27/08/2018
VIVER
COERENTEMENTE E NA FÉ, NA ESPERANÇA E NO AMOR
Segunda-Feira da XXI Semana Comum
MEMÓRIA DE SANTA
MÔNICA
Primeira Leitura: 1Ts
1,1-5.8b-10
1 Paulo, Silvano e Timóteo, à Igreja dos Tessalonicenses reunida em Deus
nosso Pai e no Senhor Jesus Cristo: a vós, graça e paz! 2 Damos graças a Deus
por todos vós, lembrando-vos sempre em nossas orações. 3 Diante de Deus, nosso
Pai, recordamos sem cessar a atuação da vossa fé, o esforço da vossa caridade e
a firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo. 4 Sabemos, irmãos amados
por Deus, que sois do número dos escolhidos. 5 Porque o nosso evangelho não
chegou até vós somente por meio de palavras, mas também mediante a força que é
o Espírito Santo; e isso com toda a abundância. Sabeis de que maneira
procedemos entre vós, para o vosso bem. 8b A vossa fé em Deus propagou-se por
toda parte. Assim, nós já nem precisamos falar, 9 pois as pessoas mesmas contam
como vós nos acolhestes e como vos convertestes, abandonando os falsos deuses,
para servir ao Deus vivo e verdadeiro, 10 esperando dos céus o seu Filho, a
quem ele ressuscitou dentre os mortos: Jesus, que nos livra do castigo que está
por vir.
Evangelho: Mt 23,13-22
Naquele
tempo, disse Jesus: 13 “Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas!
Vós fechais o Reino dos Céus aos homens. Vós porém não entrais, 14 nem deixais
entrar aqueles que o desejam. 15 Ai de vós, mestres da Lei e fariseus
hipócritas! Vós percorreis o mar e a terra para converter alguém, e quando
conseguis, o tornais merecedor do inferno, duas vezes pior do que vós. 16 Ai
de vós, guias cegos! Vós dizeis: ‘Se alguém jura pelo Templo, não vale;
mas, se alguém jura pelo ouro do Templo, então vale!’ 17 Insensatos e cegos! O
que vale mais: o ouro ou o Templo que santifica o ouro? 18 Vós dizeis também:
‘Se alguém jura pelo altar, não vale; mas, se alguém jura pela oferta que está
sobre o altar, então vale!’ 19 Cegos! O que vale mais: a oferta, ou o altar que
santifica a oferta? 20 Com efeito, quem jura pelo altar, jura por ele e por
tudo o que está sobre ele. 21 E quem jura pelo Templo, jura por ele e por Deus
que habita no Templo. 22 E quem jura pelo céu, jura pelo trono de Deus e por
aquele que nele está sentado”.
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Viver No Amor, Na Fé e Na
Esperança
“Damos
graças a Deus por todos vós, lembrando-vos sempre em nossas orações. Diante de
Deus, nosso Pai, recordamos sem cessar a atuação da vossa fé, o esforço da
vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo”,
escreveu São Paulo aos tessalonicenses que lemos na Primeira Leitura.
Depois de nove semanas em que lemos a
história de Israel nos livros do Antigo Testamento, hoje passamos para o Novo
Testamento, especialmente a Primeira Carta de São Paulo aos tessalonicenses que
vamos acompanhar esta semana.
A Primeira Carta aos tessalonicenses é o
escrito mais antigo que se conserva do NT datado para o ano 51 ou 52 de nossa
época, apenas vinte anos depois da morte de Jesus. Na mesma época as tradições
evangélicas eram divulgadas oralmente; não foram escritas ainda. Nas primeiras
cartas de São Paulo já se respiram e resumem as mensagens dos evangelhos. A
Primeira Carta aos tessalonicenses é, de fato, o primeiro document escrito da
fé cristã.
No texto da Primeira Leitura de hoje São
Paulo nos apresenta três coisas essenciais e fundamentais para a vida cristã. Primeiro,
é preciso trabalhar inspirado na fé. A fé é um dom e ao mesmo tempo é a tarefa
que Deus deu para cada fiel. Cada fiel precisa trabalhar em nome de Deus.
Trabalhar com a fé é trabalhar com Deus. Trabalhar com Deus sempre tem seu
final feliz apesar das dificuldades. A fé é a manifestação do desejo da vida
eterna, a manifestação do desejo da plenitude para o homem. A condição é
simples: aceitar Jesus Cristo e viver seus ensinamentos diariamente.
