terça-feira, 25 de março de 2014

 
ESTAR COM  O ESPÍRITO EVANGÉLICO  É ESTAR COM JESUS

 
Quinta-feira da III Semana da Quaresma
27 de Março de 2014
 

Primeira Leitura: Jr 7,23-28

Assim fala o Senhor: 23 “Dei esta ordem ao povo dizendo: Ouvi a minha voz, assim serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; e segui adiante por todo o caminho que eu vos indicar para serdes felizes. 24 Mas eles não ouviram e não prestaram atenção; ao contrário, seguindo as más inclinações do coração, andaram para trás e não para frente, 25 desde o dia em que seus pais saíram do Egito até o dia de hoje. A todos enviei meus servos, os profetas, e enviei-os cada dia, começando bem cedo; 26 mas não ouviram e não prestaram atenção; ao contrário, obstinaram-se no erro, procedendo ainda pior que seus pais. 27 Se falares todas essas coisas, eles não te escutarão, e, se os chamares, não te darão resposta. 28 Dirás, então: Esta é a nação que não escutou a voz do Senhor, seu Deus, e não aceitou correção. Sua fé morreu, foi arrancada de sua boca”.


 Evangelho: Lc 11,14-23
 
Naquele tempo 14 Jesus estava expulsando um demônio que era mudo. Quando o demônio saiu, o mudo começou a falar, e as multidões ficaram admiradas. 15 Mas alguns disseram: 'É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios.' 16 Outros, para tentar Jesus, pediam-lhe um sinal do céu. 17 Mas, conhecendo seus pensamentos, Jesus disse-lhes: 'Todo reino dividido contra si mesmo será destruído; e cairá uma casa por cima da outra. 18 Ora, se até Satanás está dividido contra si mesmo, como poderá sobreviver o seu reino? Vós dizeis que é por Belzebu que eu expulso os demônios. 19 Se é por meio de Belzebu que eu expulso demônios, vossos filhos os expulsam por meio de quem? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes. 20 Mas, se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então chegou para vós o Reino de Deus. 21 Quando um homem forte e bem armado guarda a própria casa, seus bens estão seguros. 22 Mas, quando chega um homem mais forte do que ele, vence-o, arranca-lhe a armadura na qual ele confiava, e reparte o que roubou. 23 Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, dispersa.
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Depois que Jesus expulsou um demônio que era mudo de uma pessoa, os adversários de Jesus o acusaram dizendo: “É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios”.


Contra a esta acusação Jesus responde com algumas intervenções ou alguns ditos.


Primeira intervenção: “Todo reino dividido contra si mesmo será destruído; e cairá uma casa por cima da outra”.


Segunda intervenção: “Se até Satanás está dividido contra si mesmo, como poderá sobreviver o seu reino?”.


Satanás não pode estar em contra de si mesmo, assim como um reino não pode estar dividido, tampouco Satanás pode estar dividido.


Depois vem a parábola do homem forte que muito mais armado do que aquele que guarda a casa e por isso, consegue derrotar o guarda da casa.


Com esta parábola o texto quer nos dizer que Jesus veio para expulsar o Satanás e dificultar sua obra e despojar sua casa, pois Jesus é muito mais forte do que qualquer Satanás. A ação de Jesus e a dos que O seguem sempre produzem unidade, paz, bondade, misericórdia, perdão, liberdade e libertação, atenção aos demais, que são as características das ações evangélicas. São Paulo, na sua carta aos gálatas, escreveu: “Vós fostes chamados à liberdade. Não abuseis, porém, da liberdade como pretexto para prazeres carnais. Pelo contrário, fazei-vos servos uns dos outros pela caridade, porque toda a lei se encerra num só preceito: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5,13-14). Segundo São Paulo, os que têm o espírito evangélico possuem as seguintes características: “Os frutos do Espírito são: amor, alegria, paz, generosidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, continência” (cf. Gl 5,13-21. 22-23). Quando encontrarmos estas características em nós e em nossas ações, poderemos estar seguros de que estaremos diante de um espírito evangélico. Pelo contrário, “se vos mordeis e vos devorais, vede que não acabeis por vos destruirdes uns aos outros?” (Gl 5,15).


Outros Pensamentos Para Nossa Reflexão:


1. Importância da Unidade
    

Todo reino dividido contra si mesmo será destruído; e cairá uma casa por cima da outra”, diz o Senhor. Nesta controvérsia Jesus sublinha a importância da unidade. Pela história sabemos que a guerra civil destrói mais os impérios do que os ataques exteriores. Quem usar a “ação de dividirpara atacar será destruído pela mesma divisão que recairá contra suas próprias tropas. Coração dividido é o coração ferido. O Corpo Eucarístico o qual comungamos torna cada um Corpo de Cristo para os outros.


