segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Domingo,16/09/2018
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SENHOR, QUEM ÉS TU PARA MIM, E QUEM SOU EU PARA TI?
XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM “B”


Primeira Leitura: Is 50,5-9a
5 O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás. 6 Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba; não desviei o rosto de bofetões e cusparadas. 7 Mas, o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado. 8 A meu lado está quem me justifica; alguém me fará objeções? Vejamos. Quem é meu adversário? Aproxime-se. 9ª Sim, o Senhor Deus é meu Auxiliador; quem é que me vai condenar?


Segunda Leitura: Tg 2,14-18
14 Meus irmãos: que adianta alguém dizer que tem fé, quando não a põe em prática? A fé seria então capaz de salvá-lo? 15 Imaginai que um irmão ou uma irmã não têm o que vestir e que lhes falta a comida de cada dia; 16 se então alguém de vós lhes disser: “Ide em paz, aquecei-vos”, e: “Comei à vontade”, sem lhes dar o necessário para o corpo, que adiantará isso? 17 Assim também a fé: se não se traduz em obras, por si só está morta. 18 Em compensação, alguém poderá dizer: “Tu tens a fé e eu tenho a prática!” Tu, mostra-me a tua fé sem as obras, que eu te mostrarei a minha fé pelas obras!


Evangelho: Mc 8,27-35
Naquele tempo, 27 Jesus partiu com seus discípulos para os povoados de Cesaréia de Filipe. No caminho perguntou aos discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou?” 28 Eles responderam: “Alguns dizem que tu és João Batista; outros que és Elias; outros, ainda, que és um dos profetas”. 29 Então ele perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o Messias”. 30 Jesus proibiu-lhes severamente de falar a alguém a seu respeito. 31 Em seguida, começou a ensiná-los, dizendo que o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei; devia ser morto, e ressuscitar depois de três dias. 32 Ele dizia isso abertamente. Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo. 33 Jesus voltou-se, olhou para os discípulos e repreendeu a Pedro, dizendo: “Vai para longe de mim, Satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens”. 34 Então chamou a multidão com seus discípulos e disse: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. 35 Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la”.
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Sabemos que o Evangelho de Marcos foi escrito para responder à pergunta: Quem é Jesus? E, ao mesmo tempo, para mostrar o caminho de Jesus, que devemos seguir se quisermos ser seus discípulos.


O Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei; devia ser morto, e ressuscitar depois de três dias”, assim lemos no Evangelho de hoje como uma forma de correção sobre o conceito de Messias que os discípulos tinham sobre Jesus.


Há que observar como o anúncio da paixão vai sempre unido ao anúncio da ressurreição. O mistério de Jesus tem duas caras, e a definitiva é a ressurreição e não a paixão. Marcos não quer somente nos dizer que a ressurreição virá depois da paixão, como triunfo sobre ela e sim que a salvação passa através da cruz. Com isto fica afirmado, ao menos implicitamente, o caráter soteriologico da paixão. Mas é surpreendente que atrás de cada um dos anúncios da paixão aparece de uma maneira ou de outra a incompreensao dos discípulos: a de Pedro, a dos discípulos que discutem sobre quem é maior, a de João e Tiago que buscam o primeiro posto. Assim ,pois, a solidão de Jesus é total: não somente não o compreende o povo (a multidão), mas nem sequer os próprios discípulos.


Jesus condena Pedro com os mesmos termos com que condenou Satanás na tentação do deserto (Cf. Mt 4,10). Trata-se realmente da mesma tentação: uma oposição messiânica que descarta os caminhos de Deus para impor os caminhos humanos (mundanos).


O evangelista Marcos coloca o episódio do evangelho de hoje dentro do tema do caminho (Mc 9,332; 10,32.52; 11,8), que começa com o texto de hoje, e que este caminho levará Jesus a Jerusalém (Mc 10,32.33; 11,11) onde Ele será crucificado, morto e ressuscitado.


O evangelho que lemos hoje nos apresenta Jesus em caminho para Cesareia de Filipe. No Novo Testamento é muito simbólico apresentar Jesus nessa atitude com seus discípulos. O discípulo é aquele que faz caminho com o Mestre. O que Jesus oferece é mais que uma meta é um caminho para ser mais humano diante de Deus e dos irmãos.