Em segundo lugar é necessário
trabalhar por amor. Por amor Deus nos chama à vida, por amor Deus nos enviou
seu Filho (Jo 3,16) e por amor Deus continua nos oferecendo sua amizade que é
para nós fonte de vida e de todo bem apesar de nossas contínuas traições. Por isso, trabalhar por amor e com amor é um
trabalho divino, um trabalho glorioso. Deus nos criou em Jesus Cristo para que
nos dediquemos às boas obras.
Em terceiro lugar, é preciso trabalhar
com paciência, pois há a esperança para uma vida melhor em Deus. Segundo Aristóteles a
esperança é “sonho de quem está acordado”. A esperança cristã não é um sonho,
mas é a realidade porque é baseada na ressurreição de Jesus Cristo. Desta
forma, a fé em Cristo transforma a esperança em confiança e certeza; e a
esperança torna a fé em Cristo ampla e lhe dá vida. Por isso, São Paulo nos
relembra com esta frase: “Cristo é nossa esperança” (Col 1,27). “A fé que mais
me agrada é a esperança” (Charles Peguy). É verdade porque na esperança, a fé
abre novos caminhos no coração das pessoas e tende a realizar um mundo novo.
Por isso, a esperança é o maior desafio de cada dia porque tendemos a ver tudo
escuro.
Somos Chamados a Viver Na
Autenticidade
O capítulo 23 do Evangelho de Mateus é, sem
dúvida nenhuma, uma das páginas mais duras do Novo Testamento. Quem o lê fica
impressionado, sobretudo, com a linguagem dura de Jesus. Neste capítulo, o
evangelista Mt inicia com uma introdução (vv.1-12) para um extenso discurso que
Jesus pronuncia contra os líderes religiosos da sua época (vv.13-36) como
conseqüência de um longo enfrentamento com eles (Mt 21-22). Estes ataques
completam a obra dos profetas contra a falsa religiosidade. As palavras são
duras porque o perigo que é denunciado é grave. E a validade da denúncia
profética que ouvimos dos lábios de Jesus, neste capítulo, não perde sua
atualidade, pois seu alcance é universal. O “fariseu”, a quem Jesus dirige suas
palavras duras e sua denúncia, é personagem típico, representa um paradigma de
comportamento oposto ao Evangelho.
Neste capitulo 23 Mt nos apresenta os
chamados “ais” de Jesus contra os escribas e fariseus ou lamentações que Mateus
coloca depois de Jesus ter proclamado as bem-aventuranças no Sermão da Montanha
(cf. Mt 5,1-12).
“Ai de vós...!”, assim Jesus se dirige aos
escribas e fariseu neste capitulo. Entre os versículos 13 a 33 do texto há sete
“ais”. Nestes “AIS” Jesus denuncia a hipocrisia dos fariseus e escribas. João
Batista e Jesus anunciam o Reino de Deus (Mt 3,2; 4,17), mas os letrados
(escribas e fariseus) usam sua autoridade para impedir que o povo de Deus
aceite a mensagem de João Batista e de Jesus, porque os próprios letrados
recusam toda a mensagem dos dois (cf. Mt 11,18-19). Jesus os escribas e
fariseus como “sábios e entendidos” para os quais se esconde o desígnio de Deus
(cf. Mt 11,25-26). Por sua responsabilidade, os escribas e os fariseus deveriam
facilitar o povo de Deus para entrar no Reino de Deus. Porém, de fato, eles
estão longe da prática. Como na sociedade, muitos são chamados de Vossa
Excelência, mas há poucos que têm o comportamento excelente (ética e moral).
A palavra grega “Quai” (ai de vós) é uma
onomatopéia (onomatopéia é a formação de uma palavra a partir da reprodução
aproximada, com os recursos de que a língua dispõe; de um som natural a ela
associado: p.ex.: pum, tiquetaque, atchim, chuá-chuá, zunzum). “Quai” ou
“ai de vós!” não é uma maldição e sim expressa uma profunda dor, uma
indignação, uma ameaça profética. Jesus está triste e indignado com a atitude e
o modo de viver incoerente dos fariseus e dos escribas e que não levam em conta
a importância da pessoa humana e os valores essenciais da vida humana.
Jesus é “manso e humilde de coração” (Mt
11,29). Mas quando se trata de defender um certo numero de valores essenciais
Jesus se faz bastante bravo, como uma mãe ou um pai que chama atenção do filho
ou da filha duramente quando este/esta não leva a sério as coisas importantes
para sua vida. Por isso, há que escutá-Lo.
Chama nossa atenção de que com as pessoas
normais, por humildes e pecadoras que elas sejam, Jesus não se apresenta tão
duro (cf. Mt 11,25-30 etc.). Mas com os que são guias do povo ou constituídos
em autoridade, a sentença de Jesus é mais severa pela falta de autenticidade e
da hipocrisia desses guias ou dirigentes: ”Ai de vós, mestres da Lei e fariseus
hipócritas! Ai de vós, guias cegos!”.
