29/09/2018
ARCANJOS: MIGUEL, GABRIEL E RAFAEL
29 de Setembro
1ª Leitura: Dn 7,9-10.13-14
9 Eu
continuava olhando até que foram colocados uns tronos, e um Ancião de muitos
dias aí tomou lugar. Sua veste era branca como neve e os cabelos da cabeça,
como lã pura; seu trono eram chamas de fogo, e as rodas do trono, como fogo em
brasa. 10 Derramava-se aí um rio de fogo que nascia diante dele; serviam-no
milhares de milhares, e milhões de milhões assistiam-no ao trono; foi instalado
o tribunal e os livros foram abertos. 13 Continuei insistindo na visão noturna,
e eis que, entre as nuvens do céu, vinha um como filho de homem, aproximando-se
do Ancião de muitos dias, e foi conduzido à sua presença. 14 Foram-lhe dados
poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu
poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não
se dissolverá.
Evangelho: Jo 1, 47-51
Naquele tempo, 47
Jesus viu Natanael que vinha para ele e comentou: “Aí vem um israelita de
verdade, um homem sem falsidade”. 48 Natanael perguntou: “De onde me conheces?”
Jesus respondeu: “Antes que Filipe te chamasse, enquanto estavas debaixo da
figueira, eu te vi”. 49 Natanael respondeu: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és
o Rei de Israel”. 50 Jesus disse: “Tu crês porque te disse: “Eu te vi debaixo
da figueira? Coisas maiores que esta verás!” 51 E Jesus continuou: “Em verdade,
em verdade eu vos digo: Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e
descendo sobre o Filho do Homem”.
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Estamos conscientes de que Deus é o único
ser que não tem história. Todos os seres criados são, em maior ou menor grau,
seres históricos: nascem, evoluem, morrem. Só que a história de cada um tem um
sinal diferente, de acordo com o lugar que ocupa na hierarquia ontológica. À
medida que se ascende do inerte para o sensível ou sensitivo, e do irracional
para o mundo do espírito, a história vai se enriquecendo e entranhando-se na
própria essência do ser. É por isso que o homem é o ser mais histórico de todos
os que habitam a terra. Sobre a fundação de algumas tendências universais e
permanentes de sua natureza, cada homem participa da história geral da
humanidade a partir de seu próprio e irrevogável ângulo e sua insusbtituibilidade
como pessoa, mas não como função. Do homem, e só do homem, é possível fazer
biografia.
Porém e os anjos? Existe, certamente, uma
história universal dos anjos, criaturas de Deus; uma história que foi escrita
nos Livros Sagrados, do Gênesis ao Apocalipse. Os anjos nasceram de uma Palavra
de Deus. Logo, alguns rebeldes, outros fiéis, sua história coletiva bifurcaram
para sempre em dois imensos blocos, de luz e sombra, de ódio e amor. A grande
maioria dos anjos, espíritos puros, ficaram sem nome. Só Deus conhece seus
nomes e seus papéis no grande teatro do mundo. Para nós, eles são como estrelas
cadentes anônimas, que de vez em quando, atravessam o firmamento do espírito.
Assim, os que apareceram aos pastores de Belém anunciando a paz aos homens de
boa vontade; o anjo do Getsêmani, que consolou Cristo em sua agonia, que
perfurou o coração de Santa Teresa com um golpe; e tantos outros, que colocaram
um momento de luz na vida de alguns eleitos de Deus e desapareceram para
sempre.
Mas há alguns anjos, muito poucos, que têm,
além dessa história anônima e coletiva, que estão em destaque: os Arcanjos. Arcanjo
São Miguel, o capitão das tropas angelicais contra Lúcifer; arcanjo São Rafael,
o companheiro da peregrinação de Tobias, e o arcanjo são Gabriel que ocupa a
posição preeminente, que faz a anunciação a Maria.
Neste dia celebramos a festa desses Arcanjos:
Miguel, Gabriel e Rafael. Arcanjos significa anjos principais. Como que chefe
dos anjos.