Durante o caminho era necessário clarificar algumas coisas, tanto para os primeiros discípulos de Jesus, como para as primeiras comunidades cristãs para quem o evangelho é destinado, e para nós, é importante saber o que se diz a respeito de Jesus.


Chegou um momento decisivo para Jesus saber se os discípulos deixaram a mentalidade do povo (“os homens”) e compreenderam finalmente sua identidade como Messias.


Quem dizem os homens que eu sou?”, perguntou-lhes Jesus. Naquela época uns diziam que era João Batista, outros que era Elias ou um dos profetas. Hoje o gama de respostas é ainda mais variado. Esta prgunta produziu tantos artigos e livros e tantas cristologias. Alguns creem em Jesus e o aceitam como seu Salvador, outros como um personagem maior da história, outros como um gurreiro; inclusive, há quem diga como um impostor que se atribui o título de Messias sem sê-lo e que morreu como devia morrer.


Além disso, há muitos estudos de alguns especialistas acerca de Jesus: psiquiatras que analisam sua inteligência, médicos que investigam as causas físicas de sua morte, psicólogos que estudam sua capacidade de amar e paleontólogos que buscam o túmulo para falar de seus restos mortais. Há curandeiros que dizem ter seus poderes, exorcistas que asseguram ser capazes de expulsar sete demônios em seu nome e pitonisas que advinham a sorte invocando seu espirito. Há sociólogos, filósofos e teólogos, “hippies”, caminhantes, artistas, metafísicos e espiritas... Até curas que se atrevem a dizer que atuam “in persona Christi capitis” (na pessoa de Cristo Cabeça). Uns enfatizam em seu caráter de protestante, outros em sua autoridade ou em sua vida interior, em suas reflexões existenciais ou em seus milagres. É um “supermercado” de opiniões.


Responder a esta pergunta é importante e necessário em nosso processo como discípulos de Jesus. Mas há outra que vai mais além: “E vós, quem dizeis que eu sou?”. Os primeiros discípulos ficaram calados diante dessa pergunta. Era mais fácil responder a primeira, pois se tratava de um conhecimento intelectual acerca do que diziam. Mas para responder esta pergunta (a segunda pergunta) era necessário ter todo um discernimento interior. Não somente uma resposta da razão e sim do coração. Desde os sentimentos que a resposta lhes fazia brotar e as esperanças que a resposta desertava neles, desde a ligeira certeza de sentir-se acompanhados por um homem de Deus, até a convicção de estar caminhando com o Messias.


Os evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) nos dizem que foi Pedro quem se atreveu a responder: “Tu és o Messias”, isto é, aquele que o povo está esperando. Messias encerrava todas as esperanças do povo de Israel desde os tempos de Davi. Todos esperavam um gurreiro  que conquistaria a terra e os libertaria do domínio estrangeiro, naquele momento, de Roma. Seguramente, descobrir Jesus como Messias lhes produz muita alegria.


A resposta de Pedro está certa. Mas é uma resposta dentro da perspectiva do povo de Israel. Mas Pedro não descobriu até aquele momento algo importante que compartilhar a vida com o Messias mais que um privilégio, era um compromisso perigoso. As circunstâncias históricas eram muito adversas. As estruturas históricas sobre as quais estava montado o mundo se resitiriam à mudança com todas as suas forças. Por isso, Jesus foi muito claro com seus companheiros de caminho: “O Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei; devia ser morto, e ressuscitar depois de três dias”.


O “Messianismo” de Jesus não era nada parecido à concepção do Messias guerreiro, poderoso triunfador, que eles esperavam. Seu trabalho começa a partir das bases e não das estruturas, a partir de serviço e não do poder. E suas aspirações não eram precisamente tomar poder e sim unir mais pessoas para viver em comunidade e construir uma família unida, não tanto por meio de laços sanguíneos e sim pelo amor de Deus que nos faz irmãos com igualdade de deveres e direitos.


