segunda-feira, 13 de agosto de 2018

ASSUNÇÃO: 15 de Agosto
Esta reflexão é para os lugares em que a Assunção é celebrada no próprio dia 15 de Agosto
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ASSUNÇÃO DE MARIA

Texto: Lc 1,39-56



A proclamação do dogma da Assunção de Maria à glória dos céus, em alma e corpo, pertence ao século XX: foi declarado solenemente por Pio XII em 01 de Novembro de 1950 na bula Munificentissimus Deus. No entanto, a liturgia da Igreja universal, tanto no Oriente quanto no Ocidente, celebrou por muitos séculos esta convicção de .  No século V celebrava-se em Jerusalém no dia 15 de agosto uma festa importante que tinha por objeto a excelência da pessoa da Mãe de Deus, eleita por supremo conselho para desempenhar uma missão muito especial na história da salvação. Entre o V e VI século, a narração apócrifa sobre o Trânsito de Maria da vida terrena à glória eterna alcançou uma difusão extraordinária: a conseqüência foi o desejo natural dos peregrinos que ocorriam a Jerusalém de honrar o túmulo da Virgem. Durante o século VII, com o nome de Assunção foi acolhida na Igreja de Roma, juntamente com as festa da Apresentação, Anunciação e Natividade, para as quais o Papa Sérgio I(+ 701), instituiu uma procissão preparatória para a missa, celebrada na Santa Maria Maior. No fim do século VII encontra-se  uma antiga oração romana composta para a procissão que introduz a celebração mariana do dia 15 de agosto: “Venerável é para nós, Senhor, a festa deste dia em que a Santa Mãe de Deus sofreu a morte terrena, mas não permaneceu nas amarras da morte, ela que, do próprio ser, gerou, encarnado, o teu Filho, Senhor nosso” (Sacramentário Gregoriano Adrineu, no.661)


A bula da definição dogmática não fala de argumentos bíblicos, pois a Escritura não afirma a Assunção de Maria. Discute-se se Maria morreu ou não. Por isso, o texto dogmático, cautelosamente, diz “terminado o curso de sua vida terrestre”. Nós, por isso, afirmamos que Maria morreu, pois assim se pode falar, verdadeiramente, de ressurreição, porquanto somente um morto pode ressuscitar. Maria morreu pelo fato natural da morte que pertence à estrutura da vida humana, independentemente do pecado. Maria, livre e isenta de todo o pecado, pôde integrar a morte como pertencente à vida criada por Deus. A morte não é vista como fatalidade e perda da vida, mas como chance e passagem para uma vida mais plena em Deus.


Além disso, Maria participa na economia da redenção pelo fato de ser a Mãe do Senhor (Lc 1,43). Ela se associou totalmente ao destino de seu Filho. A redenção implica sempre a colaboração de quem a recebe. Maria colaborou admiravelmente na própria salvação. por este título ela é o modelo original de quantos recebem a salvação, o modelo de todos os redimidos. Como tal, ela tem um significado universal de salvação. É o protótipo da vida redimida, a plena e perfeita realização, a imagem ideal de toda a vida cristã. Por sua vida e morte Jesus nos libertou. Por sua vida e morte Maria participou desta obra messiânica e universal. A co-redenção significa a associação de Maria tanto à cruz de Jesus como à sua ressurreição e exaltação gloriosa ou ascensão. Esta razão teológica tem o seu fundamento no triunfo de Cristo sobre a morte, de que faz participantes todos os cristãos por meio da e do batismo.


Maria foi assunta ao céu em corpo e alma. Aqui não se trata de dogmatizar um esquema antropológico (corpo e alma). Utiliza-se esta expressão, compreensível à cultura ocidental, para enfatizar o caráter totalizante e completo da glorificação de Maria. Maria vê-se envolvida na absoluta realização.  Assunta ao céu”, ela se nos apresenta como as primícias da redenção, tendo consumado em si o que ainda se realizará em nós e na Igreja. O corpo de Maria, enquanto ela perambulava por este mundo, foi somente veículo de graça, de amor, de compreensão e de bondade. Não foi instrumento de pecado, da vontade de auto-afirmação humana e de desunião com os irmãos.  O corpo é forte e frágil, cheio de vida e contaminado pela doença e morte. Por isso, é exaltado por uns até a idolatria e odiado por outros até a trituração. Maria vive e goza, no corpo e na alma, quer dizer na totalidade de sua existência, desta inefável realização humana e divina.