O nome de anjos não é um nome de natureza e
sim de função: “mallak” (hebraico), “Ángelos” (grego), significa mensageiro.
“Anjo (mensageiro) é designação de encargo, não de natureza. Se perguntares
pela designação da natureza, é um espírito; se perguntares pelo encargo, é um
anjo: é espirito por aquilo que é, enquanto é anjo, por aquilo que faz” (Santo
Agostinho: En.in Psal. 103,1,15).
Na Bíblia se evita apresentar Deus atuando
em forma direta na história, pois isto ameaçaria a transcendência de Deus. Por
isso, aparece um anjo (=mensageiro) que na verdade é Deus mesmo que atua na
história através de sua Providência permanente. E a história não é somente o
que se vê e se toca. Há uma dimensão transcendente, oculta e invisível da
história. A revelação é um desocultamento dessa realidade, que é o fundamento
de nossa esperança. Os anjos (mensageiros) são os que nos recordam e os que nos
fazem visível essa dimensão transcendente. Por isso, o mundo dos anjos não é
outro mundo e sim a dimensão transcendente de nossa história. Crer nos anjos
significa crer na presença transcendente de Deus na história e na sua Providência.
Atrás de cada pessoa e de cada sucesso libertador há sempre um anjo, isto é, há
sempre uma realidade divina transcendente.
Os Arcanjos: Miguel, Gabriel e Rafael são
símbolos dessa comunicação entre Deus e os homens, um Deus que em Jesus infunde
força (Gabriel significa Deus é forte), cura (Rafael significa Deus cura) e se
mostra totalmente diferente (Miguel significa quem como Deus? Esse Deus que é
Pai de todos).
1. SÃO MIGUEL:
Em hebraico
“Mikhá-El” significa “Quem (milá) é como Deus?” (El), ou “Ninguém é como Deus”.
Na bíblia ele é mencionado somente no Livro de Daniel (Antigo
Testamento), em Epístola de Judas (Jd 9)
e em Apocalipse. No AT o nome encontra-se apenas em Dn 10,13.21; 12,1 onde Miguel é chamado “um dos primeiros príncipes” e “o grande príncipe” representante e
defensor de Israel na sua luta para defender sua fé em Deus. Miguel é concebido
como um espírito celeste que vela pelos judeus. Em Ap 12,7 Miguel é o chefe dos Anjos na batalha contra o Dragão e
seus anjos. Na liturgia cristã, Miguel é o protetor da Igreja e o Anjo que acompanha
as almas dos mortos ao céu.
Miguel sempre foi considerado como o Anjo que luta por nós. Ele derrota
o Dragão. É corajoso lutador de Deus. Por isso, Miguel não é nenhum anjo
bonitinho, e sim um Anjo de muita força. E esta força de Deus envia a cada
pessoa para que não seja vencida pelos poderes deste mundo. Ao nosso lado está
um anjo que luta por nós. Ele nos defende quando pessoas lutam contra nós na
vivência dos valores. A Igreja católica sempre tem uma grande devoção ao
Arcanjo São Miguel, especialmente para pedir-lhe que nos livre dos ataques dos
inimigos (demônio/satanás) e dos espíritos infernais. E quando o invocarmos,
ele vem nos defender com o grande poder que Deus lhe concedeu.
A Igreja dá ao São Miguel o mais alto lugar entre os arcanjos e lhe
chama “Príncipe dos espíritos celestiais”, “chefe ou cabeça da milícia
celestial”. Já desde o Antigo Testamento aparece como o grande defensor do povo
de Deus contra o demônio e sua poderosa defesa continua no Novo Testamento.
Na liturgia é ensinado através da Tradição que o Arcanjo são Miguel
preside o culto de adoração que se rende ao Altíssimo e oferece a Deus as orações
dos fieis simbolizadas pelo incenso que se eleva diante do altar. A liturgia
nos apresenta são Miguel como aquele que leva o incenso e está de pé diante do
altar como nosso intercessor e o portador das orações da Igreja diante do Trono
de Deus.