Jesus começa a ensinar aos discípulos que Ele é o Messias Servidor e como tal será preso, crucificado e morto no exercício de sua missão de justiça, de igualdade, de fraternidade e assim por diante (veja a Primeira Leitura). Pedro, dentro da concepção da maioria, não aceita o conceito que Jesus tem sobre o Messias. Por isso, “Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo”. Mas Jesus dá uma resposta muito dura para Pedro: “Vai para longe de mim, Satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens”. “Satanás” é uma palavra hebraica que significa acusador, aquele que afasta os outros do caminho de Deus. No momento Pedro desempenha o papel de satanás. Por isso, para Jesus é melhor afastar o Satanás do que afastar-se da vontade salvífica de Deus.


Para Pedro, o Messias não é um simples profeta, mas a figura real que virá restabelecer os objetivos políticos de Israel. Ele imagina o Messias dentro de um esquema de poder que se impõe.   Ele pensa que a revolução está prestes a acontecer. Dessa maneira, situa-se do lado dos opositores de Jesus, do lado do Satanás.


Para Jesus, querer fugir do conflito, onde as forças demoníacas causam a escravidão e a morte, a corrupção e a injustiça social, se compromissando com poderes que marginalizam as pessoas significa identificar-se com satanás; é distorcer o próprio projeto de Deus. Jesus jamais poderia agir assim, pois não realizaria a vontade do Pai, que o enviou a fim de trazer vida e liberdade para todos. Esta é a primeira advertência de Jesus para todos aqueles que querem seguir Jesus e ainda pensam no poder e outros privilégios mundanos. Quem quer seguir Jesus, precisa estar consciente do caminho percorrido por ele.


Pedro era como nós. Porque preferimos ficar tranquilos em nossas cômodas poltronas rezando e louvando a Deus a servir quem está necessitando de nossa ajuda e de nossa presença na sua luta de cada dia. Confessar nossa fé com palavras não nos custa muito. Mas quando se trata de não somente dizer que somos cristaos e sim de ser cristãos de verdade, de buscar a justiça de Deus num mundo estruturalmente injusto, isso não é tarefa fácil. E quando compreendemos que devemos enfrentar nosso próprio mundo interior, nossa busca de segurança pessoal e até nosso próprio egoísmo. Quando devemos reconhecer que também dentro de nós habitam um tirano e um terrorista, um cachorro, um leão e todo um zoológico perigoso e que primeiro, devemos mudar antes de pretender mudar o mundo, isso toca nossas fibras internas até descobrimos, como Pedro, que dentro de nós morava Satanás, graças ao contato direto com o Senhor.


E vós, quem dizeis que eu sou?”. É necessário darmos uma resposta e estar dispostos a assumir o compromisso que leva consigo dita resposta. Se Jesus para nós não é mais que um personagem da história, não há muito que fazer. Mas se confessamos Jesus como Messias, como o Caminho, a Verdade, a Vida, como Pão vivo descido do céu, é necessário estar dispostos a seguir até o final: a negar-se a si mesmo e a carregar a cruz.


Jesus exige a renúncia de si mesmo: Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. Essa renúncia exigida desmantela qualquer possibilidade de ligar o projeto e o seguimento de Jesus com a ambição do poder. Além disso, deve se estar disposto a enfrentar, como aconteceu com Jesus, a se tornar marginalizado por uma sociedade que quer preservar o poder. Renunciar a si mesmo, portanto, não é uma atitude passiva, mas a espiritualidade que nos leva ao dinamismo da construção de novas relações dentro das quais não há lugar para os instintos egoístas e os instintos de poder.


Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. De nenhuma maneira trata-se de nos negar como indivíduos, nem de negar os valores humanos pelos quais tanto lutou a modernidade. É negar a construção da vida a partir do egoísmo e do individualismo, posto que isso nos levaria irremediavelmente à frustração de nossa natureza humana.


“Tomar a cruz” não é sinônimo de masoquismo, nem de resignação. Não é fugir do mundo externo ou interno para refugiarmos logo numa dimensão desconhecida. É enfrentar a vida tal como vem, aceitar nossa realidade histórica com suas luzes e sombras, e trabalhar para que haja menos crucificadores e crucificados neste mundo. seguir o Senhor é caminhar com Ele até o final e assumir a vida sem escapar dela, sem drogas nem pretextos alienantes. É entregar tudo pelo Reino da justiça, do amor e da verdade, mesmo sabendo que se corre o mesmo perigo que aconteceu com Jesus.


