terça-feira, 11 de março de 2014

 
PEDIR, BUSCAR E BATER A PORTA NA ORAÇÃO


Quinta-Feira da I Semana da Quaresma
13 de Março de 2014


Primeira Leitura: Est 14,17

Naqueles dias, a rainha Ester, temendo o perigo de morte que se aproximava, buscou refúgio no Senhor. Prostrou-se por terra desde a manhã até o anoitecer, juntamente com suas servas, e disse: Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó, tu és bendito. Vem em meu socorro, pois estou só e não tenho outro defensor fora de ti, Senhor, pois eu mesma me expus ao perigo. Senhor, eu ouvi, dos livros de meus antepassados, que tu libertas, Senhor, até o fim, todos os que te são caros. Agora, pois, ajuda-me, a mim que estou sozinha e não tenho mais ninguém senão a ti, Senhor meu Deus. Vem, pois, em auxílio de minha orfandade. Põe em meus lábios um discurso atraente, quando eu estiver diante do leão, e muda o seu coração para que odeie aquele que nos ataca, para que este pereça com todos os seus cúmplices. E livra-nos da mão de nossos inimigos. Transforma nosso luto em alegria e nossas dores em bem-estar”.


Evangelho: Mt 7,7-12


Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7 "Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto. 8 Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á. 9 Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão? 10 E, se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? 11 Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem. 12 Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a lei e os profetas".
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O texto do evangelho de hoje (que se encontra no Sermão da Montanha: Mt 5-7) continua repetindo, como no texto do evangelho do dia anterior, que Deus é profundamente bom, que deseja “dar” coisas boas para seus filhos e filhas e, por isso, há que rezar com esse espírito, com uma confiança total e inabalável em qualquer momento e circunstâncias. A oração de Ester (primeira leitura: Est 14,17) no Antigo Testamento é um exemplo disso.


Na época de Ester a situação do povo eleito era dramática: o povo disperso, minoritário no meio de povos pagãos e frequentemente perseguido e desprezado. Essa situação passa a ser a oração de Ester. Em outras palavras a oração de Ester parte de sua vida e expõe seu caso a Deus. Ela reconhece sua grande pobreza e confessa sua solidão diante de Deus. é uma oração audaz que se dirige a Deus como familiaridade; uma oração que pede a Deus para tomar conta do seu povo para ser livre dos inimigos: “Livra-nos da mão de nossos inimigos. Transforma nosso luto em alegria e nossas dores em bem-estar”


No evangelho Jesus nos aconselha para não termos medo de pedir a Deus com confiança de filho diante do Pai bondoso: "Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto, assim Jesus nos disse. Pedir, buscar e bater (a porta) são verbos que nos põem em movimento. Isto significa que não podemos ficar parados nem paralisados por um sentimento negativo ou por um cansaço espiritual. Somos chamados a ser perseverantes na nossa oração, mesmo que, aparentemente, nossos pedidos não sejam atendidos, pois Deus sabe muito melhor de nossas necessidades do que nós mesmos, e se Ele nos atender é sempre com a intenção de nos salvar, e não simplesmente para atender o que Lhe pedimos.


Além disso, pedir, buscar, bater (porta) pressupõe necessidade, inquietude, urgência, e espera-se a bondade, a disponibilidade ou misericórdia de alguém. Em certas circunstâncias ficamos débeis, vulneráveis que nos leva a pedirmos socorro. São circunstancias nas quais surgem com facilidade o clamor de um angustiado e a oração de petição de quem necessita da força divina a exemplo da rainha Ester na primeira leitura (Ester 14,7). Diante da enorme responsabilidade que pesa sobre seus ombros, Ester faz penitência e entra numa comovedora oração de humildade. Ester descobre em si somente fraqueza, mas sabe e acredita que Deus não deixará de lhe proporcionar a coragem necessária. O livro de Ester tem por objetivo fortalecer a fé dos judeus dispersos no seio do império persa.


Em muitas ocasiões experimentamos como Deus guarda silêncio e custa-nos descobrir a presença de Deus em tais circunstâncias. Mas precisamos recuperar nossa de que Deus está conosco (Mt 28,20). Por isso, “no Senhor ponho a minha esperança, espero em sua Palavra. No Senhor se encontra toda graça e copiosa redenção” (Sl 129, 5.7). Por essa razão, ao pedir, buscar e batersempre esperança na bondade e na misericórdia de Deus que quer nossa salvação.


Orar é um modo de ser diante de Deus, mas com duas direções: a direção do homem para Deus e a direção do homem para os demais. Se o homem pedir a Deus o que é melhor para si, ele deve dar também o que é melhor para os outros. A paz que ele pede a Deus o leva a ser construtor da paz na convivência com os demais, e assim por diante. Em outras palavras, nãooração sem compromisso. A oração feita e vivida profundamente é a ação mais comprometida da qual surgem outras ações. Quando oramos, entramos numa verdadeira aliança com Deus. Estamos dispostos a receber seus dons, especialmente seu Santo Espírito para que vivamos com maior lealdade nosso ser de filhos e filhas de Deus diante do mundo. O Senhor está disposto a nos conceder tudo aquilo que nos ajude para nos converter num sinal cada vez mais claro de seu amor no mundo.