Muito apropriadamente, são Miguel é representado na arte como o anjo guerreiro,
o conquistador de Lúcifer, pondo seu calcanhar sobre a cabeça do inimigo
infernal, ameaçando-lhe com sua espada, transpassando-o com sua lança.
É tradicionalmente reconhecido como o guardião dos exércitos cristãos
contra os inimigos da Igreja e como protetor dos cristãos contra os poderes diabólicos,
especialmente na hora da morte.
“A veneração ao São Miguel é o
maior remédio contra a rebeldia e a desobediência aos mandamentos de Deus,
contra o ateísmo, contra o ceticismo e a infidelidade” (São Francisco de
Sales). Precisamente, estes vícios são muito evidentes em nosso tempo atual. O
ateísmo e a falta de fé ou ceticismo infiltraram todos os setores da sociedade
humana. Com a ajuda de São Miguel nos manteremos fieis à nossa fé. Nossa missão
é confessar nossa fé com valentia e gozo, fé que se traduz no amor fraterno,
pois todos nós somos irmãos do Pai comum que está no céu. Que, como o Arcanjo
Miguel que serve Deus sem cessar, possamos dizer: “Dai-me a única ambição para
Vos servir e servir o próximo!”. Nós cristãos, a exemplo do Arcanjo Miguel, que
sejamos força e suporte para os outros.
2. SÃO GABRIEL:
Em hebraico
“Gabri-El” significa “homem de Deus” ou “Deus é forte”, “Deus é meu protetor”
ou Homem forte (geber) de Deus (El) ou herói, homem de Deus; força de Deus; o
enviado de Deus.
“Gabriel” é nome próprio de um anjo, não arcanjo. Só na literatura
posterior é chamado arcanjo. Gabriel sempre se apresenta como portador de
notícias da graça de Deus.
No AT ele aparece pela primeira vez em Dn, explicando a Daniel a visão
do carneiro e do bode (Dn 8,16-26), e o sentido dos setenta anos de Jr
25,11;29,10 (Dn 9,21-27). No NT Gabriel aparece a Zacarias, anunciando-lhe o
nascimento de João Batista (Lc 1,11-20). Ele chama-se a si mesmo Gabriel, que
está diante da face de Deus (cf. Tb 12,15). Ele é quem leva a Boa Nova a Maria
na Anunciação do nascimento de nosso Salvador (Lc 1,26-38). A figura de Gabriel
é a de embaixador de Deus. A mais alegre de todas as mensagens que Gabriel é
encarregado por Deus para transmitir é a Encarnação do Filho de Deus. Na
chegada da plenitude dos tempos é Gabriel quem comunica à Nossa Senhora, em
nome de Deus, o Deus-conosco em Jesus Cristo. As palavras deste Arcanjo para
Maria se torna nossa oração: “Ave Maria cheia de graça, o Senhor é contigo” que
é completada com a aclamação de Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres e é
bendito o fruto do teu ventre...”.
Como aconteceu com Daniel, Gabriel nos interpreta as nossas visões. Ele
nos faz compreender o que já intuímos em nosso coração. Mas precisamos
compreender também o que Deus deseja operar em nós. Gabriel nos faz compreender
o que Deus realiza em nós.
Nossa tarefa ou missão de cada dia, a exemplo do Arcanjo Gabriel é
torna-nos boa notícia para os outros e transmitir o que alegra e dignifica os
outros.
3.
SÃO RAFAEL: Em hebraico
“Repha-El” significa “Deus (El) que cura/sara (repha) ou Medicina (repha) de
Deus (El).
Segundo o livro de Tobias (Tb 12,15) Rafael é um dos sete anjos ou
arcanjos que estão diante do Senhor. Ele desempenha papel importante na
história de Tobias. Rafael é o companheiro de viagem (Tb 5-6), aquele
que cura (Tb 6; 11,1-15), aquele que expulsa demônios (Tb
6,15-17;8,1-13). É um dos sete anjos que oferecem as orações do povo de Deus e
são admitidos na presença do Senhor (Tb 12,15). Peçamos a ele que cure nossas
doenças e males que fazem ninhos em nosso coração.