Jesus
critica duramente os dirigentes ou os responsáveis pela vida do povo. Nós que
temos alguma responsabilidade na vida da família ou no campo da educação, da
política ou da comunidade eclesial, temos maior obrigação de dar exemplo aos
demais, de não levar uma vida dupla (entre o que ensinamos e o que logo
fazemos), de não ser exigentes com os demais e tolerantes com nós mesmos (duas
medidas para o mesmo peso), de não ser como os hipócritas que apresentam por
fora uma fachada, mas por dentro uma podridão.
As acusações de Jesus são muito atuais. Por
isso temos que aplicá-las para nós mesmos, pois dentro de cada um de nós pode
estar escondido um pequeno ou grande fariseu. Eu preciso fazer um exame sério
de consciência: Que atitudes farisaicas eu descubro em mim? Preciso responder
sinceramente se eu também entro na categoria de “guias cegos e néscios”, se
busco mais vaidade do que o bem de todos ou a glória de Deus, se eu matei o
Espírito com uma casuística exagerada?!
Através de muitos “ais”, Jesus critica
duramente a hipocrisia dos escribas e fariseus que dizem e não fazem, ensinam,
mas não praticam. A hipocrisia é complexa: os mesmos hipócritas são as primeira
vitimas de sua vaidade religiosa, caem na mesma armadilha de sua vanglória.
Jesus critica duramente os escribas e fariseus porque não convertem os homens
ao verdadeiro Deus e sim a suas próprias idéias fazendo deles fanáticos do
legalismo e impedindo os homens de entrar no Reino pela mesma intransigência
legalista.
A pessoa que tem a atitude de hipocrisia,
simulando virtudes, nobres sentimentos e boas qualidades, engana as outras
pessoas no intuito de conquistar a estima delas. O recurso ao fingimento visa
obter louvores por uma virtude que ela não possui. Ela é habilidosa em camuflar-se. Ela faz
questão de parecer boa. Ao constatar sua perversidade interior,
incapaz de confessá-la e corrigi-lá, ela se refugia na simulação de possuir a
virtude. Ela não se preocupa em ser boa, mas em apropriar-se daqueles indícios
que a fazem parecer como tal.
Uma das virtudes humanas mais apreciadas pela
maioria das pessoas é, sem dúvida nenhuma, a coerência de vida. Na própria vida
de Jesus podemos ver um grande exemplo de coerência humana, pois Ele atua como
prega. As palavras de Jesus não ultrapassam sua atuação. Vivamos para que nossa
palavra e a prática sejam niveladas. Será melhor, se tivermos mais ação do que
palavra, pois as palavras movem enquanto que o exemplo arrasta (Verba
movent, exempla trahunt, diz o ditado latim).
Os seguidores de Cristo são alertados a
considerar tal comportamento incompatível com a sua opção. O exibicionismo e a
hipocrisia devem ser combatidos com o espírito de simplicidade e humildade.
Isto exigirá de todos nós cultivar uma atitude de fraternidade e igualdade. A
atitude que convém ao discípulo consiste em fazer-se servidor de seu
semelhante, num gesto de amor de gratuidade.
Todos nós somos chamados a ser de Cristo e a
viver como Cristo. Não fechemos a porta do Reino para aqueles que não são de
nossa condição social, econômica ou cultural ou que não pensam como nós. Nossas
palavras não ultrapassem nossa atuação. Que seja mais ação do que pregação. Não
sejamos escândalos para os outros. Ganhemos todos para Cristo e para ser novos
parceiros do bem e não para que sejam de nosso grupo egoísta.
É curioso sentir o tom distinto que tem as
leituras deste dia. Na primeira (2Ts 1,1-5.11-12) São Paulo dá graças pela fé
dos tessalonicenses. No Evangelho (Mt 23,13-22) Jesus reprova a falta da
autenticidade, e a hipocrisia dos dirigentes religiosos de Israel. Na Igreja e
em cada um de nós, também há momentos, situações e atitudes que provocam as
duas coisas: dar graças por tudo de bom na nossa vida. E há momentos em que
precisamos parar para reconhecer nossos pecados antes que eles destruam nossa
vida. Esses dois momentos nos ajudam a crescer como ser humano, como irmão dos
outros e como filhos e filhas de Deus. Que bom seria recordarmos esses dois
momentos todos os dias. Nosso Deus, o Deus da vida, o Deus de Jesus Cristo, o
Deus Pai Nosso é glorificado quando vivemos de verdade sem medos nem
mediocridades nem retaguardas e assim por diante. Um cristão vivo nesta maneira
será capaz de dar vida ali onde se encontra. Somente assim se pode anunciar com
verdade que temos uma Boa Notícia para dar ao mundo, porque o Filho de Deus não
veio para nos julgar e sim para dar vida e a vida em abundância (cf. Jo 10,10).
