central dos grandes discursos que dão ritmo a Atos, Pedro repete: “Nós somos testemunhas” (cf. At 2,32;3,15;10,41). Ser testemunha era a identidade dos discípulos de Jesus. O anúncio da palavra de Deus e o testemunho de vida são palavras-chaves e inseparáveis na obra de Lucas, de modo especial na segunda obra (Atos dos Apóstolos). Testemunhar significa provar com a própria vida aquilo que se fala, se professa e no que se acredita, assumindo todas as conseqüências.
Mas não se trata de testemunhar uma idéia, de um conjunto de verdades. O conteúdo do anúncio não é teoria nem sistema, mas é o próprio Jesus Cristo Ressuscitado. Por isso, o anúncio pode ser feito por todos e para todos, porque não pressupõe nem culturas nem diplomas. Sendo o próprio Jesus Cristo, é suficiente tê-Lo encontrado como aquele que dá sentido a toda a vida. Para anunciar Jesus Cristo Ressuscitado não se requerem qualidades específicas, mas uma fidelidade. Testemunhar Jesus é provar com a própria vida que é ele o sentido profundo de nossa vida e da vida do mundo; que Jesus é “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,16); que Jesus é a ressurreição e a vida (Jo 11,25); que Jesus é a Luz do mundo (Jo 8,12); que Jesus é o Pão da vida para o mundo (cf. Jo 6,22-71).
Para Jesus o testemunho tem que chegar até o fim, até as ultimas conseqüências a fim de ganhar a verdadeira vida, a vida em plenitude, a vida eternamente com Deus. A salvação para cada um de nós e para melhorar o mundo, a família, o trabalho, depende da perseverança no caminho da justiça, do amor e da fraternidade. Por isso, Jesus disse: “Todos vos odiarão por causa do meu nome. Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. É pela perseverança que mantereis vossas vidas” (Lc 21,19).
“Todos vos odiarão por causa do meu nome. Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça”. Ser odiado pelo bem praticado, pela verdade testemunhada, pela justiça vivida, pelo amor fraterno adotado na convivência, pela honestidade em qualquer negócio, pela retidão no comportamento, pela transparência no olhar é, paradoxalmente, um grande aplauso e é um dos maiores elogios que um ser humano possa ter sobre a face da terra.
“É pela perseverança que mantereis vossas vidas”, Jesus acrescentou. Perseverar significa a capacidade de resistir diante de cada dificuldade. A capacidade de resistir, entendida como perseverança, remete para os nossos valores vividos firmemente, remete para as nossas forças interiores e para as nossas firmes decisões. Como disse o filósofo romano, Epicteto (55 d.C-135 d.C. Um dos seus discípulos era Marco Aurélio): “Cada dificuldade na vida nos oferece uma oportunidade para nos voltarmos para dentro de nós mesmos e recorrermos aos nossos recursos interiores escondidos ou mesmo desconhecidos. As provações que suportamos podem e devem revelar-nos quais são as nossas forças. As pessoas prudentes enxergam além do incidente em si e procuram criar o hábito de utilizá-lo da maneira mais saudável. Você possui forças que provavelmente desconhece. Encontre a que necessita nesse momento. Use-a” (cf. A Arte de Viver).
A capacidade de resistir precisa haurir a confiança em Deus, confiança que tem que ser sempre renovada na oração. Como cristãos rezamos sem cessar, pedindo a graça da perseverança final. Estamos, todavia, conscientes de que isto leva consigo a disponibilidade para nos converter, porque estamos conscientes de que a nossa fidelidade é continuamente posta à prova e de que está exposta a contínuas tentações. Podemos ser tentados tanto do exterior (escândalo) como do interior (tentação). É precisamente no momento da tentação que entra em ação a capacidade de resistir. Lembre-se de que o nosso velho Adão está sempre à espreita ou continua a nos observar ocultamente.
A espera faz com que cada cristão seja capaz de desistir em momentos de provação e de luta contra os sintomas do cansaço humano. Não devemos ignorar que nos finais do século primeiro, a cristandade primitiva teve que operar uma difícil mudança ao passar de uma espera próxima para uma espera constante do Senhor. Só a força muito profunda da sua fé lhe permitiu manter tão grande disponibilidade para essa mudança, expressando assim a sua capacidade de resistir.
Aquele que estiver aberto à capacidade de resistir e rezar com perseverança para alcançar o ideal de estar com Cristo eternamente, poderá dizer com o Apóstolo Paulo: “Tudo posso n’Aquele que me dá força”(Fl 4,13).
Lucas convida, assim, a comunidade cristã a trilhar o caminho da fidelidade e da coragem, o caminho que o próprio Senhor trilhou, mesmo diante da repressão violenta das estruturas do poder, sinagogas, e reis, e mesmo perante a morte violenta (Lc 21,12). Se Jesus Cristo venceu a morte, o maior inimigo da humanidade, o cristão não tem mais nenhuma razão de ter medo. Se o mal avançar, a confiança em Deus deve avançar também porque Deus sempre terá a última palavra e não o mundo. O que importa para uma comunidade cristã é a vivacidade de esperança. É a esperança que arranca o homem de uma existência sem futuro e sem expectativas. A tristeza e o desânimo são um sinal da ausência de uma verdadeira esperança cristã que no fundo provém de uma falta de fé.
P. Vitus Gustama,svd
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