02/10/2018
SANTOS ANJOS DA GUARDA
02 de Outubro
SER
IRMÃO E FAZER-SE PEQUENO
Primeira Leitura: Êx 23,20-23
Assim diz o Senhor: 20“Vou enviar um anjo que vá à tua frente, que
te guarde pelo caminho e te conduza ao lugar que te preparei. 21Respeita-o
e ouve a sua voz. Não lhe sejas rebelde, porque não suportará as vossas
transgressões, e nele está o meu nome. 22Se ouvires a sua voz e fizeres
tudo o que eu disser, serei inimigo dos teus inimigos, e adversário dos teus adversários.
23O meu anjo irá à tua frente e te conduzirá à terra dos amorreus, dos
hititas, dos ferezeus, dos cananeus, dos heveus e dos jebuseus, e eu os
exterminarei”.
Evangelho: Mt 18,1-5.10
Naquela hora, 1os discípulos aproximaram-se
de Jesus e perguntaram: “Quem é o maior no Reino dos céus?” 2Jesus chamou uma
criança, colocou-a no meio deles 3e disse: “Em verdade vos digo, se não vos
converterdes, e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos
céus. 4Quem se faz pequeno como esta criança, esse é o maior no Reino dos céus.
5E quem recebe em meu nome uma criança como esta, é a mim que recebe. 10Não
desprezeis nenhum desses pequeninos, pois eu vos digo que os seus anjos nos
céus veem sem cessar a face do meu Pai que está nos céus”.
-------------------------
O que o Catecismo Da Igreja Católica fala
dos anjos?
“A existência dos seres espirituais, não-corporais, que a Sagrada Escritura chama habitualmente de anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto a unanimidade da Tradição” (Catecismo Da Igreja Católica, 328)
“A Igreja venera os anjos, que a ajudam na sua peregrinação terrestre e protegem todo o género humano” (Idem n.352).
“Desde o seu começo até à morte, a vida humana é acompanhada pela sua assistência e intercessão. Cada fiel tem a seu lado um anjo como protector e pastor para o guiar na vida. Desde este mundo, a vida cristã participa, pela fé, na sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus” (Idem n.336).
“Na sua liturgia, a Igreja associa-se aos anjos para adorar a Deus três vezes santo; invoca a sua assistência e festeja de modo mais particular a memória de certos anjos [São Miguel, São Gabriel, São Rafael e os Anjos da Guarda] (Idem n.335)
Quem são os anjos? Santo Agostinho respondeu: “Anjo (mensageiro) é designação de encargo, não de natureza. Se perguntares pela designação da natureza, é um espirito; se perguntares pelo encargo, é um anjo: é espirito por aquilo que é, enquanto é anjo por aquilo que faz”.
“Há que saber que o nome de “anjo” designa a função, não o ser. Com efeito, aqueles santos espíritos da pátria celeste são sempre espíritos, mas nem sempre podem ser chamados anjos, já que somente o são quando exercem seu ofício de mensageiros. Os que transmitem mensagens de menor importância se chamam anjos, os que anunciam coisas de maior transcendência se chamam arcanjos. Por isso, à Virgem Maria não lhe foi enviado um anjo qualquer e sim o arcanjo Gabriel, já que uma mensagem de tal transcendência reueria que fosse transmitida por um anjo da máxima categoria” (São Gregorio Magno, Homilía 34 sobre os evangelios, 8-9 PL 76, 1250-1251).
O que faz os anjos (encargo)? Eles são servidores e mensageiros de Deus. São aqueles que nos indicam o caminho do bem, o caminho de Deus. São aqueles que nos alertam quando estivermos para praticar a maldade. A missão dos anjos é amar, servir e dar gloria a Deus, ser seus mensageiros, cuidar e ajudar os homens. Eles estão constantemente na presença de Deus atentos a suas ordens. Pode-se dizer que são mediadores, custódios, protetores e ministros da justiça divina. Eles nos comunicam mensagens do Senhor importantes em determinadas circunstancias da vida. Em momentos de dificuldade, podemos pedir luz para tomar uma decisão, para solucionar um problema, atuar acertadamente, descobrir a verdade. Por exemplo, temos as aparições à Virgem Maria (Lc 1,26-38), a São José (Mt 1,18-25; 2,13-23), a Zacarias (Lc 1,11-22). Todos eles receberam mensagem dos anjos. Também os anjos apresentam nossas orações ao Senhor: “Quando tu oravas..., eu apresentava as tuas orações ao Senhor” (Tb 12,12-16). Além disso, os anjos nos animam a sermos bons: “Digo-vos que haverá júbilo entre os anjos de Deus por um só pecador que se arrependa” (Lc 15,10).
