REZAR E AGIR COM HUMILDADE
29 de Março de 2014
1“Vinde, voltemos para o Senhor, ele nos feriu e há de tratar-nos, ele nos machucou e há de curar-nos. 2Em dois dias, nos dará vida, e, ao terceiro dia, há de restaurar-nos, e viveremos em sua presença. 3É preciso saber segui-lo para reconhecer o Senhor. Certa como a aurora é a sua vinda, ele virá até nós como as primeiras chuvas, como as chuvas tardias que regam o solo”. 4Como vou tratar-te, Efraim? Como vou tratar-te, Judá? O vosso amor é como nuvem pela manhã, como orvalho que cedo se desfaz. 5Eu os desbastei por meio dos profetas, arrasei-os com as palavras de minha boca, mas, como luz, expandem-se meus juízos; 6quero amor, e não sacrifícios, conhecimento de Deus, mais do que holocaustos.
Naquele tempo ,
9Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua
própria justiça
e desprezavam os outros : 10“Dois homens subiram
ao Templo para
rezar : um era fariseu , o outro cobrador
de impostos . 11O fariseu , de pé ,
rezava assim em
seu íntimo :
‘Ó Deus , eu
te agradeço porque
eu não
sou como os outros
homens , ladrões ,
desonestos , adúlteros ,
nem como
este cobrador
de impostos . 12Eu jejuo duas vezes
por semana ,
e eu dou o dízimo
de toda a minha
renda ’. 13O cobrador de impostos , porém ,
ficou à distância , e nem se atrevia a levantar
os olhos para
o céu ; mas
batia no peito , dizendo: ‘Meu Deus , tem piedade de mim que sou pecador !’
14Eu vos
digo: este último
voltou para casa
justificado, o outro não . Pois quem se eleva será humilhado, e quem
se humilha será elevado ”.
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O texto do evangelho de hoje fala
da oração de um publicano humilde e de um fariseu arrogante. Sobre a oração o
Novo Catecismo da Igreja Católica diz: “A oração é um dom da graça, mas pressupõe
sempre uma resposta decidida da nossa parte, porque o que reza combate contra
si mesmo, contra o ambiente e, sobretudo, contra o Tentador, que faz tudo para
retirá-lo da oração. O combate da oração é inseparável do progresso da vida
espiritual. Reza-se como se vive, porque se vive como se reza” (Compêndio do
Novo Catecismo, 572; Novo Catecismo, no. 2725).
Não nos esqueçamos: o Tentador quer
nos tirar da oração, pois rezar é conversar com Deus. E o Tentador não quer que
conversemos com Deus. Quem não conversa com Deus, gosta de falar de si próprio
(egolatria). Quem conversa com Deus permanentemente, torna-se mais humano ou se
humaniza. Quem se humaniza, torna-se irmão do outro. A oração nos serena, pois
confiamos totalmente n’Aquele que torna tudo existir e possibilita o que é
impossível (cf. Lc 1,37). Quanto mais crescermos na espiritualidade, mais
rezaremos, pois “O combate da oração é inseparável do progresso da vida
espiritual”. A verdadeira oração nos torna mais humildes.
O evangelista Lucas é uma pessoa de
muita oração. Por isso, um dos temas preferidos nas suas obras (Evangelho e
Atos dos Apóstolos) é a oração. É o único Evangelho que começa e termina com o
tema sobre a oração. Tudo começa no Templo e termina no Templo.
Estamos na parte
do evangelho de Lucas na qual se fala do
caminho de Jesus para
Jerusalém onde será morto
e ressuscitado (Lc 9,58-19,28). Jesus está na etapa
final de seu
caminho (Lc 17,11-19,28). Durante esse caminho Jesus dá muitas lições
importantes para
seus discípulos .
Na passagem
do evangelho deste dia
Jesus continua a enfatizar sobre
a importância da oração
perseverante e humilde (Lc 18,1-14) que já se
iniciou na passagem anterior
deste texto . Para
falar da oração
humilde Jesus conta
uma parábola na qual
ele coloca em
confronto dois tipos de atitude diante de Deus
representados por um
fariseu e um
publicano, como protagonistas
da parábola : o fariseu
que se elogia
desprezando o outro e o publicano que simplesmente
pede a misericórdia de Deus sem desprezar ninguém , porque ele tem consciência de seus
pecados .
Na “oração ”
do fariseu , Deus
ficou esquecido e somente o EU
predomina: Eu não sou como os
demais , eu
jejuo, eu pago
o dízimo . A arrogante
consciência de ter
feito alguma coisa ,
o faz acreditar que
Deus se tornou seu
Devedor , mas
é inútil . Ele
abusava da oração para
demonstrar sua
própria grandeza
a fim de se colocar
em destaque
diante dos demais .