A unidade é a expressão e a prova mais evidente do amor. Quem estiver unido com Cristo que está unido ao Pai, jamais será causador da desunião e da divisão entre os cristãos ou entre as pessoas; ele buscará sempre a reconciliação. A comunhão com Cristo é impossível sem a vivência do amor fraterno. Assim como o amor fraterno cria unidade, assim também a comunhão com Jesus deve criar a comunhão entre os cristãos.


2. Estar do lado da justiça, do bem e da verdade é estar do lado de Jesus


Quem não está comigo, está contra mim; quem não recolhe comigo, espalha”, alerta-nos o Senhor hoje.


Na sua pregação o Apóstolo Pedro deu seu testemunho sobre Jesus ao dizer que Ele “passa a vida fazendo o bem” (At 10,38). Apesar disso Jesus enfrentou muitas oposições. Muitos se consideravam proprietários das boas obras, do poder divino, e demonizavam aquelas pessoas que não atuavam segundo seus parâmetros. Eles davam esmolas ou conselhos com intuito de ter o bom nome, o prestígio e a admiração (cf. Mt 23,1-36). Quando Jesus veio para dar sua vida generosamente sem esperar nada em troca, eles o consideraram comodemônio”, “Belzebu”. Era uma maneira fácil que eles encontraram para desprestigiar e eliminar o oponente, neste caso, Jesus. No entanto, Jesus os enfrentou com a verdade, o bem e a justiça.


Na atualidade continua sendo corrente a prática de demonizar o oponente, de desprestigiá-lo para aumentar o brilho próprio. Pois, atuar a favor dos demais sem buscar o bom nome e o prestígio é uma coisa que não chama a atenção de ninguém.


3. Vida cristã como um combate permanente contra o poder do mal


No evangelho de hoje, Jesus nos apresenta a vida cristã como um combate: “Quem não está comigo, está contra mim; quem não recolhe comigo, espalha”. Ele nos apresenta que há dois poderes sempre em guerras: o poder divino e o poder de Belzebu ou o poder do mal. Estamos, às vezes, obrigados a constatar que o mal tem raízes extremamente profundas por causa das forças destruidoras e violentas que aparentemente, nenhum homem é capaz de dominar.  O poder de Belzebu ou do mal, conforme o evangelho de hoje, prende as pessoas (se tornam presos do poder do mal) e cria a mudez nas pessoas (lei de silêncio). Este poder faz com que as pessoas sejam incapacitadas de se comunicar com os demais e com o mundo, não permite diálogo e relacionamento (viver no isolamento). É como o mudo no evangelho de hoje. O poder divino em Jesus suscita consciência crítica nas pessoas, são chamadas e capacitadas a se dialogar com os outros na igualdade e na fraternidade, a entrarem em relacionamento com as outras pessoas e com o Deus que liberta. O evangelho quer nos dizer que é preciso voltarmos para Jesus e vivermos seus ensinamentos e estarmos vigilantes para que o poder do mal não nos surpreende em qualquer momento.


Portanto, o evangelho de hoje nos convida a estarmos do lado de Jesus, isto é, do lado do bem, da verdade e da justiça, não para adquirir ganâncias pessoais e sim para ser as mãos de Deus que atuam eficazmente no mundo. Por isso, o mundo de hoje exige que lutemos contra o mal com as armas da verdade, do bem, da honestidade, da solidariedade e da justiça. Não podemos combater o mal com suas próprias armas: a violência somente gera violência e a manipulação ideológica somente gera opressão e desequilíbrio mental. Necessitamos combater o mal, porém como o fez Jesus: com a bondade e generosidade de um Deus que defende incondicionalmente a vida das pessoas humanas e sua dignidade como seres humanos. O cristianismo e o mal e a maldade são incompatíveis. Fazer o bem permanentemente significa que estamos no Reino da verdade, da justiça e da caridade que é o Reino de Deus. Para viver uma vida autenticamente humana, temos que nos amar muito com a verdade, a justiça, o bem e a caridade que são, em certo modo, coisas sagradas que requerem ser tratadas com amor e respeito e são os valores que têm a marca de eternidade.


Como eu era miserável! E Tu, Senhor, tocavas na minha chaga viva, a fim de que eu deixasse tudo e me convertesse a Ti, que estás acima de todas as coisas (Santo Agostinho: Confissões VI, 6)

P. Vitus Gustama,svd

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