No dia 02 de Outubro a Igreja celebra a festa dos Santos Anjos da Guarda. A missão dos anjos da guarda é acompanhar cada pessoa no caminho pela vida, cuidá-la na terra dos perigos, protege-la do mal e guia-la no difícil caminho para o Céu. Pode-se dizer que é um companheiro de viagem que sempre está ao lado de cada pessoa, no bons e nos maus momentos. Não se separa dela em nenhum momento. Está com ela enquanto trabalha, descansa, se diverte, reza, quando pede ajuda e quando nãos e pede ajuda. Não se afasta dela nem sequer quando perde a graça de Deus pelo pecado. Os anjos da guarda prestarão auxilio para cada pessoa enfrentar com ânimo as dificuldades da vida diária e as tentações que se apresentam na vida.
Para que a relação da pessoa com o anjo da guarda seja eficaz, cada pessoa necessita falar com ele, chama-lo, trata-lo como o amigo que é. Assim ele poderá converter-se num fiel e poderoso aliado nosso. Recordemos que os anjos os anjos não podem conhecer nossos pensamentos e desejos íntimos se nós não os expressamos, já que somente Deus conhece exatamente o que há dentro de nosso coração. Os anjos somente podem conhecer o que queremos, intuindo-o por nossas obras, palavras, gestos e assim por diante.
Por que se fala, especificamente de uns anjos que nos acompanham pessoalmente, que nos protegem na caminhada cotidiana?
Poderíamos responder, em primeiro lugar, que trata-se de símbolos para falar do amor providente de Deus que cuida de sua criatura para que esta chegue à sua plena realização quando houver colaboração da própria criatura ou das circunstâncias na quais se encontra. Era normal expressar, através de recursos literários provenientes de um contexto, as realidades misteriosas usando uma linguagem figurativa.
Em segundo lugar, os anjos são um reflexo misterioso do rosto de Deus e de sua bondade em nossa realidade. De fato, quando alguém nos trata bem, nos ajuda sem reservas etc. logo lhe dizemos: “Você é um anjo!”. Isto significa que a bondade de Deus se reflete naqueles que fazem o bem, chamados de mensageiros de Deus ou anjos de Deus no nosso dia a dia.
Em terceiro lugar, Os anjos da guarda nos revelam a presença transcendente de Deus em cada pessoa, especialmente nos mais pobres. O maior no Reino de Deus é a criança e quem se faz pequeno como criança, porque representa em forma paradigmática o despojamento de todo poder. O despojamento da soberba e da prepotência do poder é a condição para entrar no Reino de Deus. Alguém entra nele, quando descobre o poder de Deus: o poder de seu amor, o poder de sua Palavra e o poder de seu Espírito. Reino de Deus é Poder de amor de Deus. Esta presença de Deus nos mais pobres, que são os maiores no Reino, é o que dá aos pobres essa transcendência.
Cada pessoa, cada família, cada comunidade, cada povo, tem seu próprio anjo da guarda. O Livro de Êxodo (Cf. Ex 23, 20-23) nos mostra o Povo de Deus conduzido diretamente pelo anjo de Deus. O povo deve comportar-se bem na sua presença, escutar sua voz e não ficar rebelde. No anjo está o Nome de Deus. O Nome é o que Deus é. O anjo é essa presença de Deus no Povo de Deus.
Também cada um de nós deve descobrir nosso próprio anjo da guarda, sentir sua presença e escutar sua voz. Devemos viver conforme a esta presença transcendente em nós e refleti-la continuamente em nosso rosto. Para isso, é preciso ler, meditar e colocar em prática a Palavra de Deus. Estar em sintonia com a Palavra de Deus nos faz sensíveis para a presença de Deus na nossa vida cotidiana e nos torna conscientes de nossa tarefa como mensageiros de Deus na convivência com os demais.
Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarda, me governa me ilumina. Amém
O texto do evangelho lido neste dia é escolhido em função da festa dos santos anjos da guarda. É tirado de Mt 18.