Para Maria a assunção significa o definitivo encontro com seu Filho que a precedeu na glória. Mãe e Filho vivem um amor e uma união inimaginável. Maria agora vive, em corpo e alma, aquilo que nós também iremos viver quando atingirmos o céu.


Enquanto peregrinamos, Maria atua como imagem que recorda e concretiza o nosso futuro. Em cada um que morre no Senhor se realiza aquilo que ocorreu com Maria: a ressurreição e a elevação ao céu. Andando por entre as tribulações do tempo presente, erguemos os olhos ao e rezamos: Salve Maria, vida, doçura e esperança, salve! Rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte. Doce mãe da esperança, em quem apareceu o futuro do mundo e nos foi antecipada e prometida a glória do tempo futuro, ajuda-nos a ser peregrinos na esperança a caminho da unidade futura do Reino, sem pararmos diante das resistências e das canseiras, antes nos empenhando, com fidelidade e paixão, em levar no presente os homens ao futuro da promessa de Deus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém!


Algumas mensagens do texto


1. O Evangelista Lc não descreve que Maria simplesmente “andou”, mas que ela “partiu” / pôr-se a caminho”. Nos Evangelhos a idéia de viagem, de caminho, está intimamente ligada à obediência a Deus e ao discipulado de Jesus. O verbo “pôr-se a caminho” tem em Lucas o significado teológico de disponibilidade e obediência aos planos de Deus; pôr-se a caminho significa aceitar total e existencialmente o caminho proposto por Deus, pois esse caminho nos conduz sempre à felicidade embora tenhamos que atravessar vários obstáculos, mas no coração ressoa sempre uma certeza de que Deus está sempre caminhando conosco (Maria foi com Jesus no ventre).


Maria se pôs a caminho significa que a partir daquele momento começou a sua vida como resposta à proposta ou aos planos de Deus.  É a resposta ao anúncio feito por Deus, que se funda, sobretudo, a leitura de Maria como modelo do discípulo perfeito, como a alma fiel por excelência.


A de Maria é uma missionária. Depois de dizer o seusim”, leva-o através dos caminhos do nosso mundo para suscitar a alegria e o louvor. A viagem de Maria à Judéia (para Ain Karin), por isso, é um símbolo do caminho da que precisa ser testemunhada, compartilhada, que precisa servir; porque a não é somente o dom de Deus, mas também é uma resposta humana, e com todo ato humano. Dessa é que faz encontro e serviço. E quando a Palavra de Deus é ouvida com autenticidade, como Maria, não pode deixar de ser profundamente criativa e dialogante. E quando a Palavra de Deus é ouvida e refletida com atenção por qualquer um, ele não pode deixar de ser missionário desta Palavra.


2. Maria partiu “apressadamente”. A expressãoapressadamentenão descreve a presteza externa com que parte nem descreve o estado psicológico de Maria. Lc quer sublinhar a atitude interior de e de obediência de Maria. Suapressa” está dinamizada pelo fervor interior, pela alegria e, sobretudo, pela (cf. Lc 1,38.45). “Às pressas” significa seriedade, empenho, solicitude, zelo, entusiasmo, ardor, prontidão etc.. No sentido teológico, então, a pressa de Maria é um reflexo da sua obediência, como serva e discípula fiel, em relação ao plano que lhe foi revelado pelo anjo, um plano que previa a gravidez de Isabel.


Segundo M. Descalzo, a viagem de Maria para visitar Isabel foi “a primeira procissão do Corpus Christi”. O corpo de Maria foi o ostensório vivo e precioso que carrega por primeira vez o Corpo de Cristo. Mas se nos mergulharmos um pouco mais no mistério, descobriremos que, na verdade, Maria é levada por Aquele que ela leva no seu ventre.


Quando Deus entra e atua na história de uma pessoa e tem realmente Jesus no coração, esse mesmo Jesus vai levar essa pessoa ao encontro dos outros, especialmente aos necessitados para partilhar a alegria e a esperança e irradiará e santificará os que dela se aproximarem.