É um verdadeiro
exibicionista . O exibicionismo
é a linguagem que
demonstra a ausência de um valor . Quando um valor cresce na experiência
espiritual de uma pessoa ,
ela ama
discrição , que
é a linguagem do tesouro
escondido, e se comunica pelo caminho
da simplicidade e da discrição . Toda
a arrogância é contra
ao amor fraterno
que é essencial
para uma convivência mais humana .
É curioso
comprovar que
os santos , os que
estão de verdade mais
perto de Deus ,
se consideram sempre uns grandes pecadores ,
pois eles
compreendem verdadeiramente o que o pecado significa. Somente à
luz de Deus
é possível reconhecer
a própria miséria .
O aproximar-se de Deus consiste em perder ou em abandonar nosso egoísmo e auto-suficiência para
encontrar a felicidade
de Deus .
Na parábola
o publicano se sente pequeno , não se atreve a levantar
os olhos ao céu ,
e por isso ,
sai do templo engrandecido. Reconhece-se
pobre e por
isso , sai enriquecido. Reconhece-se pecador e por isso , sai justificado. Com
razão o Livro
de Eclesiástico afirma: “Quem serve a Deus
como Ele
o quer , será bem
acolhido e suas súplicas
subirão até as nuvens .
A prece do humilde
atravessa as nuvens ” (Eclo
35,20-21).
Somos fariseus
quando vamos à igreja
não para escutar Deus e suas exigências ,
mas para
convidá-Lo a nos admirar
pelo bom que somos. Somos fariseus
quando esquecemos a grandeza
de Deus e nosso
nada , e cremos que
as virtudes próprias exigem o desprezo dos demais .
Somos fariseus quando
nos separamos dos demais
e nos cremos mais
justos , menos
egoístas e mais puros /limpos que os outros . Somos fariseus
quando entendemos que
nossas relações com
Deus têm de ser
quantitativas e medimos somente nossa
religiosidade pelas missas das quais participamos e não
pelo amor que vivenciamos com
os demais . A vaidade
nos faz perder
tempo em
coisas fúteis e sem
valor .
O evangelho
deste dia nos
chama a nos vestirmos da humildade. E
para que nos mantenhamos humildes jamais podemos nos esquecer que quem
presencia nossa vida e nossas obras é o próprio Senhor a Quem temos que
procurar agradar em cada momento. Se não estivermos vigilantes nisso, a soberba
vai nos dominar. E a soberba tem manifestações em todos os aspectos de nossa
vida: faz-nos susceptíveis, injustos em nossos juízes e em nossas palavras e
ações, faz-nos crer melhores do que os demais e negar as boas qualidades dos
outros e a soberba nos convence ter virtudes que não possuímos.
O Senhor se comove e esbanja suas
graças diante de um coração humilde. A soberba é o maior obstáculo que o homem
põe diante da graça de Deus. A soberba é o vício capital mais perigoso: se
insinua e tende até infiltrar-se até nas boas obras. Por causa da soberba as
boas obras perdem até seu mérito sobrenatural, pois as boas obras praticadas
são uma participação na bondade de Deus.
Nossa oração deve ser como a do
publicano: humilde, atenta, confiada, procurando que não seja monólogo em que damos
voltas a nos mesmos, às virtudes que cremos possuir. A humildade é o fundamento
de toda nossa relação com Deus e com os demais. Por isso, a humildade atrai a
bênção de Deus e a simpatia dos homens.
Sabendo que todos nós somos
pecadores não podemos desprezar aqueles que vivem dominados pela maldade, pelo
vício e assim por diante. Deus ama os pecadores e odeia o pecado. Por isso, o
Senhor tomou nossa natureza humana para nos salvar e nos levar junto de Si como
Seus amados. Por isso, fica a pergunta: temos rezado por as pessoas que vivem
dominadas por algum vício e alguma maldade? Sejamos compassivos nas nossas
orações por essas pessoas, pois quem é compassivo e justo brilhará com a mesma
Luz de Deus para os demais. Sejamos um sinal de Cristo, Luz do mundo,
dando-lhes nosso afeto, carinho e a caridade cristã. Rezemos/oremos uns pelos
outros, principalmente nesta Quaresma, para que o amor de Deus e sua salvação
cheguem a todos.
Reflita o que
São Paulo escreveu: “Verdade
é que a minha
consciência de nada
me acusa, mas
nem por
isto estou justificado; meu juiz é o Senhor ” (1Cor
4,4).
P. Vitus Gustama,svd
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