O capítulo 18 do evangelho de Mateus é o quarto dos cinco grandes discursos de Jesus neste evangelho. E este quarto discurso é conhecido como “discurso eclesiológico” (discurso sobre a Igreja) ou “discurso comunitário” onde se acentua a vida na fraternidade, isto é, cada membro da comunidade é considerado como irmão. Este capítulo (Mt 18,1-35) foi escrito para responder aos problemas internos das comunidades cristãs: Quem é o primeiro na comunidade? O que fazer se acontecem escândalos? E se um cristão se perde ou se afasta da comunidade, o que fazer? Como corrigir um irmão que erra? Quando é que uma oração pode ser chamada de comunitária e partilhada? E quantas vezes se deve perdoar?
Na comunidade de Mt (como também em qualquer comunidade cristã) cresce a ambição e se cultivam sonhos de grandeza dos membros que se acham mais importantes do resto. Há pouca consideração para com os pequenos, até são desconsiderados ou desprezados. Estes pequenos correm risco de se tornarem incrédulos e de afastar-se da atividade comunitária. Na comunidade de Mt suscitam também pecadores notórios, inclusive as ofensas e os ressentimentos que abalam a convivência fraterna.
Nesse capítulo, são dadas diversas orientações e algumas normas que têm por objetivo desenvolver o amor e favorecer a harmonia entre os membros da comunidade. Para isso, Mt coloca em ordem o material transmitido pela tradição para regular as relações internas da comunidade. Contra os sonhos de grandeza e de orgulho, Mt coloca a atitude de humildade que agrada a Deus e aos outros (18,1-4). Para os pequenos, os fracos na fé, é necessário ter uma acolhida cheia de caridade e de desvelo (18,6-7). O desprezo é inadmissível para uma boa convivência. Para enfatizar mais este tema, Mt fala dos anjos que sempre estão do lado dos pequenos (18,10). Se um dos membros da comunidade afastar-se ou desviar-se do caminho reto, em vez de condená-lo, a comunidade toda deve esforçar-se para que esse irmão volte para a comunidade, pois Deus não quer que nenhum deles se perca (18,12-14). E para o irmão pecador, a comunidade inteira deve usar todos os meios para recuperá-lo (18,15-20). E para as ofensas, deve haver perdão, pois uma comunidade só pode sobreviver se existe o perdão mútuo (18,21-35).
Ser Irmão e Fazer-se Pequeno
“Quem é o maior no Reino dos céus?”. “Quem é o maior diante de Deus?”. “Quem vale mais diante de Deus?”. Assim inicia o quarto discurso de Jesus sobre a vida comunitária baseada na fraternidade. A pergunta é feita pelos discípulos para Jesus. Maior aqui significa proeminente, superior aos outros por força de uma qualidade ou de um poder.
Atrás desta pergunta se esconde a ambição ou a mania de grandeza dos discípulos. É a ambição de grandeza que pode ser encontrada em qualquer comunidade cristã. É admirável a ambição de alguém que deseja redimir sua humilde condição, valorizando todas as suas capacidades de inteligência e de luta, pois um dos sentidos lexicais da palavra ambição é anseio veemente de alcançar determinado objetivo, de obter sucesso; aspiração, pretensão. A ambição só se transformará em vício quando a afirmação de si mesmo for exagerada e os meios adotados para atingir a glória forem desonestos. Uma pessoa de alma nobre não sai à procura das honras, e sim do bem. Ao contrário, o ambicioso se sente totalmente envolto pela espiral da glória que o transforma em vítima da própria tirania. O ambicioso, quando dominado pelo vício, não suporta competidores, nem admite rivais. Quem desejar ser a todo o custo o primeiro, dificilmente se preocupar com ser justo. “A soberba gera a divisão. A caridade, a comunhão” (Santo Agostinho. Serm. 46,18).
Como resposta para a pergunta dos seus discípulos Jesus faz um gesto muito simbólico: Ele chamou uma criança e a colocou no meio dos discípulos. Ao ser colocada no meio de todos, a criança chamada se torna um centro de atenção de todos. Imaginamos que todos os olhares são dirigidos a essa criança e os ouvidos prontos para ouvir a palavra sábia do Mestre Jesus. “Em verdade vos digo, se não vos converterdes, e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Quem se faz pequeno como esta criança, este é o maior no Reino dos Céus. E quem recebe em meu nome uma criança como esta é a mim que recebe”, disse Jesus aos discípulos (Mt 18,3-5). Ser criança: frescor, beleza, inocência, não se basta a si mesma!