Na vida, há muitas perguntas que temos que responder. Há questões cujo conhecimento e vivência são muito mais importantes: em que coisas reside a dignidade do ser humano, qual o sentido dos bens terrenos, qual o sentido da vida e por que a vida é tão breve? E dentre essas questões, existe uma cuja resposta não devemos errar, pois nos dá a chave de todas as verdades que nos dizem respeito. É a mesma que Jesus fez aos discípulos a caminho de Cesaréia de Filipe: “E você(s) quem diz(em) que eu sou?”


Quem viver seriamente com o Senhor, não poderá fugir à pergunta sobre a sua identidade. A verdadeira questão, no íntimo do nosso coração, é está: “Senhor, quem és Tu para mim?”. Procurar o rosto do Senhor significa deixar-se perturbar, sair das certezas tranqüilas dos equilíbrios que não comprometem, fazer uma escolha de campo, dar e experimentar escândalo. A fé é envolvimento, enamoramento, espírito e coração vibrando fortemente na tentativa de uma resposta autêntica à interrogação de Cristo, que compromete a vida.


Quem és Tu, Senhor?” É a pergunta que tantos de nós já formulamos também quando estamos em dificuldades ou apuros ou simplesmente quando se trata de entrar no caminho da fé. “Quem é Jesus para você?”. A partir dessa questão, começa a nossa saída e busca. Começa um caminho que pode ser cheio de surpresas, porque passo a passo o Senhor vai se revelando. Descobrir o Senhor é um processo e, quando o Deus que você descobre não é ao seu gosto, então mude de gosto. Porque DEUS É ASSIM COMO É e não assim como nós quereríamos que fosse.


Para descobrir o Deus verdadeiro, precisa-se de coração aberto, da coragem de superar as antigas imagens deturpadas, marcadas às vezes por visão religiosa superada, ou por ideologias que nem tínhamos percebido.


Aqui entra a exigência da conversão. A conversão não é apenas algo para os pecadores. A conversão é algo que todos precisamos para que a nossa fé não seja a fé dos fariseus e escribas. Eles também se agarraram à imagem de um Deus que eles próprios tinham construído. Em nome desse Deus errado, mataram os profetas e o enviado do Deus verdadeiro. Mataram o Messias, Jesus Cristo, porque não queriam aceitar a imagem de Deus que ele proclamou.


Quando saímos rumo à utopia de vida nova, de vida sem restrições e limitações e opressões, Deus está conosco, e ele estará conosco também, e sobretudo, na tristeza e na dor dos fracassos e da incompreensão. Ele estará conosco sempre quando estamos no caminho e por causa disso, o nosso caminho será sempre caminho cheio de esperança. Quando você fica ansioso e desesperado perante situações que não consegue mudar, ou quando perante a sua própria vida que em nada corresponde aos grandes projetos que fez ainda nos tempos anteriores, Deus diz a você: “EU ESTOU AQUI”.


Mas O Senhor vai continuar perguntando a você e a cada um de nós: “E você, quem diz que eu sou?” Com esta pergunta está em jogo a imagem de Jesus que cada um tem. Pedro reconhece Jesus porque se abre para a revelação que vem de Deus. Daí podemos tirar uma mensagem: Quem se deixa iluminar pela luz da fé descobre as verdades de Deus e acerta tudo na vida, pois Deus o ilumina. E quem se abre a Deus, está pronto para fazer frutificar a graça de Deus, pois aquele que se abre a Deus faz aliança de vida com Deus que o coloca a serviço de Reino de Deus.


Pedro responde certo. Mas em outros momentos, quando a aparência de fracasso for dominante, esse mesmo Pedro entrará em crise de fé. Por isso, Pedro é um retrato muito realista de cada cristão. Temos também momentos de crise, de medo, de perplexidade. Seria bom nos inspirarmos em Pedro para retomar o seguimento de Jesus depois de alguma queda.
P. Vitus Gustama,SVD

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