Quando Jesus fala, no texto do evangelho de hoje, que o Pai está disposto a nos conceder tudo o que lhe pedimos, está falando dentro do contexto da misericórdia. Se um pai humano, que é pecador, dá  pão para seu filho, com muito maior razão o Pai dos céus: “Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão? E, se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem. Aqui a ênfase não é tanto sobre a perseverança e a obstinação do suplicante e sim sobre a diferença entre a bondade do pai humano e a ternura do Pai dos céus. Por essa razão Jesus quer que não temamos em pedir a Deus aquilo que, um homem faria de má vontade, Ele o faz com alegria. Os versículos 7-11 insistem na perseverança da oração, não é para estabelecer uma técnica de oração incessante, mas simplesmente para afirmar a benevolência de Deus e a certeza de que Deus reserva um lugar para a ternura. A bondade e a misericórdia de Deus me fazem perseverar na minha oração. O amor de Deus que me salva e me faz acreditar em Deus em qualquer circunstância e situação.


O segundo passo que Jesus nos propõe neste evangelho é pedir ao Pai que nos a capacidade de sermos misericordiosos, indispensável para poder ser verdadeiros membros do seu Reino. Jesus nos assegura que se pedirmos a Deus um coração novo, ele nos dará este tipo de coração. Não temamos pedir a Deus que nos o dom da misericórdia ou a capacidade de perdoar a quem, em algum momento, virou nosso inimigo ou rival fatal. Se colocarmos dentro do contexto da misericórdia, a oração unifica e transforma. Por esta razão a oração exige consagração e dedicação.


O texto do evangelho de hoje termina com a seguinte frase: “Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. Nisto consiste a Lei e os Profetas” (Mt 7,12). Trata-se de uma regra de conduta e é considerada como a regra de ouro. A regra de ouro era conhecida na antiguidade. Em Heródoto lemos: “Não quero fazer aquilo que censuro no próximo” (Heródoto, 3,142,3). Na sabedoria de Confúcio (551 antes de Cristo) lemos: “Não faça aos outros o que você não gostaria que fizessem a você”. Encontramos também esta regra nos ditos do famoso rabi Hillel: “Não faças a ninguém aquilo que te é desagradável; isso é toda a Torá, ao passo que o mais é explicação; vai e aprende!”.


Esta regra de ouro nos ensina que em tudo que falarmos (comentarmos) ou fizermos a vida e a dignidade do outro devem ser levadas em consideração. Às vezes acontece que machucamos muito os outros porque ainda temos muitas feridas dentro de nós que ainda não são curadas. E muitas vezes avaliamos o outro a partir de nossas feridas e não a partir da própria realidade das coisas. Por trás de uma pessoa brava e grosseira, há sempre uma pessoa frustrada.


O verdadeiro cristão faz muito mais além da regra de ouro. Ele é chamado e é enviado a fazer o bem ao próximo (quem quer que seja) independentemente da retribuição ou do reconhecimento. Ele sempre age com um amor gratuito e de qualidade sem medir esforços, porque ele tem consciência clara de que ele é amado por Deus deste modo. Ele é sempre solicito e serviçal. Trata-se de a opção ou do estilo de vida com Deus traduzido na convivência fraterna com os demais. Todo trato cordial e fraterno jamais se baseia na lei de retribuição muito menos acontece por mera formalidade. O cristão existe para fazer o bem, e se não o fizer deixará de existir em Jesus Cristo que “passou a vida fazendo o bem” (At 10,38). Uma pessoa de bem sempre deseja tudo de bom para os outros. O bem desejado para o outro é o bem atraído para si. O mal desejado para o outro é o mal atraído para si.


Pedir, Buscar, Bater a porta... O caminho da Quaresma é, antes de tudo, o caminho da conversão. É um convite para que voltemos para a casa do Pai. Em certo modo, podemos dizer que, não somente Deus quem tem que sair ao nosso encontro, mas nós também devemos ir ao encontro de Deus. Nesta quaresma podemos nos aproximar de Deus com a plena confiança para apresentar-lhe nossas necessidades, para dizer-lhe que não podemos fazer nada sem sua ajuda (cf. Jo 15,5). Queremos buscar o Senhor que “se esconde” no Pão e no Vinho eucarísticos, nos seus ministros sacerdotes através dos quais Ele quer nos dar Seu perdão. Precisamos bater a porta do coração do Senhor insistentemente e sem medo porque necessitamos entrar nele para que possamos sair dele como pessoas mais amorosas prontas para amar e perdoar.  A Quaresma é o tempo oportuno para fazer nossas orações intensamente e fazer leitura bíblica constantemente para conhecer melhor Aquele que aceitou ser crucificado para nos dar a vida eterna.

P. Vitus Gustama,svd

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