3. Maria é a arca da nova aliança, o lugar da presença de Deus no meio de nós. Como a arca da nova aliança, em Maria o Verbo se fez carne e os céus e a terra se encontraram. Mas ela não é um lugar que encerra Deus e sim um lugar que O dá. Ela não é uma arca que esconde o mistério, mas uma arca que o irradia. Maria é Aquela que, habitada pelo mistério, o dá.


Quando na se dá espaço ao absoluto primado de Deus, a conseqüência lógica de ser habitado, de ser amado por Deus é sair de si, viver o êxodo sem regresso, que é o amor. O acolhimento da gratuidade do amor eterno torna-se a doação gratuita de tudo que se recebeu. Quem crê e vive da , tem capacidade de olhar para fora, aprecia o dom e o comunica. Certamente, respeitamos o dom de Deus quando nos tornamos arca irradiante e quando o restituímos a Deus, que nos estende a mão nos nossos irmãos.


4. Maria é o símbolo perfeito da atenção, pois ela tem o amor no coração. O amor é atenta. Maria serve Isabel na sua necessidade real. O seu amor se transforma em gesto, pois a caridade é concreta.  O amor sabe ver o que o não- amor nunca descobrirá. O seu amor causa a alegria, pois a caridade sabe se terna. A ternura consiste certamente em dar com alegria, suscitando em quem recebe o dom da alegria e não um sentimento de dependência. Ela faz tudo isso, porque Maria depende de Deus, por isso é livre(Nenhuma criatura a prende). Quem é livre na , pois depende somente de Deus, torna-o doado aos outros na gratuidade.


5. A saudação de Maria causa a alegria cuja característica é messiânica: os saltos de alegria de João no seio de sua mãe(vv.41.44); a irrupção do Espírito sobre Isabel(v.41b); a bênção messiânica de Isabel sobre Maria(v.42); a proclamação de Maria comomãe do Senhor”(v.43); e a proclamação de que Maria é “bem-aventuradapor causa de sua (v.45). Todas estas reações são de caráter messiânico


Se acreditarmos que Jesus está dentro de nós, nos comportaremos como Maria: seremos portadores de alegria no Senhor para os outros. O nosso encontro com os outros fará brotar neles a alegria pela presença do Messias, a docilidade ao Espírito, o louvor a Deus.


6. No Magnificat Maria anuncia que os poderosos serão derrubados de seus tronos. Não se trata de punição nem vingança, pois o Deus de Jesus não é vingativo. Descer do trono é condição de salvação. É preciso descer do trono para aprender a ser irmão, a ser solidário, a servir, a criar relações horizontais. É preciso despojar-se de auto-suficiência e reconhecer-se necessitado de salvação.


Estamos acostumados a reverenciar o poder, de várias maneiras. É alguémsubir na vidaque logo começa a receber um tratamento mais respeitoso. É como se o posto que cada um ocupa mudasse a qualidade humana das pessoas. Não será por isso que alguns são chamados de “excelênciamesmo quando não têm atitudes tão excelentes assim para com os outros? Por esses e outros motivos o poder fascina e muita gente vive correndo atrás dele.


O peso do prestígio do poder invade até o campo religioso. Usamos para Deus freqüentemente as mesmas imagens com que idealizamos o poder humano: Deus sentado no trono, Maria com coroa de rainha. Aliás, a Bíblia também faz isso, refletindo a cultura da época. O problema não está exatamente . O perigo está no jeito de utilizar essas imagens. Com essa noção de poder é possível até tentar dominar os outros, autoritariamente, em vez de dialogar e servir. Deus essa questão de outro jeito que nem sempre nós estamos preparados para entender.


Os “poderososnão são os outros. Cada um de nós pode fabricar seus própriostronos” e olhar o próximo de cima, de forma opressora, indiferente ou superior.


Se somos realmente Igreja servidora, como Jesus sempre quis, temos quedescer” de muitostronosque criamos e tratar o irmão, qualquer irmão, como um igual, digno de respeito e precioso como filho de Deus.


Que Maria, Doce Mãe da esperança nos ajuda a ser peregrinos na esperança sem pararmos diante das resistências e das canseiras a caminho da comunhão plena com o nosso Criador, o Deus Conosco.
P.Vitus Gustama,svd

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