Esta é a primeira regra da vida comunitária: cuidar dos pequenos e tratá-los como irmãos. E fazer-se pequeno. Fazer-se pequeno, como exigência para viver a vida comunitária, significa renunciar a toda ambição pessoal e a todo desejo de colocar-se acima dos demais para estar em destaque e para oprimir os demais. Fazer-se pequeno é uma forma de “renegar-se a si mesmo” para colocar a vontade de Deus acima de tudo. A grandeza do Reino consiste no serviço humilde e gratuito ao próximo, na solidariedade para com os necessitados, na partilha do que se tem para com os carentes do básico para viver dignamente como ser humano e no esforço para construir uma convivência mais fraterna. Trata-se de viver a espiritualidade familiar onde cada membro se preocupa com o outro membro e sua salvação. Vivendo desta maneira estaremos testemunhando para o mundo que estamos no Reino de Deus já neste mundo.
P. Vitus Gustama,svd
“A existência dos seres espirituais, não-corporais, que a Sagrada Escritura chama habitualmente de anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto a unanimidade da Tradição” (Catecismo Da Igreja Católica, 328)
“A Igreja venera os anjos, que a ajudam na sua peregrinação terrestre e protegem todo o género humano” (Idem n.352).
“Desde o seu começo até à morte, a vida humana é acompanhada pela sua assistência e intercessão. Cada fiel tem a seu lado um anjo como protector e pastor para o guiar na vida. Desde este mundo, a vida cristã participa, pela fé, na sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus” (Idem n.336).
“Na sua liturgia, a Igreja associa-se aos anjos para adorar a Deus três vezes santo; invoca a sua assistência e festeja de modo mais particular a memória de certos anjos [São Miguel, São Gabriel, São Rafael e os Anjos da Guarda] (Idem n.335)
Quem são os anjos? Santo Agostinho respondeu: “Anjo (mensageiro) é designação de encargo, não de natureza. Se perguntares pela designação da natureza, é um espirito; se perguntares pelo encargo, é um anjo: é espirito por aquilo que é, enquanto é anjo por aquilo que faz”.
“Há que saber que o nome de “anjo” designa a função, não o ser. Com efeito, aqueles santos espíritos da pátria celeste são sempre espíritos, mas nem sempre podem ser chamados anjos, já que somente o são quando exercem seu ofício de mensageiros. Os que transmitem mensagens de menor importância se chamam anjos, os que anunciam coisas de maior transcendência se chamam arcanjos. Por isso, à Virgem Maria não lhe foi enviado um anjo qualquer e sim o arcanjo Gabriel, já que uma mensagem de tal transcendência reueria que fosse transmitida por um anjo da máxima categoria” (São Gregorio Magno, Homilía 34 sobre os evangelios, 8-9 PL 76, 1250-1251).
O que faz os anjos (encargo)? Eles são servidores e mensageiros de Deus. São aqueles que nos indicam o caminho do bem, o caminho de Deus. São aqueles que nos alertam quando estivermos para praticar a maldade. A missão dos anjos é amar, servir e dar gloria a Deus, ser seus mensageiros, cuidar e ajudar os homens. Eles estão constantemente na presença de Deus atentos a suas ordens. Pode-se dizer que são mediadores, custódios, protetores e ministros da justiça divina. Eles nos comunicam mensagens do Senhor importantes em determinadas circunstancias da vida. Em momentos de dificuldade, podemos pedir luz para tomar uma decisão, para solucionar um problema, atuar acertadamente, descobrir a verdade. Por exemplo, temos as aparições à Virgem Maria (Lc 1,26-38), a São José (Mt 1,18-25; 2,13-23), a Zacarias (Lc 1,11-22). Todos eles receberam mensagem dos anjos. Também os anjos apresentam nossas orações ao Senhor: “Quando tu oravas..., eu apresentava as tuas orações ao Senhor” (Tb 12,12-16). Além disso, os anjos nos animam a sermos bons: “Digo-vos que haverá júbilo entre os anjos de Deus por um só pecador que se arrependa” (Lc 15,10).
No dia 02 de Outubro a Igreja celebra a festa dos Santos Anjos da Guarda. A missão dos anjos da guarda é acompanhar cada pessoa no caminho pela vida, cuidá-la na terra dos perigos, protege-la do mal e guia-la no difícil caminho para o Céu. Pode-se dizer que é um companheiro de viagem que sempre está ao lado de cada pessoa, no bons e nos maus momentos. Não se separa dela em nenhum momento. Está com ela enquanto trabalha, descansa, se diverte, reza, quando pede ajuda e quando nãos e pede ajuda. Não se afasta dela nem sequer quando perde a graça de Deus pelo pecado. Os anjos da guarda prestarão auxilio para cada pessoa enfrentar com ânimo as dificuldades da vida diária e as tentações que se apresentam na vida.
