Segunda-Feira da II
Semana da Quaresma
17 de Março de 2014
Primeira Leitura: Dn
9,4b-10
4b “Eu te suplico, Senhor, Deus grande e terrível, que
preservas a aliança e a benevolência aos que te amam e cumprem teus
mandamentos; 5 temos pecado, temos praticado a injustiça e a impiedade, temos
sido rebeldes, afastando-nos de teus mandamentos e de tua lei; 6 não
temos prestado ouvidos a teus servos, os profetas, que, em teu nome, falaram a
nossos reis e príncipes, a nossos antepassados e a todo povo do país. 7 A
ti, Senhor, convém a justiça; e a nós, hoje, resta-nos ter vergonha no rosto:
seja ao homem de Judá, aos habitantes de Jerusalém e a todo Israel, seja aos
que moram perto e aos que moram longe, de todos os países, para onde os
escorraçaste por causa das infidelidades cometidas contra ti. 8 A nós,
Senhor, resta-nos ter vergonha no rosto: a nossos reis e príncipes, e a nossos
antepassados, pois que pecamos contra ti; 9 mas a ti, Senhor, nosso
Deus, cabe misericórdia e perdão, pois nos temos rebelado contra ti, 10
e não ouvimos a voz do Senhor, nosso Deus, indicando-nos o caminho de sua lei,
que nos propôs mediante seus servos, os profetas”.
Evangelho: Lc 6,36-38
Naquele tempo ,
disse Jesus aos seus discípulos : 36 "Sede misericordiosos, como
também vosso
Pai é misericordioso. 37 Não
julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não
sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados; 38
dai, e dar-se-vos-á. Colocar-vos-ão no regaço
medida boa, cheia ,
recalcada e transbordante , porque ,
com a mesma
medida com
que medirdes, sereis medidos vós também ".
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O texto
do evangelho deste dia
faz parte do Sermão
de Jesus chamado Sermão da Planície no evangelho de Lucas (Lc 6,20-49). Chamado
de Sermão da Planície é para distingui-lo do Sermão da Montanha de Mateus (Mt
5-7). Se em Mateus Jesus faz seu Sermão no topo da montanha, em Lucas Jesus faz
o Sermao na planície depois que Jesus na companhia dos discípulos desceram da
montanha onde os Doze Apóstolos foram escolhidos (Lc 6,12-16). O Sermão da
Planície é muito mais breve do que o Sermão da Montanha.
“Sede misericordiosos como também o
vosso Pai é misericordioso”
O texto
do evangelho lido e proclamado neste dia fala da moral cristã que
se caracteriza pelo fato
de que é, habitualmente ,
uma imitação de Deus ,
e por isso ,
não é uma simples
moral humana .
Na sua primeira
Carta são
João diz: “Deus é amor ”
(1Jo 4,8.16), e são Lucas diz no evangelho deste dia :
“Deus é misericórdia ”. Em
Mateus Jesus diz: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt
5,48). Em Lucas Jesus diz: “Sede misericordiosos como também o vosso Pai é
misericordioso”. Para o evangelista Lucas a perfeição cristã
consiste na prática da misericórdia. Ser verdadeiro cristão, segundo Lucas, é imitar o Deus de amor e de misericórdia .
Conseqüentemente , na vivência do amor
e da misericórdia não
haverá lugar para
o julgar e o condenar do
próximo .
O cristão
deve ser reconhecível e reconhecido pelo amor (e
pela misericórdia; cf. Jo 13,35). Jesus concebe este amor não como um
sentimento e sim como uma atuação. Não é um simples sentimento humanitário.
Este amor do qual fala Jesus tem uma raiz existencial: a realidade do Pai:
"Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso”. É o
Pai quem dá sentido ao amor vivido na fraternidade. Através do amor misericordioso
vivido Deus reconhece o homem como filho Seu e o homem se reconhece como filho
de Deus.
A misericórdia não é simplesmente
amor: é um amor que não conhece limites, barreiras, obstáculos, fronteiras: é
um amor que sabe amar também quem se tornou
indigno do amor. Enquanto o amor diz somente doação, a misericórdia diz
super doação. A misericórdia é um especial poder do amor, que prevalece sobre o
ódio, a infidelidade, a deslealdade, a ingratidão. Como diz João Paulo II:
“Esse amor misericordioso é capaz de curvar-se ante o filho pródigo, ante a
miséria humana e, sobretudo, ante a miséria moral, ante o pecado. A
misericórdia se manifesta em seu aspecto verdadeiro e próprio quando valoriza,
promove e explicita o bem em todas as formas de mal existente no mundo e no
homem” (Dives in misericordia, no.6).
O melhor
caminho para humanizar cada vez mais um ser humano
é o do amor e da misericórdia .
Um cristão
cheio de amor
e de misericórdia é muito
humano e educado. Ele
é tão humano
que se transforma em
uma manifestação daquilo que é divino . Naquele que ama tem algo divino , pois
“Deus é amor ”.
Jesus Cristo foi tão
humano e por
isso , foi tão
divino . Para sermos divinos temos que
ser muito humanos . É o paradoxo
de ser cristão .
Alem de reconhecer
nossa debilidade, temos que aceitar outro passo que Jesus nos
propõe hoje : ser
misericordioso e perdoar os demais
como o próprio
Deus é misericordioso e perdoa nossos pecados .
Perdoar significa crer na
capacidade que
nós seres
humanos temos para
começar de novo . O perdão não é
uma simples trégua
para fazer tolerável a vida sem uma nova criação que nos
aproxima do plano de Deus . Nosso grande desafio é chegarmos
a entender que
precisamos viver toda
a existência cristã na dinâmica do perdão
que é a dinâmica
do começo e do recomeço
permanente .
·
“O julgamento será sem misericórdia
para aquele que não pratica
a misericórdia . A misericórdia ,
porém desdenha o julgamento ” (Tg 2,13).
·
“A Igreja vive vida autêntica quando professa e
proclama a misericórdia, o mais admirável atributo do Criador e do Redentor, e
quando aproxima os homens das fontes da misericórdia do Salvador, das quais ela
é depositária e dispensadora. Neste contexto, assumem grande significado a
meditação constante da Palavra de Deus e, sobretudo, a participação consciente
e refletida na Eucaristia e no sacramento da Penitência ou Reconciliação” (João
Paulo II: Carta Encíclica: Dives In Misericórdia, 13c).
P. Vitus Gustama,svd
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