Rafael não é somente o Anjo que cura as feridas nossas ou aquele que
expulsa os demônios ou o companheiro, mas também é o Anjo que possibilita as
relações sadias. Através de Rafael Tobias torna-se capaz de amar sua mulher sem
ser morto por ela. Ele aprende a amar seu pai sem ser determinado por ele.
Tudo isso quer nos dizer que Deus está sempre ao nosso lado. Ele é
providente para quem se abre a ele. Deus nunca abandona os seus nesta terra (Mt
28,20) desde que sejamos fiéis a Ele eternamente. E somos chamados a ser
“anjos” para os outros, isto é, ser mensageiros de Deus que leva somente coisas
boas (evangelizar).
Que nossas palavras de cada dia curem a vida de tantas pessoas que
necessitam nossa ajuda. Que nossas palavras tenham força para que as pessoas se
aproximem de Deus e dos irmãos, seus próximos. O Arcanjo Rafael interceda por
nós!
Tudo isso quer nos dizer que a história não é somente o que se vê e se
toca. Há uma dimensão transcendente, oculta e invisível da história. A revelação
é um desocultamento dessa realidade
que é o fundamento de nossa esperança. Os anjos são os que nos recordam e os
que nos fazem visível essa dimensão transcendente. O mundo dos anjos não é
outro mundo e sim a dimensão transcendente de nossa história. Na Bíblia se
evita apresentar Deus atuando em forma direta na história, pois isto ameaçaria
a transcendência de Deus. ai onde aparece um anjo, é Deus mesmo que atua.
Portanto, crer nos anjos é crer na presença transcendente de Deus na
história. Detrás de cada pessoa e de cada sucesso libertador há sempre um anjo,
isto é, há sempre uma realidade divina transcendente. O contrário é satanás,
que representa o mistério da iniquidade detrás das pessoas e estruturas
opressoras. A luta dos anjos contra os demônios é a representação simbólica da
luta transcendente entre o bem e o mal (Cf. Ef 6,10-20).
No evangelho lido neste dia Jesus descreve
Natanael como modelo de israelita: “Eis
um verdadeiro israelita, em quem não há fraude” (Jo 1,47). Natanael representa
precisamente Israel eleito que conservou a fidelidade a Deus. E Jesus renova a
eleição.
“Antes
que Filipe te chamasse, eu te vi quando estavas de baixo da figueira”,
disse Jesus a Natanael. A menção da figueira alude ao Livro do profeta Oseías
9,10: “Encontrei Israel como cachos de
uvas no deserto; vi os vossos pais como os primeiros frutos da figueira”.
Natanael reage com entusiasmo e diz a Jesus:
“Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o
Rei de Israel”. Natanael chama Jesus de “Rabi”, isto é, Mestre fiel à
tradição e “Rei”, interpretado como rei de Israel, o Ungido, o prometido
sucessor de Davi (Sl 2,26s; 2Sam 7,14; Sl 89,4s.27) que restaurará a grandeza
do povo.
Diante da reação de Natanael Jesus disse aos
discípulos: “Em verdade, em verdade vos digo: vereis o céu aberto e os
anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem” (Jo 1,51). A
obra do Messias não se limita à eleição de Israel (figueira). Jesus faz a
primeira declaração sobre si mesmo e alude à visão de Jacó em Betel (Gn
28,11-27) fazendo uma promessa (“vereis”): a comunicação permanente com Deus em
Jesus (“o céu aberto”). A promessa se realizará na cruz na qual a glória ou o
amor brilhará (cf. Jo 19,34).
“Em verdade, em verdade vos digo:
vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do
Homem”, disse Jesus (Jo 1,51).
A existência dos Arcanjos ou simplesmente dos anjos e sua proximidade e
companhia na nossa vida cotidiana nos faz pedirmos com a Igreja o auxílio dos
Arcanjos: “Ó Deus, que organizais de
modo admirável o serviço dos anjos e dos homens, fazei que sejamos protegidos
na terra por aqueles que vos servem no céu”. Que assim seja! (Oração do
dia/Coleta).
P. Vitus Gustama,svd
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