Para que a relação da pessoa com o anjo da guarda seja eficaz, cada pessoa necessita falar com ele, chama-lo, trata-lo como o amigo que é. Assim ele poderá converter-se num fiel e poderoso aliado nosso. Recordemos que os anjos os anjos não podem conhecer nossos pensamentos e desejos íntimos se nós não os expressamos, já que somente Deus conhece exatamente o que há dentro de nosso coração. Os anjos somente podem conhecer o que queremos, intuindo-o por nossas obras, palavras, gestos e assim por diante.
Por que se fala, especificamente de uns anjos que nos acompanham pessoalmente, que nos protegem na caminhada cotidiana?
Poderíamos responder, em primeiro lugar, que trata-se de símbolos para falar do amor providente de Deus que cuida de sua criatura para que esta chegue à sua plena realização quando houver colaboração da própria criatura ou das circunstâncias na quais se encontra. Era normal expressar, através de recursos literários provenientes de um contexto, as realidades misteriosas usando uma linguagem figurativa.
Em segundo lugar, os anjos são um reflexo misterioso do rosto de Deus e de sua bondade em nossa realidade. De fato, quando alguém nos trata bem, nos ajuda sem reservas etc. logo lhe dizemos: “Você é um anjo!”. Isto significa que a bondade de Deus se reflete naqueles que fazem o bem, chamados de mensageiros de Deus ou anjos de Deus no nosso dia a dia.
Em terceiro lugar, Os anjos da guarda nos revelam a presença transcendente de Deus em cada pessoa, especialmente nos mais pobres. O maior no Reino de Deus é a criança e quem se faz pequeno como criança, porque representa em forma paradigmática o despojamento de todo poder. O despojamento da soberba e da prepotência do poder é a condição para entrar no Reino de Deus. Alguém entra nele, quando descobre o poder de Deus: o poder de seu amor, o poder de sua Palavra e o poder de seu Espírito. Reino de Deus é Poder de amor de Deus. Esta presença de Deus nos mais pobres, que são os maiores no Reino, é o que dá aos pobres essa transcendência.
Cada pessoa, cada família, cada comunidade, cada povo, tem seu próprio anjo da guarda. O Livro de Êxodo (Cf. Ex 23, 20-23) nos mostra o Povo de Deus conduzido diretamente pelo anjo de Deus. O povo deve comportar-se bem na sua presença, escutar sua voz e não ficar rebelde. No anjo está o Nome de Deus. O Nome é o que Deus é. O anjo é essa presença de Deus no Povo de Deus.
Também cada um de nós deve descobrir nosso próprio anjo da guarda, sentir sua presença e escutar sua voz. Devemos viver conforme a esta presença transcendente em nós e refleti-la continuamente em nosso rosto. Para isso, é preciso ler, meditar e colocar em prática a Palavra de Deus. Estar em sintonia com a Palavra de Deus nos faz sensíveis para a presença de Deus na nossa vida cotidiana e nos torna conscientes de nossa tarefa como mensageiros de Deus na convivência com os demais.
Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarda, me governa me ilumina. Amém
O texto do evangelho lido neste dia é escolhido em função da festa dos santos anjos da guarda. É tirado de Mt 18.
O capítulo 18 do evangelho de Mateus é o quarto dos cinco grandes discursos de Jesus neste evangelho. E este quarto discurso é conhecido como “discurso eclesiológico” (discurso sobre a Igreja) ou “discurso comunitário” onde se acentua a vida na fraternidade, isto é, cada membro da comunidade é considerado como irmão. Este capítulo (Mt 18,1-35) foi escrito para responder aos problemas internos das comunidades cristãs: Quem é o primeiro na comunidade? O que fazer se acontecem escândalos? E se um cristão se perde ou se afasta da comunidade, o que fazer? Como corrigir um irmão que erra? Quando é que uma oração pode ser chamada de comunitária e partilhada? E quantas vezes se deve perdoar?
Na comunidade de Mt (como também em qualquer comunidade cristã) cresce a ambição e se cultivam sonhos de grandeza dos membros que se acham mais importantes do resto. Há pouca consideração para com os pequenos, até são desconsiderados ou desprezados. Estes pequenos correm risco de se tornarem incrédulos e de afastar-se da atividade comunitária. Na comunidade de Mt suscitam também pecadores notórios, inclusive as ofensas e os ressentimentos que abalam a convivência fraterna.