Você tem seus momentos de ação de graças e
momentos de reconhecer suas fraquezas na sua vida diária?
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SANTA MÔNICA
(27/08)
Celebramos hoje a memória de Santa Mônica,
mãe de Santo Agostinho (a festa de Santo Agostinho no dia 28 de agosto). Ela
nasceu em Tagaste, África, em 331, de uma família cristã. Ainda muito jovem
casou-se com Patrício, legionário pagão, com quem teve três filhos: Agostinho,
Navígio e uma filha (que morreu como superiora do mosteiro de Hipona, em 424).
A vida de Mônica não foi muito tranqüila, mas
terminou feliz. Em primeiro lugar, ela teve aflições pelo marido. Ela suportou
infidelidades conjugais, sem jamais hostilizar, demonstrar ressentimento contra
o marido por isso. Além disso, o marido era um homem de comportamento
esquentado. Mônica se mostrava calma e paciente por causa de sua vida
espiritual profunda. “Depois que ele se refazia e acalmava, ela procurava o
momento oportuno para mostrar-lhe como se tinha irritado sem refletir”,
escreveu Santo Agostinho sobre sua mãe, Mônica, diante do marido, Patricio
(Confissões, IX,19). Era assim que ela conquistava o marido. O que tem por trás disso é a fidelidade de
Mônica a Deus dia a dia. Por isso, Mônica teve a consolação de levar o marido à
fonte batismal em 371, um ano antes da morte dele.
Após a morte do marido, Patrício, Mônica se
viu sozinha diante da conduta desordenada do filho Agostinho, que aos 16 anos
abandonou a vida digna de um filho de Deus. Trata-se de outra aflição que
Mônica tinha. Agostinho era um filho rebelde à graça de Deus, inteligente, mas
indiferente. Por ele, Mônica rezou e chorou. Ela suplicou a Deus com insistência
e não cansou de pedir a ajuda das pessoas sábias. Um dia ela pediu o conselho
do bispo Ambrosio de Milão (festa 07/12). Dele ela recebeu esta resposta: “Vai
em paz, mulher, e continua assim; não te preocupes, contenta-te com rezar por
ele; é impossível que perca o filho de tantas lagrimas”. Esse pensamento se
expressa na coleta da festa: “Ó Deus, consolação dos que choram, que
acolhestes, as lagrimas de Santa Mônica pela conversão de seu filho,
Agostinho....”. Mônica mais uma vez alcançou a graça de ter conseguido de Deus
a conversão de Agostinho. Agostinho recebeu o batismo em 387.
Mônica e Agostinho passaram juntos o verão na
Itália, aguardando a partida de Mônica para a África. As últimas palavras de
Mônica para Agostinho eram estas: “Meu filho, quanto a mim, não existe nada
que me atraia nesta vida. Nem sei mesmo o que estou fazendo aqui, e por que
ainda existo. Uma única coisa que me fazia desejar viver ainda um pouco era
ver-te cristão antes de eu morrer. Deus me concedeu algo mais e melhor: ver-te
desprezar as alegrias terrenas e só a Ele (Deus) servir. O que faço ainda aqui?”.
E dentro de pouco tempo ela morreu (em Óstia) antes de embarcar de volta à
pátria. Era o ano de 387 e tinha 55 anos de idade.
Agostinho ficou tão admirado pela virtude de
sua mãe, Mônica, até chegou a escrever: “Não quero calar os sentimentos que
me brotam na alma a respeito de tua serva, que me deu a vida temporal segundo a
carne e que, pelo coração, fez-me nascer para a vida eterna”. (Confissões
IX, 17). No seu livro “Confissões”, Agostinho dedicou o cap. IX para falar da
virtude de sua mãe, Mônica.
Creio que muitas mães de hoje, que sofrem
pela mesma causa ou outras causas, vêem-se em Santo Mônica e se identificam com
ela. Mônica quer dar a mensagem de esperança para todas as mães sofredoras que
continuem a acreditar em Deus e permaneçam na oração serena mesmo com choro de
tristeza. E o próprio Jesus afirma: “E Deus, não faria justiça a seus eleitos
que clamam a Ele dia e noite, mesmo que os faça esperar?” (Lc 18,7).
P.
VitusGustama,SVD
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