Nesse capítulo, são dadas diversas orientações e algumas normas que têm por objetivo desenvolver o amor e favorecer a harmonia entre os membros da comunidade. Para isso, Mt coloca em ordem o material transmitido pela tradição para regular as relações internas da comunidade. Contra os sonhos de grandeza e de orgulho, Mt coloca a atitude de humildade que agrada a Deus e aos outros (18,1-4). Para os pequenos, os fracos na fé, é necessário ter uma acolhida cheia de caridade e de desvelo (18,6-7). O desprezo é inadmissível para uma boa convivência. Para enfatizar mais este tema, Mt fala dos anjos que sempre estão do lado dos pequenos (18,10). Se um dos membros da comunidade afastar-se ou desviar-se do caminho reto, em vez de condená-lo, a comunidade toda deve esforçar-se para que esse irmão volte para a comunidade, pois Deus não quer que nenhum deles se perca (18,12-14). E para o irmão pecador, a comunidade inteira deve usar todos os meios para recuperá-lo (18,15-20). E para as ofensas, deve haver perdão, pois uma comunidade só pode sobreviver se existe o perdão mútuo (18,21-35).
Ser Irmão e Fazer-se Pequeno
“Quem é o maior no Reino dos céus?”. “Quem é o maior diante de Deus?”. “Quem vale mais diante de Deus?”. Assim inicia o quarto discurso de Jesus sobre a vida comunitária baseada na fraternidade. A pergunta é feita pelos discípulos para Jesus. Maior aqui significa proeminente, superior aos outros por força de uma qualidade ou de um poder.
Atrás desta pergunta se esconde a ambição ou a mania de grandeza dos discípulos. É a ambição de grandeza que pode ser encontrada em qualquer comunidade cristã. É admirável a ambição de alguém que deseja redimir sua humilde condição, valorizando todas as suas capacidades de inteligência e de luta, pois um dos sentidos lexicais da palavra ambição é anseio veemente de alcançar determinado objetivo, de obter sucesso; aspiração, pretensão. A ambição só se transformará em vício quando a afirmação de si mesmo for exagerada e os meios adotados para atingir a glória forem desonestos. Uma pessoa de alma nobre não sai à procura das honras, e sim do bem. Ao contrário, o ambicioso se sente totalmente envolto pela espiral da glória que o transforma em vítima da própria tirania. O ambicioso, quando dominado pelo vício, não suporta competidores, nem admite rivais. Quem desejar ser a todo o custo o primeiro, dificilmente se preocupar com ser justo. “A soberba gera a divisão. A caridade, a comunhão” (Santo Agostinho. Serm. 46,18).
Como resposta para a pergunta dos seus discípulos Jesus faz um gesto muito simbólico: Ele chamou uma criança e a colocou no meio dos discípulos. Ao ser colocada no meio de todos, a criança chamada se torna um centro de atenção de todos. Imaginamos que todos os olhares são dirigidos a essa criança e os ouvidos prontos para ouvir a palavra sábia do Mestre Jesus. “Em verdade vos digo, se não vos converterdes, e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Quem se faz pequeno como esta criança, este é o maior no Reino dos Céus. E quem recebe em meu nome uma criança como esta é a mim que recebe”, disse Jesus aos discípulos (Mt 18,3-5). Ser criança: frescor, beleza, inocência, não se basta a si mesma!
Esta é a primeira regra da vida comunitária: cuidar dos pequenos e tratá-los como irmãos. E fazer-se pequeno. Fazer-se pequeno, como exigência para viver a vida comunitária, significa renunciar a toda ambição pessoal e a todo desejo de colocar-se acima dos demais para estar em destaque e para oprimir os demais. Fazer-se pequeno é uma forma de “renegar-se a si mesmo” para colocar a vontade de Deus acima de tudo. A grandeza do Reino consiste no serviço humilde e gratuito ao próximo, na solidariedade para com os necessitados, na partilha do que se tem para com os carentes do básico para viver dignamente como ser humano e no esforço para construir uma convivência mais fraterna. Trata-se de viver a espiritualidade familiar onde cada membro se preocupa com o outro membro e sua salvação. Vivendo desta maneira estaremos testemunhando para o mundo que estamos no Reino de Deus já neste mundo.
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário